100 Dias com Oliver Queen escrita por daisyantera


Capítulo 3
Azarada


Notas iniciais do capítulo

Ler as notas finais é sempre muito bonitinho, recomendável e melhor ainda: Sempre tem uma dica do que vai acontecer no próximo capítulo.
PS: MANAS A ROUPA DELA NÃO É NADA QUE VOCÊS IMAGINAVAM, APOSTO!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/659304/chapter/3

Felicity's Pov

Eu odiava Oliver Queen com toda a minha alma. Pronto, é isso! E eu nunca iria me cansar de repetir essa frase.

Como ele se atrevia a me fazer sair assim? Cerrei os dentes, me recusando a olhar para qualquer ponto que não fosse minhas botinhas de plástico, feitas exatamente para sair em dias chuvosos. Elas eram a única peça do meu vestuário que salvava - apesar que no momento, eu odiava até elas.

Não combinavam com aquele vestido de época ridículo, que me fez quase ficar presa na porta do passageiro daquele táxi. Por que as mulheres usavam aquelas gaiolas intituladas como crinoline? Pior, por que usava tantos panos um embaixo do outro? Em que ponto da história alguém olhou pra isso e pensou que seria uma boa ideia?! 

Estava frio em Star City, mas eu já estava me derretendo de calor - e claro, aquele meu calor também tinha haver com a humilhação que salpicava por todos os meus poros por estar sendo objeto de chacota.

Assim que coloquei o pé pra fora do apartamento, todos que passavam na rua naquela manhã me olhavam como se eu fosse alguma louca e talvez fosse mesmo por não ter pego uma corda e me enforcado quando tive oportunidade. Ainda tinha guardada na minha bolsa de mão, a notinha indexada junto com essa estúpida roupa, que Oliver havia me mandado hoje: 

"Essa, é só por você ter insinuado que eu não sabia em que século estávamos."

A audácia do cretino!

Senti vontade de rasgar o papelzinho, deixar em frangalhos e depois tacar fogo, mas decidi que guardaria a prova do crime para servir de combustível para alimentar mais o meu ódio por aquele sádico de meia tigela. O prepotente realmente se provava a cada segundo muito rancoroso, só por ter lembrado minhas palavras disparadas no calor do momento, com todas as letras. Quer dizer, quem fazia isso? Quem tinha uma memória tão assustadora como aquela?

Um psicopata, a resposta veio rápida. Sadista, prepotente, narcisista, arro-

― Senhorita, já chegamos. ― O taxista interrompeu meus pensamentos nada gentis sobre o meu chefinho. Com um sorriso sem graça, lhe entreguei o dinheiro da corrida, tentando ignorar ao máximo o olhar que ele me lançava.

Hoje eu seria um ET para todo mundo que me visse, era isso, sabia. Okay, eu poderia sobreviver, por que não iria sobreviver? Pffff, coisa fácil. Chumbo grosso tava vindo mais pela frente, podia sentir, por isso resolvi me preparar mentalmente e ignorar aquele formigamento incômodo nos meus pés.

― Ô moço, me ajuda aqui! ― Pedi, quando emperrei novamente na porta. Inferno de crinoline, inferno, inferno! Meu rosto estava vermelho, só que dessa vez de raiva.

Soltando algumas pragas, o taxista desceu pra me ajudar e não sendo nenhum pouco delicado, me puxou pelo braço com toda força, pra fora do taxi. Obviamente, me estatelei no chão após isso.

― Filho da mãe! ― Eu xingava horrores aquele outro maldito. O que homens tinham contra a minha pessoa? Graças a crinoline, minha cara não chegou nem a encostar no chão, mas o negócio era: Como eu iria me levantar sem sair rolando? ― Ô moço, me ajuda aqui! ― Pedi novamente, dessa vez mais desesperada que antes.

O desgraçado, que de bobo não tinha nada, resolveu me ignorar e meteu o pé dali, antes que fosse intitulado como louco por estar ajudando uma pobre mulher vestida com roupas do século passado, se levantar do chão.

― Tomara que o seu pinto caía, seu infeliz! ― Berrei, ao ver pela minha visão periférica o táxi se afastar. Pra completar a desgraça, o meu cabelo que estava preso num coque, se desfez e tampou toda a minha visão.

