Simples & Intensamente escrita por Dama do Poente


Capítulo 4
Apenas Uma Memória


Notas iniciais do capítulo

Eu deveria ter postado esse capítulo ontem, mas a rinite me pegou de jeito e eu passei o dia no sofá, mais morta do que viva, aproveitando para reler A Sombra da Serpente (leiam As Crônicas dos Kane, essa trilogia é maravilhosa).
Muito obrigada ao pessoal que comentou no capítulo passado e espero que gostem desse daqui também!!



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“Oh, aquele garoto é um cafajeste

O melhor que você já teve

É apenas uma memória”

– Fluorescente Adolescente, Arctic Monkeys

O sol ainda não estava de pé, mas Thalia sim. Estava sentada no balcão da cozinha de Nico, tomando café, e pensando em como fora estúpida; como deveria, primeiramente, ter priorizado seus instintos ao invés de ouvir aos amigos.

Tinha absoluta certeza de que Annabeth e Nico apenas queriam o seu bem, mas lá no fundo ela sempre sentiu que Luke não era boa coisa para ela: ela soube e viu como ele usou Silena Beauregard durante o ensino médio, e queria usá-lo para mostrar que garotas também sabiam brincar com corações, mas a única que se enganou em todo o jogo foi ela, o único coração que saiu ferido foi o dela.

― Café! Digo, bom dia! ― Nico surge, assustando-a ― Eu sei que ninguém é tão bonito assim pela manhã, mas não precisa pular como se tivesse visto uma assombração!

― Desculpe! ― ela dá um sorriso amarelo ― Eu estava apenas... Pensando...

― Arrependida pelo e-mail?

Thalia não conseguira dormir tão rápido quanto gostaria na noite anterior, não enquanto seu sangue ainda fervia. Era comum que ela agisse por impulso, e não foi diferente: usando o computador do amigo, descarregou os arquivos recentes da máquina e os enviou para o futuro ex-marido. Seu surto, obviamente, assustou Hazel, que correu para chamar o irmão e tentar impedir que Thalia fizesse algo que se arrependesse... Porém, já era tarde: ela já havia enviado e, coincidentemente, Luke telefonava para Nico naquele instante

“― Thalia, é o Luke... Devo...

― Pode dizer a ele que estou aqui, Nico! E peça-o que cheque o e-mail! ― ela consente.

Nico faz o que ela lhe pede, sendo bastante breve ao telefone.

― Você é minha melhor amiga, mas ele também é amigo meu: não quero ficar no meio dessa briga! ― o italiano lhe diz, e ela compreende ― Mas se precisar de alguém para espancá-lo...”

Mas ela não precisava de ninguém para bater nele, muito menos estava arrependida por ter enviado o e-mail: estava mais do que na hora de desmascararem Luke, mostrar o cafajeste que ele sempre foi, e ela, apesar de ver, pouco fazia por isso.

― Nem um pouco arrependida... ― ela informa, servindo uma xícara de café ao amigo ― Na verdade, eu queria te pedir um favor...

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Luke tentou, incessantemente, falar com Thalia ou Nico naquela noite, mas nem um dos dois o atendeu. Ele precisava tirar a história a limpo, esclarecer tudo, ou, pelo menos, pedir desculpas... Poderia ter ido à casa do amigo, porém a noite já avançava e Nova York não era um lugar exatamente calmo para que se movesse de um lado para o outro da cidade, ele poderia esperar pela manhã, quando os ânimos estariam mais calmos.

― Já vai! ― ouviu uma voz feminina responder aos seus insistentes toques na campainha. ― Opa... ― e essa foi a reação de Hazel ao dar de cara com ele na porta.

Maravilha: mais uma pessoa já sabia do ocorrido...

― Gente, vocês têm visitas! ― a garota grita, seguindo para dentro do apartamento, sem se dar ao trabalho de convidá-lo.

Luke a seguiu de qualquer forma, fechando a porta ao passar. Podia ouvir sussurros rápidos de Hazel e Nico e, por fim, gritinhos entusiasmados que foram seguidos de corridas até ele.

― Papai! ― seus filhos gritaram, abraçando-o pelas pernas.

― Como estão meus pestinhas favoritos? ― ele pergunta, se ajoelhando na frente dos dois.

― Bem! ― os gêmeos riem, se atirando em seus braços.

