Compêndio do Destino: A lamentação dos deuses escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 3
Cheiro de Conspiração


Notas iniciais do capítulo

Yoooo!
Bom, explicando mais ou menos a demora, meus finais de ano são sempre corridos... mal tive tempo para escrever esse cap, ele deveria ter saído no dia de Natal, mas nada funciona direito comigo...
Enfim, desejo a todos um Feliz Natal atrasado e um próspero Ano Novo, caso não consiga postar mais nada até lá...



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Eu devo ser sincera.

Ainda que isso me doa… e, se ainda não notaram, uma característica que me define bem é “orgulhosa”.

Eu realmente percebi tarde demais a situação, e não fosse por esse detalhe, talvez pudesse ter tido a oportunidade de mudar algo.

Mas prever o destino dos deuses é muito mais difícil do que lidar com o dos mortais. Na realidade, boa parte dos caminhos que seguem para o futuro divino é obscura para meus olhos. Dessa forma, só consigo observar o que acontece no presente, ou em um futuro relativamente próximo. Quando as situações acontecem, é sempre tarde demais para se fazer alguma coisa.

Foi a morte do primeiro deus que me despertou para o que estava sucedendo. Para o tamanho da tragédia que começaria. Ainda assim, alguns dias antes, algo me incomodava o suficiente para questionar a opinião de meu querido irmão, Surm.

— Certo… isso é muito inusual. — ele comentara assim que botara seus olhos sobre mim, sua figura relativamente mais alta vergando-se na minha direção para fitar-me mais de perto. — Você não costuma querer minha opinião quando se trata do seu trabalho, irmã.

Afastei-me um pouco. Minha relação com Surm é um tanto quanto problemática, afinal nós dois somos essencialmente diferentes.

A Morte gosta de jogos… enquanto meu passatempo e emprego sejam ambos voltados para leitura, Surm passa a maior parte do tempo (em que não está ocupado trazendo alguém para seu reino) buscando quem lhe faça companhia em seu pequeno vício. Xadrez, cartas, dados… ele é insaciável e bastante competitivo. Pessoalmente, só entendo de “jogar com a vida alheia”, então nunca faço parceria com o mesmo.

— De fato… mas quero que dê uma olhada em uma coisa. — empurrei meu domo em direção a ele, o que lhe causou uma careta de profundo desagrado, visto que apesar de inteligente, Surm não aprecia em nada leituras muito extensas. Ele passeou os olhos pela folha com visível tédio, mas em algum instante sua expressão sempre sarcástica modificou-se para algo mais sério.

— O que é isso?

— Hildin… pensei que parecesse óbvio.

— Eu reparei, é claro, mas… o que ele está fazendo?

Dei de ombros. — Não sei. Provavelmente nada bom.

— Se tratando dele, não me espanta… — Surm voltou a afastar-se, suspirando profundamente. — Ainda assim, por que resolve esconder seus passos logo agora? Poderia ter feito isso a muito tempo…

No trecho em questão, Hildin simplesmente se desconectara das minhas previsões, deixando-o incompleto. O último lugar ou vestígio que tinha dele apontava para a biblioteca de Cherriot, o berço do conhecimento, onde era possível encontrar Sawyer. Normalmente quando isso acontece, tendo a acreditar que o ser em questão morreu, mas ainda era capaz de sentir a presença do deus-cobra pairando sobre Meroé, então descartei tal opção ridícula.

— Esse homem… seus pensamentos estão… — apontei para um trecho anterior. Havia algo relacionado a um experimento, mas nada muito relevante. Ainda assim, meu instinto dizia que uma experiência conduzida por Hildin nunca acabaria bem.

— Que perturbador. — Surm voltou a sua personalidade zombeteira habitual, levando uma das mãos a boca. — Estou morrendo de medo!

— Não tens a menor noção de seriedade…

— Eu até tenho, mas não costumo me incomodar muito com isso. Também não deveria, cara irmã… o Panteão de Ordem e Caos faz o que bem entende. Não somos permitidos a intervir.

Uni as sobrancelhas. Aquele idiota tinha razão, para variar, mas eu não admitiria. Ainda mais porque estava com um pressentimento ruim. Ele pareceu reparar que eu estava prestes a revidar com algum comentário ácido, pois ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Ei, ei, não me olhe assim. Bom, se está tão curiosa…

— O termo certo é incomodada…

— Incomodada… — corrigiu-se, rapidamente. — Tente vigiá-lo de perto e veja o que acontece…

Ergui meus olhos para cima, onde o céu claro das tardes de Meroé se estendia indefinidamente. Subir a Cherriot me soava cansativo. Claro, como deusa eu tenho passe livre para entrar e sair sem ser incomodada, mas sempre me agradou mais fixar morada no mundo mortal, um privilégio que apenas eu e Surm mantemos – ainda que ele tenha um próprio reino para cuidar.

