Darkness Brought Me You escrita por moni


Capítulo 62
Bônus Final


Notas iniciais do capítulo

Oiiiieee
OBRIGADA!! Por todos esses capitulos que escrevemos juntas, por estarem aqui comigo esses meses todos. Vou sentir falta de Daryl Dixon. Meus planos para uma nova fic de TWD existem, mas só vou escrever quando a série voltar. Por falar nisso o trailer foi muito bom. Enfim. Obrigada pelo carinho, recomendações, comentários e mesmo apenas lerem sem se manifestar. Foi bom demais. Nos vemos nas minhas originais para quem acompanha e em breve numa nova aventura cercada de zumbis. BEIJOSSSSSSSSSSSSSSS



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Pov – Jesus

   Ela está ao meu lado, nua e adormecida no tatame, a luz fraca do fim de tarde inunda a sala e reflete em seus cabelos dourados. Não me lembro de ter visto mulher mais bonita. Parece uma escultura,

   Fico ali, imóvel a observa-la, sem forças para qualquer outra coisa. Foi alucinante como todas as vezes, tem qualquer coisa nela que me cria uma urgência sem fim e quando vejo aconteceu.

   Escuto mais uma vez uma batida determinada na porta lá em baixo. Então foi isso que me acordou. Olho para o relógio. Cinto e dez, é meu aluno das cinco horas, suspiro ignorando a batida mais uma vez. Ele que vá embora se quiser.

   Os olhos azuis surgem se aviso, seu despertar começa suave até ela ouvir a porta, aí Beth salta assustada, olha em volta, parece recobrar a memória e junto o juízo.

   ―Não acredito nisso Paul! Cinco da tarde, nós aqui, nus no meio da sua sala. – Mais batidas na porta, ela começa a caçar as roupas enquanto continuo imóvel olhando para ela ainda meio perdido em sua beleza. – Está ouvindo as batidas? Mexa-se Paul!

   ―Não consigo. Acabou comigo.

   ―Vai homem. Eu tinha que estar em casa. Meu Deus me iludi. Jurou que íamos subir para um café. – Ela começa a se calçar já vestida, me cutuca com o pé ainda descalço. – Paul! – Geme me obrigando a me mover. Visto a calça e as botas, afasto os cabelos.

   ―Já vai! – Grito para meu insistente aluno. – Isso que é vontade de aprender. Odeio meus alunos aplicados! – Beth ri. Puxo ela pela cintura. – Te vejo à noite?

   ―Se for a fazenda. O velho Hershel não está nada contente com essa minha vida pregressa.

   ―Eu vou. Vai cozinhar para mim?

   ―Não, mas Patrícia vai. – Beth me envolve o pescoço. – Sobre a viagem. Desculpe Paul, eu sei que devia ser mais corajosa, mas não quis pedir ao meu pai, não sei se ele vai aceitar muito bem eu viajar sozinha com você. Ele é antiquado. Leva á sério essa coisa de compromisso.

   ―Entendi. – Nos beijamos de leve. – Oito em ponto estarei lá.

   ―Está decepcionado?

   ―Ainda não desisti. – Ela me sorri, depois seguro sua mão e descemos as escadas. Meu aluno abre a boca para reclamar, mas fecha assim que vê Beth. – Tchau Baby.

   ―Essa sua namorada.

   ―Ei! – Acerto a cabeça dele que ri. – Não conhece a regra de não olhar a garota do mestre?

   ―Achava que mestres não tinham garotas.

   ―Só os mestres gays esses têm garotos. – Ele ri. – Vamos, já atrapalhou tudo mesmo.

   Depois da aula desço para abrir para ele e ir um momento na mecânica. Daryl limpava as mãos.

   ―Fechando?

   ―Sim. Quase sete. Brook e Hannah já devem estar em casa.

   ―Você é todo certinho. – Ele faz careta. Não responde, conversar com Daryl é como fazer suco de laranja, precisa espremer. – Como estão?

    ―Bem. Hannah trabalhando, Brook frequentando a escola. Tudo bem.

    ―Já disse?

   ―O que? Jesus eu não tenho que decifrar suas perguntas.

   ―Que a ama. Já disse a ela? Você ama. Já disse?

