Darkness Brought Me You escrita por moni


Capítulo 11
Capitulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Feliz ano novo! Que seja um ano de muita sorte e sucesso para todas nós. Que nosso Daryl sobreviva a Negan e Lucille. E já começo o ano cheia de emoção com mais duas lindas recomendações. Quero agradecer muito a VALENTINA BARRY 1 sua linda que recomenda todas as minhas fics, está sempre me deixando um recado carinhoso, adoro você. MUITO OBRIGADA!!!!!
MANU MARTINEZ Que linda sua recomendação. Amei. OBRIGADA!! Eu sempre quero achar um jeito de agradecer e nunca encontro nada bom o bastante para dizer, mas saibam que é um dos meus melhores momentos abrir o Nyah e descobrir que minhas histórias foram recomendadas. OBRIGADA!!!
BEIJOSSSSSSSSSSSSSSSS



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Pov – Daryl

Seguir Carol e descobrir o que ela está aprontando é uma ótima desculpa para um momento sozinho respirando. Fecho a porta da igreja e a noite me engole. Está puro breu.

Sigo em direção ao carro que encontramos mais cedo, algo me diz que Carol não anda nada bem da cabeça e pode muito bem nos deixar.

Adoraria um cigarro agora, se pudesse não pensar naquele momento constrangedor eu não pensaria. Acontece que ele não sai da minha cabeça.

Eu vi muitas coisas, perdi pessoas, assisti a mortes horríveis, matei, mesmo assim nenhuma dessas coisas pareceu me causar tanta dor. Lembro de Hannah aos dezoito anos, delicada e inocente batendo vez por outra em minha porta preocupada com a irmã.

Nela com o uniforme do Walmart toda arrumadinha. Charlie e Merle sempre rindo do seu jeito de menina certinha. Aí imagino o que fizeram com ela e quero morrer. Quero voltar no tempo. Enfrentar Charlie, dizer que não vou visitar minha sobrinha escondido. Fazer tudo diferente para estar por perto e impedir o que já aconteceu e não tem volta.

Não precisava ser daquele jeito. Ninguém tinha que saber, como ela vai se recuperar de algo como aquele momento a pouco? Dava para tocar no constrangimento das pessoas.

Encontro Carol, ela está, como pensei, mexendo no carro. Sabia que tudo que queria era um jeito de pegar a estrada sozinha. Está todo mundo meio fora dos eixos.

─A gente pode mesmo encontrar uma saída Carol, um modo de resolver isso e continuarmos todos juntos. – Ela me olha um momento enquanto vou me aproximando, depois volta sua atenção a bateria do carro que ela instala sem muitos problemas. É agora completamente oposta a esposa submissa e abatida que um dia foi.

─Ficou atordoado com o que ouviu lá dentro? Deu para ver o quanto te afetou.

─Todo mundo ficou. – Aviso assistindo parado o seu trabalho.

─Não eu. Como achou que alguém frágil como ela sobreviveu todo esse tempo? E com uma criança? Estava na cara que pagou por proteção. – Quero desesperadamente pensar nessa frieza como uma casca. Ela não pode ter se transformado nisso.

─Cuidei de muita gente indefesa e não cobrei por isso. ─ Não preciso lembra-la que ela mesma já esteve na lista.

─Seu coração é puro. – É quase uma acusação e chega a me lembrar Merle. Ela se afasta do motor. – Elas são fracas demais para esse mundo.

─Posso mudar isso, assim que ela ganhar um pouco mais de confiança no grupo eu a ensino a se defender. Você aprendeu.

─Aprendi, mas sacrifiquei uma parte de quem eu era. Será que ela está disposta? – Fico mudo um momento, pensando se vale a pena sacrificar o coração em busca de mais uns dias sobre a terra.

─Protegi um bando de desconhecidos, cacei, alimentei e me arrisquei por gente que mal sabia meu nome. Hoje eu posso fazer isso pela minha família. Elas são minha família. Quero fazer isso.

─São sua família? Achei que a garotinha era.

─As duas são. Hannah é tia da Brooklyn, ela salvou minha sobrinha e sabemos agora como fez isso, eu devo muito a ela. Mais do que já devi a qualquer pessoa.