Prioridades são prioridades, afinal…

— Quem sabe…

No fim, devo adiantá-los que não consegui restabelecer a conexão com Hildin. Também não fui feliz em descobrir nada que ele tramava, e muito menos fui capaz de salvar a primeira vítima de suas tramoias… nem as que vieram depois.

O que posso fazer-lhes é mostrar o cotidiano dos outros envolvidos, durante aqueles dias, e fazer com que soe compreensível a seus ouvidos algo que falhei terrivelmente em perceber.

+

A Morada dos Deuses:

Grande Biblioteca de Cherriot

As mãos de Sawyer tremiam tanto que era-lhe impossível segurar o livro que tentava ler. Isso devia-se mais a idade avançada do seu corpo que qualquer outro fator externo, por isso geralmente lia seus domos apoiados em alguma coisa, mais frequentemente numa mesa. Daquela vez, contudo, o assunto parecia-lhe tão interessante e sua visão estava tão ruim que foi forçado a trazer o livro para mais perto. A chegada de um membro do lado oposto do Panteão fez com que estremecesse ainda mais, deixando-o cair por terra.

Que não fosse Bernkastel…

Ainda que houvesse uma proibição formal para que a Deusa da Loucura não adentrasse o edifício, havia ocasionais vezes em que a garotinha meramente ignorava isso e ia perturbá-lo da mesma forma.

— Não deveria ssser tão dessscuidado com domos tão interessssantes, messstre Sssawyer. — Viu quando uma mão escamosa desceu para agarrar o livro pela borda, como se fosse algum animal morto, e estendê-lo em sua direção. O velho voltou a segurar o volume, com certo cuidado, enquanto erguia a cabeça para fitar seu interlocutor, parando para ajeitar os óculos.

— Lorde Hildin… que estranho vê-lo por estas bandas tão cedo…

As cobras ao redor da cabeça de Hildin sibilaram, agitadas, mas seu rosto só demonstrava ironia. — Ora… não me lembro de a busssca ao conhecimento ser exclusssividade sssua…

— Não o é, sem dúvida… entretanto, não me lembro de ti tendo-a procurado antes por motivos bons. — Sawyer não parecia irritado ao dizer isso. Estava neutro como sempre, particularmente compenetrado em tentar desvendar o que o outro estrava tramando.

— Digamosss que… o tédio me impele a fazer coisssasss extremasss. — ele estreitou os olhos ofídios, mostrando por alguns segundos a língua e logo após assumindo uma expressão amigável. — Acalme-ssse, messstre… não é necessssária tanta hossstilidade. Ssserei tão rápido que mal lhe perturbarei.

— Que mal perturbará, diz… — repetiu para si mesmo, mas o outro deus já havia partido, enfiando-se em um labirinto de prateleiras que Sawyer conhecia de cor. Não estava com disposição de segui-lo ou sequer ajudá-lo, de maneira que apenas retornou a sua leitura.

Não posso julgá-lo por sua decisão, afinal era normal que Hildin estivesse tramando alguma coisa por trás dos planos, e tentar impedir as miríades de planos que este criava era cansativo. Talvez até mesmo frustrante. De maneira que a maior parte dos deuses havia lavado suas mãos com relação a isso.

Dessa forma o Deus da Traição estava livre para fazer o que bem quisesse… e, como vocês bem devem imaginar, isso nunca deve ser considerado uma coisa boa…

+

A Morada dos Deuses:

O Grande Salão de Mordok, Palácio.

— O que aquele cara queria dessa vez?

O dono da voz questionara mais para si mesmo do que para as outras entidades presentes, afinal nem desejava que estivessem por ali. Mas, como sempre, convencer Irina a não importuná-lo era impossível. E convencer Bernkastel a não acompanhá-la era igualmente difícil. E então Mordok tinha de lidar com ambas, o que não melhorava em nada seu mal humor.

— Qual é o cara em questão? — Perguntou Irina, com sua voz doce e baixa, inclinando a cabeça brevemente para a direita. Como era seu costume, mantinha-se sentada no piso de alabastro, sem se incomodar se sujaria suas vestes impecavelmente brancas.

