De repente pai escrita por Thaynara Dinucci


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: O meu amor - Chico Buarque.



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Julia

Eu sabia que estaria ficando doente. Depois de sair do consultório médico, com uma receita cheia de remédios, fui à farmácia e comprei o que tinha que comprar e segui pra casa. Como o Alex disse, eu poderia ter uns dias de folga, então, eu me daria esse pequeno luxo. Será que ele era atencioso assim com todas as funcionárias, ou comigo em especial? Será que ele se sentia culpado pelo que aconteceu em sua sala e queria se redimir comigo? Mas então eu o beijei e ele correspondeu. Suas palavras ainda estão frescas em minha mente "Não tem porque se desculpar, eu queria tanto quanto você, ou até mais.". "Não tem porque se desculpar, eu queria tanto quanto você, ou até mais." Sorrio internamente. Ele queria até mais do que eu. Se eu não estivesse doente, com certeza estaria fazendo uma dancinha ridícula em comemoração. Que boba eu sou!

Depois de chegar em casa, tomar um banho quente, resolvo tomar meus remédios e seguir direto pra cama, pego meu notebook e mando um e-mail pro Sr. Ruppert.

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De: Julia Carson

Para: Alex Ruppert

Assunto: Remédios, remédios e remédios.

Boa tarde.

Caro Sr. Ruppert, venho por meio deste e-mail

comunicá-lo que realmente é um pequeno resfriado

e como meu chefe é um homem muito atencioso, me darei

o luxo de ter alguns dias de folga.

Grata pela preocupação;

Julia Carson Secretária executiva Ruppert’s Buildings

Ps.: Não se esqueça de assinar os documentos da Filial em San Diego.

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Depois de enviar o e-mail coloco meu notebook de lado, me deito na cama, e caio num sono profundo e sonho com um lindo homem de cabelos escuros e olhos verdes.

Alex

Sem Julia esse escritório fica caótico. Inferno! Tive que arrumar as pressas uma secretária substituta, até que Julia melhorasse. Depois de receber seu e-mail, algo dentro de mim mudou. Não sei se foi a forma como ela falou, ou o jeito que ela me chamou de atencioso. Suspiro resignado e sigo para os meus afazeres.

Passa de meio dia quando eu lembro que não almocei, na verdade eu nunca me lembro de comer, mas Julia sempre entra com uma refeição e meio que me obriga a comer, é atencioso da parte dela, ver o jeito que ela se preocupa comigo. Judith, a nova secretária, ela nem se deu ao luxo de perguntar se eu queria algo pra comer. Gemo internamente, torcendo pra Julia melhorar logo, preciso dela comigo. Opa, desde quando eu preciso de alguém comigo? Desde o momento em que eu coloquei meus olhos naquela ruiva de olhos verdes sexy. Sim, eu preciso de Julia comigo.

Vou até a saleta e vejo Judith lixando as unhas. Ela não é paga pra lixar as unhas em horário de trabalho.

“Judith” Falo num tom de voz ríspido.

“Sim? Quer dizer, pois não Sr. Ruppert.” Ela responde e se levanta.

“Preciso dos documentos da Filial de San Diego, e quero que ligue para a delicatessen que fica na esquina e peça o de sempre.” Digo e sigo de volta para minha sala. Porque ela simplesmente não faz o seu trabalho? Eu pedi desde a hora que recebi o e-mail de Julia os documentos para ser assinado, mas parece que eu to falando com uma porta, ou então ela é surda. Duvido muito que seja, mas o que eu posso fazer? Nunca aquele ditado que diz: se não tem cão, caça com gato, fez tanto sentido. Sinto saudades de Julia. Lembrando dela, resolvo mandar um e-mail pra ela.

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De: Alex Ruppert

Para: Julia Carson

Cara Srta. Julia, o escritório sem você não é a mesma coisa.

Sinto sua falta.

Alex Ruppert

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O dia passa com alguns problemas. Judith como já era de se esperar fez questão de me mandar os documentos errados, tive que ir pessoalmente ao arquivo pegar os documentos certos. Ela só ficava me olhando com aquela cara de desinteressada e lixando a unha. Tomara que suas unhas quebrem uma por uma até não sobrar nada pra ser lixado. Penso internamente e lanço um sorriso de lado pra ela, que sorrir de volta. Mal sabe ela o que estou pensando. Agora mais do que nunca sinto falta de Julia.