─Quer que eu acredite que isso é apenas dívida de gratidão? Não me entenda mal, sabe que gosto de você Daryl, mais do que qualquer outra pessoa aqui. Só quero que saiba exatamente onde está indo. Não precisa se dar mal mais uma vez.

─Eu sei exatamente o que estou fazendo. – Um som de motor de carro surge. Nos encolhemos tentando nos esconder e vejo um carro passar a toda velocidade. No vidro traseiro uma cruz branca e só penso em Beth, foi um carro assim que a levou. É uma pista, a única que tenho desde que nos perdemos, sem alternativa entro no carro e ligo. Carol senta ao meu lado e persigo o carro a distância.

─Vão ficar preocupados conosco se não voltarmos. – Carol me lembra.

─Rick vai saber que tive que fazer algo. Preciso seguir essa pista. Beth foi levada por um carro desses.

─Daryl, Beth...

─Beth é durona, ela está aguentando seja o que for. Não sabe com ela foi firme o tempo que passamos juntos.

─Não pode salvar todo mundo Daryl.

─Posso tentar. O que espera? Como posso voltar a igreja e dizer a Maggie que deixei uma pista de Beth se perder? Ei é a Beth. Se lembra? Família. É isso que fazemos, cuidamos uns dos outros.

─Hannah vai achar que a abandonou.

─Vou explicar e ela está com Rick e ele vai cuidar delas enquanto eu não volto.

─Eles podem partir.

─Não vão. Se forem eu os encontro. Rastrear é o que sei fazer.

Vejo Atlanta surgir um tempo depois. Morta e escura. A noite pesada mantem tudo misterioso. Assisto dois policiais descerem do carro. Policias? Isso é mesmo estranho, policiais sequestraram Beth?

O carro se afasta, o nosso fica sem combustível. O melhor é descer e achar um abrigo até amanhecer. Depois tentar uma nova pista. Já sei mais do que antes e me sinto confiante.

Carol conhece um lugar, entramos no que antes foi um abrigo para mulheres abusadas, onde elas podiam se esconder com os filhos quando deixavam seus maridos.

─Já estive aqui com a Sophia. Voltei para casa no dia seguinte. – Ela me diz quando vamos entrando por portas e corredores escuros. Achamos um quarto. Tem um beliche e podemos dormir um pouco. Tudo parece seguro.

─Parece seguro. – Aviso olhando em volta buscando qualquer coisa de perigoso.

─dorme primeiro. Faço a guarda.

─Parece seguro, não precisa.

─Faço a primeira guarda. – Ela repete. Aceito um tanto incomodado com Carol. Escutamos um barulho constante, seguimos o som, deve ser algum zumbis preso atrás de alguma porta. Isso é mesmo uma droga que se repete constantemente.

Por uma porta de vidro fosco eu vejo a silhueta de uma mulher, o som e o modo como arranha a porta esclarece sua condição. Para meu completo desgosto uma silhueta muito menor se junta a ela. Uma garotinha. Mãe e filha. Tia e sobrinha. Carol e Sophia. Hannah e Brooklyn. Tudo confuso e marcante.

Não é menos dramático para Carol, ela leva a mão a maçaneta. Eu a impeço, ela não precisa enfrentar isso.

─Não precisa fazer isso. – Carol insiste. – Carol, não. – Ela volta para o quarto. Está magoada, cansada e mudada. Nem sei mais o quanto da minha velha amiga ainda restou ali.

─As coisas vão melhorar Carol.

─Não sabe. Não sabe o que fiz quando fiquei sozinha. Não sabe de nada.

─Não importa. Importa que está de volta. Vamos pegar a Beth e voltar. Achamos um lugar e recomeçamos.

─Ela pode estar morta. Não sei se é certo ficar por aí tentando salvar as pessoas.

─Então por que veio comigo? Por que salvou Judith?

Ela não responde. Me deito e depois de um tempo Carol faz o mesmo, deita na cama de cima. Os dois corpos atrás daquela porta de vidro me apertam o peito e quando está prestes a amanhecer eu vou resolver aquilo. Abro a porta e tento não pensar em nada quando acerto a cabeça da mulher.

