— Mas ami, e você mesma?! Não está se machucando com tudo isso? – Monica perguntou bocejando ainda sonolenta.

— É a Mo está certa, acho bonito e tal você se preocupar com o Quim, mas e sua vida?! Vai deixar o carinha que você gosta ir embora?! Tenho certeza que se aparecer alguém legal na vida do seu ex ele não vai pensar duas vezes em tentar denovo – Denise concluiu saindo do quarto – Agora vou mimir que amanha acordamos cedo, beijinhos minhas lindas.

Magali permaneceu em silencio, observou a Monica se levantar e deitar em sua própria cama, pousou a cabeça no travesseiro e admirou o teto, pegou seu celular e abriu a conversa com o Cascão, a releu e por fim tomou coragem de escrever.

“Cas, sabe nosso jantar? Topa amanha? Beijinhos boa noite”.

—-

— Ce, sério isso?! Eu estava brincando, você sabe que tenho medo, não vou sozinha não – Monica falou tremendo de frio.

— Vai Mo, quando eu falar, você da a partida – Cebola passou seus braços sobre o dela e segurou por cima de suas mãos o acelerador.

— Mas eu nunca pilotei uma moto na vida – Monica gritou ansiosa.

— Por isso eu passei os últimos trinta minutos te explicando todos os comandos necessários. – Cebola riu – Vai é fácil, você estava cheia de coragem a poucos minutos atrás.

— Ok, ta bom, eu vou tentar, mas se eu descoordenar, você para esse treco hein – Monica pediu receosa.

— Claro Mo – Cebola concluiu.

Monica ficou por alguns segundos olhando aquele painel tentando criar coragem, parecia que a ansiedade embaraçava todas as informações que ele tinha a passado. Cebola estava sentado atrás dela na moto para em caso de qualquer emergência entrar em ação.

Estavam indo embora pra casa quando Monica teve a idéia e o pediu para lhe ensinar, nem cinco minutos depois se arrependeu do pedido, vendo que nem o peso da moto ela aguentava direito, mas parece que Cebola tinha gostado da história mais do que ela própria.

Se seus pais a vissem fazendo isso teriam um ataque na hora e a fariam voltar para o Rio de Janeiro a todo custo, ela sempre quis aprender a pilotar uma moto, na verdade sempre quis não depender mais dos motoristas do seu pai para leva lá pra todo lugar, mas era totalmente inviável a possibilidade para seus familiares, uma moça da família dos Sousa em cima de uma moto soava como piada aos ouvidos dos mais cheios de frescura.

Foi pensando nisso que Monica deu partida confiante, Cebola se assustou um pouco, mas a moto seguiu devagar.

— Consegui, não acredito que estou pilotando – Monica gritou pelo capacete para ele ouvir.

— Eu sabia que conseguiria, agora continua a se concentrar que qualquer desvio de atenção no começo é perigoso – Cebola recomendou.

Foi ele acabar de falar para a moto dar um tranco e querer empinar, algo de errado ela tinha feito, Cebola rapidamente controlou a situação e parou a moto descendo em seguida.

— Melhor darmos uma pausa hahaha – Ele falou a ajudando a trocar de lugar com ele – Amanhã a gente continua.

— Ah, por que?! Só porque quase bati no carro estacionado?! – Monica perguntou rindo terminando de se ajeitar, com um susto percebeu algumas gotas caírem no visor do seu capacete.

— Ce, acho que vai chover – Ela falou receosa.

— Vamos rápido então, porque não trouxe as capas – Cebola concluiu dando partida novamente, dessa vez rumo as suas casas.

Um raio estourou no ar iluminando aquela noite fria, Monica se agarrou mais forte nele e temeu pela chuva que claramente estava pra cair.

— Ce, olha a cor do céu, vai cair um toró – Monica reparou no cinza tomando conta das nuvens.

