Harry Potter e o Herdeiro Luz escrita por V Giacobbo


Capítulo 23
Liberdade - Parte 1




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Capítulo 23 – Liberdade

- O que vai acontecer? – Hermione olhou a varinha curiosa.

- Não sei. – Harry sorriu amarelo – Mas... por mais estranho que isto pareça... eu sei como fazer acontecer.

- Fale então. – falou Gina, fria, olhando a varinha.

Harry suspirou triste e olhou nos olhos de Rony e de Hermione.

- Vamos unir nossas auras. – pediu ele.

- E mantê-las unidas? – perguntou Rony.

- Sim. – confirmou Harry.

Os quatro se concentraram e fecharam os olhos.

Merlim sorriu contente, eles estavam seguindo pelo caminho certo.

Cada um pôde sentir a energia do outro. Estavam mais próximos do que nunca.

As auras dançaram pela sala. Vermelho, azul, verde e amarelo compondo uma belíssima aquarela. As quatro auras se expandiram ao máximo e se uniram no centro do circulo que eles formavam, exatamente na varinha de Harry. Uma única aura branca tomou a varinha e a eles. A varinha começou a girar em pleno ar, inundada pela aura branca.

Harry soube que era o momento certo e, sem abrir os olhos, murmurou:

- Revelare Identità!

Quatro raios brancos saíram da varinha e atingiram-nos.

Os olhos se abriram.

Vermelho flamejante.

Azul-cristalino.

Verde intenso.

Amarelo-canário.

Mais uma vez, a sala foi tomada pelas quatro cores.

Cada um se viu afastando-se da sala, sem a deixar. Suas mentes saíram de seus corpos e vagaram até outros lugares.

Harry se viu voar muito alto, acima das nuvens. Viu a ilha da Inglaterra passar abaixo de si, assim como a Irlanda, conforme se dirigia ao oeste. Por alguns segundos viu apenas a imensidão azul do oceano. Pouco depois, a terra. Soube que era a América do Norte. Passou por ela, sobre as luminosas cidades dos Estados Unidos. Novamente o oceano tomou sua visão. Assustou-se ao perceber que as águas estavam se aproximando rapidamente. Só quando estava mais próximo pôde reconhecer pequenas ilhas. Aproximou-se muito mais, tudo se tornando perfeitamente visível aos seus olhos. Então parou. A terra estava próxima e ele via perfeitamente um morro baixo, mas muito largo. Em seu topo havia neve e uma grande fissura. Entendeu que era um vulcão. Contudo, não teve muito tempo para pensar em mais nada. A distância que o separava do vulcão sumiu e ele se viu dentro dele. Desceu pela fissura até chegar a um lago de magma fundido. Caiu sobre ele e fitou algo a sua frente. Um par de olhos vermelhos flamejantes o encarava. Um rugido chegou aos seus ouvidos e tudo ficou escuro.

Gina viu a Inglaterra sumir abaixo de seus pés ao rumar para o sul. França, Espanha e Portugal passaram com grande velocidade, apenas as luzes das grandes cidades eram visíveis. Logo, a África tomou sua visão e, durante um tempo significativo, permaneceu. O seu amado oceano surgiu, porém não ficou por muito tempo. Um vasto terreno branco e brilhante quase lhe cegou. Tudo era tão branco que só percebeu que estava ficando mais próximo quando estava muito perto. Uma larga e comprida fissura na superfície fazia a escuridão manchar a imensidão branca. O solo parou de se aproximar. A escuridão estava abaixo de seus pés. Olhando em volta, percebeu que era gelo. A fissura era muito profunda, pois era impossível ver seu fundo. Uma queda brusca a assustou. Entrou na fissura com velocidade, a escuridão lhe tomando os olhos, seus pés tocaram algo frio e duro. Apesar da escuridão, ela viu algo a sua frente. Um par de olhos azul-cristalinos fitava-a. O brilho dos olhos desapareceu após um forte rugido.