Quando o corpo da garotinha caminha para mim faminto por minha carne, sem vestígio de medo, só aquela fome sem fim eu vejo Brooklyn, meu coração parece se dilacerar quando acerto minha faca em sua têmpora com o máximo de respeito que podia ter e isso reitera minha decisão de fazer qualquer coisa por minha sobrinha.

Depois de enrolar em lençóis eu as queimo. Carol se junta a mim já no final, me agradece e seguimos nosso caminho. Tento não pensar mais na garotinha zumbi, ela me traz uma dor difícil de lidar.

Preciso descobrir onde está Beth. Já é manhã, saí ontem à noite e agora o tempo todo tenho medo por Hannah e Brooklyn. Medo e ao mesmo tempo sinto falta delas.

Atlanta está repleta de zumbis. Não é fácil caminhar por ela. Encontramos um prédio alto onde podemos quem sabe vasculhar pistas. Pelas janelas eu posso ver um carro do tipo furgão pendurado numa ponte com a mesma cruz. Ali encontro uma pista tenho certeza e não posso perder essa chance.

Carol me segue, nem sei mais porquê. Acho que ela também não sabe.

Zumbis começam a fechar a ponte enquanto vasculhamos o carro. Eles vêm em seus passos lentos dos dois lados, vampiros do nosso desespero, sanguessugas, hienas em busca de carniça. Vamos dar um jeito, mesmo me sentindo um pouco inconsequente eu tenho pressa. Já matei tantos zumbis, já escapei da morte mesmo estando cercado tantas vezes. Eu consigo. Encontro a pista que faltava. O endereço do Hospital Grady.

Acabamos cercados por zumbis, presos dentro do furgão a beira de uma ponte. Com as rodas da frente fora do asfalto, balançando dentro de um carro e só temos duas alternativas, acabar devorados por zumbis ou cair com o furgão pela ponte que não deve ter menos de quinze metros.

─Se segura Carol. – Não vou acabar na boca de um desses caminhantes. De jeito nenhum. – Vamos cair.

Forço o carro para frente com meu corpo. Os zumbis forçando a entrada acabam ajudando e caímos. O carro gira no ar, se for para morrer não foi sem tentar. Parece que tudo dentro de mim se movimenta com o impacto das rodas no chão. Junto com o carro corpos caem e se espatifam a nossa volta.

─Está bem? – Pergunto a Carol que concorda sem dizer palavra.

Eu a ajudo a descer. Depois seguimos para longe do acidente. Acabamos de cair de quinze metros e estamos vivos. Eu não sei se isso é sorte ou apenas mais uma brincadeira do destino. O fato é que estamos ainda aqui.

─Está mesmo decidido a achar Beth. – Carol comenta se sentando para descansar um pouco. Tem algumas escoriações pelo corpo e embora não reclame eu sei que está com dor. – Esse seu jeito herói ainda vai acabar com você.

─Não sei onde eu estava com a cabeça. Desculpe. – Ela balança a mão me mostrando que tudo está bem. – Fica. Se protege. Vou ver o que consigo e depois...

─Vamos juntos. Estou bem.

Tem um prédio que dá uma boa visão do Grady, entramos nele. Agora que Carol está ferida não posso arriscar a simplesmente invadir o hospital gritando por Beth.

Quando decidimos que podemos tentar qualquer coisa depois de ver o Grady pelas vidraças, saímos por um corredor cheio de barracas. Estranho pensar onde as pessoas se esconderam. Tem mortos dentro de sacos de dormir. Que tipo de gente se enfia num saco de dormir e acaba transformado?

Quando passamos por uma porta que deixa apenas um pequeno espaço por conta de correntes damos de cara com um garoto. Ele me aponta minha besta e está mais assustado que qualquer outra coisa. Quando passei nossas armas primeiro não contei com a hipótese de mais alguém vivo por aqui.

─Sinto muito, só quero ir embora. – Carol aponta sua pistola. Atiraria se eu não a impedisse. O rapaz corre e o seguimos.

─Achou que eu o mataria? Talvez matasse, mas ele está com nossas armas.

─É só um menino. Achamos ele. – Corremos o garoto estava com uma perna ferida. Quando chegamos a ele está caído com uma estante sobre seu corpo, um zumbi tentando passar por uma porta. Ele grita por ajuda.