Olho no relógio e vejo que já são cinco horas, fim de trabalho, hora de ir pra casa. Recolho minhas coisas e coloco na pasta e sigo para saleta onde vejo Judith se aprontando pra ir embora, aceno em sua direção e sigo para os elevadores, enquanto espero tenho uma idéia. Eu poderia levar algo para Julia, pessoas doentes precisam de cuidados, e como eu sei, ela mora sozinha e conseqüentemente não deve ter ninguém tomando conta dela. Assim que entro no elevador faço uma nota mental para lembrar-me de passar na delicatessen e comprar uma deliciosa sopra de frango, alguns pãezinhos.

Depois de passar em casa, mudar de roupa e comprar a sopa vou em direção a casa de Julia. Eu como o bom filho da puta que sou, usei meu poder parar descobrir onde ela mora, não é tão distante do trabalho, e fica num bairro bem localizado. Vou olhando em volta e vejo as casas, são bonitas. É um bairro bem família com casas de cercas brancas, em algumas o gramado tem brinquedos espalhados, outros tem casinhas de cachorros, e em alguns até posso ver uma horta. É bonito. Chego a frente à casa de Julia e vejo que a dela não é muito diferente das outras, mas ao invés de casinhas de cachorro ou horta, o gramado dela possui um belo jardim que com certeza ela gasta boa parte do seu tempo cuidado dele, porque possui todos os tipos diferentes de flores, e deixa a casa com um ar agradável. Eu sei disso porque minha mãe tinha um jardim e ela gostava de cuidar dele pessoalmente, dizia que trazia vida a casa, e deixava tudo com mais vida. Sinto saudades da minha mãe.

Saio do carro e sigo o caminho de pedra entre o gramado e toco a campainha, espero pacientemente Julia me atender, eu deveria ter ligado antes e avisado que eu estava a caminho. Burro.

Julia

Acordo assustada e desorientada com o barulho da campainha. Olho o despertador e vejo que já passa das seis horas, nossa, eu queria tirar apenas um cochilo, mas quase entrei em coma. Ouço a campainha tocando novamente, quem será essa hora? Não me lembro de estar esperando ninguém.

“Já vai quem quer se seja” grito enquanto saio da cama e vou em direção ao banheiro. Olho-me no espelho e minha aparência é horrível. A ponta do meu nariz está vermelha, meus cabelos estão mais embolados do que nunca, resolvo fazer um coque no alto da cabeça. Pronto, isso vai bastar. Escovo meus dentes e sigo em direção a porta de entrada e olho pelo olho mágico e quase caio dura. Alex Ruppert está na minha porta, simplesmente mais lindo do que nunca, com uma calça jeans escura, uma camisa pólo preta e uma jaqueta de couro por cima, seu cabelo está molhado. Ele está de dar água na boca. E aqui estou eu, gripada, cheia de muco escorrendo pelo nariz, de moletom, e blusa larga. Poderia ser facilmente confundida com uma moradora de rua. Oh Deus, e agora, o que eu faço? Finjo que não tem ninguém em casa e espero ele ir embora, ou abro a porta? Foda-se! Ele sabe que eu estou em casa porque estou quase morrendo, e eu gritei que já ia atender a porta. Foda-se de novo.

Ajeito rapidamente minha roupa, o que é em vão e abro a porta, e a visão desse Deus Grego na minha frente, com duas sacolas na mão e um sorrio de molhar a calcinha, faz com que eu perca o ar por alguns segundos e meu coração quase para de bater. Nossa Senhora das Calcinhas Molhadas, me ajude!

Alex

Assim que Julia abre a porta minha boca seca, ela está linda como sempre. Vestida como um saco de batata, mas nem assim ela deixa de ser sexy. Sorrio pra ela e ela sorrir de volta, e posso apostar que ela não esperava minha visita, na verdade, nem eu esperava estar aqui. Oh foda, o que eu estou fazendo? Elimino esse pensamento e continuo a observando. Ela é linda.