Não demorou muito mais que cinco minutos para as gotas esporádicas se tornarem decorrentes, e por fim uma chuva fininha tomar conta do bairro.

Cebola começou a rir ao vê lá tentando se proteger.

— Não acredito, vai molhar todo meu cabelo, eu lavei hoje – Monica reclamou tentando salvar seu celular de ser encharcado.

— Para de reclamar.

— E minha roupa, vai sujar inteira, vai mais rápido Ce por favor – Monica pediu o abraçando tentando se proteger das gotas que vinham com mais força na direção deles.

Cebola teve uma idéia rápida para acabar com aquela reclamação, e instantaneamente mudou o caminho de casa, desacelerou a moto sob toda aquela chuva agora forte e foi parando aos poucos em uma praça iluminada totalmente vazia.

— Que isso? Está me seqüestrando? – Monica riu levantando o visor do capacete. – Ce, ta frio, o que você vai fazer? Ta louco? Vamos embora.

— Ah... Você me encheu com todas essas reclamações, vou te mostrar como se aproveita a chuva aqui na minha quebrada – Cebola responde tirando o capacete, o equilibrando sobre a moto e descendo.

— Que? Ta maluco?! Cebola está começando a chover forte, e tem os raios também – Monica reclamou vendo que ele se aproximava.

— Vem, desce e tira seu capacete – Cebola ajudou a tira-lo, já encharcado.

— Tá doido? – Monica perguntou correndo para baixo da proteção da copa de uma árvore.

— Não, eu gosto de chuva, de moleque sempre vinha aqui com os meninos para brincar – Cebola contou se aproximando novamente.

— Ei, o que está pensando em fazer? Não Ce, por favor, nãooo, eu lavei meu cabelo hojeeee – Monica gritou tentando correr, vendo que ele a perseguia.

— Vem, para de frescura, é chuva de verão, olha que delicia – Cebola a alcançou, e a pegou no colo fugindo das coberturas, procurando a chuva forte que caia potencialmente.

— Cebola, eu posso ficar resfriada, tenho que estar bem pro ensaioooo – Monica continuou gritando em protesto sob a risada dele.

— Só porque você é frescurenta vamos ficar aqui até a chuva parar – Ele provocou a segurando com mais firmeza.

Monica tentou protestar mais um pouco, porém foi em vão, já estava encharcada, o jeito foi entrar na zoeira, pulou do colo dele chutando a água de uma das poças em sua roupa.

Cebola correu até ela e a envolveu num beijo de arrancar o fôlego.

É, estava confirmado, era sua vez de viver um conto de fadas, não tinha mais duvidas, aquela cena era mais do que sonhava, era tão intenso o que sentia que não sabia descrever, seu príncipe tinha chegado.

—-

Cascão já estava ansioso, era a segunda vez que a Magali levantava para ir ao banheiro em apenas uma hora de conversa, sempre que ele engatava no assunto dos dois ela saia da mesa.

Magali olhava atenta seu reflexo no espelho do banheiro tentando criar coragem, era a hora dela dizer o que sentia, mas como?! Ele já tinha investido duas vezes no assunto, mas ela simplesmente não conseguia falar.

Respirou fundo mais uma vez e voltou ao seu lugar em frente ao amigo de infância.

— Está tudo be.... – Cascão ia perguntar, mas ela o interrompeu.

— Cas, eu sei que fugi do assunto por duas vezes, mas agora que criei coragem quero falar tudo que estou sentindo, eu gosto de você, não imaginei que despertaria esse gostar em mim, e pensei muito antes de aceitar esse convite, me preocupo sim com o Quim e com a Cascuda, mas não vou fugir do que quero – Magali concluiu o olhando atenciosamente, seus olhos cintilavam sob a luz ambiente.

Cascão não esperou mais uma palavra, passou de sua cadeira para a ao lado da Magali, segurou com suas duas mãos o rosto delicado da menina, e a beijou docemente.