— Veio, e foi muito atencioso, explicou que tinha a magoado muito, e pediu que eu entendesse o quão isso afetou na sua permanência em São Paulo, eu o compreendi Monica, e agradeci por ter se preocupado com isso – Percebendo que a menina ficou imóvel ela complementou – Não, ele não me contou o que fez, mas também não precisaria, não sou mais uma criança, sei reconhecer corações machucados, no dia em que me contou que não dançaria mais com ele, eu já sabia do que se tratava.

— Obrigada... Sabe, por entender, eu sinto muito por ter abandonado a equipe, só não peço para voltar agora, porque minha prova na Le Ballet é no sábado, vou passar a semana inteira ensaiando – Monica falou com um meio sorriso nos lábios.

— Ah que ótimo saber que ainda vai dançar, o Cebolácio vai junto? – Ela perguntou naturalmente.

— Vai, ele, na verdade, foi me buscar lá no Rio – Monica abriu um sorriso.

— Fico feliz que estejam bem, vocês dois juntos tem talento de sobra, agora me deixa terminar uns relatórios da próxima apresentação, vamos! – Alice se levantou indicando para ficar sozinha.

— Alice, obrigada de verdade – Monica sorriu – Se por um acaso eu não passar...

— Você vai passar Monica, não duvide de sua capacidade e nem da dele, ele é um grande coreografo – Alice a cortou retribuindo o sorriso, e fechando a porta em seguida.

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A semana passou de vento em polpa, parecia que quanto mais ansiosa ela estava, mais rápido o tempo passava e sua audiência de aproximava.

Os dias que precederam a apresentação foram regados de noites em claro, ensaios intermináveis e muita dor nos dedos dos pés. Cebola a acompanhou em exatamente toda essa maratona, virou as noites com ela retomando os passos, decidindo as luzes, as mixagens da musica, roupas, boné, só pararam na sexta feira a noite, quando decidiram descansar para não aparecerem no dia seguinte com bolsas sob os olhos.

Monica se jogou no sofá da sala do apartamento assim que avistou pela sacada o Cebola subindo na moto e partindo, tirou cuidadosamente a sapatilha dos seus pés, com muita dor retirou o curativo que tinha feito mais cedo e pousou os pés sobre a bacia de água quente que a Magali lhe tinha preparado.

Sentiu o arrepio que precede a boa sensação de mergulhar os pés, e relaxou mais ainda no sofá.

Magali passava de minuto em minuto checando se a amiga estava bem e alimentada, ela unia o sentimento de amizade com o fato de estudar na área e de hora em hora vinha lhe trazer lanchinhos saudáveis ou sucos vitaminados. Acompanhou preocupada a semana inteira o esforço da Monica em deixar os passos impecáveis, e estava tão ansiosa quanto.

Tirando toda ansiedade e cansaço, Monica se sentia extremamente feliz com tudo que estava vivendo, as coisas estavam se encaixando finalmente. Leu com um sorriso de orelha a orelha a mensagem estampada na tela do seu celular que lhe desejava uma ótima noite de sono e a avisando que a buscaria as 13h00, por instantes abaixou a mão que segurava o celular e ficou admirando o teto pensando em o quanto ele vinha sendo incrível, se é que o seu sentimento poderia dobrar, ela vinha o amando a cada dia mais.

Os vestigios dos dias difíceis vividos quando voltou para o Rio sequer existiam naquele momento, respondeu a mensagem tranquilamente e aos poucos o torpor foi tomando conta do seu corpo e ela adormeceu.

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Quando abriu os olhos lembrava se somente de ter secado os pés e de ter sido guiada para sua cama, agora como isso tinha acontecido não sabia responder. Sentiu o cheiro de café da manhã invadir seu quarto, e num pulo se colocou de pé.

— Meninas, nem sei como agradecer por tudo que andam fazendo por mim – Monica entrou na sala vendo a mesa recheada de coisas para um café reforçado.

— Amiga, sei que faria exatamente a mesma coisa por nós – Denise comentou sorrindo – Vem, vem comer que a Maga preparou a melhor panqueca do mundo.