Agora além de estar caída no chão feito uma Orca atolada, também não conseguia mais enxergar nada. A crinoline era ridiculamente pesada e com a força dos meus braços, era evidente que não conseguiria me levantar sozinha. O negócio seria esperar por um milagre.

Ou não, porque esperar por um milagre, implicava eu esperar por alguém e alguém me ajudar, seria mais pagação de mico ainda. Respirando fundo, puxei impulso com os dois braços tentando me levantar. Se eu fizesse isso, evitaria mais gozação com a minha cara, já que eu era sempre a primeira funcionária a chegar na empresa - com exceção dos seguranças, é claro - fazendo isso, não corria o risco de me tornar chacota de ninguém já cedo dentro da empresa, só no horário do almoço aquilo ocorreria - mas aí, a solução era muito fácil: Não almoçar. Além do horário do almoço, eu não costumava ter contato nenhum com ninguém, trabalhava no último andar do prédio, completamente isolada. Pra falar a verdade, só via Oliver o dia inteiro - o que eu pensava, muito antigamente, ainda no inicio do emprego, como um bônus. Quer dizer, quem não gostava de ver um cara gostoso de morrer, durante horas e horas?

O problema real mesmo, seria no fim do expediente quando todos sairiam juntos e seria inevitável de eu fugir da iminente humilhação. Mas também já havia pensado nisso, iria fingir fazer hora extra e sair só quando todos já tivessem ido embora.

1, 2, 3! Tentei me levantar novamente e soltei um grunhido ao perceber que inferno, meus braços eram magros demais para um corpo que consumia sorvete quase todas as noites!

Okay, eu não posso fazer isso. Será que o meu destino seria morrer de vergonha ao ser encontrada pelos meus colegas de trabalho ali pela manhã?

― Senhor, o que que eu te fiz? ― Choraminguei alto, sentindo meus braços tremerem. Precisaria do auxílio das minhas pernas pra sair daquela posição, mas a crinoline era uma gaiola enorme e bufante que me impedia de ao menos, ficar de joelhos no chão. 

Ah, Deus! Era muito azar!

― Algum problema aí?

Paralisei ao ouvir aquela voz e todos meus pelos da nuca, eriçaram. Não, não, não!

― Eu odeio a minha vida! ― Declarei entredentes ao ouvir a risada debochada do meu querido chefe.

― Precisa de alguma ajuda, Felicity? ― Notei que a voz do inútil estava perto e não precisava ser nenhuma vidente pra saber que ele estava parado bem do meu lado.

Com raiva, tentei mexer a cabeça de um lado para o outro, pra impedir que os meus cabelos tampassem minha visão. Mas aquilo só piorou mais ainda minha situação.

― Isso quer dizer um não ou um sim?

Ridículo, estava se divertindo as minhas custas! Engolindo todo o meu orgulho - o que foi? ainda tinha algo sobrando - resolvi ceder.

― Preciso de ajuda para me levantar, Sr. Queen. ― Respondi, parecendo até estar engolindo brasa ao soltar essa, mas fazer o que né...

Em menos de alguns segundos, fui erguida pela cintura por aquelas mãos fortes e oh meu deus, que espécie de homem era aquele? Faltei ter um treco quando ele me encostou no peitoral dele e comecei a sentir sua respiração quente batendo rente à minha nuca, e oh meu deus. Como eu odiava aquele homem!

Por que tinha que ser tão gostoso?

Ouvi uma risadinha.

― Não sei, malho bastante e tenho bons genes.

Puta que pariu, Felicity! Cê tinha que falar isso em voz alta? Como se não pudesse me humilhar mais! Do mesmo jeito que ele havia me erguido rapidamente, ele me soltou, como se eu tivesse alguma doença contagiosa. Ah, por favor! Quis soltar algum comentário venenoso, mas me limitei de arrumar meus cabelos antes que virassem uma juba.

Quando julguei que estava pronta o suficiente para encarar aquele capeta encarnado na faceta de um milionário, virei na sua direção com um sorriso falso.

― Muito obrigada pela ajuda, Sr. Queen!

