100 Dias com Oliver Queen escrita por daisyantera


Capítulo 16
Alvejados


Notas iniciais do capítulo

ANTES DE EU CONFESSAR QUE SOU REALMENTE UMA DESGRAÇADA ARREGAÇADA PELA A DEMORA NA ATT (Ops, já confessei!) Gostaria de agradecer a leitora Karla Andrade Gomes Duarte, pela a recomendação que me deixou com um sorriso de babaca (O mesmo sorriso que a Felicity faz ao ver o Oliver) e que também me fez socar minha testa contra o tampo da mesa, me fazendo refletir o quão desgraçada eu sou por demorar tanto assim para atualizar a fanfic para vocês. Acho que não mereço taaaanto carinho assim vindo de vocês, por isso, muito obrigada ♥♥♥
(Mas ei, gente, só porque tô falando que não mereço tanto carinho assim, não quer dizer que eu esteja permitindo de absoluto o uso de bonecos de vodu meus, tá? Se bem que dessa vez tô merecendo....)
CAPÍTULO NÃO REVISADO.
VIAJEI LEGAL ESCREVENDO ISSO AQUI, pode ficar sem nexo, talvez?
BOA LEITURA! E mais autodepreciações da autora, nas notas finais.



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 Felicity's  Pov

Abri a porta, larguei a mochila no chão, fechei os olhos, escancarei os braços e gritei:

― FAMÍLIA, CHEGUEI!!!!!!!

Devo ter ficado naquela pose durante uns bons dois minutos e quando notei que ninguém estava em casa - única explicação para tamanho silêncio e falta de ação -, abri um olho, começando a escanear todo o apartamento. E em questões de segundos, enxerguei Curtis sentado no sofá, lendo um livro.

Clareei a garganta e tentei novamente com mais entonação e entusiasmo:

― FAMÍLIA, CHEGUEEEEEEEI! ― Abri os braços, esperando Curtis vir correndo em minha direção, falando que quase morreu de saudades da minha digníssima pessoa. Mas tudo que ele fez foi abaixar o livro e me olhar com a sua melhor cara de merda.

― Tá bom, Felicity, já ouvi. Agora tem como abaixar a voz? Tô tentando ler!

Senti o meu rosto esquentar, custando à acreditar no que eu havia acabado de ouvir. Curtis Holt havia perdido a noção do perigo?

― SEU VIADO MAL COMIDO! ― Gritei irada, pegando a minha mochila do chão e mirando nele. Era desconcertante sua total falta de interesse pela a amiga que havia retornado de viagem.

Esperava por muito mais. Quem sabe uma festinha de boas vindas? Fogos de artifício? Um tapinha na costas por ter sobrevivido uma viagem - uma não, duas - com o sádico? Aquela não era a realidade que eu esperava. Definitivamente não.

― Pelo seu tom e desespero, a única que pareceu mal comida aqui, é você. ― Acusou, analisando-me de cima à baixo, enquanto curvava os lábios num sorriso zombeteiro.

Aquilo me fez lembrar Oliver. E involuntariamente, estremeci. Curtis não fazia ideia do quão verdadeira era a sua frase.

Suspirei, jogando a mochila novamente no chão.

― Cadê os Barry's? ― Perguntei, vasculhando mais uma vez o apartamento com o olhar. Quem sabe eles não tivessem passado desapercebidos por mim? Não custava sonhar, né?!

Curtis fechou o seu livro, colocando-o sobre o seu colo.

― Até onde eu sei, foram dar uma caminhada matinal. ― Informou com um ar desinteressado e eu franzi o cenho, estranhando aquela informação. Desde quando aquele cão fazia alguma caminhada? Pior, uma caminhada matinal? Barry-cão chegava a ser tão ou mais sedentário do que eu. Por isso, era espantoso saber que Barry-Jack havia conseguido aquela proeza de o levar para "caminhar". Comprovadamente, eu tinha um traidor vivendo sob o meu teto.

― Esse cão é um traidor. ― Dei voz aos meus pensamentos e Curtis anuiu, concordando.

― Definitivamente.

Estreitei os olhos. Curtis ainda não havia me perguntado como foi minha viagem com meu chefinho, portanto, teria que me aproveitar logo para vazar dali.

Não estava disposta a compartilhar a minha grave...descoberta com ele. Ou com ninguém. Ninguém mesmo.

Digerir para mim mesma tinha sido suficientemente difícil. Falar em voz alta aquela minha...descoberta, iria me traumatizar pelo o resto da vida.

Ninguém precisava saber daquela minha humilhação. Ninguém. Porém, contrariando todos os meus instintos de autopreservação, me vi puxando assunto com aquele ingrato.

― Que livro é esse?

Pela a distância que eu estava, não conseguia enxergar o título. Com uma calma incomum, Curtis levantou o livro para que eu pudesse ler o seu título.

Como Sobreviver numa Ilha Deserta. ― Li em voz alta, sentindo uma acidez tomar conta da minha língua. Curtis sabia como ser sutil.

Voltou à abaixar o livro, dessa vez, detendo-se um tempo em apenas tamborilar os dedos sobre a capa do mesmo. Foi inevitável que eu não me intimidasse e de repente, eu queria desesperadamente que Barry irrompesse pela a porta do apartamento.

Sentia que um interrogatório - nada agradável, vale ressaltar - estava aproximando-se. Havia sido muito ingênua de imaginar que Curtis não me perguntaria nada. Principalmente em relação a Oliver.

Merda!

Com um olhar cínico, ele me fitou longamente, antes de soltar a questão de 1 milhão de dólares:

― Me diz você Felicity, quem já foi para uma ilha...Como você sobreviveu lá?

Ofeguei, percebendo só agora que eu havia prendido minha respiração.

― Eu não estava sozinha! ― Soltei de supetão e logo em seguida, me senti estúpida demais - sentimento esse, que havia se tornado regular nos últimos dias. Eu havia dado a oportunidade perfeita para o Curtis falar do Queen salafraio. Ótimo.

― Decerto que não. ― Me olhou malicioso ― Como foi viajar com Oliver Deuso Queen?

Mil vezes merda!

Comecei a morder minha bochecha, nervosa. De Deus Oliver não tinha nada. Ok, talvez apenas o corpo de Deus Grego, mas o resto...Ele era o herdeiro direto de Lúcifer na terra, disso eu estava certa.

Lentamente, sentei no sofá, ao lado dele. Estava com medo que a qualquer momento, pudesse acabar caindo para trás, após alguma pergunta impertinente que ele com certeza soltaria. 

― Diggle estava junto, não foi só eu e o sádico. ― Explicava, mesmo sabendo que ele já sabia e havia escolhido ignorar aquela parte da informação de propósito.

É mesmo? Eu nem imaginava! ― Sorriu com ironia ― Então, como foi viajar com Oliver? Seu chefinho irritante e absurdamente bonito?

Ótima descrição. Péssimo momento para me pressionar.

― Foi irritante, como eu já esperava que fosse. A ilha, diferente que você pensa, não é deserta. Na realidade, tem uma tribo e o Queen parece conhecer todos lá. ― Comecei a mexer no meu cabelo, nervosamente. Lembrar da tribo, me lembrava de Shado e Shado me lembrava o meu fundo do poço. ― Ficamos na casa de um casal conhecido do Oliver, e eles foram super gentis. Aliás, no curto período de tempo em que ficamos lá, a mulher acabou tendo a filha. Aparentemente, o casal já estava no final da gestação, esperando a bebê nascer e o sádico-mor havia esquecido daquele pequeno detalhe. ― Revirei os olhos ― E nem sei porque eu fiquei impressionada com isso, uma vez que eu já o conhecia.

Curtis quicou no seu lugar, excitado, querendo saber mais.

― E o que mais?

Viado fofoqueiro!

― Bem, eu tive que ajudar num parto. ― Mentira, quem ajudou mesmo foi Akio e os seus cabelos. Tá, mas ninguém ligava necessariamente para esse detalhe, portanto, continuei resoluta ― Então, ficamos mais um dia lá na ilha, até pegarmos um avião com destino a Rússia.

Curtis arregalou os olhos ― Vocês foram para a Rússia? Nãããão, me conta!

F-o-f-o-q-u-e-i-r-o.

― Sim, fomos. Oliver achava que poderia encontrar alguma informação sobre o tinhoso.

― E achou?

Franzi o cenho. Não tinha certeza como responder aquela pergunta, uma vez que sequer Oliver havia compartilhado algo comigo. Não que ele fosse fazer, de qualquer jeito.

― Não sei. ― Dei de ombros e voltei à contar a história ― Enfim, estávamos tomando café da manhã, quando um amigo dele chegou e...Começou um tiroteio!

Se possível, Curtis arregalou mais ainda os olhos, escandalizado com a nova informação.

― Não brinca!

Entusiasmada, comecei a contar para ele toda - okay, quase toda - a minha aventura na Rússia, com o sádico. No final, ele me encarava embasbacado e eu já o havia perdoado por sua tremenda falta de...ação, ao me receber em casa novamente. Era impagável seu rosto.

― Você...esteve...na máfia russa? Pior, você...você chamou os porrudos tudo de gay?!

Fiz um movimento negligente com a mão, que havia aprendido com Oliver e fingi pouco caso àquele detalhe - quando na realidade, eu tinha quase me cagado toda só de imaginar virar Suvinil da Bratva.

― Sim, mas foi sem querer, obviamente. ― Afirmei ― Sem contar que foi culpa de Oliver. Ele quem me induziu a acreditar que Anatoly era gay.

Parando para analisar bem, com mais calma, eu percebia que Oliver não tinha a quantidade de culpa naquilo, a qual eu depositava nele. Mas...O que Curtis não sabia, meu orgulho não sentia.

― Ah claro, falando em Oliver...

Merda! Mais uma vez, eu havia usado a manobra errada.

―...você ainda não respondeu como foi viajar com chefão sexy.

Imediatamente fiquei na defensiva.

― Eu respondi sim! Disse que foi irritante.

― Detalhes Felicity, eu quero detalhes!

Ele queria mesmo me encurralar.

― Que detalhes? Eu já te contei tudo.

― Tudo? Você tem certeza disso? ― sorriu com cinismo ― Não pense que eu não notei o quão vaga você foi com relação à Oliver.

Maldito inteligente!

Apertei os olhos, pensando numa resposta que o satisfizesse. Entretanto, não conseguia chegar a nenhuma. Suspirei, derrotada.

― O que exatamente você quer saber?

Quanto mais rápido eu terminasse com isso, melhor.

Os olhos de Curtis brilharam, em expectativa.

― O gostosão te beijou de novo? Ou ele tentou, ao menos? Será que vocês transaram? Se sim, o pinto dele é grande mesmo como imagino ser?

Puta merda! Formular alguma resposta naquele momento, me parecia quase impossível, uma vez que eu me sentia vermelha até a raiz e mortificada demais para soltar um pio. Entretanto, a resposta estava na ponta da língua: Não. Eu queria soltar um sonoro "Não" para tudo aquilo. E mesmo assim, eu não conseguia.

Curtis sabia muito bem como ser objetivo. Eu havia sido alvejada.

― Felicity?

Olhei para trás e soltei um suspiro aliviado, quando vi parado na porta Barry-Jack e Barry-cão - que não perdeu um minuto sequer para se lançar sobre o meu colo e me encher de lambidas. Pelo menos alguém ali sentira a minha falta.

Depois de alguns minutos, consegui controlar a pequena ferinha no meu colo e resolvi focar em Barry, que encontrava-se ainda parado na porta, com um sorriso gentil. Respirei fundo, Barry sempre parecia ter aquele sorriso acolhedor. Eu adorava.

― Hey, Barry...Quanto tempo, senti a sua falta! ― Levantei-me para o abraçar, enquanto Barry-cão ficava girando em torno de nós, feliz.

Barry retribuiu o abraço, soltando uma breve gargalhada, ao ver a euforia do cão.

― Olá Felicity, sentimos a sua falta!

― Sentimos, é? ― Me separei do seu abraço, levantando uma sobrancelha. ― Até onde eu posso notar, só você e Barry-cão sentiram a minha falta aqui.

― Ei, eu também senti sua falta!

Notei quando uma loira saiu de trás de Barry e eu faltei ter um ataque cardíaco.

― Sara?! ― A fitei incrédula, estranhando sua presença no apartamento. O que diabos ela estava fazendo ali? Como se soubesse o que eu estava pensando, Barry se apressou em explicar a situação:

― Eu estava caminhando com Barry-cão, quando Sara apareceu para nos acompanhar.

Ahhh, abri a boca, compreendendo. Mais uma vez, a pequena fadinha havia abordado alguém do nosso apartamento. E pelo jeito, não era a primeira vez que aquilo ocorria, uma vez que notava-se de longe a intimidade que ela exalava com Barry-Jack.

Em poucos dias, Sara Lance, havia conseguido se tornar amiga de Barry. Não sabia o que pensar daquilo.

― Olá, Felicity. ― Sara me abraçou ― Como foi a viagem? Se divertiu?

Se eu me diverti? Com Oliver Queen? Se tivessem me feito a mesma pergunta há algum tempo atrás, eu apenas soltaria uma gargalhada na cara da pessoa e questionaria sua sanidade. Mas agora...Eu tinha que morder a minha língua e não deixar escapar o quanto eu me diverti com o Queen.

Quantas pessoas no universo poderiam falar que chamou a metade da máfia russa de gays? Era uma boa recordação.

― Foi uma viagem de negócios. ― Respondi, tentando ser o mais breve possível e não dar detalhes.

Diante a minha resposta, Curtis riu alto, chamando atenção para ele.