   ―Ela deve saber. Moramos juntos, estamos criando a Brooklyn, dividimos a cama.

   ―Não sei, acho melhor dizer. Eu ainda não disse, talvez diga, estava juntando certeza. Queria dizer para ela na viagem, mas ela não vai. Então...

   ―Eu sabia que ela não iria passar o fim de semana no Grand Canyon com você. – Ele diz atirando a estopa sobre o capô de um carro, são quatro no momento. Estamos indo de vento em popa com isso. Todo mundo confia no trabalho dele. Motos chegam todos os dias até de outros estados.

   ―Sabia? Como sabia? Por que ela não vai?

   ―O pai. Hershel é antiquado e preocupado, ela é o tipo boa filha, a irmã casou faz pouco tempo, gravida e foi para Atlanta viver longe. Beth não quer magoar o pai e viajar com um cara. – O tom é bem claro. Cara soa pejorativo e não é sem querer.

   ―Entendi. Quer dizer. O que isso de cara significa? – Imito seu tom.

   ―Quer ser esperto, mas é bem lento. Quero dizer que não tem um compromisso formal, é isso. Tem que ficar com ela. Casar, noivar, essas coisas.

   ―Hum! A Beth podia facilitar e me dizer essas coisas. Como eu vou saber que o velho espera isso?

   ―Jesus, você a chama de Baby.

   ―Isso também é problema? Caramba. Eu devo ser de outro mundo mesmo.

   ―Deve. Isso é meio canalha. Talvez ela não ache que está levando essa coisa toda a sério.

   ―Me acha um canalha e fica comigo? Não sei, parece estranho para mim.

   ―Pode ser que ela esteja levando isso como uma aventura. Só isso.

   ―Daryl você é péssimo conselheiro amoroso. Cala a boca! – Ele ri, se diverte, tem mesmo uma crise. Me irrita. Fico assistindo até que se controle. – Acabou? Qual a graça?

   ―Só é bom quando digo o que quer ouvir. Está com medo de ser um brinquedo para ela, mas pode ser que ela esteja se sentindo um brinquedo para você.

   ―Eu sei como me sinto. Quero ela para mim. Vivendo comigo.

   ―Me dizer isso não muda nada.

   ―Entendi mestre Ioda. Vou dizer a ela.

   ―Acho melhor dizer ao pai dela. E aconselho usar a palavra casamento, ele vai preferir. Viver com você é muito amplo.

   ―Você não está de saída? – Daryl parece um velho. Cheio de pensamentos antiquados. Que inferno.

   ―Estou tentando. Você é que está me impedindo. – Ele resmunga seguindo até a caminhonete. – Boa sorte.

   ―A Hannah também ia gostar muito de um pedido. Só para te avisar. – Daryl me olha um momento como se considerasse a minha opinião. Depois acena e dá partida.

   ―Fecha a porta quando sair. – Ele diz rindo e me largando na porta para fechar. Idiota.

   Quando me olho no espelho já pronto para jantar na casa dela fico pensando se devo fazer um pedido. Podia conversar com ela antes, mas se ela estiver levando isso como uma aventura vai se dar mal, vou falar direto com o velho.

   ―Não chame ele de velho! – Digo ao meu reflexo. – Pelo menos não na cara dele.

   Guio a moto até a única loja onde eu possivelmente posso achar qualquer coisa que se pareça com um anel. Não temos uma joalheria. Só umas pequenas lojas femininas onde se pode achar bijuterias e semi joias. Podia ter arrastado Daryl até aqui comigo.

   ―Posso ajuda-lo senhor? – Uma mulher me pergunta atrás de um balcão.

   ―Quero comprar um anel. Para uma garota.

   Ela me mostra alguns. Não acho nada demais neles, mas um em especial tem uma pedrinha azul no centro, é prateado e bem delicado. Parece algo que ela usaria. Beth adora essas coisas. Aponto o anel.

   ―Boa escolha. Muito delicado.

   ―Vou levar. – A moça coloca numa caixinha. Achava coisa de filme, mas eles vêm mesmo em caixinhas. Basta abrir e é aquela comoção. Pelo menos estou contando com isso.