“Julia, você tem uma bela casa. Vai me convidar pra entrar?” Falo enquanto vejo-a me encarando.

“Oh, sim, claro, claro” Ela da um passo pro lado e abre caminho pra que eu entre, e vejo sua bochecha corando. Santa Merda, ela é adorável.

Enquanto entro olho ao redor, a casa é bem aconchegante, e muito feminina, devo dizer. É cheia de cores, flores, quadros, sim, essa casa aqui parece um lar. Tão diferente do meu apartamento com as cores frias, e escuras. Julia é completamente o meu oposto. Ela é tão cheia de vida, tão cheia de luz.

Paro no meio da sala e a vejo fechando a porta e entrando atrás de mim, enquanto ela olha ao redor e diz “Não esperava ver o senhor aqui hoje” e morde o lábio inferior.

Eu já disse como esse simples movimento dela mexe comigo? Sim, mexe o inferno fora de mim.

“Alex, Julia, estamos fora do escritório então podemos deixar a formalidade de lado” digo sem rodeios e sorrio ao final e continuo “então, como você está doente, eu pensei que poderia fazer uma visita a minha funcionaria exemplar e talvez trazer algo que possa melhorá-la rapidamente. Sinto sua falta.” Termino de falar e mostro as sacolas em minha mão.

Vejo Julia puxar uma lufada de ar e corar quando falo que sinto sua falta, ela sorrir envergonhadamente, e meu coração parece que vai explodir. Oh, Julia, o que você está fazendo comigo?

Julia

Ele sente minha falta. ELE. SENTE. MINHA. FALTA. Ainda bem que ele não pode ler minha mente, porque nesse momento estou fazendo uma comemoração bem ridícula, com direito a pulinhos e reboladinhas. Coro com esse pensamento.

“Também sinto sua falta. Fique a vontade.” digo enquanto vou em sua direção e pego as sacolas de sua mão.

Vejo-o olhar ao redor da minha simples sala e se acomodar no sofá florido. Ele parece tão pequeno em relação a minha casa, parece fora do seu habitat natural e isso é engraçado e o mesmo tempo medonho. Eu poderia me acostumar com essa cena, com certeza. Fico o encarando por alguns segundos enquanto gravo essa imagem em minha mente, vou fazer questão de revivê-la algumas vezes. Vou em direção a cozinha, pego uma bandeja com pratos para sopa, talheres e uma taça de vinho pra ele, e água pra mim. Que romântico, penso sarcasticamente. Meu coração se enche de alegria ao pensar que ele está aqui pra cuidar de mim. Eu recusei a ajuda de Izobel, minha melhor amiga e vizinha, eu disse que ficaria bem e qualquer coisa eu ligaria pra ela. Mamãe também se prontificou a vir cuidar de mim, mas neguei na mesma hora. Amo de paixão a minha mãe, mas não conseguimos ficar no mesmo ambiente por mais de vinte minutos sem uma briga. Então, muito obrigada, mas não. Porém, é impossível recusar ajuda do homem que eu sou perdidamente apaixonada, o homem que tomou meu coração e talvez nem saiba o tamanho do poder que tem sobre mim.

Depois de tudo pronto e posicionado na mesa de centro da sala, me sento no chão e peço pra ele me acompanhar. Ele me olha como se tivesse crescido outra cabeça em mim, e eu me seguro pra não gargalhar com a visão dele.

“Venha, vamos comer no chão. É super normal, humano e roman...” paro de falar e bato no lugar vazio ao meu lado.

“Eu nunca comi no chão antes. Bom, não que eu me lembre.” Ele sorrir em resposta e senta do meu lado.

Comemos com uma conversa agradável, ele me conta sobre o seu dia no escritório, fala da nova secretária desinteressada, e eu fico internamente feliz em saber que ele não gosta de seus serviços. Eu conto como foi o meu dia, indo ao médico, tomando remédios, e quase entrando em coma, quando na verdade eu queria ter apenas um cochilo. Rimos, brincamos, e conversamos mais um pouco. A todo o momento ele me toca, passa mão em meu cabelo, alisa os nós dos meus dedos. Ele é tão lindo, tão perfeito, e cada gesto carinhoso dele eu fico mais apaixonada. Nunca pensei que seria possível, mas com Alex é.

