Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Fala gente!
Mais um capítulo para vocês. Espero que gostem. Esse está, podemos dizer, fofo. :)



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Já passava das 2 da tarde e o Ricardo ainda continuava lá sentado com os gambás no colo. Ele ligou para a tal pessoa e ela deve passar aqui depois do almoço para pegar os bichos, já era pra ter passado. Enquanto isso, eu e o Moacir estamos caindo pelos cantos de sono enquanto tentamos fazer os afazeres diários. Acho que minha cavalgada hoje vai ir pro brejo. Se eu continuar assim, vou acabar é dormindo em cima do cavalo.

—Vai descansar um pouco, Sofia. Hoje você ainda não dormiu nada. –O Moacir falou.

—Tenho que jogar a roupa na máquina para lavar e depois passar um pano na sala.

—Depois você faz isso. Vá descansar. Se quiser, pegue a rede e vá para a varanda. Tá calor e o ventinho lá tá bom. Eu também vou tirar uma soneca.

—Tá bom, Moacir. Dessa vez não vou reclamar porque também preciso dormir. Tente fazer aquele Animal dormir um pouco também.

—Tentarei, mas acho difícil.

Eu decidi seguir o conselho e puxei uma rede na varanda. Depois de uns poucos minutos e o balanço suave, adormeci.

***

Não sei exatamente quanto tempo dormi, mas acordei com barulhos de carro. Levantei um pouco para ver e era uma fiorino baú com uma mulher dirigindo. O que me impressionou, porém, não foi isso, mas sim o entusiasmo que o Animal abraçou e cumprimentou a mulher. Ele até sorriu. Ele sorriu, porra! Eu nunca vi ele sorrir. Será que é algum cacho dele? Eu queria chegar mais perto para ouvir o que eles falavam, mas seria dar muita bandeira. Ele lá, todo animadinho com os bichos na mão enquanto mostrava para a mulher. Ela não era tão velha, mas devia regular um pouco a idade dele. Será alguma paixão antiga?

—Sofia, que bom que acordou! Preciso da tua ajuda. –O Moacir apareceu de dentro da casa.

—Já vou, Moacir.

—Agora. Preciso que me ajude com umas coisinhas na cozinha.

—Agora?

—É bom. Você está aí dormido há mais de 4 horas.

—Tá.

Eu já ia entrando, mas parei pra ver o Moacir gritando e acenando para a mulher:

—Oi, Tina! Manda um beijo pras crianças. –Ele gritou.

Olhei de rabo de olho e ainda pude ver a mulher acenar de volta.

Assim que cheguei à cozinha eu vi que a ajuda que ele precisava era para que eu preparasse o jantar. Todas as coisas já estavam arrumadas na mesa, só faltava cozinhar. Não acredito que ele me tirou de minha quase investigação para preparar a comida. Ele fez de propósito, tenho certeza. Ele nunca me apressa para cozinhar.

—O Ricardo pediu para você fazer o jantar cedo.

—Tá.

—Desculpa se pretendia dormir mais, mas eu realmente não sei fazer um estrogonofe de frango decente.

—Sem problemas. Ô Moacir, quem é aquela mulher lá fora?

—A Tina?

—Tina? Isso lá é nome?

—É Celestina, mas a chamamos de Tina.

—Tem razão, deixa Tina. Me matava se me chamasse Celestina. Mas, voltando, quem ela é?

—Ela é uma velha amiga. Trabalha com animais e sempre que precisamos de ajuda ela dá uma força. Acho que já perdi a conta de quantos filhotes de gambá ela já pegou aqui durante esses anos todos. Teve até uma vez que o Ricardo achou uma coruja com a asa quebrada.

—Então eles são próximos? Ela e o patrão.

O Moacir me olhou e colocou um sorriso no canto da boca.

—Que interesse é esse Sofia? Ciúmes?