Oliver's Pov

Ignorei aquele seu agradecimento falso e me concentrei em lhe fitar descaradamente dos pés à cabeça. O vestido do século passado, roxo e bufante, havia ficado hilário nela. Queria rir até não me aguentar mais ao me lembrar da cena deplorável em que a encontrei, mas me limitei apenas a soltar um comentário propício a situação:

― Espero que tenha gostado do vestido.

Esperava nada!

Diggle tossiu atrás de mim, tentando abafar a risada mas sua missão falhou miseravelmente ao receber em troca um olhar fulminante da Lady Felicity. Deus, ela estava tããão hilária daquele jeito, que me fazia meditar no por quê de não ter pensado naquilo antes.

Eu só queria sentar na calçada e ficar encarando aquele seu rostinho enfezado durante todo o dia. Suas bochechas estavam coradas e os lábios avermelhados de tanto o mordiscar. Como sempre, ela não usava nenhuma maquiagem e aquilo ajudava a mostrar sua expressão birrenta sem estar nublada por nenhuma camada artística.

Eu queria rir. Muito.

― Você é um sádico! ― Ela grunhiu, apontando um dedo acusador na minha direção, numa típica explosão. Ao perceber que mais uma vez havia pensado alto demais, seu rosto ficou vermelho feito um tomate e novamente, me segurei para não rir.

― Eu não queria dizer isso! É que essa semana eu tava lendo um livro e tem um personagem que eu gosto muito, ai quando vi você, me lembrei dele... ― A cara de pau tentava contornar a situação mas se enrolava mais ainda. ―... Não que eu goste de você! ― Se interrompeu imediatamente e eu levantei uma sobrancelha, esperando que o gesto fosse intimidador o suficiente para fazê-la se enrolar mais. Era interessante a cena. ― Não que eu também odeie você, porque eu não odeio, que isso...Te adoro! Você é um ótimo chefe! O melhor chefe que eu já tive em toda a minha vida! E o mais bonito também, devo acrescent- Parou, dando um tapa no próprio rosto. Diggle que era testemunha de toda aquela cena, gargalhava escandalosamente enquanto eu tentava me manter bravo naquela faceta de "Pare.De.Falar." mas se ela soltasse mais uma daquelas, não me seguraria e acabaria me juntando a ele.

Não é ótimo quando o motivo da tagarelice dela não me causa nenhuma dor de cabeça ou danos a QC? Pensei, mas resolvi cortar a situação antes que eu decidisse ficar aqui o dia inteiro provocando ela.

― Felicity, você está me assediando? ― Soltei a pergunta petulante e ela ficou muda de repente. 

― Eu.. eu... ― Ela gaguejava ― Sr. Queen, eu não estava te assediando. É mais fácil eu te incendiar, não assediar. ― Riu da própria piada e depois ficou séria ao perceber aquela outra gafe ― Eu tô brincando, brincando! Não tô falando sério, eu juro! Isso não foi uma ameaça!

Revirei os olhos.

― Temos muito trabalho a fazer, srta. Smoak. Não tenho tempo para brincadeiras. ― Avisei, passando por ela e finalmente entrando no prédio.

Não estava brincando quando disse que havia muito trabalho pra fazer, com exceção é claro, que seria ela quem ficaria com a parte mais pesada do trabalho. Aquele ainda seria só o primeiro dia de cem.

Oh, o quanto eu iria me divertir!

Felicity's Pov

Eu queria socar minha cabeça na parede e morrer.

No momento, eu estava enfurnada na sala de cópias da empresa, enquanto evitava receber olhares nada amistosos dos meus 'colegas' de trabalho. Aquela sala era o pior pesadelo de qualquer um que trabalhava na QC, porque além de pequena e abafada, a impressora de lá parecia trabalhar na velocidade de uma tartaruga.

E quem exatamente estava trancada lá dentro há horas? Sim, exatamente eu! Tinha certeza absoluta que era uma parte da vingança de Oliver me empurrar pra dentro daquela sala, pedindo 200 cópias de um documento estúpido qualquer dele, enquanto ele deveria estar no seu escritório contando carneirinhos.

Claro, sem contar o mico que o maldito me fez passar ao me fazer desfilar na frente de todos até aqui! Eu, literalmente, tive que passar por todos os setores com esse vestido suicida. 

