Esme Pov

Eu tinha certeza que estava sonhando. Primeiro porque eu estava na minha antiga casa em Forks e, segundo, porque eu olhava para meu marido Charlie, que faleceu a alguns anos atrás. Estávamos os dois na sala, que se encontrava vazia. Charlie estava na minha frente, envolvido por uma estranha e forte luz branca. Em suas costas encontravam-se duas asas incrivelmente belas. Seus olhos me fitavam carinhosamente e seus lábios se moviam, indicando que ele falava algo, mas não saia nenhum som. Me aproximei dele e levantei minha mão, na intenção de tocar seu rosto. Porém, como num passe de mágica, ele sorriu e sumiu.

O desespero me tomou. Meu corpo tremeu em espasmos violentos de dor, enquanto lágrimas rolavam por meu rosto. Tentava controlar os tremores, mas era impossível. Comecei a me sentir fraca e cansada. Ouvi alguém me chamar e logo após, um barulho na porta. Me perguntei quem seria. Comecei a andar em direção a porta, porém antes de alcançá-la, meus joelhos cederam, me levando ao chão, e a escuridão me tomou.

POC POC POC...

Acordei assustada e ofegante. Olhei ao redor e reparei que estava em meu quarto. Coloquei as mãos em meu peito, tentando controlar os tremores. Senti meu rosto molhado, vi que estava chorando. Era a terceira vez que eu sonhava com isso. Tinha uma forte sensação de que Charlie queria me dizer algo, só não sei o que é.

-Só um minuto.-falei

Me levantei e corri para o banheiro. Lavei meu rosto pois não queria que ninguém me visse assim. Voltei para o quarto e coloquei um roupão, antes de abrir a porta.

-Sim?-falei

-Bom dia, mãe!-disse Alice

-Bom dia, filha.-falei, dando um beijo nela.

-Só te chamei pra avisar que eu e Bella estamos saindo.-ela falou

Alice é minha menina mais nova. Ela é a mais alto astral da casa. Esta sempre com um sorriso nos lábios, não importa o que aconteça. É uma menina bondosa, leal, sincera, e extremamente carinhosa. Seus irmãos a chamam de fadinha, devido ao seu jeitinho delicado. Ás vezes é meio ingênua, pois não consegue ver maldade nas pessoas. Tem sempre uma visão positiva da vida, mesmo que esteja cheia de problemas. Adora tudo que seja relacionado a modas. Sempre faz de Bella e de algumas amigas de suas Barbies. Odeia briga e todo tipo de injustiça. Adora organizar festas e eventos que nossa família realiza.

-Onde vocês vão?-perguntei

-Bella tem que passar na agência, então me ofereci pra ir com ela. E vou aproveitar pra passar na faculdade pra fazer minha matrícula. -ela disse

A dois dias atrás recebemos a carta de aceitação de Alice na universidade de Dartmouth, Ivy League, Ela só faltou fazer uma festa pra comemorar. Bella e Emmett já estavam na faculdade de Dartmouth.

-Onde estão Jake e Emmett?-perguntei

-Foram jogar futebol com os amigos. -disse Alice

-Não voltem tarde. -falei, dando um beijo em sua testa.

-OK, mãe. A senhora vai trabalhar que horas?-perguntou

-Ás 10hs.-respondi

-Então até mais tarde. -falou, descendo as escadas.

Entrei no quarto novamente e tomei um banho, aproveitando a sensação de conforto que a água me dava. Coloquei uma roupa simples e desci pra tomar café. Encontrei Bella na cozinha.

-Bom dia, mãe. -ela disse, me abraçando.

-Bom dia, meu amor. Achei que tivessem saido.-falei

-Alice quis trocar de roupa quando viu como eu estava indo. A senhora está bem? -ela perguntou

Bella é minha menina mais velha, tem 19 anos. Além dela e de Alice, ainda tenho dois meninos. Emmett de 21 anos e Jake de 16. Bella é muito observadora. Não consigo esconder nada dela. É a mais parecida comigo. É determinada e independente. Assim como Alice, gosta de tudo que seja relacionado a moda, mas optou por cursar Medicina. Desde pequena falava que quando crescesse queria ser igual a mim. É bondosa, carinhosa, leal aos seus amigos e familiares e um pouco reservada. É altruísta e tem uma mania feia de esconder seus sentimentos para que não se preocupem com ela. Protege aqueles que ama com unhas e dentes. É responsável, mas ás vezes gosta de aprontar e agir com imprudência. Adora desafios e coisas arriscadas. É impulsiva e perde a cabeça quando alguém mexe com um de seus irmãos ou amigos. Ela e Alice são muito unidas.