Alex

Passar esse tempo com Julia foi gratificante, ela é tão inteligente, tão meiga, tão perfeita. Eu sei, eu sinto que estou em apuros e não tem mais volta pra mim. Se eu não soubesse que eu estava apaixonado por ela no momento em que ela fez a entrevista de emprego comigo, eu teria me apaixonado agora. Sim, eu estou apaixonado por Julia Carson. Fodidamente apaixonado, e não há nada que eu possa fazer pra voltar atrás. Ela lançou sua magia em mim, e eu não posso fazer nada contra isso. Ela não precisa saber disso agora, é tudo muito cedo. Ela é minha secretária, eu sou seu chefe, esse amor talvez nunca vá dar certo. Fico triste com esse pensamento, eu poderia muito bem fazer isso funcionar, não poderia? Eu sou o chefe, o dono da empresa. Eu poderia mudá-la de setor, e não teria mais problemas. Saio de meus devaneios quando vejo Julia levantando do chão e recolhendo as sobras, e prontamente me ofereço a ajudá-la e ela nega, diz que sou visita e que com certeza eu não sei nem lavar uma colher. Gargalho com sua resposta, ela tem razão.

Olho pro relógio e vejo que já são onze horas da noite, não sei como o tempo passou tão rápido, foi como se eu tivesse acabado de chegar, e por incrível que pareça, eu não sinto vontade de ir embora. Nunca em trinta anos eu quis passar mais do que algumas horas na companhia de outras mulheres. Mas com Julia é diferente, eu tenho vontade de ficar pra sempre. Cada vez mais. Essa mulher é poderosa, ela me tem em suas mãos e nem faz ideia.

“Julia, já passa das onze e eu realmente estou muito cansado. Teria problema se eu ficasse e dormisse aqui.” Peço e espero por sua resposta, que parece demorar uma eternidade.

“Ér, quer dizer, claro. Sem problemas.” Ouço sua resposta e me levanto, vou em direção a cozinha e vejo-a lavando a louça. Chego por trás dela, abraço sua cintura com meus braços e puxo seu corpo suavemente contra o meu e beijo seus cabelos.

“Obrigado querida. Você poderia me mostrar onde vou dormir, e onde fica o banheiro?” digo enquanto me afasto e sento numa cadeira.

Vejo ela se mexer e me olhar. Ela me olha por um momento e vejo um brilho nos seus olhos, e rapidamente esse brilho some.

“Certo. O quarto de hospedes fica no fim do corredor, e o banheiro fica na terceira porta a esquerda.” Ela fala e eu a fito. Quarto de hospedes? Como?

“Tudo bem” Saio da cozinha frustrado e vou em direção ao que ela me indicou. O quarto é bem arrumado, com uma cama de casal, cortinas floridas, quadros e espelho. De longe consigo ver que Julia é fã de flores.

“Boa noite, Alex” ela grita da cozinha.

Ouço o barulho vindo da cozinha e pés se arrastando pelo corredor, porta batendo e sei que Julia foi deitar.

Deito-me na cama e fico fitando o teto, como ela tem coragem de me colocar no quarto de hospedes? Eu pensando que ela me convidaria pra dormir com ela. Isso não está certo, não foi assim que eu pensei que terminaria a minha noite. Fico rolando na cama tentando dormir e não consigo. Não dá. Sem esperar muito, saio do meu quarto e vou em direção a primeira porta no corredor e sei que ali é o quarto de Julia. Bato na porta e não ouço nenhuma resposta, será que ela já dormiu? Suavemente abro a porta e olho ao redor, está escuro, mas ouço a respiração suave dela. Entro no quarto e vou em direção a cama, levanto o edredom e me deito do seu lado, puxo seu corpo pra mim e passo meu braço ao redor da sua cintura, ela se assusta e eu beijo sua nuca e sinto seu corpo relaxar contra o meu. Ela cheira tão bem.

“Boa noite querida” eu sussurro e aperto mais o seu corpo contra o meu. Nunca uma coisa pareceu tão certa, como agora. E em segundos eu derivo num sono tranqüilo.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!!!



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