—Vai pra merda, Moacir! Estou só curiosa. Nunca vi o patrão sorrir assim e tratar alguém como ele a tratou, mas se bem que eu nunca vi ele com mais ninguém além de nós.

—É uma antiga amiga dele, de muitos anos atrás. É normal ele ser simpático.

—Ainda acho anormal esse lado dele, mas já que você diz...

Ele se aproximou de mim, por trás e sussurrou no meu ouvido:

—Não precisa ter ciúmes, ela é casada!

Eu virei rápido para acertar ele, mas o Moacir correu para a sala.

—Vai arrumar umas coroas para namorar, Moacir!

Eu bufei e continuei ali cortando aqueles frangos. Tá bom que é ciúmes... Isso é só uma curiosidade natural por o ver fazer algo, de livre vontade, que ele nunca faz. O Animal é tão antissocial que até me assusto quando ele demostra algum afeto com pessoas. Com outros animais ele é amável, mas com pessoas o único que ganha algum afeto, entre farpas, é o Moacir, mas, mesmo com o Moacir ele é estranho. Agora chega uma mulher e, do nada, ele fica todo sorrisinhos e abracinhos com ela? Estranho, estranho demais para a minha cabeça.

—AI, PUTA QUE PARIU! –Gritei ao sentir algo gelado encostando nas minhas pernas.

Imaginei logo que fosse algum dos gambás me subindo pelas pernas, mas, ao virar para trás, vi um cachorro preto com manchas amarelas no peito, patas e focinho. Um autêntico vira lata. De onde a saiu esse bicho?

—Oi, amiguinho. –Falei me abaixando para ele.

O Cachorro veio até mim e deitou no chão com a barriga para cima. Tá, não é amiguinho, é amiguinha. De onde essa bicha saiu? Até onde eu sei, o Animal não tem cachorro.

—Cachorra esperta! Veio direto para a cozinha. –O animal apareceu a chamando.

—É sua?

—Agora é.

—Foi sua amiga que te deu?

—Foi. Ela já passou por umas três casas e foi abandonada todas as vezes. Acho que tenho bastante espaço para acolher mais um.

—Qual o nome?

—Era Mel, mas eu pretendo trocar. Não quero que ela associe o nome com os antigos donos, merece uma boa vida. Se quiser, me ajude a pensar em algum.

—Tá. E os gambás?

—Vão sobreviver. Depois que crescerem um pouco, vão ser soltos. Agradeço pela ajuda de ontem.

—Não foi nada.

—Eu vou lá pra cima. Tente preparar o jantar cedo para, mais tarde, continuarmos a praticar. –Ele falou antes de sair.

Ele saiu, mas a cachorra não foi atrás dele, ficou lá, sentada e me olhando. Parece ser novinha, talvez, no máximo, um ano. Até que é bonitinha, mas se vê que é meio grandinha e pode até crescer mais. Ela bate na altura do meu joelho. Se ficar de pé, deve dar quase a minha altura. Bem se vê porque foi abandonada 3 vezes. É um projeto de pônei de tão grande. O Animal falou para eu tentar pensar em um nome. Acho Nina bonitinho, mas não creio que ele vá querer. A maioria dos bichos dele tem nomes históricos. Isso é um fato, ele gosta bastante de História. Bem se vê pela quantidade de livros nesse gênero que possui na biblioteca. Se ele já não tivesse uma égua com o nome de Maria Antonieta, ela poderia se chamar assim. Tem cara de Antonieta. Que outras mulheres fizeram história? Elizabeth, Joana d’Arc , Cleópatra, mas não, você não tem cara de nenhuma dessas. Tinha uma amante de D. Pedro, mas eu sempre me esqueço do nome. Era um nome estranho, mas acho que tem a cara da bichinha. Vou tentar perguntar para o patrão quando ele chegar. Ele deve saber.

—Bonitinha, vem cá! –O animal chegou da porta da cozinha e começou a chamar a cachorra.