― Olha o que o tio Nico deu pra gente! ― Luna estica o pulso, mostrando uma pulseira decorada por pequenas pedrinhas. Noah, por sua vez, lhe mostra um cordão bem parecido com o que o padrinho usava, só que numa versão menor.

― Isso são diamantes? ― o loiro pergunta, observando a pulseira da filha.

― Mais ou menos. Cortesia do papai! ― Hazel responde, se aproximando ― Crianças, o que acham de irmos ao Central Park, dar uma voltinha enquanto seus pais conversam?

― Mas e o tio Nico? Ele prometeu que ia comprar sorvete pra gente... ― Noah resmunga, olhando para o padrinho, que se aproximou e o pegou no colo.

― Titio vai passar lá mais tarde. Só tenho que resolver umas coisinhas antes e depois compro todo o sorvete do mundo pro Noah e pra Luna... Se forem bonzinhos! ― o italiano murmura, olhando nos olhos azuis do afilhado de cabelos castanhos médios.

Pometo que vou ser bonzin! ― Noah diz, apertando a mão de Nico.

O italiano coloca o afilhado no chão e observa enquanto os gêmeos se despedem do pai e saem do apartamento, deixando o recinto em um silêncio nada agradável. Quem olhasse com descuido, acreditaria que se tratava do ensino médio de novo; parecia que os três tinham 17/18 anos e não 25/26. Mas havia sete anos de muitos erros e acertos entre eles.

― Nico, será que pode nos deixar a sós? ― Luke pede friamente, tentando disfarçar.

Nico não o responde de imediato: antes busca por Thalia que, com um balançar de cabeça, afirma que ele pode se retirar da sala, sem temer que esta se desfizesse.

― Estou no escritório! Ser “filhinho de papai” não é tão fácil quanto me contaram! Lembre-me de bater no Jason por isso! ― o italiano tenta soar divertido, fingindo que não estava ali.

E quando não estava mais, Thalia encarou os olhos claros do marido ― possível ex... Certamente ex ―, lembrando-se do tempo em que eles a faziam delirar de felicidade e não apenas de preocupações. A vida não era o mar de rosas que seus amigos pensavam ser: o melhor que eles já tiveram era apenas uma memória, e assim seria para sempre.

Havia a época em que eles estavam no fim do último ano do ensino médio, sentados em um banco, com os amigos em volta, e ele tinha o braço ao redor dela, lhe sorrindo carinhosamente, quebrando todas as barreiras que ela construíra até ali.

“― Olhem só que bonitinha: a indomável Thalia corando sob os cuidados de um ragazzo inamorato! ― Nico murmurara para os outros ― Lembrando que se machucar a pequena Thalia...

― Você já pode pensar em encomendar um caixão! ― Percy, que sempre fora lerdo, completa a fala do amigo, trocando um “aperto de mão ultra-secreto”

Luke sorrira para os amigos antes de se virar para Thalia, segurar-lhe o queixo, e falar olhando diretamente em seus olhos

― Jamais seria capaz de machucar essa marrentinha aqui: deu muito trabalho para conquistar. Perdê-la seria horrível! ― e o loiro a beijara, espantando todos os amigos, que já sabiam que eles não se afastariam tão cedo.”

De fato não se afastaram, e ela tolerou as fofocas por muito tempo.

“― Você é Thalia? A Thalia Grace? ― perguntavam na universidade, onde cursou jornalismo e fotografia. Cursos concomitantes.

― Sim! ― ela respondia, sem saber o que havia demais sobre seu nome.

― Uau. Você é um exemplo, às vezes bom, às vezes não! Depende do tipo de garota... Algumas gostam de cafajeste, outras não e te usam para encabeçar a lista de “Coisas Para Não Fazer”.

Porque todos sabiam de como ela “tornou um garoto mau em bom”, e nem sempre as pessoas achavam que isso fora bom: alguns só se lembravam de crucificá-la por não ter “vingado Silena”, embora se esquecessem de recordar que cada um é dono de sua própria sentença nessa vida.”

E ela fora a culpada por não ter ouvido seus instintos, que a mandaram fugir no momento em que tudo estava para ficar mais sério. Porque namorar e noivar eram compromissos sérios, mas que envolviam apenas os dois e não duas famílias inteiras.

