Harry Potter e o Herdeiro Luz escrita por V Giacobbo


Capítulo 26
Traidores - Parte 2




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- Será que eles vão fazer as pazes? – perguntou Gina para Harry quando a porta da Sala de Cristais foi fechada.

- Talvez sim, talvez não. – Hermionde deu de ombros – É dificil prever. Ambos são teimosos e orgulhosos.

- Vamos dar à eles privacidade. – Rony olhou para Gina.

- Também acho que Owen vai gritar. – Gina suspirou.

Antes que ela tivesse tempo para pensar no feitiço, todos ouviram a voz abafada de Owen.

- Esqueça o Lars!

- Vixi... – Gina pensou no feitiço e eles não ouviram mais nada – Ele falou do irmão.

- Essa conversa vai ser longa. – Harry estendeu a mão que segurava o cristal dos desejos para que todos pudessem ver.

Acompanharam a conversa apenas com os olhos. Não ouviram uma palavra, embora a expressão de Owen deixava claro que ele estava gritando. A conversa ficou tensa. Não ouviam, mas viam e sentiam. Owen gritava sempre e parecia estar se controlando a todo custo para não pular por sobre o pai. Acharam que nada violento aconteceria. Owen não demonstrava estar descontrolado a ponto de atacar o pai. Contudo, depois de alguns minutos, Owen sacou a varinha. Rony afastou-se dos outros e deu um murro na porta.

- Então? – perguntou ele.

- Ele largou a varinha e não vai mais atacar.- respondeu Gina.

Rony voltou ao lugar onde estava e fitou o cristal. Os quatro se espantaram quando Cassius começou a chorar.

- Sinceramente... – disse Gina – Gostaria de ouvir o que eles estão conversando.

- Todos nós. – admitiu Harry – Para Cassius chorar deve ser algo realmente sofrido.

Eles viram Owen cair sentado e Cassius correr até o filho.

- Acho... – Rony sorriu – Que eles vão sim, fazer as pazes.

- Owen foi abalado. – falou Hermione ao ver que Owen também chorava.

- Talvez Cassius tenha, finalmente, dito algo que seja a seu favor. – disse Gina – Acho que durante toda a conversa ele apenas se defendeu, deixando Owen botar tudo o que queria para fora.

- Ele finalmente atacou. – Harry sorriu.

Eles viram Cassius se erguer. Hermione deu um gemido, atraindo o olhar dos outros.

- O que foi?

- Owen vai atacá-lo. – respondeu Hermione.

- Uma visão? – Rony pareceu curioso.

- Um pressentimento. – Hermione fechou os olhos e se concentrou para quebrar a proteção mental de Cassius – “Cassius... Owen vai te atacar, eu sinto isto. Quer que intervenhamos?”

- Ele parou... o Cassius, e negou com a cabeça. – Gina olhou Hermione – Você perguntou o que para ele?

- Se ele queria que nós intervíssemos. – respondeu Hermione voltando a fitar o cristal.

Eles ficaram tensos quando Owen se levantou e correu na direção do pai, acertado-lhe um belo e forte soco. Contudo, não puderam evitar os sorrisos quando viram Owen ajoelhar-se à frente do pai e falar algo, muito calmo e sereno.

- Conseguimos. – Gina abraçou Harry, que quase deixou o cristal cair.

- Missão cumprida. – Rony puxou Hermione para um beijo apaixonado.

- Bem... – disse Gina pouco depois, afastando-se alguns passos – Preciso ir falar com o Merlim.

- Por que? – Rony soltou Hermione.

- Tenho uma dúvida. – Gina afastou-se mais – Vocês vem?

Eles acentiram e seguiram a ruiva até a Sala de Reuniões da Ordem de Merlim.

- Bem vindos de volta. – Merlim retirou o capuz e fez uma reverencia quando eles entraram e fecharam a porta.

- É um prazer voltar. – Gina, junta com os outros, se curvou também.

- Prazer e necessidade, não? – Merlim sorriu.

- Espertinho. – Gina deu uma leve risada e caminhou para mais perto do quadro.

- Diga Gina... – pediu Hermione – Estou curiosa.

- Ok ok. – Gina sorriu para a amiga e virou-se para Merlim, séria – Nós temos um ponto fraco... muito fraco.

Os outros tres se espantaram. Merlim apenas sorriu.

- Sim, vós tens. – respondeu calmo e simples.

- Ponto fraco? Que ponto fraco? – perguntou Rony.

- Somos muito fortes Gina. – falou Harry.

- Eu sei que somos. – Gina olhou o namorado – Não estou negando isto. Mas nós temos um ponto fraco, e ele é mortal.

- Qual? – Hermione interessou-se.

- Quantas vezes nós ficamos zerados nesses ultimos dias? – perguntou Gina.

- Uma vez durante a união. Outra quando salvamos o Sirius... e outra quando eu, com a ajuda de vocês, curei-o. – Hermione contou nos dedos – Três vezes.

- Eu, por ser a Energia, possuo as lembranças relacionadas à força magica de Merlim. – disse Gina – Depois de ter se unido ao Dragão Ancião da Luz, Merlim nunca ficou zerado. Nunca.

- Verdade? – Rony fitou o homem no quadro.

- Sim. – respondeu Merlim.

- Quer uma prova disto? – Gina não gostou da duvida do irmão – Quando Merlim criou a Dimensão da Neblina, ele não teve tempo de se recuperar, prendeu Drake logo em seguida. Ele ficou muito fraco, por isto não conseguiu impedir que Drake escapasse.

- Ele ficou fraco... mas não zerado. – explicou Hermione – Entendi. – ela coçou a nuca e sorriu sem jeito – Pois é... temos um ponto fraco mortal.

- Contudo... – Merlim atraiu o olhar deles – O Herdeiro Trevas não sabe disto. Não se preocupeis. Agora que já se uniram aos Dragões, também não poderão mais ficar, como vós disseis, zerados.

- Se ficarmos zerados... – falou Gina, fria – morreremos.

Rony engoliu em seco e Hermione tremeu. Harry fitou os olhos de Gina e suspirou.

- Não vamos morrer assim. – disse ele, convicto.

- Eu sei que não. – Gina sorriu – É por isto que falei, para que não nos obriguemos a permanecer na batalha se não tivermos mais forças.

