Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 43
Capítulo 43


Notas iniciais do capítulo

Fala gente! Tudo bem com vocês?
Mais um capítulo. Espero que gostem. :)



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Eu preciso admitir que minha família reagiu melhor do que eu esperava com o Ricardo, especialmente o meu pai e o meu irmão. Tá, agora vem aquela fase chata de namoro de sofá e perguntas embaraçosas, mas acredito que já passamos pela pior parte. Isso deve dar para encarar, espero.

Hoje o Animal me convidou para irmos ao lago. O dia está bonito e o trabalho na fazenda adiantado. Na verdade, há uma camada de poeira começando a se acumular nos móveis, mas o Ricardo não tem me deixado limpar direito. Toda vez que tento ele vem com suas mãos e seus beijos e acabamos no quarto. Não que eu esteja reclamando, mas o trabalho da casa precisa ser feito. Tecnicamente, eu ainda sou sua empregada e a encarregada pela limpeza. Eu gosto da casa limpa.

Tomamos um café reforçado com pão e bolo antes de ir para o lago. Eu fiquei impressionada com o Ricardo. Ele escolheu uma bermuda, sem se importar que sua prótese ficasse aparecendo. Acho que ele está, finalmente, aceitando sua condição.

—Você vai de bermuda? –Perguntei, antes de sairmos de casa.

—Isso te incomoda?

—Incomoda a você?

—Não. Está calor e você tem me convencido que aquelas calças jeans são muito quentes. Será que você não ficará com vergonha de que te vejam comigo? Se quiser eu posso colocar uma calça.

—Ricardo, amor, eu não tenho vergonha de você. Só quero que se sinta confortável. Isso não é motivo de vergonha, pelo contrário, isso só prova o quanto você é forte e o quanto você já passou.

—Eu já disse que te amo hoje?

—Já, mas é sempre bom ouvir de novo.

—Eu te amo. –Ele falou antes de me puxar para um beijo.

—Se continuarem assim, vai escurecer antes que consigam sair de casa. –O Moacir comentou com um sorriso.

—Você sempre chega nas piores horas, não é? –O Ricardo resmungou.

—Eu não chego nas piores horas, é que vocês não conseguem ficar longe um do outro por muito tempo. Estão esquecendo os biscoitos. –Ele falou, nos entregando os pacotes que esquecemos na mesa.

—Obrigada, Moacir.

Guardamos o pacote na mochila e saímos da casa. O João veio para falar algo conosco, mas parou e ficou meio abobado olhando para a perna do Animal.

—Sim, eu uso prótese e é feio encarar assim, João. –O Ricardo comentou, segurando o riso.

—Desculpa, patrão. Não foi por mal. –Falou, envergonhado.

—O que estava dizendo, João?

—O que eu estava dizendo?! Ah, sim, querem que eu sele os cavalos hoje?

—Hoje não. Cuide de tudo, João. Ficarei fora com a Sofia o dia todo. Se algum problema aparecer, resolva. Te dou carta branca para decidir.

—Claro, patrão.

Fomos andando, mas o João ainda acenou para mim e apontou para a perna do Animal e tentou falar, sem som, algo que eu presumo ser “pirata”, mas eu simplesmente ignorei e tentei segurar o riso.

—Ele está ainda está olhando, não é? –O Ricardo perguntou.

—Está. Acho que ele vai querer uma explicação depois.

—Acredito que vai.

—E você vai contar?

—Vou, mas não sem antes torturá-lo um pouco e ameaçar manda-lo embora por olhar.

—Você é um Animal, sabia disso, não é? Isso é maldade de sua parte.

—Sei, mas você gosta de mim do jeitinho que sou. Quem melhor que um animal maldoso para uma coelhinha curiosa?

—Não vou nem te responder, Ricardo.

—Seu sorriso já me respondeu.

Ele continuou com aquele sorriso presunçoso na cara e eu fingi que não vi. Eu admito que gosto um pouco desse lado maldoso dele, mas nunca vou admitir, não para ele começar a se achar.

A Caminhada foi tranquila. Dessa vez, levamos a Titília junto. Ela ficou um pouco incomodada por estar de coleira, mas não queríamos arriscar deixar ela solta e ela se enfiar no meio da mata. Assim que chegamos ao lago, a soltamos e ela começou a correr feliz. Aqui, pelo menos, não tem perigo dela se enfiar em algum buraco e se afogar eu sei que não vai. Ela odeia banhos.

—Acha seguro deixar ela solta assim? –O Ricardo perguntou.

—Ela não vai muito longe e aqui é mais aberto. Dá para ficar de olho nela.

—Bom.

Ele começou a arrumar as coisas e eu aproveitei para testar a água. Estava um pouco gelada, mas nada que não dê para se acostumar. Tirei minha roupa, já que vim com um maiô por baixo, e me joguei na água.

—Você não vai entrar? –Provoquei, jogando um pouco de água no Animal.

—Já vou. –Falou, um pouco desanimado.

—O que foi, Ricardo? Você estava animado.

—É melhor se eu tirar a prótese para entrar aí. É difícil secar a meia e ela molhada me incomoda.

—E por que não tira?

—Eu... –Ele parou de falar e me olhou como se procurasse as palavras.

—Não tenha vergonha por mim, amor. Eu não me importo se você não tiver uma perna. Acho que já te provei isso.