“― Eu realmente não acho que essa seja a coisa certa a se fazer... O que começou como uma brincadeira de “vou partir seu coração” não pode terminar como “sou a parte que faltava de seu coração” ― ela resmungara para Annabeth, sua madrinha na época.

― Seja menos capricorniana, Thalia, e ceda de vez em quando. Ceda ao amor! Até mesmo o Percy, um leonino incurável e que entende de amor próprio, não escapou dele... De mim, no caso... ― a amiga lhe aconselha.

― Amiga, para uma pessoa de exatas, você anda muito humana! ― Thalia brincara, ainda sentada de pernas cruzadas na grama.

― Acho que meu lado que entrou em contato com o biológico Biólogo que namoro acabou sofrendo uma pane, e agora é meio humano!

― Sabe que isso não faz sentido, né? ― ela ri bem-humorada, quase esquecendo que deveria estar na Igreja.

― Fugir de alguém que te ama também não faz...”

E agora ali estava ela, sentindo todo o amor que um cafajeste tem a oferecer. Porque eles te amam, sim, mas eventualmente amarão a si próprios mais do que ao próximo.

― Thalia, amor...

― Luke, não comece, por favor! ― ela suspira, se encostando a parede. ― Eu não dormi o suficiente para discutir uma relação destinada ao fim. São nove da manhã, de um sábado: vamos direto ao ponto, por favor!

― Ok! ― Luke engole em seco antes de continuar ― Me desculpe, Thalia, eu...

― Por que você fez isso? ― ela não queria perguntar, não queria se rebaixar ao nível de quem pergunta, mas sempre fora uma criatura curiosa. ― E não pense, um minuto sequer, em mentir para mim: já passamos dessa fase, Luke!

O loiro suspira, olhando para os lados, para qualquer lugar, exceto os olhos da esposa. Ele se sentia tão envergonhado que não agüentaria a pressão que aquele olhar exerceria.

― Eu mal te via em casa, mal nos falávamos... Você passava a maior parte do tempo cuidando das crianças ou trabalhando... Eu parecia só mais um móvel na casa, eu era qualquer coisa, menos o seu marido. ― ele responde sinceramente.

― Eu tenho muita pena de você! ― Thalia o surpreende e se surpreende ao soltar tal frase: ambos esperavam por lágrimas, ou uma briga triunfal, mas tudo o que ela sentiu foi pena ― Parece que para você nosso relacionamento se baseava em sexo... Isso realmente é algo que você pode achar com qualquer uma por aí!

― Sexo? Thalia, eu mal te via em casa... Você passava mais tempo com o Nico do que comigo! ― e os ciúmes de Luke saem em forma de grito, levando o italiano citado a gargalhar em seu escritório, por mais que estivesse prestando atenção na matéria que escrevia.

― Não meta o Nico nessa história: ele não tem nada a ver com isso! ― Thalia diz seriamente.

― Não tem? Olha, ele te apoiou do início ao fim, embora se diga meu amigo também; foi para ele que você correu quando precisou e certamente encontrou apoio. Aposto como ele não me defendeu...

― Uma imagem vale mais do que mil palavras, Luke: o ditado sempre foi esse. Ele sempre foi seu amigo, mas há limites que nenhuma amizade fecha os olhos e ignora. Traição é um deles. ― a mulher cita. ― E eu “corri” para ele porque somos amigos há muito mais tempo do que eu te conheço: eu confiaria em Nico até de olhos fechados! Já em você: sinto muito, mas percebo que nunca confiei! Você sempre foi um cafajeste, e eu deveria saber, depois daqueles boatos sobre você e Katie, que não deveria lhe dar uma segunda chance...

Castellan fica sem reação, sem fala. Seu silêncio era a confirmação que Thalia precisava sobre o tal boato: ela sabia quando ele era pego na mentira, como seus olhos sobressaltavam e seu rosto se enrugava.

― Mando minha advogada falar com você quando ela voltar de São Francisco! ― Thalia abre a porta do apartamento do melhor amigo, convidando seu ex-marido a sair do lugar.

E de sua vida também!


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Notas finais do capítulo

Pois bem: o que acharam? Falta bem pouco para a fic acabar (também to chorando, gente. Eu amei escrevê-la), e eu realmente gostaria de ler a opinião dos leitores! A de muitos eu já sei, porém a deles não pode exprimir a sua também, né? Comentem, nem que seja uma vez!!
Beijoos e até o próximo!