- Entendi aonde você quis chegar. – Rony sorriu – Devemos saber  hora de recuar, caso seja necessario.

Gina assentiu.

A porta se abriu levemente. Merlim reergueu o capuz, escurecendo sua face. Owen e Cassius entraram tímidos.

- Atrapalhamos? – perguntou Owen.

- Não. – Gina sorriu – Já terminamos.

O quarteto se virou para o quadro e fez uma longa reverencia, Cassius e Owen os imitou, saindo logo depois. Eles seguiram para a saída e retornaram para a casa.

- Gostariam de ficar para o almoço? – convidou-os Cassius.

- O que você acha de ir até a Ordem da Fenix? – Harry sorriu – Podemos nos reunir lá para fazer uma pequena comemoração devido o retorno de Sirius.

- Então você decidiu que quer comemorar. – Gina sorriu marota.

- Temos mais motivos para comemorar. – ele sorriu em retorno.

- Acho uma ótima idéia. – disse Cassius com um soriso.

- Vamos então. – Owen deu uma palmadinha no ombro do pai e, junto com os outros, dirigiu-se à saida.

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Durante todo o almoço e o resto da tarde o clima na Ordem da Fênix foi de festa. Porém, não foi nem de perto parecido com a última festa realizada na Sede. Foi apenas uma longa e divertida confraternização, onde todos riam, brincavam e bebiam, aqui e ali, cervejas amanteigadas e uísques de fogo.

Duas pessoas dividiam o posto de a mais feliz e animada: Remo e Sarah. Ele, por motivo já óbvio: o retorno de Sirius. Já ela, não só por um, mas por três motivos: o retorno de Sirius; o fato de ter conversado com ele e feito-o saber tudo o que acontecera com Régulo e sobre sua ligação familiar; e, talvez o mais importante, a reconciliação de Owen e Cassius.

Contudo, uma pessoa não participou de tal comemoração. Em um quarto escuro e sombrio, Draco Malfoy estava em silêncio, olhando a cidade longingua pela janela. Em sua mão, um pedaço de pergaminho amasado era firmemente apertado. Uma caligrafia feia e rabiscada era a coisa mais importante que o garoto tinha.

“Mansão Malfoy. Dia 28 de dezembro reagrupamento de comensais para o último ataque. Voldemort presente! Levar Potter sozinho!

O sonserino suspirou e olhou para o céu.

- Vai ser um longo dia. – disse rouco.

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O sol nasceu, inundando de luz a velha cabana de madeira. Um homem loiro não largava seu posto de vigia. Os olhos pregados no telescópio que apontava para outra cabana, em um morro um pouco distante. Ele havia feito todas as contas que podia e chegara a uma só resposta: a hora estava próxima. Ele mal dormia desde que descobrira tal fato. Vinte e quatro horas por dia vigiando a casa quieta e silenciosa.

A confirmação para sua certeza veio pouco depois. Uma janela da casa vigiada foi aberta e por ela saiu duas corujas. Uma alçou vôo para o horizonte e a outra se dirigiu para, o que ele sabia ser, a direção do vilarejo mais próximo.

Ele despregou os olhos do telescópio e se jogou na poltrona, entorpecido. Havia chegado o momento, tinha absoluta certeza. Não ficou sentado por muito tempo. Deduziu que teria cerca de meia hora até o momento certo de ficar pronto para agir.

Durante esse curto tempo, tomou um banho e fez uma refeição reforçada, já que não se alimentava direito há muito tempo e necessitaria de energia caso fosse necessário.

Sua dedução não falhou. Meia hora depois, olhando pelo telescópio, avistou uma velha caminhando até a entrada da casa e entrando pela porta.

- Chegou à hora.

Ele vestiu o sobretudo preto e sacou a varinha. Sobre a escrivaninha encontrava se uma garrafa de vinho tinto e uma taça de cristal. Ele caminhou até a escrivaninha e se serviu do vinho. Voltou para a janela e admirou o céu que tornava-se cada vez mais azul anil.

- À você: Sarah, minha eterna amada; e ao nosso trato! – ele ergueu a taça ao céu e bebeu todo o seu conteúdo com um único gole.

Minutos depois estava do lado de fora da casa que vigiara por seis meses. Encostou-se à parede do que sabia ser o quarto ocupado pela mulher e apurou os ouvidos. Já estava acontecendo. Não demoraria muito pela dimensão do sofrimento que ele ouvia.

Deveria ser rápido. Assim que o Herdeiro surgisse deveria entrar na casa e matá-lo. Tinha que ser muito rápido, rápido o suficiente para impedir a fuga do Herdeiro. Como último recurso explodiria a casa.

Esperou durante um longo tempo. O sol subindo cada vez mais no céu e iluminando forte sobre si. Estava de olhos fechados, toda a concentração voltada para a audição. Eliminara grande parte da percepção física para não ser tão irritado pelo calor do sol, excessivo para o inverno.

Então ouviu.

O sinal...

O aviso...

A confirmação!

Abriu os olhos e correu silencioso até a porta de entrada. Com um movimento seco da varinha, a porta foi arrancada e arremessada para dentro da casa. Ele entrou e cruzou a sala e o corredor, parando enérgico à porta.

A mulher que vigiara deu um berro fraco, mas estridente. A confirmação se prolongava e ele guiou os olhos até sua fonte. A velha perguntou com a voz tremula:

- Quem é você? O que você quer?

Ele não respondeu nada. Ergueu a varinha, apontando-a para o Herdeiro e preparou o feitiço:

- Avada Kedavra!

- Confundo! – a mulher gritou fraca, atingindo a velha.

A velha deu um passo para o lado e recebeu a Maldição da Morte. Antes mesmo que seu corpo inerte caísse no chão, o homem preparou-se para lançar outra vez a maldição e a mulher arremessou contra o Herdeiro um travesseiro.

- Avada Ke...

- TRÊS! – berrou a mulher.

Um brilho emanou do travesseiro e, então, ele não estava mais lá. Não havia sinais nem do travesseiro nem do Herdeiro. Não havia nada que provava ou mostrasse que o Herdeiro sequer estivera ali.

- NÃO! – ele apontou a varinha para a mulher, enfurecido.