― Não a deixe enganar, Sara. ― Alertou ― Essa garota se divertiu mais nessa viagem, do que em toda a sua vida.

Fiz uma careta. ― Curtis, não exagera.

― Não estou exagerando.

― Tá sim.

― Não tô não.

Grunhi, frustrada.

Iríamos continuar o dia todo assim, se eu não cedesse.

― Quer dizer então que você se divertiu nessa viagem, ein?

Olhei para Sara que me lançava um sorrisinho malicioso. Bufei, revirando os olhos.

― Não do jeito que você está pensando.

― E de que jeito eu estou pensando? ― Inclinou a cabeça levemente na minha direção, ainda com aquele sorriso. Franzi o cenho. Suas atitudes e joguinhos com palavras, me lembrava até demais o sádico-mor.

― Você definitivamente é uma ex namorada do Oliver.

Aquelas palavras foram o suficiente para fazer Curtis se levantar num pulo do sofá e ambos os Barry's ficarem agitados.

― VOCÊ JÁ NAMOROU OLIVER QUEEN?

― QUAL É O TAMANHO DO PINTO DELE?

Gritaram em uníssono, mas era muito fácil distinguir qual dos dois soltara cada pergunta.

Sara curvou os lábios, num sorriso que para mim, me parecia muito ameaçador.

― Sim. E parece que Felicity não vai me fazer esquecer disso nem tão cedo.

Engoli em seco, sacando imediatamente que o seu romance com o Queen era um assunto que ela não gostava de tocar, algo quase proibido.

―...acreditem em mim quando eu digo que namorar Oliver não foi a escolha mais brilhante que eu já tive na vida. ― Ela completou, ainda sorrindo.

Não parecia envergonhada, mas também não parecia confortável com o seu passado.

― Por que? O gostosão não é tão gostosão assim quanto aparenta? ― Curtis questionou afobado, entrando na frente de Barry que estava prestes a falar algo.

Bati uma mão contra minha própria testa, odiando Curtis por ser tão fissurado no pinto alheio. Será que ele poderia mudar de tópico? Ou melhor, será que ele poderia falar de outro pinto, ao invés do Queen? Era tentador!

Conseguia me ver, brevemente, caso Curtis não calasse a matraca, me juntando à ele nessa empreitada para saber o comprimento do brinquedinho do Queen.

E aí, seria inevitável que ninguém sacasse o quão estatelada eu estava pelo sádico-mor. Senti um frio na espinha só com a ideia.

― Curtis, pare de ser inconveniente. ― Pedi, com esperança que ele me ouvisse pelo menos dessa vez. Magicamente, ele calou a boca, mas me lançou um olhar que dizia claramente que mais tarde eu não escaparia do seu interrogatório. Outro interrogatório.

Eu estava lascada, mas até aí, isso já não era mais uma novidade.

(...)

O dia se passou num piscar de olhos e eu me vi agitada ao final da noite, quando Sara foi embora do nosso apartamento, me deixando sozinha com Curtis e Barry. Até então, me ver sozinha com aqueles dois seres nunca foi um problema. Porém, contando com o meu nível de estresse - e expectativa -, somando mais a curiosidade irrefreável de Curtis por saber mais sobre Oliver, eu me via quase subindo pelas paredes.

Ou me jogando pela a janela.

― Acabei de encomendar a pizza. ― Barry anunciou, entrando na sala com o celular na mão e Barry-cão no seu encalço. Claramente, poderíamos já notar para quem a lealdade do cão era depositada.

Apertei os lábios. Aquele pequeno traidor...

― Ótimo, porque eu estou prestes a comer o meu próprio braço! ― Curtis se jogou no sofá, preguiçosamente. Revirei os olhos com o seu drama.

― Ao invés de comer o seu braço, tente comer o seu cérebro logo de uma vez. ― Resmunguei, mau humorada. E em troca, recebi uma almofadada no rosto.

Barry riu alto diante a cena e eu só não soltei mais algum comentário maldoso, dessa vez, para ele, porque...Bem, Barry era Barry. E eu gostava de Barry demais para sair destilando veneno gratuitamente na sua direção.

Peguei o controle da TV e a liguei, resolvendo que aquele era o momento perfeito para tentar entreter Curtis. Não queria deixar brechas para o malandro tentar questionar-me qualquer coisa.

No momento, Curtis era o meu maior pesadelo.

Estava passando de canal, até que um chamou a minha atenção. Ou melhor, me horrorizou tanto, que fiquei paralisada no lugar, assistindo aquela cena medonha.

Puta. Merda.

― PUTA MERDA! ― Curtis deu voz ao meu pensamento, encarando a TV assim como eu, horrorizado.

Mais uma vez naquela semana, eu estava vendo um tiranossauro rex saindo da vagina alheia. Lindo. Cena adorável.

Tampei os meus olhos, largando o controle no chão da sala.

― Barry, muda desse canal demoníaco! ― Pedia, histérica. Shado e sua vagina elástica haviam me traumatizado, tanto que eu duvidava um dia ser capaz de engravidar.

Como o esperado do Jack 2, ele nos salvou, desligando a TV. Porém, notava-se de longe sua palidez.

― Eu acho que terei pesadelos essa noite. ― Curtis quebrou o silêncio.

Lentamente, balancei a cabeça, concordando com ele.

― Acredite, é beeeem pior ao vivo.

Barry me fitou interessado e eu percebi, tardiamente, que mais uma vez, havia feito uma manobra errada. Cacete!

― E como você sabe disso? Você já viu um parto ao vivo? De quem? Como foi?

Eu odeio a minha vida, gemi baixinho. Quando alguém não ferrava comigo, eu mesma fazia o serviço sozinha!

― Oh, Barry! Você não sabia que a nossa Felicity aqui participou de um parto enquanto estava numa ilha com o Oliver? ― Curtis provocou e eu soltei um grunhido na sua direção.

― Eu estava numa ilha com Oliver e Diggle! ― Pausa ― E mais uma tribo, é claro.

Os olhos de Barry brilharam após aquela informação.

― Uma tribo? Sério? Uma tribo de verdade?

Parecia até uma criança descobrindo a existência do Papai Noel. Assenti com a cabeça.

Curtis soltou uma gargalhada alegre.

― Puxa! Que incrível! O que você fez para Oliver te levar até uma ilha?

Aparentemente, virei sua cúmplice num plano de chantagem contra uma oferenda estragada e atualmente estava na mira de dois assassinos.

Dei de ombros, fazendo minha melhor cara de paisagem. ― Eu não faço ideia...

― Não faz ideia né, Felicity? ― Curtis cruzou os braços, olhando-me especulativo e eu trinquei os dentes. Ele parecia muito bem recuperado após ver uma vagina expelindo um dinossauro.

Era hoje que eu defenestrava um viado!

― Curtis, não me provoque.

― Se não o que? Vai me chamar de gay assim como chamou metade da máfia russa? ― Questionou, com uma nota de zombaria na voz.

Senti o meu rosto esquentar de raiva.

― Você conhece a máfia russa?! ― Barry sussurrou, com os olhos arregalados. Parecia assombrado com a possibilidade.

Pisquei os olhos. Era agora que Barry arrumava suas coisas, ligava para Caitlin alegando que sua querida prima havia virado uma bandidona e tinha como cafetão um viado desbocado? Cacete, a minha tábua de salvação estava à um passo de partir!

Abri a boca, pronta para formular mais alguma mentira que voltaria para me assombrar no futuro, quando a campainha tocou.

Salva pelo homem da pizza, pensei, soltando um suspiro aliviado.

Nunca dei aquela absurda quantia de gorjeta para alguém, mas concluí que naquela noite, eu poderia abrir uma exceção. Ou até duas.

(...)

Um Oliver, incomoda muita gente. Dois Oliver, acabaria com a raça humana. ― Cantarolava baixinho minha canção de ninar, já quase caindo no sono, quando senti um peso afundando a minha cama. Ainda de olhos fechados, continuei a minha canção. ― Um Oliver, incomoda muita gente. Dois Oliver, acabaria com a raça humana. Oliver e Curtis, a dupla, faria o sol morrer e a lua despencar.

Não demorou nem meio segundo até eu receber a minha resposta em forma de um tapa na cabeça.

― HAHAHA, você é muito engraçada, Felicity! ― O viado fofoqueiro fingia rir ― Você já pensou em virar comediante?!

Bufei, finalmente tirando as cobertas que me cobriam, para fitar Curtis.

― O que você está fazendo aqui? ― Meus olhos viajaram até o criado mudo, onde havia um relógio ― Você sabe que horas são? Amanhã eu tenho que trabalhar!

― Eu sei muito bem que horas são, Felicity. ― Disse, com um ar impaciente. ― Inclusive, já até passou da hora de você me contar o babado forte sobre o "Bofe Ai-queria-te-pegar", logo de uma vez! Você tá fazendo muito rodeio para quem não fez nada com o chefinho.

Rangi os dentes.

― Mas eu não fiz nada!

Literalmente, eu não fiz nada. Só me apaixonei. Mas, em minha defesa, não foi porque eu quis. E aquilo feria o meu orgulho de uma maneira indescritível.

Curtis fixou os olhos no meu rosto, logo, adotando uma expressão séria. Parecia que finalmente, minhas palavras haviam surtido o efeito esperado. Ele acreditava em mim.

― Então, não rolou nadinha com o gostosão? Nem uma declaraçãozinha? Ou quem sabe, uma paradinha na moita pra inspecionar o mastro dele? Nada, nad-

― Oliver quer que eu seduza Ray Palmer, num coquetel da empresa amanhã. ― O interrompi, rápida.

― Ele quer que você seduza Ray Palmer? ― Os olhos de Curtis cresceram ― Pior, ele quer que você seduza alguém? Você não consegue nem seduzir o tiririca!

Fiz uma careta.

― Obrigada pela parte que me toca.

― De nada.

Franzi o cenho, recordando suas palavras anteriores.

― E que merda de declaraçãozinha você esperava?

Não havia me escapado atenção aquela sua sentença. Só que o caso era que eu queria descobrir com relação à quem se declarar para quem, ele insinuava. Não podia ser eu para o sádico-mor...Certo?

― A sua declaração, duh!

Errado.

Não sabia se me sentia ofendida ou horrorizada com o fato de Curtis saber da minha quedinha pelo Queen. Era tão óbvio assim?!

― Não sei do que você está falando. ― Tentei desconversar, virando o rosto para outra direção.

― Ah, pelo amor de Deus, Felicity! Não tente me enganar, eu te conheço! ― Ele exclamou, agitando as mãos de um lado para o outro. ― Você já se olhou no espelho quando mente? Só idiotas caem nas suas mentiras!

― Ei, eu já enganei o Oliver várias vezes! ― Tentei me defender e observei quando aquela bicha má curvou os lábios, num sorrisinho depreciativo.

― Como eu disse, só idiotas caem nas suas mentiras.

Ele tinha um ponto.

Girei os olhos.

― O Queen é mais inteligente do que aparenta, acredite em mim quando eu digo. Não o subestime.

Experiência própria, quis complementar, mas resolvi que não. Já estava falando demais naquela noite - não que eu já não o fizesse normalmente.

― Tá, que seja. ― Curtis se jogou ao meu lado, na cama, repousando as mãos atrás da cabeça. ― O negócio agora é saber como você vai seduzir alguém. Ou melhor, Ray Fodão Palmer.

Comecei a morder minha bochecha, tensa. Ele havia levantado a questão que havia me feito apelar para a minha canção de ninar predileta, para quem sabe, por algum milagre, eu entrar num coma de dois anos e não precisar ter de encarar o Queen no outro dia.

― Oliver...Oliver falou que vai me ajudar a seduzir o Ray. ― Eu empurrei com dificuldade as palavras, sentindo à cada segundo minha garganta fechar.

Oliver Queen iria me ensinar, em menos de 24horas, como seduzir alguém. Eu queria que um rolo compressor passasse por cima de mim. E dez vezes seguidas, se possível.

Curtis ofegou, do meu lado. ― OLIVER VAI O QUÊ?!

Exatamente! Compreendia perfeitamente bem a reação de Curtis, já que foi a mesma que a minha.

― Pois é.

― Meu Deus...

― Uh-hum.

― Isso vai dar merda!

― Eu sei.

― No meio da lição, você vai acabar pulando em cima do bofe!

― Eu vou mes-Ei!

Acertei um tapa no seu braço.

― Só tô falando a verdade! ― Tentou justificar, dando um pulo para fora da minha cama rapidamente, provavelmente pressentindo que se continuasse com as suas "verdades", logo iria dar sua última respiração.

― Bem, eu não estou interessada nas suas verdades. Poupe o seu fôlego, por favor. ― Resmunguei, irritada.

― Ihhh, isso tudo é porque não conseguiu ir pro mato com o gostosão?

Apertei os olhos.

― Bem, eu fui para o mato com ele. Só não fiz o que você acha que eu não fiz.

Entortou um sorriso na minha direção, colocando as mãos na cintura.

― E o que você acha que eu acho que você não fez?

Hein?

― Que? ― Pisquei, desorientada. Não sabia se ele estava fazendo aquilo de propósito ou quem sabe, o meu cérebro estivesse embaralhado por conta do horário.

Ao invés de me responder, ele apenas se limitou a caminhar lentamente até a porta do quarto, mas antes de sair, virou-se na minha direção. Tinha os olhos muito brilhantes.

― Felicity Smoak, você já foi muito mais inteligente.

E com isso, foi embora. Com a sua saída, ao invés do sentimento de paz e contentamento me preencher, fiquei apenas mais agitada. O que ele queria dizer? Aquilo foi uma ofensa ou apenas uma observação?