— Nossa, não me diz que ela fez aquela de queijo branco – Monica se animou, pois sabia que a amiga fazia a melhor que já tinha comido.

— Simmmm, especialmente para vocês – Magali respondeu terminando o suco e o colocando no meio da mesa.

— Ai meninas, como que agradeço tudo isso? – Monica perguntou se servindo de um pedaço da panqueca.

— Passando hoje na audiência – Denise respondeu colocando o suco em seu copo.

— Bom, isso também, mas acho que isso aqui vai ajudar a deixar tudo mais divertido – Monica respondeu tirando de dentro do bolso do pijama dois ingressos e os apresentando as amigas que olharam admiradas.

— Como assim? O que é isso? – Magali falou apoiando o cotovelo sobre a mesa para olhar.

— Para!!! Perai, NÃO ACREDITO – Denise gritou colocando as mãos sobre a boca.

— Monica, como você conseguiu? Não acreditooo, é sério? É nosso? – Magali perguntou analisando os ingressos para um dos concertos de balé mais concorridos da America Latina.

— Eles esgotaram em menos de 24 horas após a abertura das vendas, como você conseguiu? – Denise perguntou dando pulinhos.

— Digamos que tenho um amigo, que conhece um amigo sabe – Monica respondeu sorridente.

Monica tinha planejado como forma de agradecimento na semana passada o presente, conversou com Marcos e com alguns amigos da sua escola de balé do Rio e conseguiu a compra de três lugares para o camarote VIP do evento. Tinha certeza de que suas amigas ficariam muito felizes, uma vez que os ingressos estavam esgotados, e era um dos melhores concertos de balé do mundo, vinha gente de todos os lugares assistir, e esse ano o espetáculo seria em São Paulo.

— Te amo – Denise gritou tirando foto do ingresso para mandar para o namorado - Não acredito que vamos juntas.

— Também amo vocês meninas – Monica concluiu grata pelo sorriso no rosto das amigas, e tornou a comer seu café da manhã.

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O que veio depois foi correria total, tomou um banho um tanto quanto demorado e escovou seu cabelo para mais tarde prende-lo num coque impecável, arrumou sua mala que sempre levava em apresentações, checou novamente se todos os seus pertences estavam no lugar repassou na mente pelo menos umas cinco vezes a lista do que precisaria.

Terminou a tempo de ouvir o celular tocando e o nome do Cebola irrompendo na tela, ele tinha chegado.

Se apressou para se despedir das amigas que a encontrariam mais tarde, e saiu correndo para encontrar o amado.

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— Nossa como está linda - Cebola a elogiou animado.

— Obrigada Ce – Monica lhe agradeceu o abraçando forte e pousando um beijinho em sua boca.

— Tenta se acalmar, ok? – Cebola pediu ao ver a cara de pânico dela.

— Eu estou com meu estomago embrulhado – Monica falou subindo na moto.

— Comeu bem? – Ele perguntou dando partida na moto assim que sentiu a Monica lhe abraçar.

— Sim, até demais, a Maga fez um café e tanto – Monica concluiu rindo.

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Chegaram na sede da Le Ballet aproximadamente as 14h00, tinham uma hora para se arrumar, apresentaram a inscrição e os documentos na secretaria da academia, e minutos depois foram liberados e guiados por uma das atendentes do local.

Enquanto caminhavam em silencio na direção ao camarim, Cebola observava boquiaberto as instalações do local, tinham inúmeras salas por todo corredor, todas envoltas de vidraça do chão ao teto que era incrivelmente alto, deixando a vista seu interior luxuoso, com os melhores equipamentos de som, barras de balé, piso apropriado, os espelho acompanhavam as vidraças por todos os lados e ele só parou de admirar quando quase tropeçou na Monica que parou assim que a moça lhe indicou o camarim e com alguns movimentos de mão onde seria a audiência.