Rony sentiu-se estranho ao subir no céu e ver sua querida terra se distanciar. A Inglaterra ficou para trás e o oceano tomou sua visão. Rumava para o sudoeste, muito mais sul do que oeste, na verdade. Após rápidos segundos viu o continente. Pelos seus conhecimentos geográficos soube que era a América do Sul. Viu grandes extensões de terra pouco arborizada e, logo depois, uma imensidão verde. Logo, as árvores foram sumindo, até que não havia mais nenhuma. Viu a luz sendo refletida pela areia. Sua felicidade por ver a areia quase sumiu quando começou a cair. Aproximando-se do solo, se deu conta que estava em um deserto, um grande deserto. Montanhas muito altas passaram ao seu lado. Parou de descer quando estava sobre um comprido planalto, o solo estava tão próximo. O pensamento lhe fugiu quando o solo voltou a se aproximar e o seu corpo o atravessou. Não conseguia ver nada, a velocidade era muito alta para que ele se concentrasse em algo para ver. Então parou e encarou algo a sua frente. Um par de olhos verdes intensos o encarava de volta, através do solo. Tudo ficou negro, após um rugido chegar aos seus ouvidos.

Hermione alegrou-se ao sentir-se tão próxima do céu e das nuvens, um lugar que considerava como uma nova casa. Viu a Inglaterra caminhar para o oeste e a Alemanha surgir sob seus pés. Atravessou a Europa e viu dois mares, dos quais não recordava o nome. Reconheceu as partes áridas do oriente e continuou a rumar para o leste. Sobrevoou altas montanhas, seus cumes estavam tomados por neve e as nuvens criavam uma densa neblina sob elas. Havia tantas montanhas altíssimas que reconheceu como uma cordilheira. Parou no ar, logo acima de uma montanha muito mais alta que as outras. Encontrou dificuldade em respirar até se concentrar o suficiente para o ar lhe obedecer e lhe fornecer o oxigênio necessário. De repente, a montanha sob seus pés se afastou. Ela subiu muito mais alto do que já fora, as nuvens cobriam e impediam sua visão. Ultrapassou uma nuvem muito espessa e viu o brilho do universo sobre si. Abaixou o olhar e fitou algo que já a encarava. Dois olhos amarelo-canários brilharam para ela. Ela sorriu antes de ouvir um forte rugido e tudo ficar negro.

Da escuridão, surgiu a Sala de Reuniões da Ordem de Merlim. Todos piscaram repetidas vezes imaginando que a imagem uns dos outros era falsa.

A varinha de Harry parou de girar. A aura branca que os tomava sumiu e seus olhos voltaram às cores normais. Uma moleza tomou suas pernas e eles se deixaram cair nas poltronas. A varinha caiu no chão com leves batidas. Todos ofegavam e olhavam o chão, como um vazio.

Fecharam os olhos por alguns segundos. As imagens dos quatro pares de olhos e dos rugidos eram perfeitamente nítidas em suas mentes.

- Todos nós... – começou Harry.

- Sim. – Hermione confirmou com a voz fraca.

- Os dragões. – Gina respirou profundamente – Vivos.

- Vós acháveis que eles estariam mortos? – Merlim olhou-os, perplexo – Se até vós estais vivos, por que eles não?

- Você não me entendeu. – Gina fitou o quadro – Achei que seria impossível, mesmo com tudo que já vimos e vivemos, sobreviver em um local tão inóspito.

- Onde? – Rony pareceu se recuperar.

- Pólo sul. – Gina olhou-o – Desci em direção ao sul. Sempre ao sul. Não tem como ser outro lugar.

- Cada um de vós foi levado ao local que deverás ir. – explicou Merlim – Compartilhar a informação seja, talvez, algo bom.

- Fui para o oeste. – falou Harry – Passei pelo Atlântico e pelo Estados Unidos. Algumas ilhas no Pacífico, bem próximo do continente.

- Havaí. – Hermione sorriu.

- Sim. – Harry concordou com um sorriso.

- Sudoeste. – disse Rony em seguida – Pensei que as florestas da América da Sul fossem menores.

- São as maiores Rony. – falou Hermione.

- Agora eu sei. – interveio ele risonho – Fui para um deserto. Não sabia que havia deserto na América do Sul.

- Atacama, Chile. – respondeu Hermione depois de pensar um pouco – E ele não é o único deserto da América do Sul.

- E você? – perguntou Gina interessada.

- Leste. Através da Europa e da Ásia. Eu sempre soube que a Cordilheira do Himalaia era a mais alta do mundo, mas... – ela olhou-os – puxa! Como é alta!

Eles riram.

- Fui ao topo do Monte Everest, o mais alto do mundo. – informou Hermione depois de se recuperar.

- Incrível. – exclamou Rony exausto.

Os outros o encararam perplexos, era óbvio que tudo aquilo era incrível.