Eram roupas por baixo de roupas, sem contar nessa gaiola estúpida que me impediu de sentar direito durante todo o dia. Era eu tentar sentar pra minha cadeira de rodinhas parar do outro lado da sala. Se eu tivesse uma arma, teria atirado contra a minha cabeça fazia tempo. Sério. 

Quando cansei de ficar em pé num canto, comecei a andar de um lado pro outro naquele cubículo, tentando arquitetar um jeito de me livrar desse contrato insano. Havia mandado minha alma pro inferno quando aceitei toda essa palhaçada. 

Inclusive, sentia até umas tremedeiras só de recordar que graças ao contrato, eu teria que cumprir todas as exigências de Oliver sem questionar, além de sempre - e vamos frisar o sempre - ter horário disponível pra ele.

Só Deus sabia o que ele queria dizer com aquilo. Ou o diabo, né, porque aquele ali só podia ter um pacto daqueles dos brabos. Parei de andar feito uma imbecil pra lá e pra cá, quando senti o meu celular vibrando nos meus seios - afinal, aquele corpete tinha que servir de alguma coisa, né?

O peguei e vi no visor o nome do Curtis.

"Tá viva?" eu li sua mensagem e revirei os olhos, bufando.

"Quase morta" respondi de volta dramaticamente.

"Arranje um jeito de fazer o bofe escândalo quebrar o contrato."

Franzi o cenho, lendo e relendo aquela mensagem mais vezes do que o necessário. Por que diabos eu não havia pensado nisso antes?! Estive tão ocupada reclamando do meu triste destino, que não pensei em nenhum jeito de o contornar.

Me senti muito burra pra quem tinha um QI altíssimo. Estava prestes a retornar a mensagem, pedindo alguma dica para Curtis de como induzir Oliver - aquele sádico filho da mãe - a quebrar o contrato, quando aquela máquina centenária cuspiu os últimos papéis que eu precisava.

Minha felicidade por me ver livre daquela sala abafada, se acabou bem no momento em que comecei a caminhar e todos mais uma vez, começaram apontar pra mim e sussurrar coisas, soltando uma e outra vez risadinhas. Sutil.

Apressei os passos para chegar até o elevador que me levaria até o meu andar, mas como sou uma pessoa muito sortuda, acabei tropeçando na barra daquele vestido ridiculamente longo e a queda foi inevitável.

Os papéis que estavam na minha mão, voaram para todos os lados e as risadinhas que antes já não eram nada discretas, se tornaram altas gargalhadas.

― Eu odeio a minha vida. ― Gemi, ao constatar que teria de pedir ajuda de alguma alma caridosa para não ficar ali pelo resto do dia. Ou pelo menos por uma alma menos encapetada, já que ninguém caridoso jamais riria abertamente assim da desgraça alheia.

(...)

Com um sorriso vitorioso, do tipo 'HAHAHA eu sobrevivi, toma essa!' entrei na sala de Oliver e lhe entreguei seus papéis.

― Você tem certeza que tirou 200 cópias? ― Ele perguntou, segurando os papéis e eu fiz o meu melhor pra não soltar algum xingamento. Ao invés, abri um sorriso falso - me tornei profissional nisso na presença do filhotinho do diabo.

― Sim, Sr. Queen. Se quiser, pode conferir.

Eu sabia que ele não iria conferir coisa nenhuma, podia ter imprimido só uns 50 que ele nem perceberia - entretanto, como sou uma ótima pessoa e tenho a estranha tendência de ter peso na consciência, imprimi todas as 200 cópias como o tirano me pediu.

Contradizendo os meus pensamentos, ele resolveu conferir mesmo as cópias e a minha cara não poderia ter ido mais no chão. Ele estava duvidando de mim? Me segurei pra não fazer nada idiota, afinal, o guarda-costas dele estava bem parado perto da janela do escritório, observando tudo. E ele tinha uma arma.

Eu estava em desvantagem ali.

― Srta. Smoak, acho que me enganei e te fiz tirar as cópias erradas. ― Depois de um silêncio sepulcral, Oliver se manifestou, olhando pra mim com aquele olhar intimidante que faria qualquer um sair correndo. Ainda bem que não sou qualquer pessoa.