Levou minha besta. Fugiu e nos largou e agora quer socorro. As vezes eu apenas me canso. Fico querendo encontrar nos outros um pouco de bondade. A bondade que Beth insistiu tanto que ainda existia e não sei mais se existe. Pego minha besta.

─Vamos Carol. – Agora ela para. O zumbi consegue passar, cai por cima da estante e ainda quer pegar o garoto. Ele não pensou em nós. Que se dane agora.

─Daryl me ajuda! – Carol não pode estar bem. Hora quer matar o garoto, agora decide que quer salva-lo. Sem escolha ou apenas por que estou sem paciência eu a ajudo.
Acerto o zumbi e ergo a estante, Carol está ferida e a culpa é minha. Então apenas para ajuda-la salvo o garoto. Ele corre para a janela.

─São eles. Vão me achar aqui. Temos que ir.

─Eles quem? – Obrigo o rapaz a parar.

─Os policiais do Grady, eles vão me encontrar. Temos que ir.

─Espera. Estava no Grady? Viu uma garota loura?

─Beth? – Meu coração acelera. Já imagino tudo resolvido e nós todos voltando para perto da família. Seguindo em frente. – Beth está lá. Me ajudou a fugir e ficou para trás, ela é forte, vai tentar de novo.

Acho melhor ficar com o garoto e corremos com ele, quando os policiais se forem ele vai me explicar como entro lá e trago Beth de volta. Na fuga o garoto caí, Carol corre em nossa frente, abre a porta e quando atravessa a rua um carro a atropela. Vejo seu corpo subir com o impacto da batida. Cair no capô do carro e depois escorregar para o chão. Tento correr, mas o garoto me impede.

─Espera. Eles podem ajuda-la. Tem médicos e remédios, não pode fazer nada, deixe que a levem e cuidem dela, é isso que tem que fazer, depois vai buscar as duas.

─O que preciso para buscar as duas?

─Armas e homens. – Ele me avisa enquanto assisto Carol ser colocada no carro e sumir pela rua.

─Tenho os dois. Você vem comigo. Como é seu nome?

─Noah.

─Ótimo. Vamos achar um carro e buscar meu grupo. – Será bom contar com Rick e os outros, além de poder avisar a Hannah o que está acontecendo. Eu encontrei Beth, agora que sei onde ela está podemos resolver isso. Carol é forte e vai ficar bem, se eles tem médicos e remédios ela vai superar.

Pov – Hannah

─Tia por que o Caçador está demorando?

─Ele... Daryl foi ver se tudo está bem lá fora. Ele está só te protegendo. – Ainda não quero acabar com suas esperanças sobre proteção. Mesmo achando que descobrir sobre o que fiz tirou as ilusões de Daryl sobre nós. Não foi à toa que no minuto seguinte ele sumiu e até agora não voltou. – Dorme um pouco.

Olho em volta. As pessoas começam a se ajeitar para descansar. Faltam Daryl, Carol e Bob. Não vi quando ele saiu. Acho que não olhei mais nos olhos de ninguém desde que Brook falou demais.

Um grito de socorro nos chama atenção. O grupo se põe em alerta. Admiro a coragem de todos em abrir a porta e ir descobrir o que se passa. Vejo quando Bob começa a ser puxado para dentro enquanto alguns deles lutam com zumbis tentando se aproximar da igreja.

─Fica aqui Brook. – Peço a ela correndo para ajudar a carregar Bob. É o mínimo que posso fazer. Num minuto os zumbis são derrubados, o grupo volta todo para dentro fechando a porta e corro os olhos em busca de Daryl.

Ele não voltou. Isso me apavora, mas olhar para Bob com metade da perna decepada me causa náuseas de medo.

─Foram eles. Garett, eles nos seguiram, tiraram minha perna. Comeram na minha frente. Estão aqui. Isso foi um aviso. – Brook me abraça. Treme, assim como eu, dos pés à cabeça. O relato de Bob regado a sua dor é o ápice do novo mundo e sua monstruosidade.

─Tia cadê ele? Estou com medo. – Não posso mais enganar minha menina. Nem mesmo sei se ele volta. Pode ter achado que era muito para ele. Ter partido com Carol, eles pareciam próximos, vi como a abraçou na floresta, sou uma tola mesmo.