Inferno!

Afundei minha cabeça no travesseiro, aguardando que o dia amanhecesse logo para finalmente minha tormenta chegar ao fim. Ou ao começo.

(...)

Ajeitei o meu cabelo pela milésima vez naquela manhã, sentindo minhas mãos suarem durante o processo. Desconfortável, reparei novamente no vestido que usava. Segundo a minha visão o look estava ok, para quem iria num coquetel até o fim da tarde. Oliver me esperava do outro lado da calçada, de braços cruzados e me fitando minuciosamente.

Sua expressão não denunciava emoção alguma, o que já não era uma grande novidade - entretanto, não pude ignorar a frustração que se apoderou do meu corpo. Será que custava muito ele expressar alguma emoção quanto a minha escolha de roupa? Eu honestamente esperava não o decepcionar com o meu vestuário, dessa vez.

Afinal, tínhamos uma missão que não iria só nos ajudar, como também ajudar mesmo que indiretamente centenas de pessoas que moravam em Lian Yu.

― Bom dia, srta. Smoak. ― Ele me saudou, milagrosamente.

― Bom dia, sr. Queen. ― Retribui a gentileza, consciente que não era sempre o encontrar tão bem humorado. Olhei de um lado para o outro, procurando o seu fiel companheiro. ― Cadê Diggle?

Ele arqueou uma sobrancelha e eu respirei fundo, aguardando a resposta espertinha que viria.

― Você quis dizer DigBoy, certo?

Filho de uma rameira desgraçada!

― Você tinha mesmo que levantar o episódio da Rússia, não é mesmo? ― Soltei entredentes, cerrando os punhos. Agora, queria encher aquela cara bonitinha de porrada.

― Oh, eu estava fazendo isso? Não notei, saiu muito naturalmente. ― Seu tom era inocente, mas suas lazúlis brilhavam com intensidade.

I-D-I-O-T-A.

Me limitei apenas a entrar no carro, ignorando completamente o sorrisinho cínico que ele me lançava de minuto à minuto. Era notório o prazer que o Queen sentia em me enervar. E naquele dia, particularmente, ele estava desempenhando muito bem aquele papel.

Durante minutos, permanecemos num completo silêncio, até eu perceber que o Queen não estava me levando exatamente para QC. Entrei em alerta, para onde diabos aquele lunático estava me levando? Tudo bem que ele ainda precisava me dar aquelas lições...inusitadas de sedução, entretanto, não imaginava que seria num lugar fora da QC. Apesar de sua linha de raciocínio ser lógica.

Na QC haveria testemunhas demais para nos pegar no flagra numa situação comprometedora. Não que fosse haver alguma situação comprometedora. O Queen poderia muito bem me ensinar a parte teórica, ignorando completamente a física - o que eu acharia ótimo. Não queria ser acusada numa idade tão jovem de assédio sexual. Tinha a certeza absoluta que não iria me conter com os avanços do lunático, caso eles ocorressem.

― Para onde estamos indo? ― Perguntei, incapaz de frear a minha língua.

Sem desviar os olhos da pista, o Queen respondeu:

― Para o Verdant.

Ele havia falado...

― Que diabos estamos indo fazer lá?! ― Ofeguei, começando a ter pequenos flashes da primeira e última vez em que eu estivera lá.

A lembrança ao mesmo tempo que esquentava o meu rosto, também esquentava outras áreas.

Inconscientemente, rocei um joelho no outro, tentando aplacar o calor perigoso que havia se alojado entre as minhas pernas. Céus, eu e o Queen da última vez, quase transformamos o Verdant num cenário de filme pornô. Quase.

― Você está indo ter sua aula lá. ― Estreitou os olhos rapidamente na minha direção ― Você não pensou mesmo que seria na QC, ou pensou?

Me encolhi no assento.

― Eu não...Bem, talvez.

Ele parou num sinal vermelho e...Merda! O Queen ficava absurdamente comível segurando um volante.

― A QC hoje está muito movimentada para o coquetel de mais tarde. ― Começou a falar, devagar, tamborilando os dedos no volante, ao mesmo tempo em que continuava a olhar religiosamente para frente. ― Não seria o melhor lugar para você aprender as suas lições, apesar de ser inegável que eu se eu quisesse, ninguém se atreveria à interromper as suas...aulas.

Arrogante prepotente!

Mas ele tinha razão. Bastava um olhar seu, para fazer qualquer pessoa sumir da sua frente mais rapidamente que o diabo correndo da cruz.  

Após sua declaração, permanecemos em silêncio até chegarmos ao Verdant - que naquele horário encontrava-se completamente vazio. Exceto por Sara.

Estranhei a sua presença.

― Olá, Felicity! ― Veio saltitante me cumprimentar. Poderia a comparar fielmente com uma fadinha. ― Como vai você? Hoje mais cedo eu e Barry corremos um pouco, mas tive o pressentimento que ele sentiu a sua falta.

Ah, Barry-cão, claro. Havia acordado essa manhã com a presença de Sara no apartamento, toda excitada com a ideia de poder ir correr com Barry-cão - ao que parecia, Barry-Jack e ela haviam tornado isso um hábito no pouco tempo em que eu estivera fora. Não poderia estar mais satisfeita com aquilo, afinal, Barry-cão precisava mesmo daquelas corridas.

― Ele só sentiu a minha falta porque eu esqueci de comprar a ração dele. ― Murmurei, numa careta. Fiz uma nota mental para mais tarde, após o fim daquele coquetel que prometia um desastre gigantesco, eu passar na primeira petshop aberta para comprar a ração do pequeno traidor.

Pelo canto dos olhos, notei quando Oliver parou exatamente ao meu lado.

― Você é quem compra a ração do Barry? ― Ele se meteu no assunto e eu detectei no seu tom um mix de incredulidade e julgamento.

Virei para ele, com a minha melhor cara de indignada. Como assim se eu comprava a ração do meu cachorro? Ele esperava que fosse quem?

― Óbvio, Barry é meu, portanto tenho que cuidar dele e da sua alimentação. ― Afirmei ― É essencial que ele coma sua ração, uma vez que isso lhe dá uma vida saudável e longa.

Ele ficou me encarando em silêncio, por vários minutos.

― Hm...― Piscava os olhos, ainda me encarando, e eu tinha a impressão que ele estava um pouco...perdido, na situação. O que era peculiar. ― Bem, gênios são excêntricos.

Ele estava chamando Barry de gênio?

Foi a minha vez de piscar os olhos, abismada.

― Ele come a própria merda.

Silêncio.

A expressão que ele adotou logo após a minha declaração, eu jamais havia visto cruzar no seu rosto antes. Por isso, era difícil tentar decifrar o que estava se passando naquela mente perturbada.

― Eu vou ver se Diggle já chegou. ― Murmurou, girando os calcanhares e saindo tão silenciosamente quanto havia entrado no recinto.

Virei para Sara, com a testa franzida. Não havia entendido nada.

― Felicity, você é a melhor coisa que já aconteceu em Star City. ― Foi o que Sara disse, antes de explodir numa risada estrondosa.

Girei os olhos. Alguém deveria tomar urgentemente daquela garota o vibrador que a deixava tão descontrolada assim. 

― Diggle está por aqui? ― Perguntei, esperando que aquilo fizesse Sara parar de rir feito uma louca. Tinha medo daqueles seus surtos.

Sempre quando Oliver estava ao nosso redor, ela acabava rindo daquela maneira - e as suspeitas de que ou ela era doida de pedra, ou alguma piada interna estava rolando ali, cresciam cada vez mais.

― Chegou há quase meia hora. ― Respondeu com humor aquecendo os seus olhos.

― Hm...― Olhei de um lado para o outro, contudo, não vi Diggle. Seja onde for que ele estivesse, estava bem longe das minhas vistas. Voltei a prestar atenção em Sara e a olhei com interesse. ― E você? O que está fazendo aqui? Soube que o clube só abria à noite...

― E você? O que está fazendo aqui? ― Sara respondeu com uma pergunta. ― Até onde eu sei, você é secretária do Oliver...Não deveria estar na QC?

Touché!

― Como secretária do Oliver, tenho que sempre estar ao seu redor. Tanto fora ou dentro da QC.

Nunca despejei tanta bosta pela a minha boca dessa maneira. Mentira, já sim.

Sara arqueou uma sobrancelha e na minha experiência de "Arqueadas de sobrancelhas" aquilo não era um bom sinal. Merda!

― Você o segue também até ao banheiro?

A fadinha dos dentes acabaria tendo que recolher os seus próprios, caso continuasse usando aquele tom comigo.

Esfreguei o rosto, pedindo paciência para todos os deuses. Não queria machucar a baixinha com uma voadora.

― Você tem andado muito com Curtis. ― Lhe lancei um olhar reprovador ― Deve parar com isso, está ficando irritante igual a ele.

Ela sorriu.

― Vai no coquetel de hoje?

Se eu iria no coquetel? Segundo as previsões, eu não só iria, como também arrasaria por lá. Tá, sei.

― Vou.

― Vai levar algum acompanhante?

Cerrei os olhos, desconfiada.

― Por que?

― Porque pode levar um acompanhante.

Que justificativa mais merda. Que justificativa mais Felicity.

― Eu não tenho um acompanhante.

Até porque, acabaria arruinando o plano de eu fisgar o Ray. Eu sozinha já poderia ser um desastre, imagine acompanhada. Não, muito obrigada.

― Legal, será que você pode me levar então?

O QUÊ?!

― Por que...― Limpei a garganta ― Por que você quer ir?

Ela deu de ombros.

― Parece que vai ser legal.

Ah, sei.

Cruzei os meus braços, a fitando minuciosamente. Alguma coisa ali estava muito errada.

― E por que você não pede para Oliver te dar algum convite?

― Oh! ― Abriu a boca, parecendo surpresa. ― Você tem razão! Obrigada, Felicity. Você me deu uma ótima ideia!

E girou os calcanhares, seguindo o mesmo caminho que Oliver havia seguido minutos atrás.

Fiquei parada igual uma babaca, imaginando o quão suspeito era tudo aquilo, que quando dei por mim, Oliver, Diggle e mais duas pessoas desconhecidas marchavam em minha direção.

E não havia nenhum sinal de Sara...Talvez ela tivesse ido brincar com o seu vibrador, ponderei.

― Felicity, quero te apresentar Floyd Lawton e Carrie Cutter. ― O sádico começou, apontando para os dois estranhos que já não eram tão estranhos assim.

A mulher tinha um cabelo ruivo flamejante, enquanto o homem usava um tapa olho que mais uma vez, fez-me questionar o tipo de amizades que o Queen tinha.

Não havia um normal.

― Olá. ― Os saudei educada, oferecendo a minha mão para cada um. E não pela primeira vez, fui totalmente ignorada.

Ao invés, ambos me estudavam de cima à baixo, com um claro interesse. Senti o meu rosto imediatamente esquentar, ficando extremamente constrangida com aqueles olhares.

― Eles estão aqui para te ajudar nas suas...lições. ― Anunciou o sádico e eu arregalei os olhos.

Eu havia mesmo ouvido certo?

― Como? ― Perguntei cegamente, esperando que aquilo fosse algum tipo de piada de mal gosto.

― Eles vão te ajudar na sua missão. ― O sádico voltou a falar lentamente, como se eu tivesse algum problema mental. Mas o único que parecia ter um problema mental ali, era ele!

― Como assim eles vão me ajudar? ― Extrapolei ― Não era você quem ia me ajudar?!

Para o total crédito do sádico, ele parecia genuinamente confuso naquela situação também. Contudo, aquilo não o fazia menos culpado.

― Eu nunca falei que iria te ajudar nas lições. ― Teve a cara de pau de negar.

Grunhi, frustrada.

― Você falou sim!

Franziu o cenho e percebi sua carótida trabalhando furiosamente. Não precisava o conhecer tão bem, para saber que ele repassava a cena do dia anterior toda na sua cabeça.

― Oh, eu consigo me recordar muito bem do que eu te falei! ― Me olhou afiado e eu obviamente devolvi o olhar, o desafiando ― Vou repetir exatamente o que eu te falei e espero que desta vez, você escute com atenção. ― Arrogantemente fez a expressão de aspas, enquanto repetia suas palavras do dia anterior ― "Vou te ajudar a seduzir um homem, Felicity."

Sorri triunfante.

― Isso mesmo!

― Então você concorda que eu usei essas exatas palavras, certo? ― Perguntou, com uma calma incomum. Parei para pensar por alguns instantes e logo assenti com a cabeça, em concordância.

― Sim.

― Ótimo.

― Hã?

Será que ele não percebia que estava dando razão para mim?

Ele girou os olhos, impaciente.

― Eu falei: Vou te ajudar a seduzir um homem, Felicity. ― Explicava com ênfase ― E não: Eu vou te ajudar a seduzir um homem, Felicity. Há diferenças.

Escancarei a boca, não querendo acreditar na explicação que os meus ouvidos haviam acabado de registrar. Se aquilo era verdade, então...Queria dizer que o Queen não me daria porra nenhuma de lição? Pior, eu havia me revirado na cama na última noite, por nada?!

Eu exigia que aquele demônio me desse as minhas aulas! E isso não tinha nada haver com a minha irracional decepção ao saber daquela verdade. Imagine.

Contrariando todos os meus instintos de querer bater o pé e gritar feito uma criança birrenta pedindo por atenção, desviei os olhos do rosto de Oliver, para não denunciar a decepção devastadora que enraizava-se no meu ser. Ao invés, observei a Cabeça de Fósforo e o cosplay de Nick Fury branco.