-Estou bem sim, filha. -falei, tentando esconder a dor que o sonho me causou.

Ela me estudou por um tempo e então suspirou. Ela abriu a boca pra falar algo mas Alice chegou nesse exato momento, interrompendo-a.

-Estou pronta, Bells. Vamos?-perguntou

-Yeah, vamos. -Bella disse.

Alice me deu um beijo e correu pra sala. Bella se aproximou de mim e me abraçou.

-Depois conversamos.-sussurrou.

Suspirei. Ela sempre sabe quando não estou bem. Não tem como isso passar despercebido por ela. É sensitiva demais.

-Está tudo bem, minha querida. Não se preocupe. Vai logo que sua irmã está esperando.-falei, beijando sua testa.

-Ok. Até mais tarde. -ela disse, indo atrás de Alice.

Estacionei na minha vaga de sempre e desci.

Quando passei meus olhos pelo estacionamento, reparei que algo estava diferente. A dois carros do meu, estava uma Mercedes Benz preta. Alguém importante deve estar aqui, mas por que estacionou o carro no  lugar dos funcionários? Será que é algum novo médico transferido pra cá?

Peguei minha bolsa e andei em direção a entrada do hospital. Trabalho aqui desde que Charlie morreu. Eu vi que era difícil para as crianças continuarem vivendo em Forks, então decidi que deveríamos nos mudar. No começo eles não aceitaram, mas depois perceberam que seria melhor pra todos se não estivéssemos em um lugar que traria muitas lembranças tristes. E foi aqui que nossa vida começou a se estabilizar novamente. Eles ainda sentem falta de Charlie, obviamente, mas continuam vivendo suas vidas, pois sabem que Charlie iria querer isso.

Assim que entrei no hospital vi que realmente tinha algo errado, ou melhor, diferente. As enfermeiras e até mesmo algumas médicas estavam com sorrisos radiantes. Estavam incrivelmente animadas e ansiosas com algo. Algumas estavam até suspirando. OK, isso está realmente estranho. O que está acontecendo por aqui?

Como se fosse tivesse lido minha mente, Ellen, a enfermeira mais fofoqueira e fogosa do hospital, me alcançou e disse:

-Esme, você não vai acreditar no que aconteceu. Ou melhor, no que esta acontecendo.-ela disse, empolgada.

Ergui minhas sombrancelhas pra ela.

-Hoje chegou um Deus Grego aqui, falando que foi transferido do hospital de Phoenix pra cá. Ele é o homem mais sexy que já vi em toda minha vida. -falou sonhadora.

-Imaginei algo assim quando vi uma Mercedes Benz no estacionamento. Quem é?-perguntei, fingindo interesse.

-A única coisa que sei é que o sobrenome dele é Cullen. -falou Ellen

-Bom, vou pra minha sala. Espero que ele seja um médico-cirurgião. Só assim a carga de trabalho aliviaria um pouco pra mim e pro Sydney. -falei, esparançosa.

Nesse hospital só tinha mais um médico-cirurgião além de mim e era o Sr. Sydney. Então, nós vivíamos fazendo plantões além da conta. Mais um médico iria fazer uma diferença enorme. Aliviaria bastante o nosso lado. Espero realmente que isso possa acontecer.

-Ok. Qualquer novidade eu vou lá te contar.-ela disse

-Tudo bem. Até daqui a pouco.-falei

Quando o elevador abriu no terceiro andar, respirei aliviada. Não estava mais aguentando tanto suspiro e fofoca pra lá e pra cá. Esse homem vai sofrer, tenho certeza que receberá cantadas o tempo todo. Confesso que estou um pouco curiosa pra saber quem é o homem que mexeu com a libido de todas essas mulheres. Será que é isso tudo mesmo? Tanto faz! Não fará nenhuma diferença pra mim, porque nenhum homem irá mexer comigo do jeito que Charlie mexeu.