- Vocês não me entenderam. – Rony riu de leve – Achei incrível que cada um de nós foi levado aos lugares do planeta onde nossos elementos estão em incrível e extrema abundância. 

- Você pensou em tudo isso sozinho? – perguntou Gina rindo – Cuidado hein Hermione, acho que você vai trocar de lugar com o Rony.

Todos riram. Hermione fingiu-se ofendida, mas não aguentou e gargalhou. Pouco depois, Merlim pigarreou, silenciando-os.

- A União acaba aqui. – falou ele com um largo sorriso – Vós tendes tudo o que precisam para combater e até para vencer.

- Teremos que ir até os Dragões agora? – perguntou Gina.

- Não. Vós ireis quando achardes que o momento chegou. – Merlim ficou um pouco mais sério e completou – Contudo, aconselho-lhes a não adiar por muito tempo. A Guerra está entrando em seu período mais violento. Qualquer deslize e será o fim de centenas de vidas e do mundo.

Os sorrisos nas faces deles foram desaparecendo conforme as palavras de Merlim foram tornando-se mais sérias e preocupantes.

- Perdoem-me se minhas palavras os assustaram. – Merlim começou calmo após ver a reação deles – Não foi minha intenção.

Eles acenaram positivamente, entendendo a visão do mago.

- Tenho outro conselho. – um sorriso alegre formou-se nos lábios do homem – Aproveitem a noite e os poucos momentos de paz que terão até a próxima batalha.

Eles sorriram e se entreolharam. Harry olhou para Gina na esperança de ver aqueles olhos cor-de-mel sorrirem para ele. Tudo o que Gina fez, no entanto foi manter seu olhar fixo em Hermione.

- Creio que queiram se reunir aos seus familiares e amigos. – Merlim atraiu mais uma vez a atenção deles – Vão!

Eles sorriram e se ergueram.

- Voltaremos se precisarmos de conselhos. – informou Hermione.

- Duvido que isto aconteça. – Merlim sorriu ainda mais e fez uma longa reverência.

=-=-=

Por um instante, todos os que sentiam a União se amedrontaram, tamanha era à força daquela energia.

Cassius sentiu seu corpo paralisar e teve que lutar para se manter consciente. Estava perto demais e, mesmo possuindo uma energia branca, fora atingido com brutalidade pela energia dos quatro. O ar lhe faltou e sua mente pareceu desligar. Pareceu-lhe tanto tempo, mas fora tão rápido quanto à luz.

Owen e Sarah estremeceram e paralisaram. Manchester ficava razoavelmente distante de Liverpool, mas esta distância foi ignorada pela força da energia da União. O casal não conseguiu ver nada, ficaram completamente cegos. A sensação de ficar completamente no escuro os apavorou. Antes que pudessem chamar um pelo outro, porém, tudo já havia passado. Fora mais rápido que o pensamento.

Todos da Ordem da Fênix gritaram amedrontados. Uma forte dor de cabeça os atingiu. Suavam frio de medo. Queriam se livrar daquela dor angustiante, desejavam a paz que aproveitavam até a pouco. Aquela dor de cabeça os lembrava da Guerra que estavam vivendo, das perdas sofridas e das que ainda viriam. Gritaram por misericórdia, gritaram suplicando por aquela paz. Então, o silêncio reinou. Parte de suas súplicas fora atendidas. A dor sumiu como um piscar de olhos, mas a paz não retornou.

Na região de Windermere, um homem caiu no chão. Berrava a plenos pulmões. Uma dor dilacerante percorria seu corpo. A energia da União entrou em conflito com sua própria energia, que oscilava entre negra e branca. Cada célula em seu corpo parecia se romper. Fora a pior dor que já suportara em toda sua vida. Porém, ela passou tão rápida e inesperada quanto veio, como a claridade de um raio em meio à escuridão.

