Serena escrita por Maria Lua


Capítulo 20
Por água abaixo


Notas iniciais do capítulo

Mais um atraso... O problema é que mudei muito de ideia sobre o que viria a acontecer, e achei que essa foi a melhor das escolhas. Já tenho a ideia da fanfic inteira formada, e muito provavelmente ela está perto do fim... Não planejo mais de dez capítulos até então.
Bom, espero que gostem. Boa leitura!
PS: Mudei de nome! Agora sou Maria Lua, muito prazer. É o meu nome de verdade. Até o próximo!



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Passei o dia seguinte inteiro pensando na cena da madrugada anterior. Aquela não parecia ser a minha Serena, o que me fez pensar: será que a minha Serena não se parece com a Serena de verdade? Será que não sou eu o iludido? Ela agiu tão fria, como se nada que houvesse acontecido antes entre nós surtisse efeito em sua mente. Como se tudo houvesse sido apagado. E cada pensamento consequente surgia ainda mais melancólico, me pondo mais para baixo. Eu não poderia deixar de pensar no quanto queria que ela voltasse para mim, voltasse ao normal.

Eu me sentia egoísta a ponto de passar por cima de sua decisão, de sua postura, para a minha felicidade. Mas, no fundo, havia uma consciência dizendo que era o melhor para ela. E olha só! Eu sempre esquecia a sua saúde. Uma esquizofrênica controlada. Mas isso nunca foi um empecilho para mim, e muito menos para ela. O que poderia fazer?

Pensei em falar com a diretora. Sim, seria uma boa, mas tinha que checar os prós e contras. Prós: ela poderia me aconselhar, tem grande controle sobre o que ocorre na vida de Serena, sabe mais do que eu sobre o estado de saúde dela; Contras: pode estragar as chances de romance, pode entender errado as minhas intenções com ela, pode prejudicar o meu futuro.

Por sorte – provavelmente – eu já havia desistido do meu futuro. Não era mais aquele garoto didático e focado que queria dinheiro e reconhecimento. Nem pensava mais em escrever livros! Só conseguia me imaginar ao lado de Serena. É um amor psicótico. Talvez eu esteja tão esquizofrênico quando a própria Doolitle.

Como alguns contras foram cortados por conta da falta de importância que dei às consequências, eu fui. Poderia agora mesmo gritar para todo mundo que a amava e não ligaria para o depois. É a verdade. Eu a amo.

Fui atrás da diretora, bati à porta e aguardei. Quando ela me chamou eu entrei, sentei-me e já fui abordado com o assunto do incêndio. Havia esquecido que ela havia dito para mim que só voltaria ali com uma resposta sobre o ocorrido. Ela ainda precisava notificar o culpado para o seguro e o benfeitor do colégio.

– Desculpa, diretora Wilkes, mas não tenho informações sobre isso além do já dito. Trouxe outro assunto, algo que acho mais importante... – comecei, mas rapidamente fui cortado.

– Sr. Humphrey. Por favor. O senhor sabe que gosto muito de você, que o acho um sujeito excelente e que não o considero culpado nessa história. Mas estou encurralada. Preciso dar notícias da situação para os meus superiores, já que recebi a ordem de expulsar o culpado pela situação. Então... Espero que entenda a atitude que vou tomar. – falou, fazendo com que meu coração palpitasse mais rapidamente. Tive medo de ser mandado embora sem me resolver com Serena.

– O que vai fazer? - perguntei cautelosamente.

– Caso você ou Violet não se entreguem até amanhã... Vou ser obrigada a demitir e banir os dois da instituição. – falou.

Quando digeri as palavras ditas simplesmente gelei. Ignorei todo o dito em seguida sobre contatar Violet, sobre o quanto ela não gostaria de tomar essa atitude, mas que era forçada. Ignorei. Só conseguia pensar na Serena trancada aqui por mais três anos e eu trancado lá fora para sempre. Três anos seria muito para manter distância, mas eu esperaria por ela, apesar de ela não querer sequer me ver. Foi então que escutei apenas mais uma coisa dita pela diretora: eu havia sido dispensado até segunda ordem das minhas atividades no colégio, mas poderia permanecer no quarto. Isso me dava tempo. Tempo para falar com Serena. Tempo para convencer Violet. Porém não nessa mesma ordem.