- Traidor! – gritou a mulher ainda fraca – Ele vai saber e vai te matar! Eu juro! Você vai me pagar pelo que fez e pelo que me fez fazer.

- Eu te mato! – ele ergueu a varinha.

A mulher segurou firme em outro travesseiro.

– Os Longbottons estarão de longe melhores do que você. É uma promessa! TRÊS! – e desapareceu.

O homem ficou parado.

Fracassara.

Sua única chance de reparar parte do mal que fizera havia desaparecido com uma chave de portal. Não havia como saber onde o Herdeiro estava, onde iria estar.

Frustrou-se.

Odiou-se.

Amaldiçoou-se.

- Se eu não te achar... se eu não te matar... morrerei em meio às piores dores que um humano pode suportar. – prometeu ele, amaldiçoando seu próprio destino.

Deixou, então, que o ódio o tomasse. O ódio contra si próprio, contra sua própria fraqueza, seu próprio fracasso. Berrou com todas as forças, sua energia escapando de seu controle.

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O sol nasceu e iluminou o vasto corredor do segundo andar da Sede da Ordem da Fênix. Uma porta se abriu silenciosa e se fechou da mesma maneira. Um garoto com corpo e atitudes de homem avançou pelo corredor silencioso. Ele se virou, para descer as escadas e parou. Um outro garoto, de mesma idade que o primeiro, estava encostado à parede, aguardando.

- Bom dia, Potter. – disse esse garoto.

- Bom dia, Malfoy. – Harry contraiu o maxilar e começou a descer as escadas.

- Preciso falar com você. – disse Draco quando Harry passou.

- Sobre? – Harry parou e o olhou.

- A informação do Dragão Negro. – disse Draco.

- Voldemort! – Harry sorriu ao ver Draco se arrepiar e tremer – Então? – perguntou Harry logo depois.

- Ele vai reunir vários comensais para prepará-los. – Draco desencostou-se da parede – Afinal, a batalha se aproxima.

- Já sabemos. Temos três dias para nos preparar. – Harry ficou ainda mais contente ao ver Draco tentar impedir que seu corpo reagisse ao calor que de repente se instalava ali.

- Ele vai reuni-los hoje. – afirmou Draco – Muitos comensais estarão presentes.

- Avise o Moody. – disse Harry rápido – Se esta era a informação importante que tinha... – ele moveu as mãos com descaso, virando-se e voltando a descer as escadas.

- Ele vai estar lá... – completou Draco rápido e arrogante – Os membros da Elite também. Bellatriz e Snape com toda a certeza estarão presentes.

Harry estacou no lugar e prendeu a respiração. Draco sorriu vitorioso.

- Lestrange e Snape? – Harry não se virara.

- Além do próprio Dragão Negro. – confirmou Draco.

- Onde? – Harry se virou para encarar Draco, a voz rouca e quente.

Draco arrepiou-se com a visão dos olhos vermelho-flamejantes de Harry.

- Você irá sozinho? – perguntou o loiro recomposto.

- Não... – Draco teve que segurar um gemido – Você vai comigo.

- Certo. – agora, Draco teve que não demonstrar toda a felicidade que sentia – Vamos agora?

- Já se alimentou? – perguntou Harry, firme.

- Sim.

- É só o tempo de eu comer algo e iremos. – Harry se virou e desceu as escadas, entrando pela porta que levava à cozinha.

Draco sorriu largamente e se encostou à parede.

“Ainda bem... tudo certo até aqui.” – ele retirou do bolso da calça o bilhete amassado – “Só não entendo por que o Potter tem que ir somente comigo. Se vai ter tantos comensais... é perigoso para nós dois.” – ele balançou a cabeça e riu baixinho – “Qual é Draco... olha só tudo o que o Santo Potter fez!” – ele guardou o bilhete e desencostou-se da parede, descendo as escadas – “Tenho que admitir... ele pode vencer o Dragão Negro.”

Antes que Draco pudesse entrar na cozinha, a porta se abriu e Harry saiu rápido. Foi tão rápido que passara por Draco antes que eles trombassem.

- Vamos Malfoy. – disse o moreno.

- Claro. – Draco disfarçou o susto e saiu da casa.

- Para onde? – perguntou Harry já lá fora.

- Minha antiga casa. – Draco estendeu o braço.

- Eu mesmo me aparato. – disse Harry mais arrogante que o normal.

- Mas você não...

- Sei onde é sua casa porque a Hermione mapeou suas memórias e, algumas delas, vieram para mim. – Harry explicou como se explicasse que fogo queima – Vou aparatar na estrada. – e subiu com um rodopio.

- Como eu disse... – Draco resmungou mal-humorado – Vai ser um longo dia.

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Mal Draco abrira os olhos, tivera que correr. Harry já avançava na direção da antiga Mansão Malfoy.

- Espere! – sussurrou Draco o mais alto que pôde.

Harry bufou e esperou. O capuz negro cobria sua cabeça e escurecia sua face, deixando visível apenas o brilho de seus olhos vermelhos flamejantes.

- Não sei você, Potter, mas eu quero retornar vivo para a Ordem. – falou Draco. irritado, recuperando o fôlego.

- Que venham. – disse Harry, presunçoso.

- Você pode se proteger muito bem, eu sei. – falou Draco o óbvio com desdém – Mas, contra dezenas de comensais, não sei por quanto tempo posso aguentar. – Draco estufou o peito.

- Está pedindo minha proteção? – perguntou Harry, desdenhoso.

- Sou um traidor Potter. – Draco sorriu desafiador e resgatou sua antiga arrogância – Minha cabeça deve estar sendo tão procurada quanto a tua.

Harry riu sarcástico e retirou a varinha das vestes.

- Vamos. – disse já avançando.

Com um movimento seco da varinha, o portão negro de ferro foi arrancado e jogado para o lado, dentro do jardim. Draco sacou a varinha e apertou os lábios, evitando que seu queixo caísse. Eles cruzaram o caminho rapidamente. Nenhum movimento veio da casa ou de seus terrenos. Certamente o que ocorrera ao portão passara despercebido aos olhos de quem quer que estivesse vigiando, se é que havia alguém vigiando.

- Voldemort! – uma voz quente e firme saiu da boca de Harry, assustando Draco.