― Então, o que vocês tem para me ensinar? ― Perguntei com toda a dignidade que ainda me restava, tentando não demonstrar o quão...desconfortável e humilhada eu me sentia naquela situação ridícula.

A ruiva sorriu na minha direção.

― Já ouviu falar de 50 tons de cinza?

Meus olhos cresceram e o meu coração deu uma leve parada.

― Eu não vou brincar de ser sadomasoquista! ― Berrei, indignada. Uma coisa era me dar uma lição de como...me comportar ao redor de um homem. Outra completamente diferente era me obrigar a fazer algo que não queria. Chamei Diggle com a mão e assim que ele parou ao meu lado, o puxei pelo braço. ― Se vamos fazer isso, preciso de uma testemunha! ― Avisei, apertando Diggle com mais força ainda, tentando fazer o máximo para o manter perto da minha pessoa.

Eu lá iria saber o que aqueles dois malucos iriam querer aprontar comigo? Ainda mais após aquela pergunta...

― Ei garota, vai com calma aí! ― O projeto de Nick Fury riu, levantando as mãos num sinal claro de rendição ― Só perguntamos isso para saber o seu nível de inocência, nada mais.

Hein?

Enruguei a testa, confusa.

― O que você tá querendo dizer com isso?

― Seu chefinho aqui... ― Indicou Oliver com a cabeça ―...disse que você era muito inexperiente nessa área, quase uma celibatária. Então, Carrie e eu deduzimos que se você tivesse lido esse livro alguma vez, não seria tão...virgenzinha nessa área. Quer dizer, se você tivesse lido qualquer livro parecido com este, você já teria uma ideia do que te esperar.

Ignorei todo o seu discurso e foquei na parte mais importante:

― Virgenzinha?

Dizer que eu estava mortificada, era piada. O Queen realmente pensava aquilo de mim?

O cosplay balançou a cabeça solenemente, confirmando minha pergunta.

― Sim...Palavras dele, não minhas! ― Se apressou em dizer rápido, ignorando completamente o olhar assassino que Oliver agora lhe lançava. Aparentemente, ele havia compartilhado informações demais comigo. Ótimo.

Fulminei o Queen com o olhar ― O que te faz pensar isso de mim? ― Exigi saber, e dessa vez, quem apertava quem, era Diggle. Um homicídio estava prestes a rolar ali.

Mas não era pelo motivo do Queen me ver apenas como uma virgenzinha que não sabia nada da vida. E sim por mesmo assim, eu não conseguir me livrar daquele sentimento enervante que possuía cada célula do meu ser.

Aquilo só podia ser macumba. E das bravas.

― O que não me faria pensar isso de você? ― Seus olhos estavam secos e sua voz transmitia uma curiosidade genuína, como se não entendesse mesmo quais motivos ele teria de pensar diferente.

Avancei na sua direção, pronta para lhe dar motivos para pensar que eu era a "Sarará do Sertão que estava mais que preparada para a fornicação". Eu ia mostrar pra ele meus 50 tons de Felicity. Entretanto, Diggle intensificou mais o aperto em meu braço.

Respirei fundo, tentando acalmar a piriquita que queria dar uns pitacos no sádico-mor.

― Bem, eu não sei como você adquiriu essa impressão de mim, mas realmente não me importa mais saber o motivo. ― Mentira, importava sim. ― Portanto, não se preocupe, não estou mais ofendida.

― Eu não estava preocupado. ― Me interrompeu, cínico.

Revirei os olhos e ignorei sua interrupção, resolvendo continuar com o meu discurso de "Ai, como eu sou superior".

―...vou deixar esse assunto de lado. ― Falei, jogando o cabelo. Tava levando à sério demais aquele lance de "finja que não quer fazer umas safadagens com o sádico". Vislumbrei um brilho divertido nos seus olhos e continuei. ― E focar agora no que é importante...

― Que no caso, seria... ― Me incentivou a continuar.

―...Seduzir Ray Palmer! ― Completei, segura.

Oliver ia ver só quem era a virgenzinha inocente!

 Oliver's  Pov

Algo estava tremendamente errado. O sentimento inquietamente fez, não pela a primeira vez, os pelos da minha nuca eriçarem. Ainda não conseguia desvendar o que estava errado, mas tinha a certeza que alguma coisa grande estava prestes a acontecer. Meus instintos gritavam isso.

Suspirei irritado, começando a encher o segundo copo de bebida dos últimos trinta minutos que havia me trancado dentro daquele escritório no Verdant, e deixado Felicity nas mãos de Floyd e Carrie.

― Nervoso?

Girei, para encontrar Diggle na porta do meu escritório.

― Eu? Nervoso? ― Questionei, ao mesmo tempo em que girava o copo na minha mão. ― Desde quando eu fico nervoso?

Voltei a me sentar na minha cadeira, imaginando o motivo de Diggle estar sorrindo tão abertamente na minha direção. Não era como se eu tivesse acabado de falar uma piada.

― Desde quando você fica nervoso? Huh, vamos ver... ― fingiu pensar ― Que tal desde o dia que Felicity Smoak entrou na sua vida?

Girei os olhos. Ah, ótimo. E lá ia nós...

― Eu não fico nervoso, só alterado. Felicity é...tagarela demais. Não gosto de gente falando no meu ouvido sem parar. ― Justificava, apesar de saber que não precisava justificar nada. Era como se eu tivesse sido pego fazendo algo errado e tinha de me confessar. Não gostava daquilo.

De braços cruzados, Diggle atravessou a sala e parou exatamente na frente da minha mesa. Claro que ele tinha mais o que falar, pensei, desanimado.

Não estava com humor para argumentação - o que era extremamente estranho, mas pensando bem, nada naquele dia parecia normal. E infelizmente, ainda não conseguia achar o motivo para isso.

Suspirei irritado novamente e foi o suficiente para chamar atenção de Diggle.

Magnífico.

― Para quem não fica nervoso, você está me parecendo muito alterado. ― Observou, franzindo o cenho. ― Isso tudo é por conta do coquetel empresarial?

― Essa foi uma tentativa sua para me fazer rir? ― Repliquei, largando o copo em cima da mesa e imitando o seu gesto de cruzar os braços.

Como o imaginado, ele não se abalou nem um pouquinho com a minha réplica espertinha, diferente de qualquer pessoa que estivesse no lugar dele. Aparentemente, eu tinha a triste tendência de irritar qualquer um com uma simples frase.

― Há algo além rolando e você não me contou?

Foi a minha vez de franzir o cenho.

Algo além rolando? O que exatamente você está querendo dizer com isso?

Observei quando ele travou o maxilar, indicando que começava a se irritar comigo. Olhei o relógio acima da sua cabeça, pendurado na parede e constatei que já tinha até passado da hora para aquilo acontecer.

― Eu estou querendo dizer que quero saber se há algo te deixando tão perturbado e que você não tenha compartilhado comigo, Queen.

Uh, ele me chamou de Queen. Logo estaria com o punho dele enterrado no meu rosto.

Fiz uma careta.

― Nada de socos hoje. Tenho que estar em forma para flertar com algumas adoráveis senhoras, mais tarde.

Ele riu, apreciando a minha desgraça. Não era novidade para ninguém o quanto eu atraia atenção das mulheres, independente das idades.

― Você diz como se não gostasse de ludibriar aquelas pobres senhoras.

Arqueei uma sobrancelha.

― Ludibriar? Até onde eu sei, não engano ninguém. E o único pobre da situação aqui, sou eu.

Não estava mentindo. Aturar toda aquela corja exigia uma certa paciência que felizmente, eu aperfeiçoei ao decorrer dos anos.

― Hm, claro, claro...Vou fingir que não sei o quanto você se diverte vendo aquelas velhas assanhadas. ― Desdenhou ― Agora, chega de enrolação, o que está te incomodando?

― Não sei. ― Respondi, de maneira automática. Em troca, recebi um olhar desacreditado.

― Não sabe?

― Não. ― Balancei a cabeça negativamente, voltando a ter o mesmo sentimento de mais cedo. Algo não estava certo.

― Talvez você esteja assim por achar que Felicity pode estragar as coisas novamente com Palmer? ― Arriscou e eu considerei por alguns segundos aquela sugestão. Mas algo no meu interior dizia que não era aquilo.

Balancei a cabeça. ― Não é isso.

― Tem certeza? ― Insistiu e eu cerrei os olhos, detectando algo à mais ali.

― Você acha que eu pediria Felicity para seduzir o Palmer, caso eu não soubesse que ela é capaz de fazer isso?

Seus olhos aumentaram, fingindo horror.

― Oh! Você acha Felicity, a virgenzinha tagarela, capaz de seduzir alguém? Estou estupefato!

Sorri, jocoso.

― E eu estou prestes a esquecer que tenho velhas assanhadas para entreter essa noite, portanto, cuidado com o tom. ― Avisei-lhe ― E eu não disse que a Felicity é capaz de seduzir qualquer um. Quis dizer que ela é capaz de seduzir o Palmer.

Palmer, era um homem extremamente inteligente, entretanto lhe faltava um filtro na boca, assim como com Felicity. Ambos pareciam formar o casal perfeito na minha mente, assim que parei para refletir mais aprofundadamente no assunto. Por isso, não tinha dúvida alguma que se existia alguém capaz de convencer o Palmer Tech a se aliar com a QC, esse alguém era Felicity.

― Ele é um homem inteligente. ― Diggle falou o óbvio e eu concordei com a cabeça, voltando a pegar o copo e o girar na minha mão. ― Você não acha que ele vai perceber Felicity dando em cima dele, não?

― E você acha mesmo que a Felicity vai conseguir dar em cima dele, sem antes se atrapalhar? ― Joguei a cabeça para trás, rindo, ao imaginar a cena. ― O Palmer vai adorá-la. ― Completei, ao me recompor.

― Sem dúvida.

― E ela vai adorá-lo.

― Oliver, você está tentando agir como cupido aqui?

Pisquei os olhos.

― Como?

Ele inclinou-se sobre a minha mesa, ficando cara a cara comigo.

― Você. Está. Tentando. Agir. Como. Cupido?

Cerrei os lábios, meditando mais uma vez em deixar Diggle longe de mim. Inevitavelmente, eu acabava influenciando a personalidade do guarda-costas. Ele começava a ficar irritante tanto quanto eu.

― Eu. Estou. Tentando. Agir. Como. Um. Empresário. Agiria. ― Eu o respondi, da mesma maneira ― Estou sendo esperto, não querendo bancar o cupido. Se Felicity se sentir à vontade com Palmer, as chances dela se empenhar mais no seu papel, serão maiores.

Ele me estudou em silêncio por alguns segundos, até abrir um sorriso brincalhão.

― Você definitivamente pensa em tudo, Queen. Seu plano tem lógica.

O olhei ofendido.

― É claro que tem lógica. Por que não teria? Planos simples, são os mais eficazes, li isso antes em algum lugar.  ― Estalei a língua nos dentes ― John Diggle, você me conhece há tanto tempo, chega a ser decepcionante sua falta de fé em mim.

Diggle emitiu uma risada zombeteira, mas dessa vez, eu não me incomodei nem um pouco.

― Você tem razão, te conheço há tanto tempo e mesmo assim... ― Parou por alguns instantes, parecendo receoso em continuar. Apenas arqueei as sobrancelhas, esperando. Quando percebeu que não havia mais jeito, continuou. ― Por que você não deixa ninguém se aproximar, Queen?

Petulante, eu me inclinei para trás e abri os braços.

― Eu não deixo ninguém se aproximar? Essa é a sua forma discreta de me pedir um abraço? Sua sorte é que hoje eu estou abrindo uma exceção. Venha, pode me abraçar, Digboy. ― O incitei, sem vergonha alguma.

Ele distanciou-se da minha mesa, carregando consigo uma carranca.

― Idiota. ― Pausa. ― Não me chame assim perto de Lyla. Ela não será capaz de me deixar em paz pelos próximos trinta anos, caso souber desse apelidinho.

Dei de ombros, limpando uma sujeira invisível da minha blusa. ― Uh, okay. Vou pensar no seu caso.

― Oliver...

Digboy...

― Felicity parecia um pouco decepcionada quando você apresentou Floyd e Carrie para ela.

Era surpreendente sua maneira de trocar de tópico tão rapidamente. Entretanto, sua observação foi o suficiente para fazer-me repetir o episódio na minha mente, e ter de concordar com ele. A expressão de Felicity foi de pura infelicidade.

O que também poderia ter a sua pequena parcela de culpa na minha...perturbação interior.

― Parecia mesmo... ― Concordei, colocando uma mão no queixo. Talvez eu devesse me empenhar em desvendar aquela charada, numa forma de me distrair da minha possível paranoia. Nada estava errado...Esfreguei o rosto, odiando por ter tentado me enganar. Meus instintos não mentiam, algo sim estava errado. O quê?

― Será que o seu super-cérebro descobre o motivo da infelicidade da nossa Srta. Smoak? ― Provocou e eu revirei os olhos.

Nossa srta. Smoak, Diggle? Deixe Lyla escutar isso...

― Então Queen, o que você acha que deixou Felicity tão triste? ― Me ignorou completamente, voltando a incitar-me àquela questão.

Levantei da minha cadeira, circulei a minha mesa e comecei a andar pela sala, pensando o que possivelmente poderia ter acarretado a infelicidade de Felicity. Era uma tarefa interessante e que me distrairia o suficiente para não agir impulsivamente sobre os meus instintos.