Pisquei os olhos, atônita.

Ele estava me dizendo que...

― Eu tirei 200 cópias, pra nada?! ― Gritei exaltada e como se não fosse grande coisa, Oliver deu de ombros - e eu só quis dar na sua cara.

― Me enganei, me desculpe.

Se enganou uma ova! Ele havia feito aquilo de propósito! Eu tinha certeza que uma veia já começava a saltar da minha testa.

― Esse, é o documento certo. ― Ele dizia, enquanto pegava um papel na gaveta da mesa dele e me entregava. O infeliz tinha um sorrisinho no rosto ― Agora, você pode tirar as cópias certas.

Fechei os olhos por alguns segundos, respirando fundo. Okay, tudo por dinheiro. Tudo por dinheiro. Fiz disso o meu mantra. Eu só precisava aguentar aquilo, juntar o dinheiro que faltava pra pagar a faculdade e bye bye QC! Cem dias não seria nada pra quem já havia aguentado cinco meses.

― Okay, eu posso fazer isso. ― Disse por fim. Era verdade, eu podia sim fazer aquilo - e muito mais - e daí que teria de passar por mais algumas horas dentro daquele cubículo derretendo? E daí que também teria de enfrentar uma segunda humilhação pública? E daí?!

Percebi um sorriso satisfeito cruzar no olhar daquele sádico e o pior de tudo, foi perceber também que o seu guarda-costas estava achando toda aquela cena muito engraçada, já que estava rindo no canto dele.

O olhei irada, ele tinha muita sorte de ter uma arma e uma testemunha na sala, porque senão, eu teria o jogado por aquela janela mesmo!

Girei os calcanhares, pronta para enfrentar mais uma vez a caminhada da vergonha.

(...)

No fim do expediente, Curtis foi me buscar. Em circunstâncias normais, eu teria pego um ônibus ou quem sabe um táxi, mas eu me recusava a voltar a atolar num táxi - quem dirá numa catraca de ônibus - por isso, pedi para que Curtis fosse me buscar - o que ele aceitou prontamente, sabendo muito bem que a cabeça dele poderia acabar ficando na faixa de gaza, caso não fosse.

― Então, já pensou num jeito de se livrar do seu chefe? ― Curtis perguntou, olhando rapidamente para mim quando o sinal ficou vermelho. Instintivamente, me encolhi.

― Não... mas não é como se eu tivesse tido tempo pra pensar em alguma coisa! ― Fiquei na defensiva ― Oliver me atolou de trabalho, não me deu um minuto sequer de descanso!

Eu não estava exagerando. Depois de sofrer pra tirar aquelas 200 cópias novamente, o tirano resolveu me fazer de 'office girl' me fazendo mandar e-mails, atender o seu celular e dar desculpas por ele para algumas taradas. E o melhor de tudo: Entregar café pra ele de 20 em 20 minutos.

Obviamente, ele estava testando minha paciência - ele e aquele seu guarda-costas que nunca parava de rir da minha função de trouxa. Felizmente, eu não surtei e joguei tudo pro alto. 

Mas era questão de tempo, eu sabia e Oliver também parecia saber. O cretino só estava esperando pelo meu surto.

― Precisamos encontrar um jeito de fazer ele quebrar o contrato, antes que você o quebre. ― Curtis me olhou significativamente e eu não tinha certeza se ele quis dizer que eu iria quebrar o contrato ou a cara do Queen.

Provavelmente os dois.

― Se eu o irritar, ele vai me irritar ao dobro. ― Comentei, com um dedo no queixo. Já havia passado pela a minha mente aquela possibilidade, porém logo a descartei.

Oliver Queen tinha artimanhas e o dinheiro ao seu favor. Não iria ficar brincando de testar até onde a mente insana dele aguentaria minhas provocações, uma vez que ele poderia mandar o guarda-costas-serial-killer dele me matar de um jeito que ninguém nunca jamais encontraria os meus restos mortais.

Nananinanão, não iria arriscar o meu pescoço assim, apesar que... Seria revigorante ver Oliver perder o controle da situação.