- Isso é que é amor à própria vida. - sussurrou o louro, sarcástico.

- Cale-se. – bradou Harry baixinho.

Com outro movimento seco da varinha, a porta da casa explodiu em centenas de lascas de madeira. Eles pularam para dentro da casa, deram as costas um para o outro e varreram o hall com os olhos e as varinhas erguidas.

- Algum local específico? – sussurrou Harry.

- Não sei. – respondeu Draco sincero, um sorriso orgulhoso desenhando-se nos finos lábios – Minha informação restringia-se apenas a casa.

- Certo. – Harry virou-se para a porta que certamente levaria ao restante da casa.

Avançaram repetindo as mesmas ações de antes: a porta explodindo; eles pulando para dentro do aposento, costas com costas, varinhas em punho e olhos analisadores. Percorreram todos os aposentos do primeiro andar sem encontrar viv’alma.

- Onde eles estão?! – sussurrou Harry para si, irritado.

Draco engoliu em seco, perdendo levemente o ar orgulhoso e confiante.

“Se a informação for falsa. Eu sou um homem morto.” – pensou ele.

- Segundo andar. – disse Harry, apontando para as escadas.

Eles subiram silenciosos. Uma irritação aflorando-se em Harry e um medo incontrolável tomando Draco. Verificaram alguns aposentos, o silêncio mórbido sobressaltando-se sobre eles.

- Onde eles estão? – dessa vez, Harry perguntou à Draco.

- Eu não sei. – respondeu Draco e completou na defensiva, sem abandonar sua arrogância natural – Talvez a reunião aconteça mais tarde.

Harry bufou e olhou pelo corredor. Faltavam apenas duas portas. Ele sabia que eram o quarto de Draco e a biblioteca. Depois que verificassem tais cômodos, restariam apenas as câmaras ocultas. Era nessas câmaras que toda a esperança de Draco se apegava.

Eles avançaram para o quarto do loiro e obtiveram o mesmo resultado de todo o resto da casa. Estava vazio. Harry chutou uma almofada próxima e saiu do quarto. Draco, porém, observou algo a mais. Sua cama estava desarrumada. Estava limpa. Limpa!

- Potter?! – Draco chamou-o em voz alta, mandando para o inferno todo o cuidado que manterá desde sua entrada na casa.

- O que é? Não tem nada aqui! – falou Harry, irritado, à porta.

- Minha cama. – Draco apontou para ela.

- O que tem?! – Harry urrou nervoso – Está desarrumada! Qual é o problema?!

- Está limpa... – Draco olhou-o e completou arrogante por ter notado algo que Harry não notara – Sem poeira alguma.

Harry ergueu uma sobrancelha e visualizou a cama.

- Eu não durmo nessa cama há quase dois anos, Potter. – explicou Draco com um sorriso superior – Deveria haver, pelo menos, um pouco de poeira sobre ela.

- Então... – Harry se virou, olhando pelo corredor, a varinha segurada firmemente – há alguém aqui.

- Sim. – respondeu Draco, alegre, saindo pela porta e apontando a varinha para a porta da biblioteca – Se não estiver aqui...

- Estará nas câmaras. – completou Harry com um sorriso.

Eles se colocaram à porta da biblioteca e repetiram o movimento já decorado. A porta explodiu em centenas de lascas e eles pularam para dentro do aposento mal iluminado. A biblioteca era ampla: o teto de vidro muito alto; as paredes revestidas de estantes, divididas em vários níveis que podiam ser acessados por escadas. No chão, um conjunto de sofás, almofadas e tapetes tornavam o ambiente confortável e relaxante. A lareira, oposta à porta, poderia, se acessa, trazer a luminosidade que faltava para uma boa leitura, naquele horário.

Antes que eles pudessem olhar para cima, o som de palmas ecoou por todo o lugar. O sangue de Draco congelou e o de Harry ferveu.

- Parabéns Draco. – uma voz fria e sarcástica soou sobreposta às palmas – Cumpriu sua missão.

- Snape?! – questionaram Draco e Harry, erguendo o olhar para encarar Snape, que descia calmamente a escada que ligava o terceiro ao segundo nível.

“Parabéns Draco? Cumpriu sua missão?!” – Harry repetiu o que Snape dissera e fitou Draco com raiva.

Draco não soube dizer o que acontecera, só sabia que, segundos depois, estava caído no chão, depois de bater com a lateral do corpo na estante mais próxima e escorregar para o chão.

- Traidor! – berrou Harry.

A temperatura aumentou instantaneamente, sufocando Draco e Snape, que foi obrigando a parar de andar e levar a mão ao pescoço.

- Potter! – chamou Snape com um fio de voz.

Harry desviou os olhos de Draco para fitar o homem na escada. Ergueu a mão no momento certo para segurar a varinha de Snape, que ele mesmo arremessara.

- Não... vim... para... duelar. – Snape forçou-se a falar, apesar da garganta estar tão fechada e o pulmão suplicando por ar.

Harry respirou profundamente repetidas vezes. A temperatura abaixou-se lentamente, possibilitando à Snape e Draco respirar.

- Traidor. – sussurrou Harry, fitando Draco novamente.

- Eu não... – Draco tentou se defender das acusações.

Antes que o loiro pudesse terminar, Harry moveu rápido as mãos e fios de fogo surgiram em torno dos punhos e das pernas de Draco, prendendo-o como cordas em chamas e arrancando de sua boca um urro de dor.

Snape, enquanto isto, descera completamente as escadas e caminhava na direção de Harry. O moreno voltou sua atenção para o bruxo, que parou instantaneamente.

- Quanto tempo não é, Potter? – a expressão de Snape não podia ser classificada.

- É claro. – Harry retirou o capuz de cima da cabeça, mas seus olhos continuavam vermelhos flamejantes.

- Por onde esteve? – Snape sorriu torto, curioso.

- Não é da sua conta. – ralhou Harry.

- Liberte o jovem Malfoy. – Snape não ordenava, mas também não pedia, simplesmente dizia.

- Ele é um traidor da Ordem da Fênix. Como fora previamente avisado, eu o matarei. – afirmou Harry.

- Eu não sou um traidor! – gritou Draco – Eu não sabia que ele estaria aqui!