― Huh. Vamos ver...Quando eu fui a buscar hoje mais cedo, ela estava visivelmente nervosa. Depois, no carro, notei suas pupilas dilatadas, o que pode indicar ódio. Coisa muito fácil de lhe ocorrer quando está ao meu redor. ― Dizia, ainda andando de um lado para o outro. Minha mente estava frenética, recordando todos os pequenos detalhes. ― Então, chegamos aqui...Ela conversou um tempo com Sara, pessoa a qual não influenciaria em nada. Logo em seguida, houve nossa breve discussão sobre o seu desentendimento quanto ao plano e... ― Estaquei no lugar, sabendo que a minha mente acabava de me levar para águas profundas. Lentamente, encarei Diggle, que carregava um sorrisinho quase imperceptível. ― Acho que eu tenho uma teoria.

― Ah, você acha? ― Debochou e eu assenti.

― Sim, acho. Preciso averiguar antes para ter certeza. ― Esfreguei minha testa, sentindo uma enxaqueca prestes à chegar. Só podia estar errado, o que seria inédito, mas aliviador. Não precisava de mais problemas.

― E você irá averiguar? ― Seus olhos quase saltavam do seu rosto e eu achei irônico ele ter jogado o veneno, mas agora temer o seu resultado.

― Óbvio.

― Então, vamos fazer uma aposta. ― Propôs e eu olhei interessado. Que tipo de aposta poderíamos fazer sobre aquela...possível tragédia?

― Que aposta?

Sabia que estava caindo na toca do lobo, mas...Meu lado playboy jogador ainda restava em mim.

― Aposto 20 doláres, até o fim da noite, que você vai perceber que o motivo da sua agitação tem nome Felicity e sobrenome Smoak.

Ah, tá. Não consegui controlar o sorrisinho irônico que já formava-se nos meus lábios. Felicity era a última da minha lista de preocupações.

― E o que te garante que irei honrar essa aposta, não fazendo o possível para ganhá-la? ― Inquiri, com as mãos na cintura. Tava até parecendo minha mãe! O pensamento era desolador.

― Eu sei que você não mente, Queen. ― Disse simplesmente ― Você pode ter muitos defeitos, mas a mentira é de longe uma delas. Estou seguro que você será sincero comigo, quando a hora chegar.

Oh, Deus! Diggle parecia um pai todo sentimental com o filho.

― Huh, ótimo. ― Girei os calcanhares, pronto para fazer a minha tal verificação. Quanto mais rápido eu terminasse com aquilo, melhor. Mas antes que eu pudesse chegar até a porta, voltei. ― Diggle, pode fazer algo para mim?

Me olhando de maneira cautelosa, ele assentiu com a cabeça, sabendo que eu não estava pedindo de verdade. Desde quando eu peço alguma coisa, afinal?

― Reforce a equipe de segurança da QC, hoje.

Não tinha espaço para falhas. Não hoje.

Felicity's  Pov

― Eu não vou fazer isso! ― Soltei uma risada histérica, observando Carrie fazer um beicinho escroto na direção de Floyd, que em troca, lançou um beijinho pra ela.

Não precisei nem ficar 10 minutos confinada num lugar com aqueles dois para perceber que eram inofensivos, apesar de não baterem bem das ideias - isso era inegável. Para mim, estava mais que óbvio que o Queen não fazia amizade com pessoas normais. Mas nem eu o julgaria por isso, afinal, eu não era modelo nenhum. Curtis era prova viva disso.  

― Tá, tudo bem, então não faça. ― Carrie desmanchou o beicinho escroto ― Mas certifique-se de abaixar os olhos assim, quando abordar o cara. ― Abaixou os olhos de forma devagar e depois, com a maior cara de "Eu tenho uma perereca voadora e vou grudar ela na sua cara" levantou o rosto, piscando os olhos na minha direção.

Com ela, aquele gesto ficava devasso. Comigo, parecia que eu tinha algum tique nervoso - palavras de Floyd, não minhas, mas eu concordava inteiramente. Cada vez mais chegava a triste conclusão que não tinha nascido para aquilo.

Carrie tinha até me ensinado como derramar discretamente um pouquinho de bebida, para depois, "lamber sensualmente" o canto da boca. Entretanto, decidi não arriscar aquele truque, sabendo que poderia facilmente destruir o meu vestido e a minha reputação já destruída.

― O sr. Palmer vai pensar que eu tenho algum problema mental, se eu fazer isso. ― Resmunguei, sentindo toda a minha coragem anterior com o sádico, se esvaindo lentamente.

Eu só poderia estar louca em aceitar aquela tortura. Sim, louca pelo Queen e capaz de fazer qualquer asneira para o tirar da faixa de gaza.

― Até agora, tudo que você fazer, vai fazê-lo pensar nisso. ― Floyd, aparentemente, tentava me lançar um olhar reprovador, mas falhava miseravelmente com aquele seu tapa-olho. Fiz o máximo para comprimir uma risada que queria escapar, mas quando dei por mim, já ria abertamente bem na sua cara.

― Bom saber que você está se divertindo, Felicity.

Travei, ao ouvir a voz do sádico-mor bem atrás de mim.

M-E-R-D-A. Desde quando ele estava por aqui? O quanto ele havia visto? Merda, merda, merda! Mil vezes merda!

Girei e me segurei para não soltar um suspiro alto, ao ver o rosto do desgraçado. Era tão injusto o infeliz ter uma cara bonita até com raiva. Especialmente com raiva.

― Divertindo? Ninguém aqui está se divertindo! ― Tentei fazer uso da minha cara de pau, mas fui rudemente desmascarada por Floyd:

― Eu tô!

Com raiva, lhe dei uma acotovelada.

― Eu também! ― Carrie gritou e eu também lhe dei outra acotovelada. Será que aquilo era um complô?!

Oliver se limitou a lançar um olhar que dizia claramente que não estava comprando nada daquilo.

Ótimo!

Resolvi abordar uma manobra diferente, mais direta:

― O que você veio fazer aqui? ― Soltei e notei quando ele arqueou uma sobrancelha, me lançando um olhar de "Sério, Felicity? Sério?"

― Vim ver como você está se saindo.

Forcei um sorriso.

― Como você pode perceber, estou me saindo muito bem.

Cara de pau do caralho.

― Nota-se. ― Sorriu com ironia e eu fiquei entre me enterrar viva, ou arrancar aquele sorrisinho do seu rosto com um soco.

― Obrigada.

Espere que aquele fosse o fim do nosso pequeno diálogo e ele sumisse da minha frente, mas ele continuava parado, me olhando. Será que tinha alguma coisa na minha testa? Ficamos naquela, até ele inclinar-se levemente na minha direção, cravando os seus olhos perigosamente no meu rosto. Já estava me sentindo hiperventilar.

Filho da puta gostoso.

― Treine comigo.

O QUE?!

Engasguei com ar e em segundos, Carrie já estava atrás de mim, espancando as minhas costas. Enquanto isso o Queen continuava me encarando com a sua melhor cara de paisagem, contudo havia notado um brilho travesso cruzar os seus olhos.

Puta. Merda.

Após a minha crise, me recompus e finalmente, Carrie parou de me espancar gratuitamente - ela parecia estar se empolgando bastante. - e com cuidado, fitei o sádico por alguns instantes.

― Essa é mais uma de suas brincadeiras, né? ― Questionei, tentando descobrir a veracidade das suas palavras e se eu ainda estava no mundo real. Talvez, eu tivesse batido minha cabeça em algum lugar e estava numa realidade alternativa. Não seria a coisa mais louca que me aconteceria nesses dias.

― Não, to falando sério. ― Me respondeu, sem expressão. ― Treine comigo.

Ah, essa eu quero ver... ― Ouvi Floyd sussurrar baixinho.

Incrível como o que eu mais desejara há horas atrás, agora voltava numa forma de perseguição e não como uma realização pessoal pervertida minha.

Eu tava lascada. Ao quadrado.

― Floyd e Carrie, podem se retirar. Nos vemos mais tarde.

Nããããão!!!

Num piscar de olhos, o casal traíra já estava juntando suas coisas e saindo da minha linha de visão, me deixando sozinha com o Queen. Isso não ia prestar.

Incerta do que fazer ou falar, continuei paradinha no meu lugar, esperando por uma iniciativa do sádico, que continuava me encarando igual uma estátua.

Não aguentando mais o peso do seu olhar, explodi:

― O que?

― O que, o quê?

Desgraçado!

Cerrei os olhos e ele curvou os lábios. Ele tinha sacado que eu começava a perder a paciência e estava se divertindo demais com isso.

I-D-I-O-T-A.

― Por que você tá me encarando assim?

― Assim como? ― Retrucou com um sorriso petulante, mas que mesmo assim, fez minhas pernas ficarem bambas. Pernas idiotas. Sádico idiota.

― Assim...desse jeito...que só você sabe me encarar! ― Lutei para encontrar as palavras certas e quando não consegui, soltei um grunhido frustrado. Oliver me tirava do sério sem nem tentar muito, era ridículo!

E mais ridículo ainda eu gostar dele...Francamente, o que eu havia visto nesse idiota?!

― Felicity, eu estou esperando você me seduzir.

Oh, boy...Ali estava o motivo de eu gostar do idiota. Tão rápido quanto ele conseguia me irritar, ele também conseguia destruir a Muralha da China que eu criava ao meu redor em relação à ele.

Respirei fundo, tentando não surtar. Aquela era a oportunidade da minha vida, mas teria que a deixar passar, se não queria ferir o meu orgulho já ferido, triturado e pisado.

― Isso não vai dar certo. ― Falei lentamente, esperando que o sádico compreendesse.

― Isso não vai dar certo? ― Me imitou, usando o mesmo tom. ― Por que?

― As coisas que aprendi com Carrie, não funcionariam com você.

Mentira, é que ela não me ensinou porra nenhuma!

Ele arqueou uma sobrancelha.

― E por que não?

― Porque você não é um homem comum. ― Dessa vez eu não estava mentindo. Oliver era o homem mais...anormal que eu já havia me deparado com.

Se possível, ele arqueou mais ainda aquelas sobrancelhas. Tava vendo a hora delas saírem do seu rosto e mandarem um tchauzinho pra gente.

― Isso foi uma ofensa ou um elogio?

Nem uma, nem outra. Quis dizer que você é filhote do capeta, mas isso a gente releva e guarda pra gente, né?!

― Uma observação.

― Você tem razão, não sou um homem comum.

Ego do caralho.

Continuou:

―...nem Ray Palmer é. ― Opa! ― Por isso vou te falar como uma mulher consegue me atrair.

Puta que o pariu!

Tremi na base.

― Hoje mais cedo, você queria uma aula de sedução comigo, resolvi então que voc-

PUTA QUE PARIU, ELE HAVIA NOTADO!

― Ei, eu só queria uma aula com você por razões meramente acadêmicas! ― O interrompi, descaradamente ― E por afinidade. Não queria expor essa minha...deficiência para estranhos.

Depois de tanta mentirada assim, tinha certeza que iria para o inferno pegando carona num trem bala.

― Ah, sim, claro. ― Sorriu divertido ― Agora, voltando ao que eu estava falando...Resolvi te dar umas dicas.

E eu resolvi te DAR outra coisa.

Fiquei tensa.

― Que tipo de dicas?

― O que você faria para me seduzir? ― Ignorou minha pergunta, com maestria.

Torci os lábios, pensando. Mas minha mente havia se tornado um breu, não conseguia pensar em nada daquele tipo.

― Eu não sei seduzir ninguém! ― Gritei, com raiva. Será que eu falava grego? Já havia dito aquilo milhares de vezes para o sádico, mas mesmo assim, ele insistia na mesma tecla! Parecia até um disco arranhado...

― Okay, então.

Franzi o cenho. Que??

Num minuto, o Queen estava parado na minha frente, em outro, eu sentia minha cabeça colidir contra o seu peitoral e uma mão possessiva segurar forte a minha cintura.

Ai. Meu. Deus. Agora eu passo dessa, pra melhor. Literalmente.

― Se você quer chamar a minha atenção, exponha o pescoço. ― Sua voz era baixa, rouca. Num ato bem íntimo, ele começou a brincar com uma mecha do meu cabelo, expondo o meu pescoço. Sentia sua respiração quente batendo rente àquela região, fazendo-me ter arrepios. Filho da puta desgraçado, eu exponho até minha calcinha da sorte pra você!

Com precisão, colocou a mão no meu queixo, fazendo-me o olhar diretamente. Safiras contra safiras. Eu tava era muito fodida mesmo!

― Fixe os olhos no meu rosto, não há nada mais excitante que uma mulher segura. ― Fez uma carícia no meu rosto e eu prendi a respiração, tendo certeza que não era só o meu rosto e pescoço que começavam a ficarem vermelhos.

Começou a dedilhar a mão que estava na minha cintura, sobre toda a minha vértebra, causando tremores no meu corpo.

Ah, meu Deus. Puta que pariu!

Já começava a me conformar que Oliver era: Professor, aprendiz e fundador do termo "Sedução e Putaria".

― Mas pensando bem...Acho que isso uma coisa mais excitante sim, além de ter uma mulher segura nos seus braços. ― Sussurrou e com uma precisão assustadora, deslizou uma mão até a barra do meu vestido.

Sim, sim! Mil vezes, sim! Flashes da noite no Verdant passavam pela a minha mente, recordando-me onde exatamente sua mão antes estivera. O Queen tinha passe livre para dar uma olhada na Amazônia desmatada que eu não estava nem aí.

Porém, ele fez uma coisa completamente diferente com a sua mão.

― Exponha o seu pescoço, fixe seus olhos nos meus e...Deixe esse vestido mais curto. ― Ditou, antes de literalmente rasgar o meu vestido, deixando quase o meu útero de fora.