A loucura e pavor se instalaram por completo no esconderijo do Dragão Negro. O conflito entre a energia de Voldemort e a energia da União chegou ao ápice. Os comensais tentaram fugir, sair do esconderijo e aparatar para o outro lado do mundo, se possível. Os berros de Voldemort eram ensurdecedores. Ele não aguentava mais. Queria que qualquer coisa acontecesse, qualquer coisa que o livrasse daquela dor. O conflito entre as energias abalou as estruturas do esconderijo. Com a correria dos comensais, as estruturas não aguentaram e cederam. Um a um, os níveis caíram uns sobre os outros, os comensais gritavam por socorro enquanto rochas e terra caiam sobre suas cabeças. Voldemort exauriu todas as suas forças e, com um berro ainda mais alto e dolorido, aparatou. O conflito entre as energias cessou. Voldemort caiu sobre os joelhos no solo da superfície, esgotado. Abriu os olhos com muito esforço e viu um gigantesco e profundo buraco no chão. Gritos sufocados eram ouvidos. Os comensais clamavam por socorro. Pouco a pouco, a dor no corpo de Voldemort foi se extinguindo, assim como os gritos dos comensais.

=-=-=

- Cassius?!

Uma voz distante o chamava.

- Cassius?!

A voz parecia preocupada. Uma mão gelada e macia pousou sobre seu ombro.

- Você está bem?

Outra voz soou mais próxima.

- Nós fizemos isso?

Uma voz pesarosa disse mais distante.

- Você pode ajudá-lo, Gina?

Outra voz distante, mas forte, soou.

- É claro que não. Estou esgotada, como todos nós.

A voz preocupada saiu cortante e gélida.

Um silêncio se fez. Rapidamente, Cassius foi recobrando os sentidos. Piscou forte com os olhos. A imagem se tornou nítida. Gina o olhava com preocupação, ajoelhada à sua frente. Hermione estava inclinada ao lado da ruiva e o analisava com o olhar. Rony e Harry estavam logo atrás.

- Olá. – a voz de Cassius saiu normal.

- Por Merlim, você nos assustou. – comentou Hermione, endireitando-se.

- Você está bem? – Gina quis confirmar.

- Estou. – ele forçou um sorriso – E vocês?

- Igualmente. – Gina sorriu.

Rony deu um passo à frente e estendeu a mão. Cassius tomou-a e se levantou.

- Não achei que fossemos demorar tanto. – comentou Harry olhando para o céu.

As estralas brilhavam fortes e a lua crescente iluminava-os.

- Nós já conversamos entre nós. – Hermione sorriu para Cassius.

- E agora, nós queremos conversar com você. – continuou Rony a fala da namorada.

- Ainda falta algo para vós. – disse Cassius calmo – O mais importante.

- Merlim nos disse que quando o momento certo chegasse, nós saberíamos e aí sim libertaríamos os Dragões. – Harry fitou os olhos do mago.

Cassius suspirou pesaroso.

- Eu os admiro. – sua voz saiu fraca – Vocês ficaram um ano excluídos de qualquer contato físico com qualquer outro. Antes disso, ficaram mais de um ano sem ver suas famílias e amigos, presos nessa casa. – ele fez uma pausa – Digo que são tolos. – os quatro ficaram intrigados – E é por isso que vos admiro. Eu, em vosso lugar, correria para o seio de minha família e aproveitaria cada milésimo de segundo com ela. Vós sois tolos porque se preocupam com os outros. Pior! Preocupam-se comigo, um velho que não merecia sequer ter o privilégio de vos conhecer – ele fitou-os longamente – Eu disse que aceitaria vossa ajuda depois que conversassem. Agora, porém, digo que só aceitarei a ajuda prometida depois que aproveitarem à presença de suas famílias.

- Mas você é teimoso, hein! – Gina riu fraca, passando as costas da mão pelo rosto, retirando algumas lágrimas.

- Teimosia e orgulho são as marcas dos McWells. – admitiu Cassius, risonho, embora fosse perceptível a tristeza em seus olhos.

- Que horas são? – perguntou Rony, que havia abraçado Hermione durante a fala de Cassius, soltou-a, parecendo perdido no tempo.

- Vamos entrar e olhar no relógio. – Cassius dirigiu-se para a casa com os jovens logo atrás.

- Não acredito que ficamos quatro horas conversando! – Rony sorriu incrédulo após olhar o relógio.

- Há coisas mais inacreditáveis que nós acreditamos. – Hermione sorriu para ele, sua sabedoria visível em seus olhos – O que há de difícil em acreditar no passar do tempo?

Harry e Cassius sorriram com a expressão vaga de Rony.

- Foi só terminar a União que o Rony voltou a ser burro! – exclamou Gina aos risos.

Harry gargalhou alegre ao lado dela. Gina se calou e fitou Harry pela primeira vez após a explosão deste. Ele se calou também e retribuiu o olhar. Cassius saiu silenciosamente da sala. Rony foi arrastado por Hermione até o andar superior, com o pretexto de rever seus antigos quartos.