- Parabéns Malfoy. Cumpriu sua missão. – repetiu Harry fitando os olhos negros de Snape – Foi o que você disse. – referiu-se ao homem – A missão dele era me trazer até aqui para que você pudesse me aprisionar?

- Não. – respondeu Snape, simples – A missão dele era simplesmente trazer você aqui sem os membros da Ordem ou os fedelhos que te rodeiam. O resto era por minha conta.

A temperatura subiu consideravelmente. Snape sentiu-se sufocado e Draco berrou novamente, as cordas de fogo pareciam queimar ainda mais. Harry sorriu com o que causava nos dois e a temperatura baixou.

- Você não tem chances. – Harry sorriu superior.

- Estou desarmado. – Snape mostrou as mãos – Entreguei a você minha varinha como prova de que não quero duelar.

Harry ergueu uma sobrancelha, a varinha de Snape em sua mão.

- Pedi para que Draco trouxesse-o aqui... – começou Snape.

- Não pediu nada! Nunca pediu nada para mim! – gritou Draco, exasperado e dolorido.

- Admita Draco: você é um traidor da Ordem da Fênix! – berrou Harry, para Draco, que urrou de dor com as cordas de fogo queimando mais.

- Ele está dizendo a verdade, Potter. – disse Snape sem emoção, olhando Draco com indiferença – Ele não se lembra do que combinamos.

- Hermione mapeou a mente dele. – disse Harry encarando Snape – Não há nenhuma memória falsa na mente dele.

- Falsa não... mas, e apagada? – questionou Snape com um sorriso desdenhoso.

Harry ficou calado, relembrando-se do que Hermione dissera sobre Draco.

*- Flashback -*

Todos estavam sentados na enorme mesa da sala de reuniões da Ordem da Fênix. Calados, eles esperavam o término de uma conversa. Harry, Rony, Gina e Hermione discutiam mentalmente.

“Hermione como você pode confiar nele?” – Rony estava tão nervoso quanto Harry.

“Eu vi o que ele viu, ouvi o que ele ouviu e senti o que ele sentiu” – respondeu Hermione calma.

“Mas Mione, alguém pode ter alterado a memória dele!” – observou Gina.

“Não. Ele pode ter recebido algum ‘Obliviate’ e perdido algumas lembranças. Mas nenhuma lembrança falsa foi implantada na mente dele.” – negou Hermione sabiamente.

“Você tem certeza Hermione?” – Harry pareceu mais calmo.

“Sim, absoluta.” – respondeu Hermione – “Posso falar sobre o mais importante para vocês.”

“Não!” – falou Harry rápido – “Deixe que ele próprio confesse.”

“Não há nada para ser confessado” – afirmou Hermione.

*- Fim do Flashback -*

- Então... usou um Obliviate no Malfoy? – perguntou Harry, embora já soubesse a resposta.

- É óbvio. – disse Snape, desdenhoso.

- Usou um Obliviate em mim?! – gritou Draco, escandalizado.

- Chega de seus gritos. – Harry apontou a varinha para Draco sem olhá-lo – Silencio!

Ouviu-se um gemido apavorado morrer na garganta do loiro. Ele tentava falar, a boca movendo-se muda.

- Retornemos então? – perguntou Snape sem emoção.

- Onde está Tom? – perguntou Harry.

- Chama o Riddle pelo nome dele? Bom... muito bom. – comentou Snape, completando baixinho – Dumbledore aprovaria.

- NÃO FALE O NOME DELE!

Uma onda de calor desprendeu-se do corpo definido de Harry e chocou-se contra tudo e todos na sala.

“Ainda não superou a morte de Dumbledore, então.” – pensou Snape.

- Superarei quando vinga-la! – bradou Harry, causando um espanto que não pôde ser ocultado em Snape.

- Co-como? – gaguejou Snape, pela primeira vez em anos.

- Você é um oclumente quase perfeito, Snape. – explicou Harry com um sorriso arrogante – Nem mesmo Dumbledore poderia impedir que eu lesse a mente dele. Creio eu que Dumbledore era um oclumente melhor que você.

- De fato... – Snape se recompôs, assimilando os novos poderes de Harry à sua evidente habilidade de ler mentes.

- Agora responda, onde está Tom? – perguntou Harry novamente.

- Riddle não é o assunto a ser tratado em nossa conversa. – afirmou Snape, caminhando até uma das poltronas no meio da sala e ocupando-a – Sente-se. – sinalizou para os outros lugares vazios.

- Não pretendo ter uma conversa com você. – falou Harry entre dentes, permanecendo de pé, imóvel.

- Há coisas, Potter, das quais você não tem conhecimento. Coisas que somente agora devem ser reveladas. – falou Snape unindo as mãos e, assim, lembrando à Harry, Dumbledore – Coisas que você precisará saber para poder vencer.

- Vencerei sim, e não por qualquer informação que você possa me dar. Vencerei porque sou mais forte que ele. – afirmou Harry.

Draco, que parara que tentar falar, apenas acompanhava a conversa.

“Esse não é o Santo Potter.” – pensou ele – “O Santo Potter não agiria com tanta arrogância. Isso não é do seu feitio.”

- Diga-me, Potter, como está a caçada às horcruxes? – perguntou Snape com um sorriso desdenhoso.

“Ele sabe.” – pensou Harry ocultando perfeitamente bem o espanto.

- Não é de seu interesse, é? – perguntou ele.

- Se questionei é porque é do meu interesse, correto? – perguntou Snape, irônico.

- Se sente frustrado, não é? – Harry riu baixinho.

- Como? – Snape realmente não entendera.

- Você se sente frustrado por não poder mais ler minha mente. E, também, por eu conseguir quebrar seu bloqueio. – explicou Harry, arrogante.

- Não se vanglorie tanto, Potter. – Snape ainda mantinha aquele sorriso desdenhoso – O fato de você ter sumido todo esse tempo e voltado forte não significa muita coisa.

- Não? – Harry riu sarcástico – Não... provavelmente não.

“O que diabos aconteceu com o Potter?” – Draco ergueu uma sobrancelha.

- Eu somente vencerei Tom e todo aquele Exército Sombrio dele. – Harry descarregou todo o desdém que possuía em suas palavras.