― Seu idiota, o que está fazendo?! ― Gritei, tremendamente furiosa com a sua atitude. Se queria tanto que eu aparecesse na sua frente com um look de safada, era só avisar! Não precisava destruir um vestido que custava dólares!

― E definitivamente controle essa sua língua. Eu posso me divertir com ela, mas não quer dizer que isso possa ocorrer com os outros homens.

Ele se divertia com a minha língua, hein...Balancei a cabeça de um lado para o outro, lutando para me livrar daqueles pensamentos pervertidos e focar no real problema ali.

Me separei do Queen num pulo, consciente que ele quem havia me liberado e não eu tive força de vontade o suficiente para sair dos seus braços.

― Sério que era necessário você fazer isso com o vestido? ― O olhei revoltada e ele cruzou os braços, não revelando nenhuma emoção na sua feição.

― Se eu te pedisse antes para escolher um vestido curto, você viria com um? ― Replicou altivo e eu balancei a cabeça negativamente. Do jeito que era, eu viria com um vestido até os pés, só para o irritar. ― Foi o que eu pensei.

― Tá, mas qual é o lance com o look de cachorra assanhada?

Ele ainda não havia me explicado.

― Não é look de cachorra assanhada, é look de quem está confortável com o próprio corpo. ― Enrugou o nariz, não parecendo nem um pouco feliz com a minha escolha de palavras. Tá, que seja. ― E mostrar seus atributos sempre é um bônus, pode deixar o Palmer distraído o suficiente para nem ligar para sua tagarelice.

Idiota!

― Obrigada pela a parte que me toca. ― Sorri, falsamente e ele retribuiu o sorriso.

― Deveria agradecer as outras partes que ainda não te tocou, também.

Epaaaaa! Eu estava detectando um duplo sentido ali?

Tinha certeza que um sorriso taradão começava a se desenhar nos meus lábios. Deus que me perdoe, mas era aquele ditado né? Se você tá no inferno, abraça o capeta!

― Que partes?

Se fingir de virgem inocente era muito interessante quando se tinha um lixão como mente.

O Queen sorriu, pretensioso.

― Eu deveria te mostrar?

Porra, sim! Me mostra a espada de Grayskull, anda, vai!

Abri a boca, prestes a mandar o meu orgulho ir pra casa do caralho, quando Sara apareceu, interrompendo bem o momento. Não sabia dizer se isso foi intervenção do divino, ou do diabo.

― Ei, pessoal! ― Nos saudou com um sorrisinho, alheia ao fato que eu estava quase estrelando uma pornô ali mesmo, com o nosso chefinho rabugento. ― Oliver, Diggle está te chamando. Parece que a equipe do buffet chegará um pouco mais tarde no coquetel e pediram para o contatar.

― Mereço... ― Oliver resmungou baixinho, nem um pouco contente com aquela falha. Em silêncio, ele marchou para fora do Verdant, até retroceder os seus passos e parar na frente de Sara.

Olhei a cena, interessada.

― Sara, dê um jeito no vestido da Felicity. ― Ordenou, enviando um ótimo olhar, - longo demais, diga-se de passagem - para as minhas pernas, antes de sair de vez.

Sara ficou um minuto inteiro parada no lugar, relanceando olhares para as minhas pernas, o meu vestido rasgado e para o caminho que o sádico havia tomado. Quando deu-se por satisfeita com aquela doideira, soltou uma risadinha malicioso, fazendo-me corar de vergonha.

Infelizmente, dessa vez, ela tinha a total razão de pensar merda da situação. Mais um pouquinho e eu teria dado para aquele infeliz. E ele ainda tinha a ilusão que eu era uma virgenzinha inocente...Era tudo muito deprimente.

(...)

― Tá bom, calma, fica suave. ― Falava comigo mesma, olhando o fluxo de pessoas transitando na QC. Havia acabado de chegar no coquetel, tremendo igual vara pau e não via nenhum sinal do meu alvo. O que era muito bom.

Ao menos, por hora, eu teria algum tempinho de ensaiar alguma cantada tosca pra quebrar o gelo, quem sabe. Mas pra minha desgraça só conseguia pensar naquelas toscas de verdade, do tipo que seria até um crime dizer em voz alta.

"Você é um cadarço? Porque eu tô amarradona em você!"

"Você é parente de Zeus? Porque te achei um Deus Grego!"

"Você não é picolé, mas eu quero te dar uma chupada."

Eram todas lamentavelmente toscas. Ao invés de quebrar o gelo, elas iriam quebrar mesmo a minha cara!

Suspirei dramaticamente, pegando uma taça de ÁGUA que um dos garçons passava oferecendo. Por mais tentador que fosse, não iria me embebedar naquele lugar.

― Onde está aquele idiota, ein? ― Voltei a falar comigo mesma, bebericando um pouco da minha bebida e tentando avistar o maldito Queen.

― Falando sozinha, racha?

Dei um pulo, ao ouvir aquela voz bem atrás de mim. Girei e fitei boquiaberta Curtis e Barry, lado a lado, me enviando um sorrisão colgante.

Que porra aqueles dois estavam fazendo por aqui?!

― Oláááá, Felicity!

Pra completar o circo, a fadinha, surgiu por trás deles, também toda sorridente.

― Mas...O que...O que vocês estão fazendo aqui? ― Balbuciei, mais do que chocada com a presença daqueles seres.

― Oliver me deu um convite, assim como você indicou que ele daria. ― Sara justificou, dando de ombros.

Olhei para Barry, esperando a explicação dele.

― Oliver me deu um convite, também. ― Disse e depois apontou para Curtis ― E disse também que eu poderia trazer um acompanhante. Pensei em Curtis.

Lambi os lábios, aquilo não iria prestar...

― Ei, Felicity! Seu vestido não era maior? ― Curtis abriu aquela bocona, observando o comprimento do meu vestido.

Eu sabia que aquilo não daria certo!

Segui o seu olhar, constatando que Sara havia feito um bom trabalho arrumando a bainha do meu vestido, parecia até um outro vestido. Um outro vestido bem de "Ai-Eu-Quero-Dar". E talvez tivesse sido por isso, que ele falhou em passar desapercebido no radar Curtis Holt.

Curtis sabia muito bem que eu jamais usaria um vestido desse por livre e espontânea vontade.

― Hmm, tenho certeza que ele era desse tamanho quando eu saí hoje de casa. ― Murmurei, com a taça rente aos meus lábios.

― Sei.

Não acreditou nem um pouco na minha mentira, mas resolveu não perturbar, ocupado demais secando todos os executivos passando de terno e gravata na nossa frente. Curtis, estava literalmente no seu paraíso pessoal.

Rapidamente, engajei uma conversa animada com Barry e Sara, esperando me distrair, enquanto não via Ray Palmer cruzar o meu radar.  

Demorou mais ou menos meia hora, até sentir Curtis me cutucar, ao meu lado.

― O que foi? ― Resmunguei mau humorada, por ter sido interrompida logo na melhor parte da conversa. Barry e eu falávamos sobre Dr. Wells e suas descobertas fodásticas para o mundo da ciência.

― Seu alvo comestível chegou. ― Apontou para um canto e eu viajei os meus olhos até lá.

Cacete! Prendi a minha respiração, Ray Palmer era muito mais atraente do que eu esperava. E maior também. Acho que ele afundaria Oliver com um soco. Ou dois. Por que eu estava pensando nisso?

Respirei fundo, pronta para enfrentar o meu triste destino, com coragem. Ergui a minha taça para Curtis.

― Curtis, segura o meu poodle. Tá na hora de eu entrar em ação.

Seja o que Deus quiser!

Oliver's  Pov

Discretamente, observava Felicity desde o momento em que ela pôs os pés na QC. Deduzi que se eu convidasse Barry e desse passe livre a seu amigo, parte da sua tensão dissiparia quando chegasse o momento certo para ela abordar o Palmer. E felizmente, eu estava correto. Logo, ela estava descontraída na presença de Sara, Barry e o seu outro amigo.

Pelo canto dos olhos, vi duas sombras muito bem conhecidas minhas, estacionarem ao meu lado.

― Tommy, Laurel... ― Os cumprimentei, levantando a minha taça. Laurel sorriu na minha direção, com o braço enlaçado no de Tommy. Aparentemente, eles haviam se resolvido, o que era ótimo. Menos um problema para mim.

― E aí, cara? O que está fazendo escondido aqui? ― Me olhou suspeito, em seguida, sorriu brincalhão. ― Tá se escondendo das velhas taradas que vivem no seu pé?

Eu ri, achando trágico demais a verdade incrustada naquelas palavras. Tommy tinha sorte de ter Laurel ao seu lado, só assim, espantava as velhas taradas de plantão. Já eu, era um cordeiro desprotegido no meio de todas elas.

― Eu não estava aqui para exatamente isso. ― Confessei ― Mas já que você coloca assim...

Os olhos de Laurel cresceram, em curiosidade.

― O que exatamente você estava fazendo escondido aqui, então?

Antes que eu pudesse lhe responder, Tommy apontou um dedo na direção onde Felicity estava parada conversando com a turminha dela.

― Ei Laurel, aquela ali não é Sara?

Imediatamente Laurel olhou, soltando uma exclamação surpresa.

― Sim, é ela mesma! ― Virou para mim, com uma mão na cintura. Lá vem... ― À menos que você esteja tendo uma recaída pela a minha irmã, ou esteja aprontando alguma, não vejo motivo para você estar aqui escondido, a vigiando.

Girei os olhos.

― Eu não estou vigiando ela.

Tommy arqueou uma sobrancelha na minha direção, mas ficou em silêncio. Porém, eu sabia que sua mente já havia criado mil e uma teorias pervertidas para explicar o motivo de eu estar metido num canto, quase camuflando-me com a parede, durante um coquetel que iria me beneficiar. Ótimo.

Laurel voltou a olhar na direção indicada por Tommy, minutos atrás e depois de forçar muito a visão, - e a memória também, talvez - enxergou Felicity. Me olhou tão rápido que pensei até que ficaria sem pescoço.

― Você está vigiando ela?! ― Além de incrédula, parecia admirada.

― Ela quem? ― Tommy quis saber, por fora no assunto. Soltei um suspiro, começando a girar a taça na minha mão. Uma garrafa inteira de champagne não seria o suficiente para enfrentar Tommy e Laurel.

Ignoramos Tommy.

― Seja o que for que você está pensando, pare agora. ― A adverti, sério. ― Já basta a minha mãe bancando de cupido comigo...

― Falar nisso, cadê ela?

― Ainda está na Europa com Walter. ― Respondi, expressando toda a minha satisfação naquela sentença. Ao menos, Moira estaria longe de toda aquela confusão com Ra's, quando a bomba estourasse. Menos uma na linha de fogo.

― Não gente, sério, quem é ela? ― Tommy ainda tentava adivinhar de quem estávamos falando.

Laurel esfregou o rosto impaciente e apontou Felicity, que agora começava a andar em direção ao Palmer - que também havia acabado de chegar. Meus olhos cresceram, atentos. Oh, isso eu queria assistir de camarote!

―....Oliver gosta dela.

Quase deixei minha taça cair no chão.

― Eu gosto de quem? ― Perguntei, atordoado. Poucas coisas na vida me deixavam atordoado, mas aquela sem dúvida estava me deixando quase fora de órbita.

Era suposto eu ouvir alguma piadinha do tipo "Ela, gosta de você" e não um "Oliver gosta dela".

― O que? ― Tommy piscava furiosamente, tão ou mais incrédulo quanto eu ― O Oliver gosta da secretária?!

― Sim. ― Laurel o respondeu, com um entusiasmo constrangedor.

― Ela não faz o meu tipo!

― Ela não faz o tipo dele!

Falamos Tommy e eu, em uníssono. Logo, ele fez um sinal de high five em comemoração por aquele ato, mas eu tratei de o ignorar. Não tinha tempo para nada daquilo.

― Olha, se eu estou vigiando Felicity, é porque eu lhe dei uma missão. Preciso que o Palmer se junte à QC, se quero recuperar um contrato, portanto, ela foi a minha melhor opção e... ― Parei, franzindo o cenho. Por que diabos eu estava me justificando? Crispei os lábios, com raiva.

Aquilo era tão atípico! Sem falar mais nada, girei os calcanhares, pronto para espionar Felicity entrando em ação. Queria ouvir as preciosidades de coisas que ela acabaria soltando perto do Palmer.

― Ual, então você está jogando sujo para ganhar, ein! ― Tommy me alcançou, rápido, com um sorrisinho malicioso. Revirei os olhos.

― No mundo dos negócios não há coisa como jogar limpo. ― Repliquei, sem nem um pingo de vergonha por divulgar a verdade para os meus amigos.

― Verdade. ― Laurel concordou, também nos alcançando.

Nós três, paramos perto da janela, numa distância que pudéssemos ouvir o Palmer e Felicity, sem sermos vistos por eles.

―...uh, então, você vem sempre aqui?

Puta que pariu, ela não disse isso! Foi impossível conter a gargalhada, Felicity não tinha jeito algum para aquilo.

― Sutil. ― Tommy zombou, com um ar igualmente risonho. Laurel estava vermelha, tentando não rir.

Apurei mais os ouvidos, não querendo perder um minuto sequer daquilo.

― Sempre quando eu tenho um convite, sim. ― O Palmer retrucou, educado. Se fosse eu, já teria soltado algum comentário sarcástico sobre sua abordagem ridícula, mas já que não era...

― Ah...Você é o dono da Palmer Tech, né?

Jura, Felicity? Bati minha mão contra a testa.

― Sim, sou. ― Bastardo educado. ― E você? Trabalha aqui na QC?

Se eles tivessem filhos juntos será que a criança soltaria perguntas estúpidas assim?