Um silêncio perturbador instalou-se na sala. Gina desviou o olhar e deu um passo a frente, em direção à saída. Harry a segurou pelo braço, calmo e gentil.

- Gina... – falou com um sussurro.

A ruiva bufou irritada.

- Eu sei que o que fiz foi errado. Não devia ter explodido daquele jeito. – ele se explicou, suplicando para que ela o olhasse – Ficamos tanto tempo afastados. Não devíamos brigar logo no primeiro dia.

- Você devia ter pensado nisso antes. – respondeu ela amargurada.

- Gina... – ele suspirou – Tente entender o meu lado. Você sabe como é carregar o peso da culpa de uma morte? – a voz dele soou sombria - Todos esses anos eu carreguei a culpa pela morte de Sirius. Fiquei calado, guardei isto comigo. Para mim, Sirius estava morto por minha culpa. E... – ele fez uma pausa – de repente... Hermione diz que Sirius está vivo. Que eu não sou culpado pela morte de ninguém. Que tudo o que eu sofri até hoje foi em vão, sem sentido.

- Harry... – Gina se virou para ele, os olhos marejados – Eu sei que você sofreu. Eu sei que a chance de Sirius estar vivo te machuca. Pensar que ele viveu todo esse tempo preso na Dimensão da Neblina também me tortura. – ela suspirou, segurando as lágrimas nos olhos – Mas isto não é motivo para brigarmos. Você sofreu com a morte de Sirius, mas todos nós também sofremos. Sofremos duplamente. Sofremos pela morte de Sirius e pelo seu próprio sofrimento. Ficar ao seu lado e te ver sofrendo sem poder fazer nada para impedir é algo horrível.

- Me perdoa... – suplicou ele com um fio de voz.

- Eu não te amaria se não te perdoasse Harry. – ela respirou fundo – Mas, você tem que entender que você não é culpado por tudo o que acontece no mundo. Você se culpa, toma o peso para si. Isto é errado. Você é apenas mais uma vítima, a maior delas. Foi você quem perdeu tudo. O mundo deveria sofrer por você e não você pelo mundo.

Harry calou-se com as palavras dela. Ela tinha o poder de mudá-lo e de curá-lo de todos os males. Ele queria falar algo, mas nada saiu pela sua boca. Fechou os olhos e apertou os lábios. Gina se aproximou e o abraçou. Abraçou-o com amor e carinho, apertando-o contra o peito. Ele não resistiu ao ato dela e desmoronou. Suas pernas cederam e ambos foram ao chão. Gina apertou ainda mais o abraço, sentindo o corpo dele tremer. As lágrimas rolaram pelo rosto dele, marcando-o. Todas as culpas e os pesos finalmente o derrubaram. Ele precisava expulsá-las de dentro de si.

Gina inclinou a cabeça e beijou-lhe os cabelos. Ele a envolveu pela cintura e a abraçou trêmulo. Pela primeira vez, ela percebeu quão frágil ele era. Ele sempre se mostrara forte e ativo. Um líder nato. Abraçou-o com mais carinho, sentindo-se culpada por não perceber que ele era tão fraco quanto qualquer outro. Todas as coisas ruins que aconteceram na vida dele machucaram-no como adagas, cortando-o e dividindo-o por dentro. Somente agora ele desmoronava. Os pedaços caindo desordenados. Somente agora a máscara e a estrutura de garoto forte e decidido perdiam completamente a força.

Pela primeira vez em toda a sua vida, Harry permitiu-se chorar. Permitiu-se lastimar por todos os fatos de sua vida. Tudo que lhe doía, tudo que lhe corroia se tornara pesado demais para suportar. Suas feridas começaram a sangrar e a doer como nunca. Sentiu-se frágil, nu no escuro. Não havia nada que lhe protegesse de suas próprias feridas, de si mesmo. Mesmo que involuntariamente, Gina havia criado todas essas reações em cadeia nele. Finalmente ele estava se libertando de todo o peso que o cobria.

Sentindo-se impotente, a única coisa que Gina pôde fazer foi abraçá-lo com força e depositar sobre ele todo o seu amor e carinho. O corpo dele estava tão quente quanto o amor que ela tinha por ele. Beijou-o novamente sobre os cabelos rebeldes. Queria dizer algo, fazer algo. Qualquer coisa! Não aguentava mais ficar sem reação. Contudo, por mais que ela quisesse agir, não conseguiu fazer nada além de abraçá-lo.

