Eu simplesmente não conseguia entender. Fazia uma semana que Carmem não ia pra escola. Eu ligava, mas seu celular sempre dava na caixa postal.

Todos da sala que a conheciam estavam preocupados, mas tentavam se convencer de que ela estava viajando ou estivesse doente.

Mas eu não.

Conhecendo Carmem, sabia que não era nenhum desses motivos.

Era algo que provavelmente só eu conseguiria entender.

Carmem sempre fora uma pessoa extremamente dócil, dificilmente se irritava ou gritava com alguém.

Mas ela começou a mudar, desde que começaram a surgir complicações em nosso namoro.

O fato de ambos os lados das nossas famílias não concordarem com o nosso namoro, pelo simples motivo de que eu sou dois anos mais velho que Carmem, misturado com a cobrança dos pais para ela ser a filha perfeita, a deixava muito estressada, ao ponto de quase se matar.

Eu conseguia acalmá-la, mas com o tempo, a situação ficou de tão certa forma, que começamos a brigar constantemente, e eu resolvi dar um tempo.

Mas justo quando eu ia me reconciliar com ela, ela desaparece sem deixar rastros.

Isso realmente torna as coisas muito mais difíceis.

Ao final da aula, resolvi dar uma passada no apartamento de Carmem com Jaime e Mário, meus melhores amigos.

Pegamos nossas bicicletas e fomos conversando pelo caminho.

– Daniel, você realmente acha uma boa idéia? - Jaime coçava a cabeça. - Quer dizer, se ela estiver passando por um momento difícil, acho que a última coisa que ela quer é ver você.

– Em parte, você tem razão. - Respondi. - Mas não custa nada tentar.

Sorrimos.

Quando chegamos ao prédio onde Carmem morava, percebi que Mário não disse nada durante o caminho, e geralmente ele costuma falar sobre diversos assuntos.

– Mário, está tudo bem? - Perguntei.

Ele hesitou um pouco antes de responder.

– Sim. Só uns probleminhas á toa, mas nada que eu não consiga resolver.

Ele deu um sorriso fraco, e rapidamente percebi que esses “probleminhas á toa”, eram algo relacionado a Marcelina, sua namorada, então preferi ficar quieto.

Entrei no elevador, e digitei o número do andar de Carmem. Mário e Jaime preferiram ficar na recepção.

Quando finalmente estava na porta do apartamento de Carmem, fiquei com receio. Será que era mesmo o certo?

Mas eu estava tão preocupado, que nem tive tempo de pensar na resposta.

Bati na porta. Nada. Toquei a campainha. Nada. Bati na porta mais algumas vezes. Nada.

Estava quase desistindo, até que me lembrei que Carmem tinha me dado uma cópia da chave, para quando ela não atendesse.

Girei a maçaneta e abri a porta.

O apartamento estava sujo e bagunçado, e a pia estava cheia de louça. Isso não era do feitio de Carmem.

Então, comecei a andar pelo apartamento, em busca de pistas de onde Carmem pudesse estar.

Até que avisto em cima de uma mesinha, um pequeno envelope onde estava escrito:

De: Carmem Carrilho

Para: Alguém que se importe comigo. Ou seja, Daniel.

Abro a carta e começo a ler:

“Caro Daniel,

Como eu sei que você é a única pessoa que faria tudo por mim, eu te peço: Me esqueça. Porque eu percebi que nunca vamos dar certo. Eu me estresso demais por motivos bestas, e sinto que isso te afeta muito. Sei que essa não é a melhor forma de dizer, mas eu estou terminando com você.

Atenciosamente,

Carmem Carrilho.

Fiquei em estado de choque. Como assim?!

No elevador, ainda não tinha conseguido digerir aquelas palavras.

Quando saí do elevador, Jaime me perguntou porque eu havia demorado tanto. Foi então que eu voltei a mim.

Então, saí andando até a entrada do prédio.

– Onde você vai? - Mário gritou.

– Apenas digam aos professores que viajei e que não volto tão cedo.

E saí.