― Não, acho que soltariam perguntas mais no estilo The Big Bang Theory.

Percebi que havia falado em voz alta meus pensamentos, quando Sara chegou ao nosso lado, também de forma discreta.

― Não era para você estar entretendo Barry, para evitar que um namorado ciumento não corra o risco de estragar todo o plano? ― Ergui uma sobrancelha na sua direção.

Seus lábios tremeram, dando a impressão que ela estava rindo de algo.

― Não se preocupe, isso não vai acontecer. Barry não é namorado dela.

Pisquei os olhos, abismado. Barry não era o namorado dela? Mas que...

― Sou secretária do Sr. Queen.

Voltei a prestar atenção naquela conversa, resolvendo deixar aquele assunto Felicity x Barry, para mais tarde. Ou nunca. Quem sabe, né?!

― Oh, que interessante! ― Interessante mesmo, ser a minha secretária era como estar numa montanha russa 24h, pensei com ironia. ― Falando nisso, onde ele está?

Atrás de você, Rayzinho. Sorri maldoso, sem mover um pé do meu lugar.

― Provavelmente está conversando com investidores. ― Jogou o cabelo para o lado, expondo o pescoço, assim como eu havia lhe ensinado. Pela primeira vez, sorri orgulhoso na sua direção. Fato inédito. ― Você sabe né, ele precisa de alguns bilhões para fechar um contrato. Assim quando o fechar, poderá , daqui alguns anos, fazer um investimento numa ilha.

A loirinha pervertida estava lançando o anzol.

― Investimento numa ilha? ― Palmer se interessou ― Qual ilha? E por quê?

― Lian Yu, já ouviu falar? ― Não o deixou responder ― A ilha é bastante precária, a tribo que mora lá sofre com a falta de infraestrutur-

― Espera, existe uma tribo lá? ― Ray a interrompeu, entusiasmado. Felicity começou a girar uma mecha de cabelo no dedo e piscar os olhos, deduzi que ela estava tentando ser sexy. E estava falhando miseravelmente, parecia até alguém com um tique nervoso.

Mordi o meu lábio, tentando não rir com aquilo.

― Sim, sim, existe! ― Ela abaixou a voz, ao perceber que havia ficado contente demais. Provavelmente, tinha notado que ganhara a atenção do Palmer. Se Oliver conseguir concluir o seu projeto atual, poderá fazer outro para investir na ilha.

― Ual, ela é boa. ― Tommy elogiou e eu fiz uma careta.

― Ela não é boa, só não tem trava na língua.

― O que me questiona o motivo de ter lhe dado essa...missão. ― Laurel falou, me olhando com um ar de dúvida.

Revirei os olhos, cansado demais de ter que explicar minha lógica.

― Felicity é espontânea, logo, Palmer não vai desconfiar de segundas intenções durante a conversa. ― Fiz um breve resumo.

― Ahhh... ― Ela e Tommy soltaram simultaneamente, compreendendo.

Quando eu voltei a virar-me na direção de Felicity, pronto para prestar atenção mais uma vez na sua conversa com o Palmer, percebi que os seus olhos estavam pregados em mim. Eu havia sido descoberto.

Inevitavelmente, sorri jocoso na sua direção, levantando a minha taça, num sinal de brinde. Ela havia se saído muito bem.  

Por uns bons segundos ela continuou paralisada no lugar, muito provavelmente, pensando seriamente em enterrar a cabeça na areia, por eu ter testemunhado todo o seu "desenrolo" inexistente com o Palmer.

Carrie e Floyd haviam feito um trabalho excelente em distrair Felicity durante a tarde, tinha quase a completa certeza que se eu desse um mole, a loirinha daria com o pé atrás no nosso plano e fugiria do país, antes de ao menos tentar abordar o Palmer. Chamar Carrie e Floyd para bancarem os especialistas na arte da sedução, foi um tiro no escuro, mas que acabou rendendo bons frutos.

― Então, Srta. Smoak, você é solteira?

Pisquei os olhos, ao ouvir aquela questão ser elaborada pelo Palmer e não pela loirinha. Hein? Notei Felicity ficando vermelha, não sabendo se focava no Palmer ou em mim. Arqueei uma sobrancelha. O que ela estava esperando pra responder?

― Uh, não. Quer dizer, sou! ― Pigarreou ― E você, Sr. Palmer?

― Também! ― Ele respondeu alegremente, preparando já terreno. Conhecia muito bem aquela manobra, já a fizera várias vezes antes. ― Ainda não encontrei nenhuma mulher interessante que prenda tanto a minha atenção. ― Gracejou.

― Meu Deus, que descarado! ― Tommy exclamou, tomando a minha taça e bebendo dela ― Estou impressionado! Será que ele faz parte do clube dos PP?

Esfreguei o meu rosto, impaciente. Eu ia matar, Tommy! Não era momento para ficar falando sobre isso!

― Clube dos PP? ― Laurel o olhou, ameaçadoramente e eu aproveitei o momento, para pegar minha taça de volta.

Tommy me lançou um olhar silencioso de ajuda.

― Fez o seu caixão, agora deita, meu amigo. ― Disse, com um sorriso. Quem o mandava ser inconveniente?! Queria só ver como ele explicaria sobre aquele tal clube para Laurel...

― Ah, então, uh...

―...então, você gostaria de um dia sair comigo para jantar?

Me desviei da conversa daqueles dois, assim que ouvi a voz do Palmer. Se possível, Felicity estava virando um tomate com as investidas do cara. Começava a ficar impaciente com tudo aquilo.

Ainda não havia ouvido um "SIM" do Palmer, quanto à se aliar com a QC, mas pressentia que ouviria um "SIM" da Felicity para sair com Ray. Aquilo não poderia acontecer antes do meu contrato vingar. Não mesmo.

Decidido, peguei um guardanapo de uma das mesas próximas à mim, tirei minha caneta do paletó e me pus a escrever um recado importante para Felicity.

Quando peguei o seu olhar novamente, na minha direção, ergui o guardanapo.

"FLERTE COM O PALMER! FAÇA-O SE ALIAR COM A QC!"

Não sossegaria até que ouvisse um sim. Favorável para mim, é claro.

Felicity adotou um olhar de puro terror, que achei até um pouco ofensivo. Poxa, nem era como se eu estivesse pedindo pra ela colocar veneno na bebida do sujeito! Abaixei o guardanapo, voltando a escrever nele, até que alguém me cutucou.

― Tommy, fique quieto, tô tentando escrever. ― Resmunguei, não me dignando nem a olhar o dito cujo. Dessa vez, ao final do recado, havia uma ameaça. Precisava do meu contrato pra ontem.

― Não é Tommy.

Olhei para cima, chocado. Que porra a Thea estava fazendo aqui?!

Aflito, olhei para Sara, parada bem atrás de Thea, me lançando um olhar de desculpas.

Uma enxaqueca começava a chegar e novamente, o sentimento que havia me assaltado mais cedo, voltara, mas dessa vez, com força total.

Dont't be Stupid - Shania Twain                                                              

Felicity's  Pov

Agora sim a vaca vai pro brejo!

Já era suficientemente ruim Oliver ver aquele micão do qual eu estava passando, e agora para completar, tinha a sua irmã. Sua irmã que pensava que eu era louca!

Puta merda!

― Ei Felicity, você está bem? ― Ray me olhava preocupado. Provavelmente eu estava fazendo minha cara de otária. ― Você ficou pálida de repente...

Não foi de repente! Thea Fuckin Queen, estava por aqui! Que bosta ela estava fazendo aqui?! Lancei um olhar de socorro para Oliver, mas o babaca parecia tão ou mais perdido que eu, olhando pra irmã e esquecendo da minha existência.

Será que eu teria que colar um guardanapo na testa, escrito "SOS"?

― Felicity? ― O Palmer ainda tentava chamar a minha atenção e quando percebi que ele iria olhar para o ponto atrás dele, o qual prendia tanto a minha atenção, me desesperei, acabando por tomar uma atitude radical. Ray não poderia nem sonhar que o sádico estava nos espionando! E eu muito menos poderia ser desmascarada por Thea. Poria o plano todo em perigo, eu não permitiria aquilo!

― Sr. Palmer! ― O agarrei pelo rosto, me esticando toda. O cara era um gigante! ― Eu acho que eu estou vendo a luz! Eu consigo sentir ela chegando!

Que. Porra. Eu. Estava. Fazendo?

Os olhos de Ray cresceram, horrorizados.

― Srta. Smoak, o que você está sentindo? ― Perguntava, tentando se livrar das minhas mãos ao redor do seu rosto, mas se possível, eu as colei com mais força ainda ali. Ele não iria olhar pra trás nem fodendo.

― Eu estou sentindo...Sentindo... ― Que porra eu estava sentindo? Discretamente, puxei um pouquinho o rosto do Palmer para o lado, tentando ver o que acontecia com o Queen. Entretanto, fui presenteada pelo o olhar incrédulo de Thea.

MERDA! Quer dizer, ótimo!

Não sairia como mentirosa naquela história tanto para Thea, quanto para Ray. Já tinha um gran finale para toda aquela cena.

Puxei o rosto do Palmer de volta para o lugar e fixei os meus olhos nele. Tá, era agora ou nunca. Eu iria experimentar mais uma vez, um pouquinho de humilhação pública, só para salvar a pele do sádico.

― SR. PALMER, NÃO ME DEIXE IR PARA A LUZ, NÃO ME DEIXE! ― Comecei a gritar, enlouquecida, despertando a atenção dos convidados ao redor. Tinha que parecer o mais louca possível, para Thea não se questionar em voz alta meu nível de sanidade em Vegas, da última vez.

Eu era louca e fim! Imagine se ela fosse procurar à fundo o meu motivo de ir para Vegas? Pior, e se ela descobrisse que eu estivera com o Queen por lá? Ia ser difícil de explicar sem me sair como a secretária safada. Não, muito obrigada.

― Senhorita, tente se acalmar! ― Ele começou a tentar se afastar ― Por favor, você precisa ir para um hospital!

― NÃOOOOO!!!!! ― Berrei bem na sua cara, fazendo-o fechar os olhos, vermelho. Só não sabia se era de raiva ou vergonha, por estarmos chamando tanto atenção.

― O que exatamente você está sentindo? ― Perguntou, o mais calmamente possível. Pelo canto dos olhos, notei ele fazendo sinais estranhos para alguém o ajudar, quis rir com aquilo. Deveria o estar aterrorizando mesmo.

― Eu.... ― Porra, eu não tinha resposta pra aquilo! Voltei o meu olhar para o Queen, ou para onde, ele deveria estar, mas só encontrei o vazio. Ele havia se mandado? E sem mim? Filho da puta mal agradecido!

― Felicity, largue o Sr. Palmer.

Opa, eu já tinha minha resposta! Imediatamente, larguei o Rayzinho e olhei Oliver parado ao meu lado, Thea também estava junto a ele.

Engoli em seco, preparando-me para o meu gran finale. Esperava ganhar um prêmio após todo aquele teatrinho. Um prêmio do tipo dinheiro ou quem sabe, um vislumbre rápido da espada do Queen. Não era lá muito ambiciosa.

― Sr. Palmer, desculpe a minha secretária, às vezes ela tem essas crises. ― Oliver dizia, na maior cara de pau, colocando uma mão no meu ombro. Sorri amarelo na direção de Ray, confirmando com a cabeça tudo que o cretino dizia.

Se o lunático não havia ganhado o Palmer no papo, ganharia por simpatia. Afinal, quantos bilionários contratavam pessoas com claros problemas mentais para trabalhar consigo? Tinha certeza que o Palmer iria cair na rede do Queen, após toda aquela cena.

― Sim, é mesmo! ― Thea se intrometeu na conversa, me lançando um olhar penoso. Ah, coitada! Não sabia nem da missa a metade (Nem eu!). ― Ela tem EQMOQ!

Ah, não! Ela tinha mesmo que lembrar daquela sigla? O aperto de Oliver ao redor do meu ombro, se intensificou, numa punição silenciosa pelo "Eu quero matar Oliver Queen". O que podia fazer se ele me irritava com uma facilidade absurda?!

― EQMOQ? ― Ray piscou os olhos, notavelmente confuso ― Nunca ouvi falar, que tipo de doença é essa? ― Dirigiu a questão para mim e eu fiz a única coisa que podia fazer naquela situação.

Desmaiei. Ou ao menos, fingi cair inconsciente aos pés do sádico.

― Oh, meu Deus! Ela desmaiou! ― Ouvi Thea gritar alarmada.

― Vou levar ela até o meu escritório e chamar por um médico, não se preocupe. ― O sádico falava calmamente.

Discretamente, abri um olho só para espiar a cena e dei de cara com o olhar intenso de Oliver. Seus olhos brilhavam travesso na minha direção e aquilo estranhamente me deixava feliz.

Ele estava se divertindo com todo aquele meu teatrinho. Ótimo.

― AI MEU DEUS! TÔ CHOQUITO!

Ah, não! Não precisava nem abrir os olhos pra saber que quem estava fazendo o novo escândalo, era Curtis.

― O QUE ACONTECEU COM A RACHA?! NÃO AGUENTOU TANTA PRESSÃO DE ESTAR AO REDOR DOS BOFES TESUDOS??????! ― Sua voz ficava cada vez mais alta, indicando que ele também ficava cada vez mais próximo. Ah, merda! ― RACHA, ACOOOORDA! ― Deu um tapa na minha cara e eu fechei os punhos, querendo muito enfiar o cacete naquele desgraçado. 

― Ela não tá acordando! ― Thea choramingou.