Depois de um tempo angustiante para ela, Harry soltou-a e se ergueu, ficando com o rosto na altura do dela. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. A face possuía várias e grossas linhas de lágrimas.

- Harry... – Gina desfaleceu-se diante da tristeza e da dor nos olhos dele.

Ele apertou os olhos e os lábios, virando o rosto, como se tentasse controlar o ímpeto de chorar. Ela ergueu as mãos e tocou com delicadeza o rosto dele. Virou-o para si. A expressão de dor e tristeza no rosto marcado pelas lágrimas dele suavizou. Ela tocou as linhas das lágrimas com as pontas geladas dos dedos. As linhas cintilaram congeladas. Ele sentiu cócegas e, mesmo com tanta tristeza e dor em seu coração, riu levemente. Gina sorriu. Um fino vapor se desprendeu do rosto de Harry, evaporando as linhas de lágrimas congeladas.

Gina abriu a boca com a intenção de perguntar se estava tudo bem com ele. Calou-se imediatamente. Ele estava chorando desesperado há poucos segundos, como diabos poderia estar bem?

- Obrigado, Gina. – Harry acordou-a de seus devaneios.

Ela olhou-o atônita. Por fim, sorriu.

- Eu não... – ela suspirou – Não queria te fazer chorar. Só queria... Queria que você entendesse o meu lado.

- Hei. – ele sorriu, tomando o rosto dela com as mãos quentes – Eu entendi. Não entendi somente isso... Eu entendi muitas coisas. – ele acariciou a face dela com o polegar – Eu nunca havia chorado Gina. Não como agora. Nunca havia libertado tudo o que havia em mim.

Ela abriu a boca para falar.

- Era preciso Gina. – ele cortou-a, adivinhando suas palavras – Eu precisava disso. Só agora percebo. – ele sorriu largamente, os olhos cintilando pelas lágrimas ralas que ainda restavam neles – Estou tão leve. Gina... Finalmente me sinto em paz e você me trouxe esta paz. – ele aproximou seus rostos e encostou sua testa à dela, fitando seus olhos – Prometo que nunca mais vou brigar com você. Prometo que nunca mais tomarei a culpa por coisas que estão fora do meu alcance. Prometo que acreditarei, ou pelo menos considerarei, em sua opinião e julgamento.

Gina sentiu-se tocada pelas palavras dele. Piscou longamente, sentindo uma grossa lágrima escorrer pelo rosto até o polegar dele retirá-la.

- Eu te amo. – sussurrou ela com a voz fraca.

Ele a beijou com carinho. Sentia necessidade de expressar a ela todo o amor que ela havia lhe expressado. O beijo foi calmo e doce. Seus dedos escorregaram para a nuca dela e brincaram com os fios ruivos. Gina riu por entre o beijo, pois sentia cócegas.

Um barulho veio às costas dela. Eles se separaram assustados e focalizaram a porta.

Rony estava com os braços fortes cruzados sobre o peito, sua expressão era dura, mas completamente fingida. Hermione estava ao lado dele, os olhos estavam escuros de irritação, parecia prestes a explodir.

- Ronald, seu insensível! – berrou ela.

- Hermione?! – Rony virou-se para ela, realmente espantado.

Harry e Gina riram levemente. Ele se ergueu e a ajudou na mesma tarefa.

- Por Merlim... Mal chegaram e já vão discutir?! – Cassius apareceu pela porta da cozinha, parecia incrédulo e visivelmente divertido.

- Ele é uma rocha sem sentimentos, Cassius! – Hermione apontou para Rony, olhando Cassius com determinação.

- Eu sei. – assentiu Cassius – Mas, você o ama assim mesmo, não é? – ele sorriu maroto.

Harry e Gina tamparam suas bocas com as mãos, contendo as risadas. Rony olhou para Hermione com desafio no olhar. Ela olhava para Cassius com espanto, depois, suspirou e deu de ombros.

- Você tem razão. – assumiu e, antes que qualquer um reagisse, enlaçou Rony pelo pescoço e roubou-lhe um beijo ávido.

Gina soltou um longo assobio. Harry cruzou a porta, controlando-se para não rir, e caminhou até o mago.