- Poderá vencer Riddle e seu exercito sim, ninguém nega isto. – comentou Snape sem emoção – Contudo, a vitória da Guerra não se define unicamente à vitória de uma batalha.

- Será a última batalha. Tom cairá e nunca mais se reerguerá. – afirmou Harry convicto.

- Quanto ao fato de que Riddle cairá, eu não duvido nem um pouco. Ele nunca teve o domínio de si próprio, quanto mais o de centenas de milhares de bruxos enraivecidos. – o sorriso desdenhoso de Snape se intensificou – Riddle cairá perante seus próprios erros, seus próprios medos e arrogâncias. – ele fez uma pausa – Já quanto ao fato de que ele nunca mais se reerguerá, não é certo.

- Como não? – perguntou Harry, irritado – As horcruxes estão sendo achadas e destruídas, uma a uma.

- Quantas já foram destruídas? – perguntou Snape, rápido.

- Quantas você diria que já foram destruídas? – Harry apertou a varinha de Snape.

- Levando em consideração que você esteve sumido todo esse tempo e, tenho certeza, não foi por causa das horcruxes: outro ficou encarregado da missão de encontrá-las e destruí-las. – afirmou Snape, os olhos saindo da face de Harry para parar em sua varinha na mão do garoto – Acredito, então, que tal pessoa foi e é mais competente que você em tal missão. Arrisco a contagem de duas horcruxes destruídas por essa pessoa.

- Parabéns! – Harry bateu as palmas com as varinhas presas entre os dedos – Duas sim. O medalhão de Slytherin e a taça de Huffle-puff.

- Então encontraram o verdadeiro medalhão? – Snape voltou seus olhos para o rosto de Harry – Excelente. Deseje meus parabéns a essa pessoa.

- Com absoluta certeza desejarei. – a voz de Harry saiu quente e sarcástica.

- Então, temos destruídas as seguintes horcruxes: o diário de Riddle; o anel do Servolo; o medalhão de Slytherin e a taça de Huffle-Puff. – Snape contou nos dedos – Totalizamos quatro horcruxes destruídas. Restam três.

- Não faltam três, faltam duas. – afirmou Harry.

- Aí esta uma coisa que você não sabe, Potter. Riddle criou sete horcruxes, não seis, como Dumbledore te contou. – Harry arregalou os olhos e Snape sorriu ainda mais - Sabe quais são estas? – Snape mostrou com a mão três dedos erguidos.

- A cobra dele. – respondeu Harry, simples.

- Sim. A cobra é uma. – Snape abaixou um dedo – E as outras duas? – perguntou, interessado.

Harry engoliu em seco.

- Um objeto dos outros fundadores: Godric Gryffindor e Rowena Ravenclaw. – respondeu evasivo, como a própria resposta.

- Correto. – Snape permanecia com os dedos erguidos – No entanto, o verdadeiro mistério é: quais são os objetos?

Harry ficou calado. Snape estava certo. Ele não tinha a mínima noção de quais eram as últimas horcruxes. Dumbledore fora muito evasivo neste assunto, dissera-lhe somente o que possuía certeza e não dera nenhuma dica que o levasse à descoberta da sexta horcruxe. Nunca lhe dissera, também, que havia uma sétima. Snape estava certo. Porém, seu orgulho, e até mesmo bom senso, impediam-no de assumir perante o ex-mestre de poções seu acerto.

- Eu sei quais são. – afirmou Snape, o sorriso desdenhoso firme nos lábios.

O choque tomou Harry e ele não teve como disfarçar. Draco deixou o queixo cair.

- Sa-sabe? – Harry ficou sem reação.

- Sei. – Snape sorriu ainda mais pra ficar extremamente sério – Dumbledore me contou.

- Dumbledore?! – perguntou Harry, perplexo, para depois rir.

- Do que acha graça, Potter? – perguntou Snape, irritado.

- É engraçado como realmente tudo se encaixa. – Harry ainda ria e sua voz foi carregada do mais puro sarcasmo.

Snape apertou as mãos e revirou os olhos, impaciente. Draco balançou a cabeça, cansara de ficar parado, apenas ouvindo e vendo. Olhou em volta e viu, a quase um metro de distância, sua varinha. Esticou as mãos presas para pega-la. Estava longe o suficiente para frustrá-lo.

- Dumbledore contou-me que havia seis horcruxes no total e deixou-me a missão de encontrar as que ainda não haviam sido destruídas. – Harry começou a falar, com extrema arrogância, como se explicasse que o sol ilumina – E contou a você... que havia uma a mais, totalizando sete, e ainda disse com toda a certeza quais eram os objetos? – Harry riu novamente – De fato... tudo se encaixa.

- Dumbledore contou a você o que achava necessário. – disse Snape, seco e sem sorrir – O que você devia saber era exatamente o que você sabia ao entrar nessa biblioteca: existem seis horcruxes. Agora, o fato de você saber que existem seis horcruxes não impossibilita a existência de uma sétima.

- Então por que Dumbledore não me contou? – rugiu Harry.

- Ele não te achou preparado para tal revelação. – respondeu Snape, simples – Ele disse que achava que você descobriria sozinho a existência dessa sétima horcruxe.

- Como diabos eu poderia descobrir sobre algo que não tinha nenhuma expectativa? – perguntou Harry, irritado.

Draco desviou os olhos da conversa e, silencioso, esticou as pernas presas até a varinha. As cordas de fogo queimaram-no e ele mordeu o lábio para impedir-se de gemer. Paralisou-se então e pensou frustrado.

“Seu idiota. Potter lançou-lhe o maldito Silencio, mesmo que você quisesse, Potter nunca te ouviria. Idiota!”

Ele tocou a varinha com a ponta dos pés e, do melhor jeito que pôde, trouxe-a para mais perto, onde sua mão a alcançava.

- Dumbledore pediu para que eu lhe transmitisse o seguinte: “O ‘Fogo’ será aquele que enfrentará suas próprias trevas e sempre vencerá, será aquele que sofrerá pela vida mais que nunca deixará de ser bondoso e misericordioso, será aquele que o Herdeiro Trevas escolherá e marcará como irmão e como igual.” – disse Snape.