—Não é só por você.

—Então?

—Eu nunca mais nadei depois do acidente. Isso faz anos. Não sei se conseguirei.

—Você vai.

Eu saí da água e o ajudei a tirar a roupa e, depois, sua prótese. Ofereci meu ombro como apoio e entramos na água. Não vou mentir que levou um tempo para ele se acostumar, mas ele se saiu muito bem. Mais do que bem, eu diria. O bonitinho, depois de pegar confiança, até me puxou os pés e me deu alguns caldos. Parecia uma criança na água. Ele se tornou outro, brincou e até pareceu mais jovem.

—Você já fez amor na água? –Ele perguntou, ao me agarrar por trás, colocando um beijo no meu pescoço.

—Ricardo! –Tentei repreender, mas já estava cedendo à ideia.

—Você me torturou aquele dia, com a sua amiga. Não sabe como foi difícil manter meu autocontrole. Acho que mereço uma recompensa agora que estamos sozinhos e eu posso te tocar.

—Então você estava olhando?

—Sou designer. Aprecio as coisas bonitas.

Eu me virei para beijá-lo, mas gritei ao ver a Titília correndo com a perna dele na boca.

—Que aconteceu? –Ele preguntou, assustado.

—Sua perna!

—Achei que você não se importasse.

—Não, idiota! A Titília roubou sua perna.

—O quê?!

Ele se virou e viu ela correndo com a prótese na boca. Eu nadei até a borda e sai da água. O Ricardo veio atrás, mas, sem a perna, ele ficou pulando igual Saci. A cachorra maldita, gostando da brincadeira, só deu dribles na gente. O Ricardo caiu umas duas vezes no chão. Eu, num momento de distração, saltei em cima dela e agarrei a perna dele. Estava meio babada, mas inteira.

—Demorou, mas aqui está. –Falei, entregando a perna para ele.

Ele pegou, me olhou e depois começou a rir. Eu não aguentei e comecei a rir junto. Tá, isso não foi o que nós esperávamos.

—Acho que ela cortou o clima. Ela seria a cachorra perfeita para o seu pai. –Ele falou, rindo mais ainda.

—Meu pai não é assim tão ruim.

—Não, só ameaçou me capar se eu te tocasse.

—Se fosse isso, você já seria um homem capado.

—É impossível resistir a você.  Vale a pena correr o risco.

A partir desse ponto, fizemos um lanche e depois caminhamos de volta para a fazenda. Chegamos quase no final da tarde, suados, cansados, mas felizes. A Titília nos atrapalhou no lago, mas preciso admitir que encontramos um novo uso para o banco que ele tem no banheiro dele. Fico feliz que aquilo era resistente e aguentou nós dois. Seria um pouco embaraçoso falar para o Moacir que quebramos o banco.   

Depois disso, fizemos o jantar. Algo simples já que estávamos cansados. Uma macarronada com carne moída. O Ricardo estava bastante descontraído, com sandálias, bermuda e camiseta. Quem o vê agora não diz que ele é o mesmo homem de alguns meses atrás.

—Moacir, me faça um favor e chame o João para jantar conosco. –O Ricardo pediu.

O Moacir me olhou meio desconfiado, mas fez o que ele pediu. O João se juntou a nós na mesa, ao lado do Moacir. O pobre homem parecia aterrorizado.

—Acho que eu poderia te dar uma justa causa por encarar hoje, não é João? –O Ricardo perguntou, com falsa raiva.

—Desculpa, patrão. Apenas fiquei chocado. Quer dizer, eu sabia que o senhor era problemático, mas não achei que fosse pirata.

O Moacir soltou uma gargalhada e o Ricardo segurou o riso. Eu mesma não aguentei e comecei a rir.

—Pirata, João?

—Pirata, nos filmes que eu vi, costumam não ter uma perna e usar perna de pau. Acho que estou piorando as coisas, não é?

—Eu perdi a perna em um acidente de carro há alguns anos. Já fui chamado de muitas coisas, mas pirata é novo.

—Desculpa, patrão, mas foi um pouco estranho descobrir isso. Na verdade, é estranho ver o senhor vestido assim. Nunca vi o senhor com nada menos que calças e camisas fechadas, cabelo logo e barbado. Agora só anda barbeado, cabelo aparado e até usa bermuda e camiseta.

Dessa vez não foi só Moacir e eu que rimos, o Ricardo também não aguentou ficar sério e começou a rir.

—Isso, João, é o amor que faz com você. Quando você se apaixonar, você também mudará assim.

—Isso quer dizer que eu mantenho meu emprego?

—Mantém, mas não abuse da sorte.

—Obrigado, patrão.

A partir dali o Jantar foi tranquilo. A tensão foi quebrada e o João se integrou na conversa. O Ricardo conversou com ele a possibilidade de construir uma estufa e os dois começaram a fazer as contas do tanto de material que precisariam. O Animal pode até negar, mas sei que ele adora o João.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Se desejarem, deixem vossa opinião.
No próximo capítulo será o tão aterrorizante almoço e, como bônus, será do ponto de vista do Ricardo. Será abordado um pouco da conversa particular dele com os sogros.
Espero que tenham gostado desse capítulo.
Obrigada por lerem.
Forte abraço e até mais!



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