Porque eu tinha que admitir, por mais arrogante e narcisista o sujeito fosse, ele conseguia muito bem conduzir uma situação sem perder o controle. Ou pelo menos, qualquer situação que não me envolvesse - já que comigo, gritava quase 24 horas por dia. Quero dizer, não é pra qualquer um aturar Isabel Rochev numa mesma sala sem atirar uma cadeira na cabeça da perua.

O que me faz crer que o cara seja um possível sociopata em construção. 

― E daí? ― Curtis voltou a plantar a sementinha da discórdia ― Não importa o quanto você o irritar, ele não vai poder se livrar de você em menos de 100 dias, isso, é claro, se ele não resolver quebrar o contrato. ― O sinal ficou verde e ele avançou, mas continuou falando ― Você podia tentar descobrir algo dele, que ele não goste... Sei lá, algum podre!

Pisquei os olhos, absorvendo a ideia. Algum podre? A vida de Oliver Queen era um livro aberto, e antigamente, um livro bem escancarado se qualquer um fosse parar pra ler alguma matéria sobre ele e suas dezenas de namoradas. Se fosse comparar o Oliver antigo, com o de agora, já podíamos nomear o próximo papa!

― Todos os podres que ele tem é conhecido pela mídia e agora ele sossegou o facho. ― Resmunguei irritada, por ter mais um trunfo retirado das minhas mãos. ― Quer dizer, em partes ele sossegou né, porque nada me tira a ideia que ele estava tentando comer a Isabitch na sala de reuniões da empresa.

Que foi? Não podia dar o braço a torcer assim tão fácil! Mesmo eu estando estar errada, eu ia continuar insistindo naquela tecla.

Depois daquela minha declaração, seguimos o caminho inteiro em silêncio mas eu podia ouvir muito bem a mente de Curtis maquinar ideias ao meu lado. Como o esperado, passei outro sufoco pra sair do carro de Curtis e prometi a mim mesma que assim que tirasse aquela ofensa de vestido, o queimaria todinho e levaria suas cinzas pro escritório no outro dia.

― Não queime o vestido, pelo menos o guarde como recordação! ― Ele parou quando percebeu o olhar assassino que lhe lançava ― Ou melhor, guarde ele pra usar no halloween. ― Continuei o encarando ― Tá, tá, tá! Queime esse vestido, tritura ele, faz o que você quiser!

Empinei o nariz ― Vou mesmo!

E saí do elevador, caminhando até a porta do nosso apartamento com Curtis do meu lado. Mas, uma cena fez nós dois estagnarem no corredor.

Ah.

Não.

― Quais são as minhas chances de sair correndo e não rolar por esse corredor? ― Sussurrei baixinho só pra Curtis ouvir.

― As mesmas que as minhas de me tornar invisível. ― Sussurrou de volta a triste verdade.

― Acho que ainda dá pra correr... ― Resmunguei, dando um passo para trás. Não tava nem aí se sairia dali me estrepando, eu só não queria falar com aquela nossa vizinha sinistra com cara de quem traficava estátuas de entidades!

Tá, eu não sou uma pessoa que discrimina pessoas livremente (só o Oliver e a Isabel), mas a nossa vizinha era realmente estranha. E amedrontante. Só de ver ela virada de costas pra gente no corredor, tive certeza que nessa noite teria pesadelos com essa exata cena.

Portanto, não pensei nem duas vezes. Levantei a barra do meu vestido e comecei a correr em direção ao elevador  igual um pinguim cagado. Curtis, aquele traíra, já tinha metido o pé fazia tempo e estava dentro do elevador.

― Não se atreva a ir sem mim! ― Gritei aos sussurros - isso é possível? - enquanto corria em sua direção.

― Anda logo! ― Ele sibilava com a boca e pra dar mais ênfase, debatia os braços de um lado para o outro. As portas do elevador já estavam se fechando, quando resolvi chutar o balde e ir com tudo, eu não ficaria pra trás!

― SAI DA FRENTE! ― Berrei, não importando se a sinistra vizinha me escutaria. 

Assim como eu pedi, Curtis saiu da minha direção e eu entrei tão rápido, mas tããão rápido no elevador, que não consegui frear os meus pés e acabei dando de cara com o corrimão do elevador.

― ##@@@!!! ― Comecei a soltar a baixaria, enquanto segurava a minha testa que latejava feito não-sei-o-quê.