   Depois de pagar volto para a moto, a noite está pesada quando chego a fazenda. Deve chover. Sinto o cheiro da chuva se aproximando. Quando me aproximo da casa Otis me recebe. O velho e ele são como irmãos. O homem está na varanda assistindo a noite.

   ―Vem chuva. – Ele diz como quando não se tem assunto. Balanço a cabeça concordando. -Entra. Estão todos na sala.

   Beth se aproxima da porta e vejo como está linda. Ela me dá passagem. Beijo seus lábios, nada além de um tocar de lábios. Casto como seu pai espera. Não sei se ele é cego ou só finge ser. Não me importo.

   Hershel está sentado e fecha o livro quando me aproximo, apertamos as mãos e ele me convida a sentar.

   ―Estava aqui lendo um pouco. Gosto de me sentar e descansar a mente depois de um dia cheio. Como está?

   ―Bem. O dia também foi... cheio. – Olho para Beth, ela desvia seus olhos rápido. – Faz muito tempo que não tiro férias.

   ―Quando se tem uma fazenda nunca tira férias.

   ―Claro. Mas o senhor tem seus filhos. Acho que eles ajudam, não é mesmo?

   ―Muito. Todos eles. – Hershel sorri para a filha. – Beth inclusive.

   ―Imagino que sim. Ela sempre me conta nas nossas conversas. – Uso meu tom mais natural, acontece que toda vez que me refiro a ela penso em Beth nua e nós dois perdidos um no outro e isso só acontece quando estou na frente do pai dela. Parece um tipo de praga.

   ―O jantar foi servido. Vamos? – Beth fica de pé e faço o mesmo. Hershel nos olha. Ele tem esse olhar de eu sei de tudo que me dá nos nervos.

   ―Só um minuto. – Peço a ela que tem uma interrogação no olhar.

   ―Paul a comida vai esfriar.

   ―É rápido. – Ela começa a parecer nervosa. – Baby eu só quero ter uma palavra com seu pai. – Hershel me olha surpreso. Nunca chamei ela assim na frente dele e já começo esse pedido muito mal.

   ―Beth deixe ele falar. – O homem pede com um sorriso no rosto.

   ―Quero levar a Beth para uma viagem ao Grand Canyon. Pequenas férias. Uma semana. Um fim de semana prolongado, também não posso me afastar muito.

   ―Paul eu disse que não era boa ideia. – Ela torce os dedos.

   ―Quer levar minha filha para uma viagem?

   ―Não senhor. Quero levar minha noiva. – Beth abre a boca surpresa, engole e me olha, depois olha para o pai, não sabe o que fazer e Hershel mantem o sorriso, não diz nada, quer me torturar mais um pouco. – Se permitir é claro e ela aceitar, não pedi ainda. – Olho para Beth. – Baby, eu amo você. – Pego a caixinha e abro. – Quer casar comigo?

   ―Paul... eu não esperava. Quando... – Ela pega a caixinha. Depois me devolve. – Isso é tão lindo. Amo você. Aceito. – Trago Beth para meus braços. Beijo seus lábios. Nada de beijo casto, sou o noivo o velho que se acostume. Depois quando nos afastamos um pouco coloco o anel em seu dedo. Ela não para de sorrir.

   ―Te amo Baby. Podemos passar por Las vegas e...

   ―Muita calma rapaz. – Hershel se pronuncia. Toca meu ombro. – Fico feliz que se acertaram. Torço por vocês. Mas nada de Las Vegas, vão casar aqui. Na fazenda. Como sonhei. Como a Maggie.

   ―Depois do Grand Canyon? Quando voltarmos? – Pergunto deixando claro que ela vai comigo.

   ―Pode ser. – Ele me estende a mão. – Amar minha filha é fácil, quero ver se pode cuidar dela. Desejo sorte e felicidade.

   ―Obrigado Hershel. – Abraço Beth de novo, volto a beija-la. Hershel sorri do rosto corado dela.

   ―Vamos comer. Que surpresa. Não estava contando com um pedido hoje. Achei que eu teria que pressionar um pouco. – Hershel brinca com uma mão no meu ombro e outra no ombro da filha.

   ―Vai indo papai. Ele esqueceu de me dar meu anel. – Ela ri, Hershel não discute. Nos deixa sozinhos e abro a caixinha. – O que deu em você? Está certo disso?