- Vá descansar Harry. – comentou o mago, baixinho – Preocupe-se comigo só quando for realmente necessário.

- Tudo bem. – Harry sorriu – Amanhã iremos até o Ministério.

- Encarar o Ministro? – Cassius fitou-o.

- Exato. – Gina apareceu ao lado de Harry, sorridente – Apesar de termos ficado um ano excluídos do mundo, nós sabemos de tudo.

- Inexplicável. Eu sei. – comentou Harry diante da expressão incrédula de Cassius – É por isso que sabemos de seus problemas.

Cassius forçou um sorriso. Hermione e Rony aproximaram-se.

- Perdemos alguma coisa? – perguntou Hermione como se não tivesse agarrado o namorado na frente de todos.

- Talvez a vergonha? – Gina quis brincar.

Rony ficou rubro como os cabelos. Hermione apenas mostrou a língua para a amiga.

- Vão. – Cassius fitou-os – Voltem para suas famílias e aproveitem a noite.

- Aproveitar a noite? – repetiu Rony – Eu vou é cair na minha cama e dormir até amanhã. Quero lembrar da sensação de dormir.

Todos riram alegres. Cassius sorriu em despedida. Gina se aproximou do mago e beijou-lhe o rosto.

- Até amanhã. – ela sorru.

Ele olhou-a espantada. Hermione imitou Gina, tornando ainda maior o espanto do mago. Rony deu carinhosas palmadinhas nas costas dele.

- A gente se vê então. – Rony colocou-se ao lado da namorada e tomou-lhe a mão.

Hermione e Rony se viraram e saíram pela porta da frente. Gina seguiu-os. Cassius os viu saindo, completamente absorto em pensamentos. Sobressaltou-se quando o corpo quente de Harry lhe abraçou. Nunca havia ganhado tamanha demonstração de carinho dos jovens. Apesar do espanto, correspondeu ao abraço.

- Fui chamado de o Homem de Dumbledore. – sussurrou Harry para o mago – E ainda o sou. – completou rapidamente – Só que há mais de dois anos passei a ser também um Filho de McWell.

O ar faltou para Cassius.

- Depois dos nossos desentendimentos tudo se encaixou perfeitamente. Éramos destinados a nos conhecer. Eu me sinto como seu filho. – Harry mantinha a voz firme, demonstrando convicção no que dizia – Você me ensinou tudo o que sei, completando os ensinamentos de Dumbledore. Você me fez crescer, descobrir novas fronteiras. Graças a você, hoje eu sei, que não há fronteiras que não possam ser alcançadas.

Harry apertou o abraço e soltou o mago. Um largo sorriso iluminava o rosto do moreno. Cassius não sabia o que fazer ou dizer. Harry inclinou a cabeça como uma reverência e saiu pela porta.

=-=-=

O alarme soou escandalizado.  A sombra de Molly Weasley se desenhou na janela da sala e logo depois sumiu.

Os quatro jovens caminharam na direção da Toca tranquilamente. A alguns metros da porta, Harry os parou:

- Escutem... – e recebeu os olhares – Eu estava pensando... – coçou a nuca – Por que não vamos ao Ministério agora?

- Qual é cara... – exclamou Rony exasperado – Estou morrendo de fome! Você nem tem ideia de quanto.

- Ronald! – Hermione deu um soco no braço dele.

- O que foi?! – Rony massageou o lugar do golpe, espantado pela força da namorada.

- É que eu quero ir ao Departamento de Mistérios o quanto antes. – explicou Harry, já imaginava qualquer atitude parecida do amigo.

- Sirius não vai fugir. – Rony deixou escapar com um sussurro irritado, fitando Hermione.

- É exatamente por isso que Harry quer ir até lá! – falou Gina, furiosa com o irmão – Tenha dó ou um pouco de sentimentos Rony!

Só então Rony percebeu o que tinha deixado escapar. Harry possuía uma expressão indecifrável.

- Ah... – Rony corou violentamente – Desculpa. – pediu sincero.

- Tudo bem Rony. – Harry deu uma palmada nas costas do ruivo – Eu só queria livrá-lo logo.

- Eu também quero tirar o Sirius daquele lugar horrível. – Hermione começou – Mas nem querendo, nós podemos. Estamos zerados, esqueceram?

Harry suspirou triste, lembrando-se do fato. Gina acariciou-o nos cabelos e Rony deu-lhe palmadas nas costas.