— O Senhor Decrépito está falando do Cabeça de Cobras. — Bernkastel cantarolava do seu lado, dando piruetas pelo salão, de alguma forma conseguindo desviar da companheira que estava no chão.

Mordok tinha plena consciência que suas rugas de estresse estavam vincando-se ainda mais, mas aquilo era mais forte que ele. — Quem você está chamando de Senhor Decrépito, sua pirralha maldita?

— Porém, és realmente velho, e decrépito… estou apenas sendo sincera. — a mais nova parou em meio a um passo e jogou as mãos para trás, pondo-se a falar de forma mais formal.

— Eu vou te cortar em pedacinhos…

— Quero só ver, Velho, Decrépito, Idiota, Irritadinho!

— Olhe bem, sua peste… — ele fez menção de se levantar, mas antes que conseguisse completar o movimento Bernkastel já havia mudado de personalidade outra vez.

— Irinaaaaaaaa, ele quer me matar!

— Mordok, não seja tão ranzinza… e não mate a Bern…

— Por mim eu mataria ambas. — Resmungou num tom mais baixo, observando a Loucura sair de sua vista na velocidade da luz, deixando uma Irina confusa para trás. Focou seus olhos de aparência bizarra na sua contra-parte, uma figura frágil e calma jogada de qualquer jeito sobre o piso. Ela ficara em silêncio por algum tempo, até entreabrir os lábios para voltar ao diálogo.

— Hum… ela foi embora sem mim outra vez…

— É o que ganha por ficar invadindo o meu salão como se fosse comunitário. — Ele recostou-se mais uma vez em sua poltrona – que mais parecia um trono – e cruzou os braços, estreitando os olhos e forçando-se a ficar um pouco mais relaxado.

— Mas eu gosto de sua companhia, meu amado Mordok… — ela dizia aquilo com a maior sinceridade do mundo, de forma que era impossível duvidar.

— E sabe muito bem que desprezo a sua, Amor… — Sem perceber já havia trincado os dentes novamente. — Poderias morrer logo de uma vez. Aliás, eu mesmo irei matá-la se não sumir da minha frente agora mesmo.

Irina mordeu o lábio inferior levemente, voltando a abrir um sorriso gentil logo após. — Sim, eu sei. — Ela endireitou a cabeça, segurando com delicadeza as faixas que tampavam seus olhos. — Ainda assim, sem querer perturbá-lo demais… qual era o problema com Hildin?

— Uh… — o deus fechou os olhos por algum tempo, respirando profundamente, e logo após reabriu-os, deixando sua raiva de lado para pensar um pouco no assunto. — Está tramando algo. Estava fazendo perguntas estranhas a mim…

— Que tipo de perguntas?

— Sobre a lâmina da minha espada… sobre confiança, e fidelidade, e como seria interessante testar todos esses tópicos.

— O Deus da Trapaça falando sobre lealdade e afins me parece bem suspeito…

— É… — Mordok levantou-se, com passos firmes dirigindo-se para o centro do salão. — Creio que… devemos tomar cuidado.

Devemos? Está preocupado comigo?

— Eu já lhe disse… — ele parou bem próximo dela, sua mão descendo rapidamente para segurar sua garganta. Irina não moveu um milímetro sequer. Nem mudou minimamente sua expressão, pura e inocente, adoravelmente bela, com seus absurdamente longos cabelos loiros jogados descuidadamente ao seu redor. — Que a odeio, e irei matá-la… um dia.

— Nesse caso, não é mais fácil para você deixar que me matem?

Ele estreitou os olhos, cerrando os lábios por algum tempo antes de conseguir responder. — Não… — Soltou seu pescoço, notando que deixara leves marcas avermelhadas no mesmo, mas que sumiriam em breve. No arco de subida que sua mão fizera, conseguira capturar uma mecha do cabelo dela, um gesto que não seria percebido ou sentido pela deusa, estranhamente gentil considerando que era Mordok que o fazia. Levou a mão com a mecha aos lábios, pensativo, deixando que a aura dela o afetasse, o ninasse por um instante.