Enquanto Cebola se arrumava num dos banheiros do local, Monica resolveu começar a arrumar seu cabelo, não demorou muito devido sua habilidade em fazer coques, demorou um pouco mais de vinte minutos para terminar a maquiagem, e assim que concluiu a sombra preta e dourada, trocou de lugar com o Cebola e assumiu o banheiro.

Faltando apenas dez minutos Monica apareceu no local novamente totalmente arrumada, conseguiu abrir um sorriso tremulo quando viu a cara do Cebola a olhando, sua roupa mesclava preto e dourado combinando com o dourado do boné e do tenis dele, ambos vestiam preto o que casava com o jogo de luzes do palco que o Cebola já tinha passando para o DJ do local.

Com as mãos suando Monica ouviu num pulo alguém bater na porta do camarim e avisar que quando ela estivesse pronta já poderia entrar, olhou em desespero para o Cebola que parecia nesse momento um pouco ansioso, ambos sorriram, Monica colocou sua pulseira de berloques, respirou fundo e eles deram as mãos para seguirem para o palco.

Pararam na coxia, as luzes estavam todas apagadas conforme tinham planejado e por fim Cebola deu o sinal para o DJ, era hora do show.

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As cortinas foram abertas e Monica se posicionou a frente, com o Cebola como sombra atrás.

A musica começou e Monica tomou a frente desempenhando passos lentos, impecavelmente deu um salto duplo girando no alto e pousando sem nem uma dificuldade, em seguida sem sair do lugar rodou cerca de três vezes dando piruetas com os braços para o alto, andou um pouco mais pelo palco e tomou distancia para saltar novamente com as pernas abertas no ritmo da musica e pousar estrategicamente na sombra onde daria lugar para o Cebola entrar, ele entrou com passos robóticos que seguiam a melodia, tirou o boné num toque da mão e com outro o colocou novamente na cabeça fazendo uma onda com o corpo, sob alguns gritinhos da platéia que assistia em silencio.

Segundos depois assim que o refrão começou, Monica tomou a frente novamente mas dessa vez com ele em seu calcanhar, encostou seu corpo no dele, e ele a envolveu segurando em sua cintura, passou uma de suas mãos sobre a extensão do seu corpo e com a outra segurou a mão dela a rodando por três vezes, numa jogada rápida Cebola a inclinou até o chão sustentando suas costas, e segundos depois ela voltou agilmente ficando cara a cara com ele, as respirações se fundiram, com um impulso, ele a sustentou pela cintura e rodou com ela de braços abertos no ar, a platéia foi a delirio.

Colocou ela no chão novamente e ambos juntos em cânone entraram no passo de hip hop, Cebola fazia primeiro e ela o copiava alterando pequenas coisas para os passos ficarem mais delicados,  dando um efeito incrível sob as luzes, terminado o cânone, ele a jogou com uma pirueta para o outro canto do palco, e automaticamente entraram nos solos, Cebola dançava street de um lado e Monica continuou nos passos de balé do outro, por duas vezes se intercalaram e quando a musica se aproximava do fim, Cebola desapareceu nas sombras deixando o final para ela. Monica de repente impressionou os jurados que olharam surpresos, ela revezava os passos misturando street e balé na mesma sincronia, dava rodopios e dançava street na ponta dos pés, com uma leveza rodou pelo salão, e por fim no ultimo segundo da musica, Monica saltou alto e ao pousar Cebola saiu da sombra e a sustentou até alcançar no chão, encostando seus corpos, segurando em suas costas com firmeza, segundos depois e juntamente com o final da musica todas as luzes se apagaram.

Um silencio atormentador tomou conta até que eles se recompuseram respirando rapidamente e as luzes tornaram a acender.

Agora e somente agora Monica conseguiu olhar para platéia, analisar os bancos da frente ocupados por rostos sérios que escreviam em alguns papéis, e lá na parte superior seus amigos ... Monica parou de respirar por alguns instantes, para sua surpresa, seu professor estava lá sentado ao lado das meninas, cochichando alguma coisa para a Denise, quando encontrou seu olhar, ele acenou abrindo um sorriso para a aluna.