A bicha o olhou, mas nem se moveu do lugar e continuou com a atenção em mim.

—Vai lá com o seu dono. –Tentei enxotar ela, mas ela só me pulou em cima fazendo festa.

—Parece que ela gostou de você.

—Acho que ela está mais interessada no que estou preparando.

—É possível. Quando tiver um tempo aí, traga ela para a sala. Tenho umas coisinhas aqui.

Ele se retirou e a cachorra continuou lá me olhando com aqueles olhos castanhos. Ótimo! Além do animal para ficar me olhando agora tenho mais uma. Dois para me vigiar.

***

Deixei o frango no fogo e fui para a sala. A cachorra me seguiu. No sofá havia vários brinquedinhos de cachorro e dois pratos de alumínio. Será que ela veio com tudo isso? O Animal estava distraído mexendo em um dos brinquedos.

—Ela veio com tudo isso? –Perguntei.

—Não. Eu já tinha isso.

—Mas então você já a estava esperando?

—Já tive um cachorro há uns anos atrás.

Ele esticou uma corda com uma bolinha amarada e a cachorra foi correndo morder. Acho que ela gostou.

—Ela ainda é filhote. Só tem 9 meses. Cachorros nessa idade precisam ter seus próprios brinquedos para não roerem a casa. –Ele falou.

9 meses?! Cacete! Essa cachorra vai ficar monstruosa...

—Já escolheu o nome? –Perguntei.

—Ainda não pensei em nada. Algo em mente?

—Eu até pensei. Eu já vi que você gosta bastante de história. Percebo pelos nomes dos seus cavalos. Lembra o nome daquela amante de D. Pedro?

—O primeiro ou o segundo?

—Sinceramente, não sei.

—O segundo teve Luísa, a condessa de Barral como amante. O primeiro foi Domitila, a condessa de Santos.

—O Primeiro, Domitila! Esse era o nome que eu queria lembrar.

—Domitila? Esse é o nome que pensou para a cachorra?

—Não é ruim.

—Não de todo, mas eu usaria o apelido que ela tinha.

—Qual o apelido?

—Titília. Dom Pedro era o Demonão. Eles trocaram muitas cartas e se tratavam assim nelas. Muitas cartas eram até, podemos dizer, um pouco obscenas para a época, ainda mais se levarmos em conta que isso vinha de um nobre.

—Sério?

—Sério. Tenho alguns livros com reprodução dessas cartas. Se quiser, depois te empresto, apesar de ser um português mais antigo e difícil de entender em algumas partes.

—Porra, por que não ensinam isso nas escolas? Claro que quero ler.

—Vai ser Titília então?

—Você é que sabe, a cachorra é sua. Só deu uma dica para o nome.

—É um bom nome. Eu tinha pensado em Cleópatra, mas, acho que Titília ficou melhor.

O deixei brincando com a cachorra e voltei para a cozinha, antes que o frango queimasse. Acho que a Titília está errando de dono. Ela me seguiu para a cozinha, com o seu novo brinquedo, e deitou perto dos meus pés.

***

A cachorra não se afastou de mim em nenhum momento. O Animal, na hora do jantar, foi generoso e encheu o prato dela com uma porção de arroz com estrogonofe. Ela devorou em segundos. Novamente, jantamos na cozinha junto com o Moacir e a Titília. Ele não fez questão de ir para a sala. Depois disso, fomos para a nossa cavalgada e a Titília não saia de trás de mim.

—Ela vai junto? –Eu perguntei para o Animal antes de subir no cavalo.

—Se ela não atacar os cavalos, pode ir. É bom para acostumar e fora que ela não te larga, né?

—Eu preferia que largasse. Era pra ela seguir você e não eu.

—Não posso obriga-la a nada. Vamos que a lua já vai aparecer.

O treinamento de hoje foi quase como o de ontem, com a diferença que hoje tinha uma cachorra atrás do meu cavalo e com a língua pra fora e bufando. Que merda essa cachorra viu em mim para cismar comigo? Eu tenho que dar um jeito de avisar para ela que o dono dela é o Animal.