– Sr. Humphrey. Pode avisar à Violet que quero falar som ela, por favor? – pediu, e eu assenti.

E para lá fui: Violet. Bati em seu quarto e aguardei-a abrir. Ela sorriu ao fazê-lo, dando um espaço para eu entrar.

– Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você viria. – quando entrei notei a sua vestimenta: ela estava de toalha. Seu cabelo estava molhado, o que só fazia com que eu me lembrasse de Serena. – Quer uma trégua?

– Primeiramente... A diretora quer te ver. Mas vou adiantar o assunto para você: nós dois vamos ser demitidos se você não assumir o que fez. Não assumir que causou o incêndio. – falei ameaçador. Tentava ao máximo me esquecer da simpatia que sempre usei para falar com ela. Hoje, todo sentimento que guardo por ela é raiva. Notei seus olhos aumentarem. Ela estava com medo. – E a segunda coisa é que você vai assumir.

– O quê? Claro que não!

– Como não?! Vai ser demitida de qualquer jeito, é culpada e ainda tem a chance de ser perdoada por mim. Acho que esses três argumentos já bastam. – falei. Senti que a estava encurralando. Que ela não tinha muitas contrapartidas.

– Chuck! Não, eu não posso fazer isso... Se eu for culpada vou perder tudo! Não sou inteligente como você, não sou boa em mais nada, não tenho dinheiro e nem para onde ir. Simplesmente não posso perder a minha vida assim! – gritou.

– Violet, foi sua escolha! Você fez, você assume, seja íntegra! – eu falei em tom ainda mais alto. Eu não conseguia acreditar na maneira hipócrita e mau-caráter que ela agia.

– Você me forçou a isso! Eu não faria nada se você não estivesse mudado. Você é um pedófilo! Um maluco, maníaco, e deveria estar na cadeia! Eu não vou me prejudicar sozinha. Se for pra ser demitida, te levo pra prisão! – ela ameaçou. Foi então que notei: ela estava desesperada e não desistiria. Não sei o que faria, mas sabia que ia tentar me prejudicar. E, caso não faça nada... Nosso destino é certo. Ambos vamos nos dar mal.

Não a respondi. Apenas saí de seu quarto, de sua vida. Fui em direção à única coisa que eu poderia fazer. Peguei o dossiê em meu quarto e segui por todo o colégio até encontrar a sala em que Serena estava. Bati à porta antes de entrar.

– Bom dia professora Elliot. Serena Doolitle, por favor. Tem certa urgência. – a professora liberou Serena, que relutou em vir. Mas, quando veio, passou direto por mim com impaciência.

– Para onde vamos? – perguntou. Eu a segurei pelo pulso e comecei a puxá-la para me seguir. – Ei! Está me machucando! Ficou maluco? – eu sequer a ouvi. Fui andando firme para onde queria ir. – Charles, esse banheiro é para alunas. Mulheres. Você não pode entrar! – insistia, mas eu entrei da mesma forma. Puxei-a até uma das cabines, a abri e levantei a tampa de uma privada.

Ela ficou me olhando, e só então notou o dossiê comigo. Antes dela reclamar, eu comecei.

– Sei que isso não muda nada. Não faz com que você me perdoe, não apaga o passado de maneira alguma. Mas eu espero que isso nos dê um novo começo. Isso não importa, e essa é a maneira que consegui para mostrar que quem você foi, o que você fez, o que você viveu não me importa. A única coisa que importa para mim é que eu te amo. – comecei a rasgar as páginas do dossiê e jogá-las na privada. Quando estava tudo lá, borrado, ilegível, eu dei descarga. Joguei fora quem um dia Serena Doolitle foi. – Agora você é apenas Serena. Ou melhor... Agora você pode ser quem você quiser, e ninguém vai dizer o contrário.

Quando falei saí de imediato do banheiro, apressado. Mas não sem antes assisti-la dar um lindo e fraco sorriso enquanto encarava os restos de papéis descendo ralo abaixo.


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