Ela quis chorar, se segurou ao máximo com o coração a mil por hora esperando pela resposta. Olhou de relance para o Cebola que parecia tranquilo e confiante, e tornou a encarar a platéia. Algumas pessoas das quais nunca vira na vida estavam assistindo também e Monica se perguntou se seriam alunos da academia analisando se ela deveria fazer parte da mesma equipe que eles, um frio tornou a incomodar sua barriga.

Achou que desmaiaria quando ouviu um dos rostos sérios da primeira fileira começar a falar.

— Monica de Sousa... Aprovada, pode entrar o próximo. – O Mais alto concluiu como se explicasse que um mais um eram dois, e virou a pagina tranquilamente do caderno de anotações que segurava.

Monica igualmente quase todos que estavam no local, demorou um pouquinho para digerir o que tinha acabado de escutar, cerca de talvez 10 segundos depois Cebola a envolveu num abraço a erguendo e rodando, foi ai que sua ficha caiu, e ela chorou. Ouviu nas suas costas a comemoração calorosa dos seus amigos, e sentiu uma explosão de sentimentos dominarem seu corpo.

— Ah antes que saia – Agora a moça loira da ponta da mesa falava – Passe na secretaria, deixe uma cópia de todos os seus documentos e uma foto, dia sete de Janeiro quero você aqui, pronta para a primeira aula as 8 da manhã, não gosto nada de atrasos, prazer sou sua nova professora Bianca, e a propósito, estava linda sua apresentação parabéns aos dois.

— Ambos são ótimos, parabéns, você já pensou em ser profissional menino? – Um deles perguntou tranquilamente, diferente do mais alto esse era mais descolado.

— Eu... Obrigado, eu trabalho na área senhor, sou coreografo – Cebola respondeu estonteante .

— Oh, claro, parabéns, impecáveis, Monica estou ansioso para vê la dançando pela nossa equipe – Ele concluiu, sou o diretor, Fred.

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Monica soluçava baixinho, tentando segurar ao máximo a emoção, só conseguiu sair do palco quando Cebola a puxou calmamente dando espaço para a próxima bailarina passar.

Correu para abraçar as amigas, e logo após muitos desejos de boa sorte viu o sorriso calmo do seu professor.

— Sempre sonhei com esse dia professor – Monica falou para ele lhe estendendo as mãos.

— Eu também Moniquinha, sempre soube que tinha capacidade, parabéns – Marcos a abraçou emocionado.

— Não acredito que veio – Ela falou tornando a chorar.

— Eu não perderia – Ele concluiu sorridente.

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Cebola andou de um lado para o outro esperando Monica terminar de se trocar, estava ansioso, suas mãos suavam um pouco, isso lhe deixava muito mais apreensivo do que se apresentar em um palco.

Assim que a viu sair da secretaria com a bolsa pronta para ir embora, correu para a porta, esperando que ela saísse.

A pegou de surpresa e com um susto Monica sorriu lhe mostrando a matricula assinada, Cebola passou os braços sobre seu ombro e seguiram em direção a moto onde estavam os amigos os esperando.

— Não acredito ainda que passei Ce – Monica falou o acompanhando.

— Pois é, você arrasou linda – Cebola a elogiou.

— E você também Ce, estava demais, ficou incrível – Monica lhe deu um selinho e voltou para seu lado. - Obrigada por me ajudar.

— Então, o que acha da gente namorar? – Cebola perguntou já rindo a pegando de surpresa.

— Que? – Monica parou na hora com as mãos a boca.

— É...Namorar, eu já queria ter feito isso faz tempo, aceita? – Cebola explicou lhe entregando um saquinho em veludo azul escuro. - Eu estava procurando algo pra te dar, e encontrei esse presente.

Ela começou a lacrimejar novamente, o olhando atenciosa com as mãos levemente tremulas.

— Eu... É claro que aceito...

Monica abriu o saquinho cuidadosamente, e de dentro um berloque em formato de aliança cravejado de strass apareceu. Ela o olhou admirada, era lindo, tornou a olhar para o Cebola e ele se aproximou lhe beijando carinhosamente.