Mesmo depois que chegamos, ela ainda me acompanhou no estábulo e ficou me olhando colocar o Bolívar na baia. Assim que eu abri a casa ela entrou correndo e subiu no sofá.

—Titília, desce daí!

 Tentei enxotar ela, mas ela apenas latiu e começou a pular sobre mim. Acho que ela acha que estou brincando.

—Anda, desce. Isso aí não é lugar para cachorro. Não era nem para você estar aqui dentro de casa. Anda antes que o patrão brigue comigo.

Tarde demais. Ele apareceu na porta, mas não disse nada. Apenas ficou nos olhando.

—Tente com um brinquedo. Costuma funcionar por uns segundos. –Ele falou.

Peguei uma bolinha no chão e joguei pra longe. Ela correu, pegou a bola e subiu correndo no sofá, de novo.

—Desce, Titília! –Tentei puxar ela, mas ela apenas fez corpo mole.

—Deixa ela. Depois é só passar o aspirador para tirar os pelos. –Ele falou antes de subir para o quarto dele.

Pera aí, ele deixou a cachorra dormir no sofá caro dele? Esse cara é louco. Depois dessa eu também vou dormir. Subi para o meu quarto, mas a cachorra me seguiu e ficou parada em frente a minha porta. Tá de sacanagem, não é?

—Nem pensar, Titília. Vá para o sofá. Esse é o meu quarto e você não vai entrar.

Ela me olhou com curiosidade. Peguei a bolinha que ela trouxe, joguei pelo corredor e aproveitei que ela correu para longe para entrar no meu quarto e fechar a porta na cara dela. Resultado: Ela ficou chorando e raspando a pata na porta. Eu mereço!

***

Depois de umas meia hora ela desistiu e ficou quieta, finalmente!

—Sofia? Você ainda está acordada? –O Animal gritou de fora. Qual foi agora?

Levantei, reclamando, e abri a porta. A cachorra não foi embora, entrou correndo no meu quarto e pulou na minha cama.

—Ela realmente gostou de você. –Ele comentou, apontando para ela.

—Preferia que não. O que quer, patrão?

—Só vim deixar aqueles livros que te falei sobre as cartas de D. Pedro. Iria deixar na sua porta, mas achei que ela pudesse roer. –Ele falou, me entregando dois livros.

Tá, isso foi surreal. Acho que estou sonhando ainda na rede lá na varanda. Ele sempre me olhou torto quando eu pegava um livro para ler e agora vem aqui me emprestar dois de boa vontade? Havia algo naquelas gambás que o contaminou.

—Boa noite, Sofia! –Ele falou antes de começar a se afastar.

—Boa noite e obrigada. –Falei, no automático, antes de fechar a porta.

Que foi isso? Que estranha loucura foi essa. Ainda estava um pouco desnorteada que só lembrei na Titília no meu quarto quando me sentei na cama e ela apoiou a cabeça em minhas pernas.

—Acho que você vai dormir aqui hoje, não é, Titília?

Eu me deitei na cama e a cachorra se aconchegou sobre os meus pés. A sorte que a cama é de casal. Não teria espaço para nós duas se fosse de solteiro. Larguei os livros na cabeceira e apaguei a luz do abajur para dormir. Esse dia foi muito louco e é melhor eu tentar dormir para ver se acordo.

Continua.


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Notas finais do capítulo

E então, pessoal? Alguma opinião?
Para quem curte história do Brasil, essa parte citada sobre D. Pedro e a marquesa de santos é verdade. Eles se tratavam por Títília e Demonão nas suas cartas. Há um livro com essas cartas, se não me engano, o nome é justamente esse: Titília e o Demonão. Um ótimo livro para quem curte essa área.
Sem mais, espero que tenham gostado.
Agradeço por lerem!
Forte abraço!



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