Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Fala, gente. Tudo beleza com vocês?
Mais um capítulo. Espero que gostem. :)



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No dia seguinte, o Moacir mandou rebocarem o carro até uma oficina e era um pequeno problema elétrico. Fácil de ser resolvido. Agora, alguns dias depois, minha pequena aventura de cavalgada com o Animal surtiu efeito. Eu e ele estamos totalmente resfriados. Ainda acho que estou pior. Além da gripe eu também estou com minha garganta detonada. Estou tão ruim que o Moacir não tem me deixado nem ficar na cozinha. Tenho aproveitado minhas tardes na biblioteca, lendo, ao menos tentando, já que minhas vistas não param de escorrer devido ao resfriado.

–Tá melhor? –Perguntei ao ver o Ricardo entrando.

–Pareço melhor? –Ele perguntou, com seu jeito estúpido, enquanto fuçava nas prateleiras.

–Se você sossegasse um pouco e descansasse estaria melhor.

–Você tem feito isso todos esses dias e não vejo nenhuma melhora em você.

Eu o olhei e achei perda de tempo discutir. Quem vai ficar ferrado é ele mesmo. Faça o que bem entender. Eu voltei para a minha leitura, mas a verdade é que não conseguia me concentrar, não com ele fazendo barulho enquanto mexia entre os livros. Preferi fingir que ainda estava em minha leitura, mas o olhava disfarçadamente. Depois de fuçar bastante nos livros, pegou um e se sentou na outra poltrona ao meu lado. Tá de brincadeira que ele vai ficar aqui?! É hoje que não termino essa leitura...

Depois de um tempo eu consegui me concentrar de novo para ler, até o Moacir entrar carregando uma bandeja com café e biscoitos.

–Café quente e biscoitinhos para os meus doentinhos favoritos. –Ele disse, rindo, antes de colocar a bandeja sobre a mesinha do centro.

–Obrigada. –Agradeci.

–Por nada, Sofia. E você, Ricardo, não agradece ao seu bom amigo por isso?

–Você é pago pra isso.

–Ô humor...Não vai sair hoje não, como tem feito todos os dias?

–Sabe que não. Está chovendo e, caso ainda não tenha percebido, estou com um resfriado bastante forte.

–Já e é por isso que vou sair daqui. Não quero me contagiar. Aproveitem o lanche. –Recomendou, antes de sair rindo.

O Animal deixou o livro de lado e começou a atacar o lanche. Eu esperei ele se servir e também retirei um pouco de café para mim.

–Até que o Moacir faz um bom café. –Comentei, tentando puxar assunto, depois de um tempo de silêncio.

–É, faz. –respondeu, sem tirar os olhos do copo de café.

–Por que você é sempre tão calado? –Perguntei e ele me olhou como se eu fosse louca.

–E por que você precisa ser sempre tão curiosa?

–Você parece um eremita. Vice isolado de todo mundo. Se não fosse pelo Moacir, nem conversaria com ninguém.

–Eu converso com aqueles que acho que terão algo para acrescentar, não com pessoas fúteis.

–Então eu sou fútil?

–Não se comparada com algumas pessoas.

–Mas, se comparada a você, me torno fútil?

–De certa forma.

–Só porque não tenho estudos como você, que não sou pintora, designer ou seja lá que merda é, não quer dizer que seja inferior. Agora vejo porque só o Moacir consegue conversar com você. Você afasta as pessoas com esse seu comportamento.

–Já passei da fase de ser falso, fingir algo que não sou para cultivar falsas amizades.

–Não é ser falso, é ter educação. O Moacir realmente merece um prêmio por te aturar.

–Eu não preciso que me aturem ou gostem de mim. Para isso vocês são pagos. Para fazerem o seu serviço sem questionar.

Eu apenas o olhei com desaprovação. Poderia continuar uma interminável discussão, mas não queria. Há pessoas que não devemos perder o nosso tempo e o Animal é uma delas. Só espero que não seja tarde para ele quando aprender. Sai de lá e fui para a cozinha. Ao menos o Moacir não me trata como se eu fosse inferior.

–Brigaram de novo? –Ele perguntou ao me ver chegar.

–Ele é insuportável. Te juro que não sei como aguenta.

–E o que foi agora?

Eu falei, por alto, o que aconteceu e o Moacir não me pareceu surpreso, pelo contrario, pareceu um pouco decepcionado e até suspirou.

–Só tenha paciência, Sofia. Ele não é assim.

–Sei que não... Já perdi as contas de quantas vezes me disse isso.

–Ele é desconfiado.

–Desconfiado de quê? Porra, Moacir! Eu só queria conversar um pouco. Já trabalho aqui há uns meses e ele ainda nem me dá bom dia direito.

–Ele é difícil, eu sei. Sei também que ele não costuma confiar muito nas pessoas, mas acredite quando eu falo: ele tem motivos para ser como é.

–Que motivos? Se me contar, talvez, eu entenda.

–Não posso contar.

–Então eu também não posso mais tentar entende-lo.

Sai de lá e fui para o meu quarto. Minha mãe sempre dizia: chore na cama que é o lugar quente. Foi o que fiz. Chorei mais de raiva do que de qualquer coisa. Se o Animal assim queria, assim iria ser.

