Serena escrita por Maria Lua


Capítulo 17
Vamos?


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, ME DESCULPEM. Não achei que demoraria três dias para postar de novo. Bom... Agora as postagens serão mais recorrentes, afinal terminei minha recuperação de física (finalmente terceiro ano!). Espero que gostem!
Boa leitura!



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Com alguma sorte eu consegui argumentar que aquela situação de interrogatório não estava correta. Entrando no colégio eu assinei termos de confiança e conversei com a diretora Wilkes sobre honestidade e ética de trabalho, e disse que, a sós, eu poderia dizer a ela tudo o que havia feito na noite passada. E assim o fez. Ela dispensou as pessoas e chamou tanto a mim, quanto a Serena, quando a Violet para o seu escritório. Eu podia ver que ela estava estressada. Vivia soltando ar, respirando fundo, como em sinal de pressão baixa, e não é de hoje.

Ao chegarmos lá ela pediu para cada um entrar de uma vez. Primeiro: Serena. Eu e Violet estávamos sentados em silêncio até ela pigarrear. Olhei para ela de imediato.

– O que foi? – perguntei.

– Acabou, Chuck. Não tem como escaparem dessa. – deu de ombros sorrindo. – Ou são pegos por uma coisa, ou outra.

– Foi você, não foi? – perguntei.

– O quê?

– Que botou fogo na tenda. O que você estava fazendo lá fora tarde da noite? – insinuei.

– Ah, Chuck, poupe-me. Eu estava com insônia, resolvi passear até ver Serena andar por aí. É claro, como professora, tive que ir atrás para verificar o que estava fazendo. E veja só... Ela entrou no seu quarto, ficou lá algumas horas e, quando vi que não ia sair tão cedo, eu talvez tenha acendido um cigarro. Talvez. Há uma probabilidade bem legal. – ela sorria enquanto balançava-se em sua cadeira. Ela era a Cruela De Vil da minha vida. Agia de toda maneira para me punir, inconseqüente, se afastando cada vez mais de quem ela um dia foi.

Ela era doce. Era engraçada – e muito! Foi a primeira coisa que notei nela. Era bonita, sim, mas isso todas eram. Ela tinha um senso de um humor maravilhoso, fazia piada de toda situação por mais indesejada que fosse. Sabia ser irônica, até mesmo quando eu a repreendia por beber e fumar. Suas tatuagens – muito bem escondidas – eram um charme, ao meu ver. E agora eu sequer a reconhecia! Não sabia o quanto alguém amargurado poderia mudar. Eu já a amei, hoje a desprezo.

Serena saiu da sala da diretora com a expressão fechada, neutra. Disse que a diretora esperava por Violet, que rapidamente se levantou sentindo-se vencedora. Assim que a porta fechou, ela alargou um sorriso. Eu fiquei surpreso por ela ter escondido a felicidade na frente de Violet, e não pude evitar rir.

– O que foi? – perguntei.

– Temos duas opções. – ela aproximou-se de mim, ficando em pé entre as minhas pernas. Segurou minhas mãos, bem forte, e não pude deixar de notar suas mechas caindo sob o rosto e causando um efeito maravilhoso. – Primeira: esperamos a diretora terminar de falar com a sua ex para termos muito a explicar, ou pegamos o seu carro agora e saímos do colégio.

– Ei, calma. Calma. Deixe-me entender. O que aconteceu lá dentro? – perguntei largando suas mãos.

– Estamos perdendo tempo! – reclamou.

– Não vou até saber o que você disse a ela. – disse.

– Tudo bem... – bufou. – Eu disse a ela que havia ido atrás de você naquela noite. Disse que você é o único a me ajudar, a ser legal comigo sem demonstrar ter essa obrigação, mas que saímos do seu quarto para andar por aí, foi quando quis vomitar e você me esperou do lado de fora do banheiro da ala Leste, o lugar que estávamos. E... – parou.

– E o que mais? – perguntei, mostrando-me evidentemente preocupado com o que estava por vir.

– E... Eu disse que a Violet estava me perseguindo com ciúmes. Ela, como sua ex-namorada, não conseguia assimilar que você não a queria mais, e tentou me culpar por isso. – falou.

– O quê?! Você disse sobre... Nós?! – perguntei, e em seguida notei o quanto era estranho assimilar nós dois como... Nós. Que há algo é inegável, mas nunca havia dito isso em voz alta.

– Não! Claro que não. Disse que era uma loucura, que eu só precisava de um amigo, uma figura paterna, e ela logo se derreteu. Ela sabe muitas coisas sobre o meu passado... Acabou se sensibilizando. – deu de ombros. Ri um pouco ao me imaginar como figura paterna dela. – Mas Violet vai contar tudo. Quando a diretora mencionar, ela vai surtar, e vai saber ser convincente. Então, proponho que pegue a chave de seu carro o mais rápido que der.