- Amanhã cedo nós vamos até lá. – disse o ruivo confortando-o – Assim que o sol nascer.

Harry forçou um sorriso.

- Não vão entrar não?! – Fred e Jorge gritaram da porta.

Os quatro anularam o caminho que os separavam da casa e entraram no ambiente quente e reconfortante.

- Tudo bem com vocês? – Molly abraçou cada um mais uma vez, demorando-se em Gina novamente.

- Sim. Por quê? – respondeu-lhe a ruiva.

- Ficamos preocupados com vocês. – Arthur fitava-os sentado na cadeira à mesa.

- Por que pai... – Rony sentou-se ao lado dele – Estávamos apenas conversando.

- Mas vocês sentiram? – Fred e Jorge tomaram seus lugares à mesa.

- Sentimos o quê? – questionou Hermione.

- Primeiro... Uma paz maravilhosa. – Molly disse com um largo sorriso – E depois... Uma forte dor de cabeça.

- Todos nós sentimos. – Carlinhos, que estava sentado do outro lado do pai, acenou com a cabeça.

- Perguntei ao Remo... E todos da Ordem sentiram o mesmo. – Arthur pareceu intrigado.

O quarteto se encarou.

- Fomos nós? – perguntou Gina ainda abraçada à mãe.

- Você viu o que fizemos ao Cassius. – Harry sentou-se ao lado dos gêmeos – Não me assustaria em saber que fizemos isso com o pessoal da Ordem.

- Vocês fizeram isso conosco? – Carlinhos surpreendeu-se.

Os quatro apenas concordaram com a cabeça.

- Por Merlim! – exclamou Fred – Depois do que o Carlinhos nos contou sobre vocês...

- Não duvidamos de mais nada. – Jorge completou o irmão.

- Agora escutem. – Molly soltou a filha e a encarou – Subam e tomem seus banhos. Vamos para a Ordem.

- Mas vocês não estão morando aqui em casa normalmente? – perguntou Rony.

- Sim. – respondeu Arthur – Mas Remo também disse, pela carta, que haveria uma pequena comemoração.

- Para comemorar a vitória em Hogsmeade. – Carlinhos sorriu.

- E o retorno de vocês. – Fred piscou o olho para Harry.

- Mas é claro que isto ficou óbvio. – Jorge arrancou risadas de todos.

O quarteto se encarou mais uma vez.

“Então foi isto que Cassius quis dizer.” – Rony pensou.

“Provavelmente.” – opinou Hermione.

“Ele deve ter sido convidado, por isso sabia. Aposto que Owen e Sarah também.” – Gina sorriu.

“E é isto que me faz pensar que nenhum deles irá.” – Harry encerrou o assunto.

- Que horas voltaremos? – perguntou Rony ao pai, imaginando que horas cairia na cama.

- Vamos ficar por lá querido. – respondeu Molly.

- Vou tomar banho então. – Gina aproximou-se de Harry e lhe deu um selinho.

- Vou contigo. – Hermione acompanhou a amiga até o quarto, deixando Rony desapontado por não ganhar um beijo como Harry.

Enquanto os jovens tomavam banho e se arrumavam, os outros Weasleys se recolheram aos seus quartos para se trocarem. Foram os primeiros a se arrumar e esperaram os jovens na sala.

Harry e Rony desceram até a sala e receberam assobios dos gêmeos. Ambos estavam muito bem arrumados. As calças jeans escuras e o sobretudo preto deixava-os sérios e sedutores. Harry vestia uma camisa branca e Rony uma vermelha com um grande leão dourado, o ruivo dizia ser uma homenagem à Grifinória.

Gina e Hermione não tardaram a descer. Estavam vestindo roupas simples e isto as deixava mais deslumbrantes do que nunca. Harry e Rony ficaram pasmos, nunca haviam visto-as tão lindas. A ruiva usava um jeans azul claro e uma regata branca e simples, o cabelo preso em um alto rabo-de-cavalo, a franja caindo-lhe nos olhos. A morena vestia um jeans cinza e um moletom preto, os cabelos soltos em suas costas.

Todos aparataram para a Sede da Ordem da Fênix, onde muita gente os aguardava.

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A festa e os acontecimentos da noite são narrados no Especial Fogo e Gelo. Para ler o especial clique no link a seguir:

http://www.fanfiction.com.br/historia/128243/Fogo_E_Gelo

Aviso: Classificação 18 anos - Hentai.


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