   ―Sim. Queria fazer isso na viagem, mas se não ia comigo de outro modo. – Dou de ombros. Coloco o anel em seu dedo. Ela me envolve o pescoço e nos beijamos.

   ―Quero muito essa viagem. Quero isso com você. Essa vida. – Ela diz.

   ―Não sou uma aventura na sua vida. Não é assim que me vê. Não é mesmo?

   ―De onde tirou isso Paul? – Beth encara o anel no dedo. Sorri para ele. – Sempre achei que se um dia me desse um anel seria um desses de caixa de cereal.

   ―Não andam colocando anéis, agora são bonequinhos de heróis. Então não sou uma aventura? – Ela nega mais uma vez. Daryl é um grande idiota e jogou sujo. Colocou coisas na minha cabeça. Tudo bem. Vamos ver se não apronto o mesmo com ele. – Amanhã vamos jantar na casa do Daryl. Não marque nada.

   ―Ok. Ele convidou?

   ―Não, mas vai.

   Pov – Daryl

   ―Tio ele é bem lindo não acha? Um filhotinho. Deixa? – Ezequiel me sorri atirando as tranças longas para trás, nosso vizinho é bem excêntrico, tem um eito divertido de se comportar, cria gatos e trabalhava em um zoológico. – Olha tio. Por favor, por favor!

   Por que tinha que ser justo eu a estar com ela na hora em que o esperto vizinho vem nos oferecer um filhote de gato? Hannah é capaz de dizer não. Já eu simplesmente não sei fazer isso e não tenho ideia do que ela vai achar disso. Não falamos muito do futuro. Muito por minha culpa. Sempre tenho um pouco de medo do que ela vai dizer e fico adiando uma conversa.

   ―Um gato para a garotinha homem. O que tem demais? É um bicho independente e fácil de cuidar. Uma caixa de areia, carinho e uma janela aberta. É tudo que ele precisa.

   ―Certo Ezequiel. Ele pode ficar. – Os dois sorriem. Brooklyn abraço o filhotinho, ele mia esmagado por seu amor.

   ―Ótimo. O nome dele é Shiva.

   ―Não devia ser ela a escolher o nome do bichinho de estimação?

   ―Não são bichinhos de estimação. São gatos, eles têm sua dignidade e o nome desse é Shiva.

   ―Eu gosto tio. Pode ser sim. – Ela beija o bichano. – Você já pode ir Ezequiel. Obrigada. – Ele pisca, ela quer se livrar logo dele antes que eu mude de ideia. Ezequiel acena e parte sem olhar para trás baixo meus olhos para encarar a garotinha completamente perdida com seu bichinho nos braços. Hannah vai me matar. Eu devia ter discutido isso com ela antes.

   Fecho a porta. Brook se senta no sofá abraçada com o pequeno animal. Me sorri e faz valer a pena.

   ―Ele é sua responsabilidade seja lá o que isso significa. Agora acho que precisa tomar banho e se trocar. Fazer dever de casa. Sei lá. Essas coisas de criança.

   ―O tio. Eu estou com o meu Shivinha. Não posso fazer essas coisas não.

   ―Ah! Não pode? Cadê o Ezequiel? Vou lá falar com ele.

   ―Que chato isso! – Ela reclama fazendo bico. – Já vou. – Brooklyn se levanta no humor Merle. É engraçado. No fim é bem engraçado. Talvez algum dia seja um problema, ela é uma garotinha forte e destemida. Vamos ver onde isso nos leva.

   A porta se abre. Estava tão distraído com Brooklyn e o gato que nem ouvi o carro. Hannah olha de mim para Brooklyn com uma rua de interrogação na testa.

   ―Temos um gato?

   ―Temos tia. Eu que arrumei ele para a gente. Não é ótimo? – O sorriso doce de Brook congela no rosto enquanto aguarda o veredito. No fundo ela sabe que é Hannah a dar o veredito final. Hannah me olha um momento. Fico imóvel a espera da bronca. Eu devia ter falado com ela primeiro e sei lá, coisas que mulheres devem dizer nesses momentos.

   ―Então temos um gato. Já escolheram o nome?

   ―Shiva. – Brooklyn conta alegre. Hannah se aproxima, beija Brook, afaga o gato e vem até mim. Me beija os lábios despreocupada.