Pensei por um instante no que estava sendo proposto: eu, Serena, carro, estrada, futuro. Tudo junto, na mesma vida. Não parecia real.

– O que pretende fazer quando sair daqui? – vacilei a voz.

Ela sentou-se em meu colo e passou os braços em volta do meu pescoço. Eu senti o quanto aquilo era arriscado, mas por alguma razão não me importei. Apenas a escutei.

– Eu e você vamos para o sul. Podemos mudar de país, mudar de nomes, o que for! Começar de novo. Já tenho documentos falsos, posso passar por dezoito anos, e podemos fingir ser... Marido e mulher. Por um tempo. Depois podemos mesmo ser marido e mulher. – falou, alisando meu rosto. Meu olho fechava depois de cada toque.

– Serena... Isso é loucura. Temos uma vida aqui... – falei.

– Isso não é uma vida. Quando eu estou com você... Eu quero ser possuída por você. Aqui nós não podemos fazer nada. E eu sinto que você pensa como eu. Você quer tanto quanto eu... – ela começou a beijar minha nuca, dizendo as palavras nos espaços de tempo entre os beijos. Eu me arrepiava com todo esse contato. – Eu só quero... Uma outra vida. Não quero que você passe a vida ensinando a meninas enquanto me espera fazer dezoito, terminar a faculdade e ser alguém para ficarmos juntos... Quero ficar junto com você agora. Vamos. Por favor.

Não pude resistir. Segui regras e um padrão toda a minha vida. Agradei, estudei, competi, batalhei, suei, abdiquei de tanto para poder chegar onde estou... Meu emprego. Nunca foi uma paixão. Sempre amei literatura, o que me incentivou a ensinar, mas tinha algo a mais. O que eu gostava na literatura era justamente a história. A aventura. Lolita, Antes do Amanhecer, Mil e Uma Noites, todas as histórias envolvem uma loucura momentânea que transforma toda uma vida em algo bonito. Precisa-se apenas de um segundo da coragem mais louca para poder mudar todos os seus conceitos. Serena era a minha insanidade, era o meu pulo do penhasco. E eu toparia tudo por essa menina. Eu a amava.

– Vamos. – falei, vendo seu sorriso brotar em frente ao meu rosto. Ela me beijou durante dois segundos, segurou minha mão e me impulsionou a correr junto a ela. Descemos as escadas correndo, rindo, de mãos dadas até o meu quarto. No caminho várias alunas paravam para nos assistir mas, surpreendentemente, nenhum de nós ligava para isso. Estávamos extasiados com a nossa coragem e atitude.

Entramos no quarto rapidamente, arfando por causa da correria. Ríamos juntos. Eu fechei a porta e a puxei pela cintura até colarmos nossos corpos. A beijei. Pela primeira vez, eu a beijei. Por impulso. Vontade. Pela primeira vez, ela era minha.

– Eu tenho tanto pra te falar... – ela abaixou a cabeça com a voz seca. – Sobre mim, minha vida... Quero te contar tudo. É muito peso pra carregar sozinha...

Eu sabia do que ela estava falando, mas não podia ouvir naquele momento. Tínhamos que ir embora antes de desistirmos ou sermos pegos.

– Eu sei... E quero ouvir tudo, mas no carro. Vamos. Eu vou pegar minhas coisas no banheiro, pode me ajudar com as malas? Tenho uma debaixo da cama. – pedi e fui para o banheiro pegar objetos pessoais.

– Já começou a dar ordens de marido e mulher! – falou rindo. – Você poderia se passar por meu pai por um tempo. Seríamos melhores atuando em Lolita do que sendo Bonnie e Clyde. Ei, você tem coisas legais aqui. – a ouvi começar a arrumar as minhas coisas. Eu sorria apenas com a imagem de termos uma vida juntos. Quando foi que me tornei um romântico? Quando abandonei a minha certeza de emprego antes da família? Era uma sensação maravilhosa! Era como liberdade e livre arbítrio.

Ela se aproximou da porta do banheiro. Olhei para seu rosto. Ela estava sem expressão – pálida. Estranhei, dando alguns passos à frente. Ela esticou a mão me fazendo parar.

– Eu queria me abrir. Queria que, depois que você já me conhecesse, que já gostasse de mim, descobrisse meus segredos. Queria que você me visse diferente, antes de ter pena de mim. Queria ser um indivíduo antes de ser o que sou tachada. E achei que podia confiar em você. Mas o pior não é nem você ter pena de mim. De jeito nenhum. O pior é que você disse que queria ouvir as minhas histórias. – eu vi as lágrimas brotarem em seu rosto. Jamais pensei que veria a menina mais forte que já conheci chorar. – Disse que queria me conhecer... Mas o pior mesmo é que você já sabe!

Ela atirou alguma coisa no chão e correu até a porta, saindo correndo. Quando pude ver o que era, desisti de ir atrás dela. Entendi a sua fúria. Ela havia encontrado o dossiê.


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