Entrei em minha sala, coloquei minha bolsa na mesa e me sentei. Meu olhar foi direto pra uma foto que eu sempre mantenho no escritorio. Era uma foto onde estávamos eu, Charlie e as crianças. Emmett estava com 15 anos, Bella com 13, Alice com 12 e Jake com 10. Tiramos essa foto no dia que em que nos mudamos pra uma casa maior em Forks. Todos estavam muito felizes com a mudança. Antes de conhecer Charlie eu morava em Phoenix com meus pais.

Éramos muito felizes até que meu pai decidiu se mudar pra Forks, devido a uma proposta de emprego irrecusável. Eu fiquei irada com eles, pois não queria sair de Phoenix de jeito nenhum. Mas como eu era de menor, não pude fazer nada. Acabei me mudando pra um cidade que eu odiava e deixando em Phoenix meus amigos e meu namorado, que foi o único homem que eu amei além de meu falecido marido.

Com o tempo acabei me acostumando com Forks, ainda mais depois que conheci Charlie. Só comecei a namorar com ele quando descobri eu meu ex-namorado, que deixei em Phoenix, já estava em outra. Fiquei muito triste e acabei decidindo seguir com minha vida. Foi então que minha amizade com Charlie virou namoro. Eu passei a amá-lo tanto ou mais que meu ex.

Para completar nossa felicidade, um mês depois que ficamos noivos, descobri que estava grávida. Nós ficamos radiantes com essa notícia, e nossas família nos deram a benção pra casarmos. Quando Emmett nasceu, Charlie me fez amá-lo mais ainda, ao ver o quanto ele era carinhoso com nosso pequeno. Ele ficou em êxtase com o fato de nosso primeiro filho ser menino. Lembro que um dos momentos mais emocionantes de minha vida foi quando Charlie pegou nosso pequeno nos braços pela primeira vez. Ele chorou feito criança e eu não fiquei pra trás. Até nossos pais se emocionaram com a cena.

Apesar de minha gravidez ter sido um pouco precoce, nossos pais nos apoiaram desde o começo. Isso foi muito importante pra nós dois.

Pouco tempo depois veio Bella, e nossa família ficou mais radiante ainda. Tínhamos um casal de filhos lindos. Nós ainda queríamos mais dois filhos e então nasceram Alice e, dois anos depois, Jake. Nossa família ficou completa. Vivemos anos de pura felicidade até o dia em que Charlie faleceu. Isso fez com que nós 5 mudássemos, mas conseguimos nos recuperar com o passar dos anos, claro que não foi sem esforço, mais conseguimos.

Eu sei que Charlie não iria querer que parassemos nossas vidas por causa de sua morte. Ele era louco pra ver nossos filhos formados e casados. Quando pensava em netos então, sua felicidade transbordava em seus sorrisos e seus olhos brilhantes. Sei que aonde quer que ele esteja, está olhando por nós. Sei que ele estará presente em todos esses momentos importantes, mesmo que seja em nossos corações.

Fui tirada de meus pensamentos pelo toque do telefone.

-Esme Swan.-falei

-Oi, Esme. É o Marcus. Tem como você vir aqui na minha sala um minutinho?-perguntou

Marcus era o diretor geral do hospital.

-Posso sim. -falei

-OK. Estarei te esperando.-falou

Desliguei o telefone e me levantei. Coloquei o jaleco, antes de sair da sala, e fui em direção á sala do DR. Marcus. Dei duas batidas e abri a porta, ao ouvir um "entre". Quando olhei pela sala vi que ele não estava sozinho. Ele estava sentado em sua mesa, e na cadeira em frente a ele tinha um homem loiro, que estava de costas pra mim. Dr. Marcus sorriu pra mim e disse:

-Esme que bom que já está aqui. Chegou agora?

-Sim senhor, acabei de chegar. -falei

Reparei que o homem loiro ficou tenso quando ouviu meu nome e minha voz. Estranho...