Apenas por um instante…

— Suma daqui, Amor…

Silêncio…

Irina ergueu-se, usando o próprio braço dele como apoio, o que não pareceu incomodá-lo, e passou a ponta dos dedos pela sua faixa novamente. Levantou-se na ponta dos pés, segurando com delicadeza o rosto cheio de rugas de expressão e puxando-o, de maneira que suas testas se tocassem. — Eu espero poder revê-lo em breve…

— Você não pode ver… e me encontra todos os dias, parece com uma praga… — e mais uma vez seus dentes trincaram. Mordok sabia que, definitivamente, não tinha controle nenhum sobre sua ira. Ficar perto dela o irritava ainda mais do que conviver com qualquer um dos outros. — Irritante…

— Se eu não fizesse isso, você continuaria sozinho aqui, não é verdade?

— Eu não quero companhia, é tão difícil assim para você compreender isso?

Ela riu, uma risada cristalina, e soltou-o, jogando as mãos para as costas e indo para trás, com pequenos saltos. Era incrível que ela não tropeçasse e fosse ao chão, levando em consideração sua condição. Irina nunca caia, ainda que andasse constantemente dançando. Ainda assim, ele meio que se preocupava com isso, o que acabava irritando-o ainda mais.

— Vá logo de uma vez!

E ela de fato foi… e, como acontecia todas as vezes, ele ficou para trás, resmungando e praguejando contra tudo e todos, e desejando secretamente que ela voltasse. Dessa vez, porém, Mordok se recuperara mais rapidamente de seus conflitos para focar sua atenção na espada que trazia atada por baixo do manto. Era uma arma relativamente simples, não chamava de forma alguma atenção, a não ser pelo cabo preto com arabescos brancos. Manteve-se segurando-a por essa empunhadura, questionando-se o que Hildin tinha em mente… ele tentaria roubá-la, ou…

Fazê-lo matar alguém com ela?

+

A Morada dos Deuses:

Laboratório/Residência de Seamus.

O deus conseguia ouvir o barulho nítido de coisas quebrando, possivelmente vindo da parte deserta da cidade, onde Everett causava sua destruição diária. Seamus mantinha seu local de pesquisas estrategicamente situado o mais próximo que podia ficar daquela área, sem que fosse sofrer os danos de seu degrado. Isso facilitava um bocado quando ele precisava limpar a bagunça de sua contra-parte, mas podia ser igualmente perigoso.

De qualquer forma, ele não estava preocupado com Everett naquele momento… mas sim com o convidado que acabara de chegar, forçando-o a parar de trabalhar no protótipo de canhão a laser para lhe dar a devida atenção. Logicamente, Seamus não se sentia nada feliz com aquela interrupção.

— Se veio até tão longe, espero que tenha uma boa razão, Traição.

— Vocêsss essstão todosss de péssssimo humor hoje, não é? — Hildin meneava a cabeça, mostrando intenso ceticismo. — Que desssagradável… essstou profundamente chateado.

— A menos que tenha algo interessante para me propor, irei dizer-lhe que francamente não me importo. — Ele largou a arma semi-acabada sobre a bancada, ajeitou o jaleco com um puxão usando a ponta dos dedos e tirou um pouco da franja que cobria seus olhos, deixando-os bem a vista. — Mas conheço-o o suficiente para saber que não é um parvo, e que só viria até aqui se houvesse uma razão. E então, o que é?

— Algumasss coisssasss que usarei para fazer um experimento… vim para bussscá-las.

— Você? Fazendo um experimento? Me parece bem suspeito.

— Ésss tão sssincero, messstre Ssseamusss…

— Dispenso o título de mestre, ainda mais vindo de ti… — Seamus abriu um breve sorriso, algo que se caracterizaria como ligeiramente psicopata. — E não lhe emprestarei nada, afinal a probabilidade de usar minhas invenções contra mim é enorme. Sem querer ser grosseiro, é claro, mas não confio em ti.

Como esperava, observou o rosto de Hildin assumir uma expressão tão maníaca como a que ele próprio estava fazendo. — Eisss um deusss inteligente, afinal.

— Me orgulho bastante disso… agora, se me dá licença… preciso terminar isso aqui. — com essas palavras fez um sinal para a arma que montava, voltando a pegá-la, e logo erguendo novamente a voz, reparando pelo canto do olho que Hildin mantinha sua atenção nas geringonças que estavam empilhadas nas prateleiras mais próximas. — A propósito… existe um escudo ao redor das peças perigosas, então sugiro não colocar suas mãos…

O som de algo fritando foi ouvido, e ele ergueu a cabeça para observar um Hildin apático olhando para a ponta do próprio dedo indicador, o qual estava com uma coloração doentia de negro e soltava um fio de fumaça. — Bem… não pode dizer que não lhe avisei.

— Verdade… bem, pareço bassstante frussstrado para ti?