― Talvez você não tenha batido com tanta força. ― Ouvi a voz cínica do meu Queen.

FILHO DA PUTA INGRATO!

― É, você tem razão. Talvez eu devesse bater com mais força, né?

NÃO!

Por que ele tava pedindo o consentimento de Oliver, para dar NA MINHA CARA?! AMIGO DA ONÇA!

― Curtis, acho melhor deixarmos Oliver levar Felicity para ser examinada por um médico. ― Barry-Jack não sabia, mas mais uma vez, estava usando sua tábua salvadora para me resgatar das mãos daquele viado do mal.

Finalmente, Curtis se deu por vencido e num minuto, eu já estava nos braços do sádico, sendo carregada para bem longe de todo aquele burburinho que havia se formado.

― Confessa, você fez tudo isso só para parar nos meus braços, né?

Abri os olhos e mordi a língua para não xingar aquele idiota vaidoso. Tá bom que ele estava um pouquinho correto, mas não precisava exagerar tanto.

Havia feito aquilo para salvar nossas bundas.

― Um obrigado seria bem vindo. ― Falei, azeda.

― Obrigado.

Ual, não esperava essa ser tão fácil assim!

― De nada.

Fiquei decepcionada ao constatar que não teríamos mais nenhuma discussão. Em silêncio, seguimos até o escritório dele, como ele mesmo informara à Curtis e aos outros, pra onde me levaria. Assim que fechou a porta da sala, me colocou no chão.

― Você já pensou em fazer faculdade de artes cênicas? ― Me olhou de maneira astuta, entretanto, já pelo o seu tom de voz, sabia que ele estava brincando.

Joguei o cabelo para o lado e fiz minha melhor cara de arrogante.

― Todo o tempo.

― No entanto, não ouvi o Palmer falar sim para se juntar à QC. ― Ele apontou e eu fechei a cara.

Será que era impossível satisfazer aquele desgraçado?

― Não, na verdade, é bem fácil me satisfazer, você até se impressionaria. ― Piscou um olho pra mim e eu quase caí durinha ali mesmo, de verdade, por ter falado aquilo alto sem querer.

Minha boca precisava sofrer um exorcismo seriamente.

― Você teria ouvido ele dizer sim, se a sua irmã não tivesse aparecido. ― Resmunguei ― Aliás, por que você não avisou que ela viria?

Seu semblante se fechou, indicando que ele estava tão ou mais irritado do que eu pela aparição relâmpago da irmã.

― Eu não sabia.

Milagre aquele lunático não saber de alguma coisa. O que me fazia questionar o quão alheio ele estava se fazendo quanto a minha paixonite desenfreada por ele...

Instintivamente, dei um passo para trás, querendo fugir daquele cubículo. Oliver por sua vez, ergueu uma sobrancelha, diante a minha atitude.

― O que foi, srta. Smoak? Esqueceu alguma coisa lá fora?

Além da minha dignidade? Quis dizer, mas aquela mera tarefa havia se tornado difícil demais para ser executada.

Meu. Deus.

― Eu acho que eu preciso de...uh, um pouco de ar.

Observei quando ele sentou na ponta da sua mesa, cruzou os braços e cravou um olhar intenso em mim, fazendo-me ofegar.

Ai, painho.

― Temo que não poderá sair dessa sala nem tão cedo, Felicity. ― Falava, com um brilho no olhar que estava fazendo coisas estranhas acontecerem no meu estômago. ― E não é por causa das pessoas lá fora, pensando que você está sendo examinada agora. É por outro motivo.

Outro motivo? Que outro motivo? Continuei quieta, congelada no lugar, esperando que ele continuasse.

― Veja bem, Srta. Smoak, hoje eu acabei percebendo uma coisa.

Não, meu Deus, não!

―...E posso lhe dizer com segurança que não fiquei nem um pouco feliz ao perceber tal coisa. Apesar de achar inevitável que não acontecesse.

Meu coração disparou. E ele abriu um sorriso felino, fazendo com que eu quisesse gritar SOCORRO com todas as minhas forças.

Já pressentia o que viria a seguir.

―...Por isso, digo: Felicity Smoak, você acaba de nos meter em um problemão.

Estarrecida, entreabri a boca, buscando por ar, enquanto minha mente gritava com todo clamor: ELE SABIA! ELE SABIA!

O maldito sabia que eu estava apaixonada por ele!

Puta que o pariu!

― Acho que vou desmaiar de verdade. ― Avisei, sentindo de verdade que logo desfaleceria ali mesmo.

O cretino apenas ampliou mais o sorriso cafajeste.

― Sinta-se à vontade.

E iria mesmo me sentir à vontade para entrar num coma de dois anos, se Diggle não tivesse aberto a porta do escritório bruscamente, fazendo-me sobressaltar e esquecer todos os meus planos para fugir daquela humilhação.

― Oliver, temos um problemão!

Ah, não brinca!

Por mais insano que fosse, tive a leve impressão que ele também pensou o mesmo, ao ouvir as palavras de Diggle.

Como sempre fazia quando ficava nervoso, o Queen começou a apertar a ponta do nariz.

― E que tipo de problemão?

Diggle agitou-se e eu soube que notícias ruins chegariam. Me preparei mentalmente.

― Ra's e Isabel fizeram o primeiro movimento. ― Falou, exibindo um bilhete na sua mão. Antes que o sádico pudesse o pegar para ler, fui mais rápida, tomando o bilhete para mim e o lendo.

O negócio tinha um montão de erros grotescos, contudo, transmitia uma ameaça velada que deveria ser levada a sério.

― Um dos nossos seguranças foi morto. ― Completou e eu faltei molhar as calças ao ouvir aquilo.

ELE DISSE MORTE?

― Me dê esse bilhete. ― Oliver cruzou a distância entre nós, tomando o bilhete de minhas mãos rispidamente. Com o cenho franzido, começou o ler.

Esperei por alguma explosão ou quem sabe por alguma exclamação horrorizada, porém, tudo que Oliver fez foi rir.

― Que bilhete mais grotesco. Só pode ter errado as palavras de propósito ou apenas é um idiota. ― Zombava ― Nunca pensei que Isabel cairia tanto.

Sério que ele estava mesmo preocupado com o intelecto do cara e pelo gosto podre da Isabitch, numa hora dessas? Não vou negar, emputeci de vez. Assim como, Diggle, que faltava descer o soco no meu Queen retardado.

― Oliver, a situação é séria! ― Diggle o olhava com fúria nos olhos ― Eles mataram alguém! Pare de rir!

Custou para o sádico parar de rir, tanto, que ainda restava resquício de lágrimas nos seus olhos e o seu rosto estava vermelho.

― Calma, eu tenho um plano.

Se esse era o seu jeito de acalmar eu e Diggle, estava falhando miseravelmente.

― Oh, não. Os seus planos, não... ― Eu gemi baixinho, já imaginando a tragédia vindo.

― Ah, sim. Os meus planos, sim... ― Retorquiu, com um ar zombeteiro, apesar dos seus olhos estarem sérios. Já não se divertia mais com a situação.

― E o que você tem em mente? ― Diggle o desafiou com olhar.

― Felicity, você cresceu numa fazenda longe daqui, né?

Não, eu cresci em Vegas!

Virei vara pau com a sua questão. Ele e Diggle me olhavam profundamente, esperando por uma resposta.

― Sim... ― Respondi, com uma voz fina. Será que um dia eu pararia de me lascar?

― Que tal nós nos hospedarmos lá? Star City, não é um local seguro para ninguém que nós conhecemos e muito menos pra gente. Precisamos nos manter num lugar isolado e grande, enquanto pensamos num jeito de nos livrarmos do analfabeto. ― Disse simplesmente, com um ar de "Tá tudo resolvido". Quando na realidade tava tudo errado.

― Por que temos que ir para a fazenda? ― Disparei, desesperada. ― Não seria mais fácil nos hospedarmos num hotel?!

Ele suspirou, impaciente.

― Como eu já disse, a fazenda é grande o suficiente para todos. ― Pausa ― E se nos hospedarmos num hotel, seremos facilmente rastreados. Sem contar, é claro, que não há hotel no mundo que hospede 10 pessoas dentro de um quarto só.

Arregalei os olhos, sentindo que finalmente a ficha estava caindo. No bilhete que o Angu havia enviado, o mesmo havia citado nome por nome, dos nossos entes queridos, que estavam na mira dele. Curtis, Barry e Thea, além dos amigos do sádico, estavam incluídos nele.

Evidentemente, Oliver queria levar todos consigo. E eu acharia a atitude até admirável, se eu não tivesse mentido sobre ter crescido numa fazenda. Quer dizer, ela existia e Caitlin, assim como Cisco, moravam nela. Mas aí...Irmos até lá, exigiria que eu fosse uma excelente atriz ou que finalmente, colocasse todas as cartas na mesa para o sádico e lhe contasse a verdade nua e crua. E aquilo me ferraria. Mais.

― Bem, Oliver tem razão. ― Diggle concordou.

Sabendo que eu não tinha opção, além de enfrentar o meu destino, para salvar a bunda de mais de 10 pessoas, dei o meu veredito final:

― Podemos nos hospedar na fazenda. Inclusive, acho que quanto mais rápido dermos o fora de Star City, melhor.

Eu que não ficaria aqui para virar presuntinho de oferenda! Quem ligava se o Queen logo desvendaria todas as minhas mentiradas? Já havia descoberto mesmo que eu estava apaixonada por ele...

Pior que tá, não ficaria. Certo?!

― Okay, vou aprontar tudo para a viagem. ― Diggle anunciou, caminhando rapidamente para a porta, mas antes o sádico o chamou de volta.

― Me dê os meus 20 dólares. 

Relutante, Diggle voltou, tirou 20 dólares do bolso e entregou para Oliver. Olhei a cena não entendendo merda nenhuma e para ser sincera, não estava dando a mínima para tudo aquilo. Estava mais preocupada mesmo em como lidar com o Queen, Curtis, Barry e mais o resto todo da turma num mesmo lugar. Oh Deus! Eu estava tão, mais tãããão ferrada! 


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Notas finais do capítulo

EU DISSE QUE TINHA UMA PEGADINHA NO CAPÍTULO ANTERIOR!

Quem disse que o Oliver queria de verdade que a Felicity brincasse de seduzir alguém? E o joguinho de palavras dele? Bah. Já era pra todo mundo ter notado a essa altura do campeonato, que Oliver tem prazer de tocar o terror na Felicity, só isso.

AEEEEE!!!! CAPÍTULO DE 16K! Se eu não tô perdoada pela demora após isso, já não sei mais o que fazer. E ainda vocês ganharam de bônus POV'S do Oliver. Ouvi um amém ae?
Tá, mas agora vamos falar rapidinho do capítulo e depois eu parto para as minhas autodepreciações:

Eu não curti muito, mas isso vocês já estão acostumadas. Comecei ele, no meio do caminho, resolvi mudar tudo, não deu certo, deixei como que tava e continuei. Não ficou muito bom, mas resolvi que se não postasse hoje, não postaria nem tão cedo. E aí vocês passariam mais tempo com o meu boneco de vodu, o que não pode acontecer. Aliás, vocês já largaram ele né? ESPERO QUE SIM!

CARRIE CUTTER E FLOYD LAWTON FAZENDO UMA BREVE APARIÇÃO, eu disse que um personagem MORTO NA SÉRIE, iria aparecer aqui! Pois é, o escolhido da vez foi o Floyd. Sempre gostei do personagem dele e quando o mesmo morreu na série, fiquei triste. Juro que fiquei. Mas é aquele ditado né? Vamo fazer o quê?! (Lá vem a doida que não sabe falar nada sem usar um meme. Idiota mesmo...)

OLIVER E DIGGLE FAZENDO A APOSTA DELES! Vai ter repercussão, viu?! John Diggle sabe de tudo, deixa só o nosso sádico...
Falando nele...Fez tanta questão que a Felicity não "brincasse" de sedução seriamente, que quando percebeu que ela tinha interpretado suas palavras de maneira errada, foi correndo brincar. Incrível esse sádico. Ninguém entende o humor dele.

HOJE TEVE TOMMY, LAUREL, DIGGLE, THEA, CURTIS, SARA, BARRY'S, FLOYD, RAY, CARRIE, HOJE TEVE TODO MUNDO E MAIS UM POUCO! Tô impressionada por Barry-cão não ter aparecido também nesse coquetel.

OLIVER QUEEN SABE QUE FELICITY SMOAK ESTÁ APAIXONADA POR ELE, espalhem a notícia. Vamos só ver como será o procedimento dele agora com a loirinha. A fera vai amansar ou não? E esse negócio ai de ir pra fazenda onde a Felicity mentiu crescer?
E ainda levar todo mundo junto? Acho que a mentirada da Felicity, finalmente vai encontrar um fim. Só acho. Não sei, quem sabe?!

PS: O CURTIS DANDO NA CARA DA FELICITY! SOCORRO. Vou confessar, foi a minha parte favorita desse capítulo, além de claro, da nossa doidinha fingindo-se de louca pra salvar o Oliver da mente perspicaz do Ray. E da Thea...

PS2: Caitlin e Cisco estão chegando. Ouvi um outro amém, ai????????

PS3: Estamos chegando na reta final de 100DCOQ! Portanto, quem ainda não comentou, não recomendou, xingou a autora, me enviou ameaças, faça logo isso. Seu tempo está acabando. Assim como eu, se eu continuar com essas demoras infinitas para atualizar e vocês também continuarem segurando o meu boneco de vodu. Queridas, soltem isso. Muito obrigada.

Enfim...Muito obrigada por terem lido até aqui, até mais ver e mil beijos! ♥