   ―Precisamos de uma caixa de areia. – Ela me diz simplesmente. Sinto um alivio absurdo. Acho que não serei bom numa briga de casal, não aconteceu, mas se acontecer será um problema.

   ―Gato come areia? Toda hora isso de areia. – Brook questiona e apenas rimos.

   ―Vai ver para que serve a caixa de areia em breve mocinha. Aí vamos ver quanto ama seu gato. Agora banho mocinha. Estou na correria. Vou me trocar e desço para começar o jantar. Daqui a pouco recebemos visitas.

   Hannah passa a correr de um lado para outro cozinhando, limpando e aprontando a mesa. Brooklyn esquece do mundo brincando com o filhotinho muito mais interessado em dormir.

   Eu ajudo no que posso, mas receber visita em casa, me sentar a mesa para jantar com amigos é coisa que nunca fiz e nem sei como funciona. Logo Jesus chega com Beth. Depois dos cumprimentos ele se distrai com o gato e Brook, ele leva jeito com os dois. Beth e Hannah se enfiam na cozinha.

   ―Essa do anel foi novidade. – Digo abrindo uma cerveja depois de entregar outra para ele.

   ―Bem inesperado. Culpa sua que ficou me dizendo que eu não passava de uma aventura para ela. No fim acho que ajudou.

   ―Pelo menos vão viajar juntos. Isso é o que queria.

   ―E você vai ser meu padrinho de casamento.

   ―Eu?

   ―Sim. É meu amigo, o único na cidade. E eu devo ser o padrinho do seu. – Estreito os olhos. – Vai casar sim. Já devia ter providenciado um pedido. Uma hora dessas ela te dá um pé na bunda.

   ―Acha?

   ―Acho. – Talvez meu olhar de pavor colabore para ele sorrir e negar. – Estou brincado. Esquece isso. Ela ama você, não tem razão para te deixar.

   ―Espero que sim. Nunca pensei nisso, casamento, nem passa pela minha cabeça.

   ―Por que? Achei que ela era tudo para você.

   ―Não tem nada a ver com ela. Isso é sobre ser o centro das atenções.

   ―Sei, pois acho que devia, vocês tem a menina. Quer dizer, ela tem, se casar com você podem adotar a Brook e ela será dos dois. No momento ela pertence a Hannah. Legalmente eu digo.

   ―Tudo bem. Eu vou pensar nisso. Você pode mesmo estar certo. Pode ser bom para a Brooklyn.

   ―Então que acha de mais uma cerveja?

   ―Vou buscar. – Deixo Jesus sentado no chão da sala rolando com o gatinho e Brook. A cozinha está vazia, abro a geladeira e pego uma garrafa, olhar para geladeira fala muito sobre as mudanças da minha vida. Legumes, verduras, leite e meia dúzia de garrafas de cerveja escondidas num cantinho. Gosto disso. Fecho a porta e a voz de Hannah e Beth nos fundos chega até mim.

   ―Uma bela proposta de trabalho. Gerente é um avanço e tanto Hannah. Washington é uma linda cidade. O salário como fica?

   ―Triplica.

   ―Caramba! Uma grande mudança.

   Eu não queria ouvir, só que foi inevitável. Deixo a cozinha atordoado. Ela vai embora? Quem recusaria tal proposta? Ela é inteligente, determinada. Logo teria uma chance como essa. Eu devia me sentir orgulhoso, mas como posso me sentir assim se vou perde-la?

   Ironia eu estar preocupado em decidir se podemos ter um gato quando ela decide ir embora e me deixar. Pelo visto levar o gato não vai ser problema.

   ―Aqui a cerveja.

   ―Tinha fantasma na cozinha? Está pálido.

   ―Não. Eu estou bem.

   As coisas que Jesus diz parecem não fazer sentido na minha cabeça. Fico ouvindo e tentando parecer prestar atenção. Só que não consigo. Não sei quanto tempo leva até nos reunirmos em torno da mesa.

   As conversas vão rolando e vou ficando ali, tentando desesperadamente interagir enquanto a angustia de estar perdendo as duas vai me dominando. Será que ela pretende me contar? Ou vai apenas partir um dia desses?