Harry paralisou. Era a sua parte da profecia de Merlim. A parte que o definia como a alma do Herdeiro Luz. Sabia aquilo de cor e não via nenhuma explicação para a existência de uma sétima horcruxe.

- Isto não leva a nenhuma horcruxe. – contrapôs Harry, simples.

- Dumbledore me explicou o seguinte, Potter: na magia antiga, as horcruxes não eram simples objetos com fragmentos de almas, elas eram consideradas como seres “vivos”. Cada horcruxe possuía um fragmento de uma alma inteira, como é do seu conhecimento. O ponto é que as várias horcruxes de uma mesma pessoa, no caso do Riddle, eram consideradas como irmãs. Uma horcruxe era irmã da outra.

- Ainda não vejo ligação com o que você citou. – Harry realmente não via nenhuma ligação.

- Dumbledore chamou minha atenção para o último fragmento da citação: “...será aquele que o Herdeiro Trevas escolherá e marcará como irmão e como igual.”

Harry paralisou e o ar lhe faltou. Como irmão? Como igual? Aquilo só significava uma coisa. Estava tão claro aos seus olhos, mas tão claro, que só poderia ser brincadeira.

- Quer mesmo que eu acredite no que está me dizendo? – perguntou, rindo sarcástico, os olhos fixos em Snape.

Snape arqueou uma sobrancelha em um claro sinal de descaso perante a pergunta de Harry, já que tudo não poderia ficar mais claro, e total seriedade do assunto. Não era brincadeira. A verdade caiu como uma bomba atômica nos pensamentos de Harry e ele só pôde assimilar uma única frase:

- Eu sou a sétima horcruxe. – sussurrou com um fio de voz, os olhos fitando o chão.

Draco, que estava para cancelar o feitiço que Harry lhe lançara, ficou em choque, largando a varinha sobre colo e encarando Harry.

- Riddle sempre almejou possuir os objetos dos quatro fundadores. Possuía o medalhão de Slytherin e a taça de Huffle-puff. Faltavam-lhe objetos dos outros dois fundadores. Ele encontrou algo de Godric Gryffindor, mesmo sem saber: você. – Snape não sorria, tão pouco falava com sarcasmo ou desdém, era simplesmente sério e ilegível.

Harry sentiu o chão sumir sob seus pés. Ele apoiou-se à poltrona que estava ao seu lado para não perder o equilíbrio. Seus olhos deixaram de ser vermelhos flamejantes e brilharam opacos na cor original. Draco se viu livre das cordas de fogo e, só então, despertou do choque. Snape fitou os olhos verdes de Harry, os olhos que vira durante tanto tempo com Lílian.

- Potter... – chamou com a voz baixa.

Harry se sentou na poltrona que se apoiara e permaneceu com o olhar fixo no chão. Ele não conseguia pensar. Nada de claro e sucinto se formulava em sua mente.

Snape suspirou e separou as mãos, apoiando-as nos braços da poltrona, e recostando-se à poltrona. Já imaginara que aquela seria a reação do garoto. Sua própria reação fora idêntica. Não conseguira aceitar que um fragmento da alma de Tom Riddle estivesse preso à alma do filho de Lílian Potter.

- Qual é a sexta horcruxe?

Tanto Snape quanto Harry foram pegos no susto. Draco estava de pé, longe de Harry e de Snape, a varinha firme na mão.

- Malfoy... – Snape sorriu torto – havia me esquecido de você.

- Se Potter não está em condições de perguntar, eu pergunto por ele. – Draco correspondeu ao olhar de Harry por alguns instantes antes de fitar Snape – Qual é a sexta horcruxe?

- A sexta horcruxe está em Hogwarts. – começou Snape, olhando pelo canto do olho para Harry – Você a achou. – apontou para Draco.

- Eu? – Draco espantou-se.

- Lembra-se de uma conversa que tivemos, logo depois da morte de Dumbledore? – Snape viu, pelo canto do olho, Harry enrijecer.

- Sim... contei para você tudo o que havia acontecido comigo, na esperança de que me livrasse do castigo. – a voz de Draco era amargurada.

- Lembra-se, então, que me relatou alguns objetos que havia dentro da Sala Precisa. – supôs Snape, os olhos fixos em Harry.

- Sim. – Draco não entendia aonde Snape queria chegar.

- Descreveu-me quase aos risos que vira um busto de um velho bruxo deformado que usava uma peruca parda e uma espécie de tiara, correto? – Snape sorriu torto quando viu Harry arregalar os olhos.

- É... foi sim. – Draco ainda não entendia – Mas que inferno, Snape! Aonde você quer chegar? – perguntou irritado.

- Rowena Ravenclaw possuía um diadema. A prova é sua estátua da sala comunal da Corvinal, nela a fundadora usa o diadema que bate perfeitamente com a descrição que você me deu. – falou Snape, devagar e claro, tentando transmitir à Harry tudo o que o garoto pudesse absorver naquele estado.

- Então aquela tiara é o tal diadema perdido de Rowena Ravenclaw? – Draco. concluiu

- Correto. – Snape olhou Draco pela primeira vez, curioso – Como sabe que o diadema estava perdido?

- Ouvi, certa vez, aquela tal de Lovegood falando sobre o assunto com uma colega de casa. – Draco deu de ombros.

O silêncio tomou-os. Draco e Snape voltaram seus olhares sobre Harry, que ainda não conseguia pensar com clareza.

Alguns minutos se passaram até que Harry reagisse de alguma forma. Ele se encostou à poltrona e suspirou, fechando os olhos.

- Por quê? – perguntou evasivo.

- Por que o quê? – Snape não sorriu.

- Se Dumbledore confiou a você a missão de me contar tudo isto... por que o matou? – Harry permaneceu de olhos fechados.

Draco desviou os olhos de Harry e fitou Snape. Snape uniu novamente as mãos e acompanhou com o olhar Draco se sentar em um sofá.

- Dumbledore estava morrendo. – respondeu Snape, calmo – A mão murcha não era a única coisa que ganhara ao segurar o anel do Servolo. Ele tinha pouco mais de um ano de vida a partir do dia que destruíra a horcruxe.

- E você decidiu por um fim nela. – concluiu Harry, irritado e sem abrir os olhos.