— Que tipo de pergunta é essa…?

— Uma pergunta inocente, e é claro… com um duplo sssentido, cuja resssposta eu precissso urgentemente.

— Enquanto continua a olhar esse dedo dessa forma, creio que quase podem acreditar nisso.

— Bom… isssso é o bassstante, por hora… — As serpentes espalharam-se em todas as direções e Seamus viu o outro deus partir novamente. Perguntou-se se Hildin havia ido até lá só para machucar o próprio dedo. Se não estivesse tão ocupado com o projeto, e passasse pelo mesmo caminho que Traição fizera, poderia notar que de fato estava faltando um item em seu inventário.

Algo roubado com escudo e tudo…

+

A Morada dos Deuses:

Jardins Suspensos.

Ela farejava o ar quando viu Meirin aproximar-se, carregando um amontoado de coisas que poderia considerar inúteis. Seriam instrumentos musicais? Parecia-lhe mais com um monte de entulho, mas evitando de parecer grosseira ao perguntar, apenas torceu o nariz e observou-os atentamente. Afinal olhar diretamente para a Humildade era sempre difícil, ela não tinha uma aparência muito “sólida” ou “visível”.

— O que foi, Lady Rhys?

— Tsc… por que insiste em me chamar com tanta formalidade, você não é minha serva. Nem de nenhum outro deus… Hildin anda abusando de sua boa vontade de novo?

— Lars queria que houvesse uma orquestra em seus salões e me pediu para ajudá-lo a levar os instrumentos…

Será que ela não nota realmente que está fazendo o trabalho sozinha? — a deusa pensou, suspirando, e voltou a inspirar profundamente. — Apenas tome cuidado com esses dois, eles vão acabar lhe causando problemas…

— Não se preocupe com isso. — era-lhe óbvio que Meirin continuaria seu caminho, mas ainda estava parada, observando-a atentamente. Depois de alguns instantes encarando-a, finalmente ousou falar: — O que está farejando?

— Hum…

A deusa-loba fungou uma última vez, mexendo as orelhas lupinas para cima e para baixo, e um rosnado baixo começou a subir do fundo de sua garganta.

— Grrr… Sinto o cheiro de conspiração no ar…

— Hildin outra vez?

Ela só precisou acenar sutilmente com a cabeça para que a outra entendesse. Meirin inclinou a cabeça por um tempo, voltando sua atenção para a pilha de bugigangas e endireitando-se para mantê-la equilibrada. — Não seria muito diferente do que estamos acostumados, não é?

— Hum… me parece diferente desta vez. Meus instintos estão loucos, ainda mais quando penso naquele irresponsável desgraçado… — Suas presas brilharam, enquanto Rhys recolhia-as para dentro da boca novamente. — Acredite quando eu digo que algo grande está acontecendo desta vez.

— Não sei dizer-lhe nada com relação a isso, Milady Rhys.

— Já esperava por esse tipo de resposta… que garota mais descuidada. — a deusa meneou a cabeça, fazendo os longos cabelos castanhos espalharem-se sobre os ombros. — Atente-se!

— Certo… como desejar…

— E pare de agir como se eu fosse sua senhora ou algo parecido… — resmungou Rhys, sabendo que seria ignorada completamente. Seu olhar seguiu a outra entidade, que ora ou outra cambaleava para que nada caísse no chão, e já começara a andar novamente.

— Até mais tarde, Lady…

— Até…

A deusa-loba voltou a aconchegar-se sobre a grama, lançando seu olhar para cima, notando que o dia chegava ao fim. Parecia-lhe que acabaria por passar uma noite insone. Tudo por causa da existência de outro certo deus mesquinho e desagradável, que cismava em arrumar problemas tão frequentemente quanto respirava.

Ainda assim, tinha certeza que havia razão para se preocupar. E eu também afirmo que ela tinha todos os motivos do mundo, e mais alguns, para manter-se alerta. E, mesmo assim, isso não foi útil, como veremos mais adiante…


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Notas finais do capítulo

Well... vamos lá.
A imagem representa o Mordok, como minha net está ruim e o computador mais ainda, sem falar que estou com pouco tempo, não editei-a. O personagem original é Kcalb, do The Gray Garden. Créditos ao artista - que também não tive tempo de procurar.
.
Acho que de aviso é só isso - na verdade tinha um monte de coisas, mas em dois dias não lembro mais de nada.
.
Espero que tenham gostado, pessoal! ATé a próxima :3



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