***

Os dias se passaram e eu comecei a tratar o Ricardo com indiferença, como ele fazia comigo. Falávamos apenas o essencial. Só lamento por ainda precisar de grana, se não fosse por isso, já tinha largado essa merda de emprego. Queria ter feito uma faculdade, ter uma profissão certa. Não precisaria trabalhar com as primeiras coisas que aparecem.

–De tanto conviver e reclamar, você está ficando carrancuda igual a ele. –O Moacir brincou e me tirou dos meus pensamentos.

–Não chego a tanto.

–Deixa que eu termino essa louça. Vá tomar um ar.

Agradeci e deixei que ele terminasse o serviço. Estava quente eu aproveitei para ir até a varanda e comer uma maçã que peguei antes de sair. Esbarrei com o João que também estava no horário de almoço.

–Que maçã? –Ofereci.

–Não, obrigado, mas acho que o Cuzco quer.

Cuzco, o bodinho causador da surra no Jaime. Ele sempre vinha me roubar frutas, mas, depois do ocorrido, passei a gostar mais dele. Dividi, de bom grado, a maçã com ele.

–Esse aí tem andado bastante sem vergonha. Te espera todo dia aqui. Você tá acostumando esse bicho mal. – O João brincou.

–Ele é bonitinho e bonzinho. Vou sentir falta dele quando for embora.

–Você vai embora?

–Do jeito que eu e o patrão estamos, não duvido ele me dar o pé da bunda.

–É, vocês ainda estão se estranhando, não é?

–Bastante.

–Espero que não vá embora. De todas as empregadas que já passaram e eu vi, você é a mais legal.

–Valeu. Você também é gente boa, João.

Eu ainda fiquei brincando um tempo com o Cuzco até o João me apontar um carro vindo.

–Será algum amigo do patrão? –Perguntou.

–Sei l...Caracoles, acho que é o carro do meu irmão. Será que aconteceu alguma coisa? Meus pais. Será que o Cruzeiro do perneta afundou?

Levantei correndo e fui em direção ao carro. O Fábio saiu com o Júnior, meu sobrinho de 5 anos, e correu até mim.

–Que aconteceu, Fábio? Nossos pais?–Perguntei, nervosa.

–Os coroas estão bem no cruzeiro, eu acho. A Patrícia que passou mal e entrou em trabalho de parto. Não tenho com quem deixar o Júnior. –Ele falou me empurrando o garoto pra cima.

Eu, delicadamente, apontei para o Cuzco e deixei o meu sobrinho ir correr atrás do bode e falei, quando ele se afastou de nós:

–Mas ela está de oito meses!

–Sei lá. Me ligaram do hospital e me falaram que a minha filha tá pra nascer. Não tenho cabeça pra cuidar do Júnior agora. Quebra essa árvore.

–Porra, Fábio! Sabe que eu não posso. Estou em horário de trabalho.

–Não tenho com quem deixa-lo. Você é a única pessoa em quem confio, depois dos nossos velhos.

–E a família da Patrícia?

–Os país dela também foram no maldito Cruzeiro do Roberto e eu não confio no louco do meu cunhado.

–Porra, mas o que aquele cara tem que todos os velhos querem fazer esse cruzeiro?

–Quebra essa pra mim, Sofia. Por favor.

–Tá, vaza, mas me dê notícias e vá com calma na estrada.

–Valeu.

Ele acenou para o garoto, entrou no carro e saiu cantando pneu na estradinha de barro. Puta que o pariu, o que eu vou fazer com o meu sobrinho? Dessa vez eu tô na rua e com razão.

O pequeno estava animado conversando com o João, mas me aproximei e o peguei no colo.

–Tia, é verdade que a mamãe vai ter bebê?

–É sim, Fabinho, mas não se preocupe, vai dar tudo certo. Seu pai foi lá ficar com ela.

–Aqui que você trabalha?

–É. Gostou?

Ele olhou em volta e colocou um largo sorriso concordando. Eu que não gostei disso dele ter gostado. O João também me olhava com uma cara de pena. Até ele se tocou na enrascada que eu me meti. Entrei na casa e encontrei com o Moacir na sala, lendo. O homem até ficou pálido quando me viu com o garoto nos braços.

–Er, Sofia? –Ele perguntou apontando para o garoto.

–Meu sobrinho.

–Oi! –O moleque o cumprimentou. Garoto dado...

–Olá, pequenino. Quer um pedaço de bolo? –O Moacir ofereceu.

–Quero.

–Vem com o tio Moacir. Qual o seu nome?

–Fabinho.

O Moacir saiu arrastando o garoto pela mão até a cozinha e, logo depois, voltou. Ele me olhava com uma cara assustada e interrogativa. Contei, rapidamente antes que o Fabinho terminasse o lanche, o que aconteceu e ele começou a coçar a cabeça.

–Que eu devo fazer, Moacir?

–Cuidar dele, né? –Respondeu, com desânimo.

–Mas e o Animal? Dessa vez eu tô na rua.

–Não sei qual vai ser a reação dele, mas não acho que ele te mande embora por isso. Imprevistos acontecem e não foi sua culpa.

–Sei lá. Só espero que ele não desconte no garoto.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Dessa vez as coisas ficaram complicadas para a Sofia, hehe.
Obrigada por lerem e até a próxima.
Forte abraço, pessoal!



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