― Meu Deus, por que eu não gravei isso? ― Curtis gargalhava alto, ignorando totalmente sua saúde estando preso comigo dentro daquela caixa de ferro ― Você parecia prestes a voar!

― Fica quieto! ― Mandei, tentando massagear minha cabeça. Apostava o meu salário que pela manhã, estaria um galo bem no meio da minha testa.

― Tá vendo? É isso que acontece por correr de gente que faz pacto! ― Curtis zombava, fazendo eu ficar mais 'pé' da vida ainda. Será que ele não poderia ficar um minuto em silêncio? Poxa, eu pensava que era eu a quem não conseguia ficar quieta um minuto!

Acho que agora sei como Oliver se sente quando falo demais em seu ouvido...

― Engraçado, minha desgraça já aconteceu e a sua? ― Resolvi tacar o terror, já estava na merda mesmo!

Seu ar alegre rapidamente evaporou, e tenebroso, Curtis me olhou.

― Para! Você sabe que eu tenho medo dessas coisas.

― Agora você tem medo, né? ― Coloquei as mãos na cintura, ignorando minha testa latejando. ― Tomara que ela tenha nos visto e jogado uma maldição das brabas na gente, assim você aprende a não implicar comigo quando já tô tendo um dia de cão!

Como se eu tivesse falado a pior coisa do planeta, ele me encarou petrificado no lugar.

Okay, acho que peguei pesado.

― Curtis, você sabe, eu não queria diz-

― Cacete, é isso! ― Ele me interrompeu bruscamente ― Felicity, é isso! É essa sua resposta!

Hein?

― Hã? ― Fiz cara de trouxa.

Não havia sido Curtis quem bateu com a testa no corrimão, mas parecia que foi ele quem perdeu o cérebro.

A sucessão de palavrões que se seguiu reforçou mais ainda a minha teoria.

― Porra, Felicity! Você não percebe que pode colocar o nome do seu chefinho em encruzilhada? Amaldiçoar o bofe? Aproveita que a sinistra é sua vizinha e pede um desconto!

Pisquei os olhos, chocada.

― Meu. Deus. ― Pausa ― Como eu não pensei nisso antes?! ― Esbravejei, dando um giro no elevador e começando a apertar insistentemente aqueles botões para voltar ao meu andar.

Era isso, eu ia apelar para as entidades atentar o meu chefinho!

― Anda, anda, anda!!! ― Batia desesperadamente naquele painel ridículo, que bom que estava só eu e Curtis ali porque senão já estaria com o meu atestado de louca na mão.

Do mesmo jeito que voei pra dentro do elevador há um tempo atrás, voei pra fora ao ver a sinistra da nossa vizinha, prestes a entrar no apartamento dela.

― Porra, qual é o nome dela Curtis? ― Perguntava, sem parar de correr. Jesus, só hoje acho que emagreci uns dois quilos.

― Sei lá, você acha que eu gravo nome de gente que faz pacto?! ― Soltou incrédulo, correndo também. ― Acho que era....Nyla....

Nyla... Arregalei os olhos, quando lembrei o nome da sujeita.

― NYSSA!!!!!! ― Berrei com todo o oxigênio que ainda restava nos meus pulmões. Quando ela olhou pra trás, fiquei tão emocionada que fiz a última coisa que deveria ter feito... tropecei.

E pra melhorar, Curtis caiu por cima de mim e saímos rolando no corredor inteiro graças AQUELA MALDITA CRINOLINE DOS INFERNOS! EU JÁ DISSE HOJE QUE EU ODEIO A MINHA VIDA?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aposto 50 centavos que vocês não imaginavam que a roupa da Felicity, seria na verdade uma roupa do século passado, né non?
Ah, agora vai! Oliver que comece a ir pra igreja e andar armado com a bíblia, porque Felicity vai tacar a macumba nele (PENA QUE TUDO QUE VAI VOLTA, carma queridas #spoiler)
MANAS fiquei tããããããão feliz com a quantidade de reviews que recebi no último episódio e...VAMOS ACORDAR GIGANTE percebi que uma enooooooorme quantidade de pessoas começou a acompanhar a fanfic, mas não comentaram ainda (reviews me deixam tão alegre)