─Vai ficar tudo bem Brook. – Me envolvo em ajudar a socorrer Bob. Leva-lo para um lugar confortável, assistir Rosita tentar de algum modo ajuda-lo com seu pouco conhecimento e parco recurso. Não tem muito a ser feito, ele mostra que antes disso tinha sido arranhado por um zumbi. A febre já dava sinais quando foi pego por Garett. Meu coração se aperta quando vejo a dor de seus amigos.

Rick tem um plano para pegar Garett, parece bem perigoso, mas o que me resta é acatar a decisão deles.

─Hannah, você fica com a Rosita. Vão ficar na sacristia com o Gabriel, Bob, Carl, e as meninas. Judy e Brooklyn. – Rick me avisa. Ele não parece bravo por eu não servir para muito. Mesmo assim sinto vergonha.

─Posso tentar ajudar mais Rick. Eu posso ir junto se for preciso.

─Vai ajudar se conseguir manter as crianças seguras. Aponte a arma para a porta e ajude a Rosita.

Afirmo e então somos fechados lá. A igreja fica silenciosa. Eles vão fingir sair, dar a volta e se esconder na escuridão da igreja. Quando o grupo de Garret entrar na igreja, vão sair das sombras e atacar. Só posso rezar para o plano dar certo. Aponto a arma para a porta. Brook escondida atrás de mim.

Só o que ouço são as respirações de todos. Bob reprime seus gemidos de dor e sinto tanta pena. É tudo sempre tão rápido e injusto.

A porta da igreja se abre num ranger de parafusos velhos. Dá para ouvir os passos do grupo pela igreja. Uma porta é o que nos separa deles agora.

Ele convida o Padre a se juntar a eles. Fala sobre deixar as crianças vivas. Nenhum de nós acredita. Quero que acabe logo e quando os tiros e sons de luta chegam aos meus ouvidos eu quero desesperadamente fechar meus olhos, mas não posso, não sei quem vai abrir aquela porta quando acabar.

Se for alguém do grupo então estamos de novo salvos. Se for Garett então acabou e vai ser como ir ao inferno a prestações, ele não vai poupar nenhum de nós da dor.

A porta se abre. Tyreese surge. Saímos e o cenário conta a carnificina nem mesmo isso apaga meu alivio. Os corpos mutilados de todo grupo de Garett, o corpo de Rick coberto de sangue e sua respiração tensa dão mostras do que aconteceu.

Não esperava por aquilo e o grito de susto de Brook me desperta. Ela fecha os olhos se agarrando a mim. Envolvo seu corpo tremulo. Até quando uma criança pode suportar isso sem se afetar? Que tipo de ser minha Brook vai se tornar se sobreviver a esse inferno constante? Eu já não sei mais o que esperar. O que desejar.

O que sei e isso me destrói é que Daryl não está aqui. Ele se foi. Escuto Maggie acabar com as ilusões do pobre padre.

─Essa é a casa de Deus. – Ele diz a ela.

─Não. Isso são quatro paredes e um teto. – Ela rebate. Está certa. Apenas isso. São quatro paredes e um maldito teto e nem mesmo isso impede o demônio de nos alcançar e ele agora tem muitas formas.

Levo Brook de volta para a sacristia com Judy e Carl. O garoto tem olhos frios. Acho que já cansou de ver a fúria. Não é mais chocante para ele.

─Acabou querida. Os homens maus que tentaram nos pegar já se foram.

─Eu vi. Tenho medo tia. Não quero morrer assim. – Abraço Brook.

─Não vai meu amor. Pode se acalmar um pouco? – Ofereço água a ela. Depois a envolvo novamente. Quando se acalma e adormece entre soluços eu a deixo. Meus olhos seguem para Carl.

─Pode ir. – Ele me diz gentil. Afirmo e me junto ao grupo no trabalho de limpar a igreja. Amanhecemos o dia arrastando restos de corpos, fazendo com eles uma grande fogueira. Nada de Daryl.

Bob agoniza cercado de carinho. Daryl não retorna. O ônibus está pronto. O grupo vai partir. Glenn prometeu seguir com eles. Maggie vai junto. Vamos ficar fracos. Rick e Michonne parecem fortes e estamos com algumas armas, mas onde podemos ir se Daryl não voltar?