   ―Então você deixa Brook e Daryl sozinhos um tempo e ele te presentei com um gato?

   ―Sim. – Hannah ri com o comentário de Beth. – Mas acho importante ele aprender a ficar sozinho com ela. – Acha? Claro que acha. Talvez ela esteja me preparando para quem sabe curtas férias sozinho com Brook quando ela vier me visitar. – Isso cria laços, da confiança para ele e para ela. Daryl se vira muito bem. Tem jeito com ela.

   Os olhos dela brilham para mim e me sinto angustiado. Ela está fingindo na frente das pessoas ou isso é verdadeiro?

   Quando finalmente o jantar chega ao fim e nos despedimos na porta Hannah tem um sorriso doce no rosto. Brook dorme no sofá abraçada ao gatinho que também dorme.

   ―Coloca ela na cama? Vou arrumando a cozinha.

   Balanço a cabeça apenas, sinto vontade de sumir. Pego a garotinha adormecida, ela aperta o gatinho por puro instinto e mesmo triste sorrio. Coloco Brooklyn na cama, arrumo o gato a seu lado, cubro e beijo sua testa.

   ―Boa noite pequena. – Ela ressona e continua a dormir. Desço meio sem saber o que fazer, pego o pano de prato e começo a secar os pratos. Hannah me sorri tranquila.

   ―Ela não acordou?

   ―Não. Deve dormir até amanhã.

   ―Acho que sim. Adorei o jantar. Foi especial. Receber amigos é tão bom. Estou feliz pela Beth. Eles combinam tanto. Não acha?

   ―Acho.

   ―O gato precisa de alguma coisa durante a noite? Nunca tive um bichinho em casa.

   ―Ele vai ficar bem. Comeu e bebeu pouco antes de dormirem. – Volto a ficar em silencio. Ela parece perceber. Não diz nada.

   Terminamos a cozinha. Hannah suspira. Passa a mão na testa.

   ―Finalmente. Meus pés estão me matando. Passeio o dia arrumando as prateleiras de pesca.

   ―Eu posso sustentar a casa. Dinheiro não é um problema, sem grandes luxos podemos viver. Não precisa trabalhar.

   ―Eu gosto. – Ela sorri. Balanço a cabeça concordando. – Vou dar um beijo nela antes de dormir. Você fecha tudo? – Mais uma vez concordo.

   Depois de fechar tudo e subir encontro nosso quarto vazio. Encaro a noite pela janela um momento, um longo momento. Hannah não vem. Deve ter decidido ficar por lá. Talvez esteja terminando tudo comigo. Vai embora. Quer logo se ver livre de mim.

   Caminho até o quarto de Brook. Penso no dia em que buscamos todas as coisas dela, quando Hannah misturou suas roupas as minhas e achei que era para sempre. Abro a porta do quarto. Brook dorme ao lado do gato.

   Hannah está sentada ao seu lado. Acariciando seus cabelos. Ergue os olhos quando me vê.

   ―Posso dormir no sofá se preferir ficar sozinha. Até tudo se resolver.

   O espanto dela me confunde. O modo como me olha surpresa. Fico pensando se estou sendo ridículo. É possível. Ao menos é o que parece.

   ―Sofá? O que temos para resolver? Brigamos? Quando foi isso?

   ―Eu ouvi. Talvez não pretendesse me contar... Por que está tanto tempo aqui?

   ―Por que passei o dia longe dela. Você viu a correria quando cheguei e ela está tão linda. Com o gatinho. – Hannah continua a me olhar como se eu estivesse louco, mas não apaga o que ouvi. Ficamos nos encarando sem saber onde estamos indo com essa conversa. Basta ela dizer de uma vez que vai embora assumir uma gerencia.

   ―É quarto de dormir. Não conversar. – Brook diz sem nem abrir os olhos. Toca o gatinho ao seu lado. – Dorme Shiva. Lindinho.

   ―Boa noite anjo. Já estamos de saída. – Ela beija a sobrinha e deixa o quarto. Passa por mim e me fuzila. Eu a sigo fechando a porta de Brooklyn, depois quando fecho a porta do nosso quarto e me viro ela está de pé. Entre brava e confusa. Me olhando a espera de esclarecimentos. ― Vai me explicar?