- Não, Potter. Definitivamente, a última pessoa que eu gostaria de matar era Dumbledore. Ele me pediu para que o matasse. – Snape fez uma pausa, devido às reações dos jovens ali presentes.

Draco caiu do sofá, boca aberta de choque e os olhos arregalados de espanto vidrados em Snape. Harry fechou os punhos e mordeu o lábio com força.

- Dumbledore estava morrendo aos poucos e dolorosamente. Creio que uma das poucas coisas que Dumbledore temia era uma morte lenta e dolorosa, por isto me pediu para que o matasse e encerasse seu sofrimento. – Snape suspirou.

- Você ia matá-lo? – Draco se levantou do chão e sentou-se novamente no sofá – Mesmo se você-sabe-quem não tivesse ordenado isto a mim?

- Sim, eu ia. – respondeu Snape simples e completou com desdém – Não tema o Riddle pelo seu nome, Malfoy. É patético.

Draco estreitou os olhos e continuou:

- Se você já ia matar Dumbledore, por que deixou que voc... – ele parou e suspirou – por que deixou que Riddle me ordenasse isto?

- Eu era espião infiltrado entre os comensais, Malfoy. Eu devia interpretar o meu papel com perfeição. Interferir em sua missão poderia ter significado ao Riddle que eu me importava com a vida de Dumbledore, pondo minha lealdade em dúvida.

- Então me mandou para o abate para não por a sua falsa lealdade em dúvida? – perguntou Draco, enraivecido.

- Poupe-me de suas frustrações, Malfoy. – disse Snape, seco, voltando seu olhar para Harry – Potter?

Harry abriu os olhos e fitou Snape, que disfarçou o arrepio que percorreu todo o seu corpo devido a intensidade daqueles olhos verdes esmeraldas.

- Na torre... Dumbledore suplicou para que não o matasse. – disse Harry, amargurado – E mesmo assim...

- Não, Potter. – Snape balançou a cabeça negativamente – Dumbledore não suplicou pela vida, mas pela morte. Ele estava fraco e sofria mais do que aparentava. Ele estava prestes a morrer... e morreria do modo que acredito que temia: sofrendo.

Foi a vez de Harry se arrepiar com a intensidade do olhar negro de Snape e de sua fala séria. A cena do ocorrido no alto da torre repassou na mente de Harry. Ele não desviou o olhar de Snape, embora à frente de seus olhos as cenas repassassem rápidas e nítidas.

*- Flashback -*

A porta para as ameias se escancarou mais uma vez e surgiu Snape, de varinha em mão, seus olhos negros apreendendo a cena, de Dumbledore apoiado na parede aos quatro Comensais da Morte, incluindo o lobisomem enfurecido e Malfoy.

- Temos um problema, Snape – disse o corpulento Amico, cujos olhos e varinha estavam igualmente fixos em Dumbledore -, o menino não parece capaz...

Mas outra voz chamara Snape pelo nome, baixinho:

- Severo...

O som assutou Harry mais do que qualquer coisa naquela noite. Pela primeira vez, Dumbledore estava suplicando.

Snape não respondeu, adiantou-se e tirou Malfoy do caminho com um empurrão. Os três Comensais da Morte recuaram calados. Até o lobisomem pareceu se encolher.

Snape fitou Dumbledore por um momento, e havia repugnância e ódio gravados nas linhas duras do seu rosto.

- Severo... por favor...

Snape ergueu a varinha e apontou diretamente para Dumbledore.

- Avada Kedavra!

Um jorro de luz verde disparou da ponta de sua varinha e atingiu Dumbledore no meio do peito.

*- Fim do Flashback -*

Harry balançou a cabeça, jogando no passado aquelas imagens. Draco suspirou.

- O que vai acontecer agora? – perguntou o loiro.

- O Eleito decidirá. – respondeu Snape, calmo, encostando-se à poltrona e depositando as mãos sobre o braço dela.

Harry fitou o chão, as mãos fechadas em punhos apertando sua varinha e a de Snape. Processou as informações novas em sua mente.

Primeira: era uma horcruxe de Tom Riddle. Segunda: Snape parecia ser leal a Dumbledore e somente o matou porque o próprio diretor pedira, tornando-o, aparentemente, leal à Ordem e, indiretamente, à ele próprio.

Contudo, a última parte da informação ainda precisava ser comprovada.

- A quem você é leal? – perguntou, ainda olhando o chão.

- Sou leal à Dumbledore e à Ordem da Fênix. – respondeu Snape, convicto e sério.

Harry suspirou. Não foi preciso se concentrar para que pudesse distinguir a mentira da verdade nas falas de Snape. Ele sorriu sarcástico e riu baixinho. Draco encarou-o como se ele fosse louco. Snape, no entando, apenas sorriu torto.

- Vamos. – Harry se levantou e jogou para Snape a varinha dele.

- Para a Ordem? – perguntou Draco.

- Não... para Azkaban. – disse Harry, sério, e Draco ficou pálido.

Snape sorriu divertido com a palidez de Draco e se levantou.

- Acorde, criança, Potter devolveu-me a varinha. Não vai nos levar para Azkaban. – disse desdenhoso, guardando a varinha nas vestes.

Harry sorriu divertido da expressão de incredulidade e raiva de Draco.

- Vamos. – o moreno se virou e saiu.

Harry percorreu o caminho até a saída da casa com Snape e Draco a alguns metros de distância.

Muitas coisas haviam mudado com aquele encontro. Harry percebera que deveria, de alguma maneira, morrer para que Tom nunca mais retornasse. O conhecimento de ser uma horcruxe do homem que tentara lhe matar solucionava todos os mistérios que o circularam durante toda a sua vida. Estava explicado o fato de ele falar a língua das cobras e de ter uma ligação direta com a mente de Tom.

A profecia da professora Trewlaney finalmente era explicada em sua totalidade. Um extra ganho com essa informação? A correta interpretação da profecia de Merlim.

“...será aquele que o Herdeiro Trevas escolherá e marcará como irmão e como igual.”

Muitas coisa haviam mudado. Exceto uma.

Ele esperou que Snape e Draco o alcançassem do lado de fora dos terrenos da casa. Segurou no braço de Snape com firmeza e aparatou.

Exceto uma.

Severo Snape era e sempre seria, um traidor.


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