─Daryl vai voltar. – Michonne surge ao meu lado. Agora carrega uma longa espada samurai. Olho para ela sem muita fé em suas palavras. – Não sei onde ele foi, nem o que o motivou. Apenas tenho certeza sobre ele voltar.

─E se algo o impedir? Se ele...

─Não. – Ela não me deixa terminar. Eu não poderia dizer as palavras de todo modo. Algo me liga a ele de um jeito que nem consigo pensar em algo assim sem ter vontade de chorar e me entregar. – Ele vem e vamos esperar.

Ela me deixa ali ao lado de Brook e vai com todos se despedir de Bob. Evito aquele momento. Eu não faço parte daquilo. Troquei duas ou três palavras com ele. Isso é coisa de família e fico com Brook adormecida.

─Ele já chegou? – E a primeira pergunta de Brook assim que abre os olhos. Faço um carinho nos cabelos claros e bagunçados. Nego. Ela entristece no mesmo instante. Me junto ao grupo naquele momento dolorido que é enterrar uma pessoa.

Me lembro de Debby. Enquanto Bob era só esperança e força. Debby era só desespero e medo. No fim não fez diferença, os dois partiram do mesmo modo brutal.

Fico sentada naquele banco frio e duro da igreja. É como a nossa vida agora. Apenas a rudeza de sobreviver por pura teimosia. Maggie se senta ao meu lado.

─Estamos indo embora. – Ela me diz do nada. Olho para ela e não consigo esquecer o que Brook fez. É como se todos estivessem pensando nisso o tempo todo. É tolice, depois do que enfrentaram essa noite eles não se lembram mais de nada disso. – Se quiser ir com Brook é bem-vinda. O resto vai nos encontrar em Washington.

─Não posso ser útil Maggie.

─Pode ser mais seguro seguir conosco. Estar em movimento e quando chegarmos lá ter um pouco de segurança para a pequena.

─Agradeço, teria ido em outro momento. Acontece que agora não somos apenas nós duas. Tem o Daryl. Eu não posso sumir com ela mesmo sem saber se ele volta ou não. Preciso esperar por ele.

─Claro. – Maggie me sorri. Seu sorriso é bonito e ao mesmo tempo triste. – Ele volta. Fico feliz que ele não está mais sozinho.

─Acha que ele... Acha que ele foi embora com a Carol? – Tenho que perguntar e me sinto melhor com ela do que com qualquer outra pessoa. Maggie me lembra uma pessoa comum, não esse tipo de heróis e vilões que o apocalipse criou, olho para ela e vejo apenas uma mulher. Isso me aproxima dela. Até fico triste em descobrir que vamos nos separar. Seria alguém com quem eu podia criar um laço verdadeiro.

─Deixar Brook? Não. Não o Daryl. Ele volta. – Ela segura minha mão. É realmente estranho segurar uma mão que não seja a de Brook.

─Maggie! – Glenn chama da porta. Ela afirma e depois me olha.

─Boa sorte! Espero vocês. – Ela me diz quase sorrindo. Depois para minha surpresa me abraça. Gosto do carinho. Devolvo o abraço, quando tenta tocar Brook minha garotinha se esquiva num pequeno sobressalto. Vejo os olhos de Maggie entristecerem um pouco. – Ainda não é tarde. Um dia ela vai ser de novo feliz. – Ela acredita mesmo que existe algo a nossa espera em Washington e quase posso ficar esperançosa. Ficaria se Daryl estivesse aqui.

Ficamos apenas nós. Um pequeno grupo de sobreviventes a espera de Carol e Daryl. Eles têm tanta certeza que só me resta acreditar. Mesmo na maior parte do tempo achando que ele nos deixou e que fez isso apenas por que não quer ser responsável por duas vidas.

A noite vem pesada e escura. Brook agora é apenas silencio, olhos abatidos. Ela teve seu herói por perto, confiou nele e então ele apenas se foi sem aviso. Sem despedidas e desculpas.

Michonne está lá fora e até invejo sua coragem, adoraria um pouco de ar fresco. Me contento em me encolher com Brook no colo em um dos bancos. Com medo de quando Rick desistir de esperar e resolver partir. Não posso ir sem ele, não posso ficar sozinha com Brook.