   ―Ouvi que recebeu um convite para trabalhar como gerente em Washington. Fui na cozinha e ouvi.

   ―E não podia ouvir a conversa toda?

   ―O que mais tinha para ouvir? Entendi seu lado. Quer crescer, quem pode te condenar? Por isso quer que eu e Brook tenhamos uma boa relação. Para ficarmos sozinhos. Sem você quando ela vier nas férias.

   ―Nunca me afastaria dela. Está errado sobre isso também. Sobre tudo. Por que não me perguntou? – Ela parece ficar triste. Os olhos marejam.

   ―Entendi errado? Não tem nenhuma gerencia?

   ―O que me magoa é que resolveu tudo. Fez isso bem rápido. Vou embora com Brook e fica com ela nas férias. Tudo decidido. Resolvido. Acertado na sua cabeça. Já se dispôs inclusive a dormir no sofá.

   ―Acha que é isso que eu quero?

   ―Não Daryl. Acho que não quer lutar por mim. Que não quer que eu vá, mas pode aceitar se eu for.

   ―Complicado isso. – Não sei direito o que ela espera, mas quando a primeira lágrima escorre e me sinto responsável por ela meu coração dói.

   ―Disse não. Nem pensei a respeito. Essa é nossa casa, nossa famiiia. Estou feliz com meu emprego. Sei que está estabelecido e não pode se aventurar por aí. Foi tolice pensar em nós como uma família já que isso parece ser passageiro para você.

   ―Hannah... não está entendendo. Claro que não é passageiro. Eu não consigo imaginar alguém abrindo mão de algo por mim. Pareceu óbvio sua escolha. Disse não? – Ela balança a cabeça concordando. – Por que fez isso?

   ―Não vê? Amo você Daryl. – Ela diz entre me olhar e secar mais uma lágrima. ― Por isso disse não. Por que eu te amo e quero construir minha vida ao seu lado. Essa casa, nós dois, Brook e seu gatinho. Achei que era isso que estávamos fazendo. Talvez a ideia do sofá seja aceitável agora.

  Amo você ela disse. Hannah me ama, quer uma vida comigo. Uma história. Foi o que disse. Me ama. Todo o resto não importa. Principalmente essa coisa do sofá.

   ―Não vou dormir no sofá. Não vou deixar você ir para droga de lugar nenhum. Eu amo você. Quero casar com você. Entende?

   Dessa vez ela parece realmente chocada, não consigo ficar parado esperando que ela diga sim ou não. Me aproximo, envolvo Hannah em meus braços.

   ―Prometeu me ensinar. Estou aprendendo. Melhorei. Jantei com amigos hoje, temos um gatinho, eu amo você e consigo dizer. Não pode desistir de mim.

   ―Consegue. – Ela diz num sorriso que vem coberto de lágrimas. – Me pediu em casamento no meio dessa sua loucura. Isso é sério? Casar?

   ―Pedi. Hoje fez todo sentido. – Não admito que foi Jesus a me abrir os olhos, mas depois que ele falou e juntando com o medo que senti de perde-la é isso que quero. Me casar com ela. – Eu te amo e quero casar com você. Sem festa, padrinhos e toda essa coisa. Não sei direito fazer nada disso e nem gosto, mas quero sim oficializar. Te amo Hannah. A mulher forte que tem se tornado. Decidida.

   ―Você e Brook me tornam assim. – Ela me abraça. Se encosta em meu peito. Suspira. – Pode pedir direito? Só para eu poder ouvir um pedido?

   Afasto Hannah, seguro sua mão, meus olhos presos aos dela.

   ―Hannah. Quer casar comigo?

   ―Sim. – Ela diz transbordando alegria. – Quero. Quero entrar para a família Dixon. Como você e Brook.

   ―Isso sim é novidade. – Eu a beijo, ela quer ser minha mulher e talvez já seja. É como eu a vejo. Ergo Hannah nos braços e a levo para cama. – Enfim sós. – Ela ri quando me puxa para si e me beija. – Te amo.

   ―O bastante para termos um bebê?

   ―Está grávida? – Pergunto assustado.

   ―Não. Posso ficar, quero isso. Está pronto? Podemos pensar nisso? Um bebezinho nosso? Um irmãozinho para Brook?