-Bom, te chamei aqui para te apresentar nosso novo médico-cirurgião Carlisle Cullen. -ele disse

Estaquei no meio do caminho e arregalei meus olhos. Será que eu ouvi direito? Será que é "ele"?

Parecia que tudo estava acontecendo em câmera lenta. O homem se levantou da cadeira e virou pra mim. Senti meu coração acelerar quando olhei em seus olhos. Aqueles olhos verdes que eu tanto amava quando era mais nova. Olhos que conseguiam expressar tudo o que ele não conseguia dizer. Seus olhos se arregalaram quando me viu. Por um breve momento, esqueci de tudo a minha volta, era somente eu e ele como nos tempos de escola. Mas então Sr. Marcus nos tirou de nossa bolha e continuou a apresentação, sem reparar a pequena cena que tinha acontecido entre agente.

-Carlisle, essa é Esme Swan. Nossa médica mais experiente e qualificada do hospital.-ele disse

-Prazer Sra. Swan.- disse Carlisle

-Pode me chamar de Esme.-falei, ainda surpresa.- O prazer é meu, Dr. Cullen.-falei

-Só Carlisle, por favor. -ele disse.

-Bom, agora que já fizemos as apresentações, eu gostaria que Carlisle conhecesse o hospital. Você poderia fazer o favor de mostrar a ele, Esme?-perguntou Marcus

-Claro, Sr. Marcus. -falei

-Espero que você se sinta bem em nossa equipe. Se precisar de algo fale comigo ou com Esme e iremos ajudá-lo. Eu realmente lamento não poder mostrá-lo o hospital, mas tenho uma reunião muito importante agora e não posso faltar.-disse Marcus

-Está tudo bem, Sr. Marcus. -disse Carlisle

-Bom, você estará em boas mãos. Até mais tarde e bem-vindo a nossa equipe.-disse Marcus.

-Muito obrigado, Sr. Marcus. Até mais tarde.-respondeu Carlisle

Marcus saiu da sala e nos deixou sozinhos. Olhei pra ele e sorri. Ele sorriu de volta e meu coração acelerou mais ainda. Terei que me acostumar com isso. Eu queria abraçá-lo, mas não sabia qual seria sua reação.

-Esme, quanto tempo. Pela sua reação percebi que se lembra de mim. -disse Carlisle

-Não tem como não lembrar. Apesar de você estar diferente, eu ainda consigo reconhecê-lo. -falei

Senti meu rosto esquentando e sorri, sem graça.

-Não sabia que você estava morando aqui. Como está sua família? -perguntou

-Estão todos bem. Bom, me mudei pra cá a seis anos. E você?-perguntei

-Me mudei tem uma semana. Devido alguns problemas pessoais, resolvi mudar de cidade, pra espairecer a cabeça. -falou

-E sua família? Como estão? -perguntei

-Estão todos bem. Chegarão aqui apenas semana que vem, pois têm que resolver algumas coisas relacionadas ao trabalho e a escola. -disse Carlisle

-Bom, venha. Vou te mostrar o hospital.-falei.

Dentro de minha ocorria uma estranha onda de emoções. Vê-lo de novo me fez lembrar de tudo que vivemos antes de eu me mudar pra Forks. Sim, Carlisle é o namorado que deixei em Phoenix quando me mudei. Nós perdemos o contato algum tempo depois que me mudei. Só tive notícias dele novamente, quando soube que ele estava namorando Elizabeth, que era uma conhecida minha.

Confesso que achei que nunca mais iria vê-lo, mas o mundo dá voltas. Reencontrá-lo reascendeu antigos sentimentos em mim. Coisas que eu não sentia a seis anos. Como eu disse antes, Carlisle foi o único homem que amei em minha vida, além de Charlie. Acho que o que mais me motivou a ficar com Charlie foi saber que Carlisle tinha seguido com sua vida e me esquecido.

Confesso que isso me magoou muito, mas eu deveria agradecê-lo por isso. Pois graças ao que ele fez, eu tive meus 4 filhos maravilhosos com Charlie e não os trocaria por nada nesse mundo. É claro que nunca esqueci Carlisle, afinal ele foi meu primeiro amor. Mas, resolvi abrir meu coração pra Charlie, e sei que foi a melhor coisa que eu fiz em toda minha vida.