A porta se abre. Michonne entra e sinto a leveza em sua expressão, depois dela ele surge. Daryl está ali. Tem um rapaz com ele e Carol não está. Apenas registro isso sem calcular a importância. O que importa é que ele está de volta inteiro e varrendo o lugar com os olhos até nos encontrar.

─Caçador! – Brook salta dos meus braços e corre. Dessa vez ele a espera pronto para acolher seus bracinhos e assisto emocionada aquele abraço cheio de devoção das duas partes.

Meus olhos se enchem de lágrimas e me sinto idiota por chorar. O que ele vai achar? Não posso evitar as lágrimas e quando pisco elas escorrem. Me apresso em seca-las.

─Cadê a Maggie? – Ele olha em volta.

─Foram na frente para DC. – Rick avisa e sinto como isso o incomoda. – O que aconteceu Daryl? Cadê a Carol?

─Tanta coisa. Encontrei a Beth! – Ele diz e não sei quem é Beth, mas vejo o quanto isso o deixa feliz. Rapidamente ele explica sua aventura a Rick, pelo que posso entender eles querem resgatar Beth e Carol num hospital que pelo que o rapaz que o acompanha conta é um lugar perigoso.

─Quando amanhecer organizamos algo. Come e descansa um pouco. Vou organizar as armas. – Rick avisa a Daryl.

Com Brook ainda grudada em seu pescoço ele caminha em minha direção.

─Não dava para avisar. Se voltasse aqui perderia o rastro. Desculpe se deixei vocês.

─Tudo bem. Todo mundo tinha certeza que voltaria. – Aviso meio tímida agora. Ele me viu chorando e nem sei o que pode estar pensando. – Brook deixa seu tio descansar um pouco. – Tento tira-la do seu pescoço, ela se esquiva.

─Tio? – Pergunta achando estranho.

─Sim. Ele é seu tio. Você se lembra dele. Te deu a Lyn. É irmão do seu pai.

─Aquele que é Merle? – Ela questiona. O nome do pai e um pouco de quem ele era Brook sempre soube. Cresceu ouvindo sua mãe falar dele todo tempo.

─Esse mesmo. Agora senta um pouco aqui e deixa o seu tio descansar. – Forço ela a sair do colo de Daryl. Ele não se intromete, acho que no fundo não quer mesmo ficar com ela no colo, ele não parece saber bem como agir quando ela quer carinho e atenção.

─Você chama tio Daryl caçador?

─Chamo o que quiser Brooklyn, a escolha é sua. – Ele diz seguindo para os potes com a comida que temos. Michonne servia o rapaz que o acompanha que eu ainda não conheço.

Depois de se servir ele volta para perto de nós. Se senta no banco ao meu lado. Eu gosto quando ele escolhe ficar conosco dentre todas as pessoas e lugares, dá uma sensação de intimidade e união. Parecemos mesmo uma família.

─Aconteceu um monte de coisas feias aqui caçador. Conta para ele tia.

─Garett nos seguiu. – Ele para de comer para me olhar. – Bob está morto.

─Vocês estão bem? Como...

─Rick e os outros pegaram Garett. Acabou. Morreram todos. Depois alguém te conta. – Abraço Brook e ele entende que não quero contar detalhes na frente dela.

─Desculpe não estar aqui. Beth é muito importante para todos nós.

─Ela é sua mulher? Eu achei que fosse a Carol. – Mas que diabos eu estou dizendo? Não acredito que fui tão longe. Teria sido mais elegante perguntar diretamente do que ficar dando voltas para saber se ele tem alguém. Daryl balança a cabeça em negação.

─Nem uma, nem outra, mas as duas são importantes para mim, do mesmo modo, por motivos opostos. Vai gostar de Beth.

Ele parece tão esperançoso e quase feliz com a possibilidade de traze-la de volta que não tenho tanta certeza sobre gostar dela. Descobrir isso também não é nada fácil.


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Notas finais do capítulo

Então pessoal. Não vou seguir cem por cento a série. Mas vamos ter a mesma linha. Grady, um tempo na rua e Alexandria. Queria contar um pouco deles perdidos e sem direção, volneráveis. Depois quando chegarem a um lugar seguro e tiverem a chance de desenvolver a relação os dois já vão ter enfrentado muitas coisas juntos. Esse momento não demora.
BEIJOSSSSSSSSSSSSS