   A ideia me apavora, mas ao mesmo tempo não consigo parar de pensar em ter um bebezinho nos braços. Penso em Brook quando nasceu, naquela coisinha delicada que sempre amei e nem sabia como mostrar e ter a chance de fazer diferente agora me enche o coração de coisas novas. Ternura, amor, coisas que não conhecia e Hannah me apresenta com seu jeito de amar.

   ―Um bebê. Isso é estranho. O que vou dizer. – Beijo seus lábios. Ela me faz um carinho nas costas. – Quero um bebê. Estou pronto. Amo você e quero essa família.

   Depois é só perdição. Meu corpo, seu corpo, seus sussurros e gemidos, os meus misturados, o amor que ela diz sentir por mim e demonstra no modo como me toca e se entrega. O desejo queimando e consumindo.

   Então estamos ali de novo. Nos olhando, assistindo os movimentos languidos um do outro. Sonhando juntos com o futuro. O bebê que vamos ter. O casamento intimo. Com vestido, um buque e Brook apenas. Shiva também. Parece que ele vai estar sempre presente.

   Os primeiros raios de luz começavam a surgir na janela quando adormecemos abraçados e esperançosos. Um futuro juntos. A garota do Walmart que um futuro comigo e isso é como um sonho impossível.

   Impossível para o irmão do Merle Dixon. Aquele tolo que vivia meio entorpecido e perdido. Não para esse homem. O homem que ela me ajudou a ser. Para esse uma família é possível.

   A certeza disso chega nove meses depois. Quando pego Sam nos braços pela primeira vez. Os olhinhos azuis se abrem um breve momento. O bastante para me arrebatar. Brook começa meio assustada. A ideia de perder seu lugar a domina, mas quando com a ajuda de Hannah eu coloco nosso bebê em seus braços ela se rende assim como eu.

   ―Tio ele é meu irmãozinho?

   ―Sim. Vai nos ajudar com ele? Você cuida direitinho do Shiva. Já sabe como cuidar.

   ―Sei. Olha tia Hannah. Que lindo. A gente já vai para casa?

   ―Amanhã querida. Essa noite eu e ele ficamos no hospital e você fica com a Beth.

   ―Gosto do Jesus. Ele é legal a gente sempre brinca e vou dormir na casa deles com o Shiva. Aí amanhã eu te busco com meu tio. Não é isso? O tio me disse tudo.

   ―Isso mesmo. – Hannah deitada na cama de hospital, linda e corada apesar de ter dado a luz me emociona. Ela toca os cabelos de Brook que eu prendi no meio da confusão de corrermos para o hospital no meio da noite. A aliança brilha em seu dedo. O casamento foi como planejamos e aconteceu dois meses antes do casamento de Jesus. Assim que soubemos do bebê.

   ―Vou lá fora tia. Avisar todo mundo que nasceu. Posso levar o Sam?

   ―Não Brook. Ele tem que ficar aqui. Acaba de nascer tem só umas horas.

   ―Então não vou avisar ninguém. Eles que se virem. – Jeito Merle de ser. Rimos.

   ―Você que vai ter que lidar com isso. Ela puxou seu irmão. – Hannah me provoca, como se Charlie fosse muito mais fácil. Me curvo para beija-la. ―Te amo Hannah. Com você ao meu lado dou jeito em tudo. Obrigado. Me ensinou como prometeu. Somos felizes. Me deu tudo.

   ―Me devolve todos os dias com seu amor. Obrigada. Te amo Daryl Dixon.

   ―E eu e o Sam também. Não é?

   ―Muito. – Beijo sua cabeça, depois a de Sam que está dormindo nos braços da cuidadosa irmã. Uma família. Finalmente eu tenho um motivo para viver, para lutar. Eu tenho tudo que sempre quis ter e que por muito tempo nem mesmo me atrevi a sonhar. Hannah me deu e está aqui. Ao meu lado. Como sei que vai estar enquanto vivermos. Nossos olhos se encontram. Sorrimos. Foi um longo caminho, mas estamos juntos e isso é tudo que importa.


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Notas finais do capítulo

Beijosssss
Quero agradecer todo mundo que acompanhou. Então se puderem deixar um "oi" agradeço. Já estou com saudade.