Imperfeito escrita por Lyn Black


Capítulo 10
Imersão


Notas iniciais do capítulo

Hey Impefeit@s, tudo bem?
Aqui jaz o décimo capítulo de Imperfeito. Eu sei que eu demoro para postar, mas vocês poderiam ao menos comentarem, darem algum sinal de que estão lendo.
De toda forma, adorei escrever esse capítulo ♥
Aproveito, também, para mandar um abraço gigante a SakuraHime que deixou nove comentários gigantes cheios de amor ♥
Espero que os erros ortográficos tenham passado longe,
Sem mais delongas,
Boa Leitura!



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Imersão

 

Ela agachou-se, tentando achar algum equilíbrio no irregular solo terroso. Por um momento, achou que ia perder o equilíbrio de vez e que rolaria para dentro do Lago Negro em instantes. Sua mão em reflexo segurou-se na terra, quase que inutilmente tentando escorar-se nos capins aparados. As unhas cortadas foram afundadas ao chão, um momento de desespero, coração acelerado. Suas bochechas estavam assim tingidas de um tom rubro e ela respirava aceleradamente, temendo uma pequena queda. Por sorte, conseguiu manter-se naquela posição até achar um modo não tão desconfortável de se apoiar na beirada do Lago.

Inclinou-se sobre a água, vendo o seu reflexo distorcido pelas cores e ondulações. Esticou a mão e com a ponta dos dedos sentiu a fria temperatura invadir seu corpo por aquele caminho, logo como se fios de gelo criassem raízes na palma de sua mão. Aquele estava sendo um dia especialmente frio, com rajadas de vento cortantes que faziam seus cabelos irem de um lado para o outro irrefreavelmente. Porém, mesmo o céu fechado e uma possível chuva torrencial não eram suficientes para convence-la de que aquela não era uma boa hora pra ficar a esmo pelos campos de Hogwarts, admirando o Grande Lago. Quero dizer, isso ela sabia, mas o cerne da questão era fazê-la considerar não fazer o que desejava.

Lilian tinha certeza de que ninguém a encontraria tão cedo. A extensão do lago era enorme, e ela poderia estar em qualquer ponto ao redor dele, isso se passasse na cabeça de alguém que ela estava lá, sentada vendo o tempo passar e finalmente encontrando um refugio do tédio que lhe corroía o corpo em forma de um calor abafado nem um pouco condizente com a temperatura ao seu redor.

Enquanto vagueava pelas reentrâncias de sua mente, perdida em coisas que não queria dividir com outrem, ela viu as árvores da floresta balançando seus braços, numa dança complicada com, ao fundo, o assobio do vento e da chaleira se fazendo de tecido para uma apresentação, sejamos francos, para lá de dramática. De quando em quando, uns calafrios perpassaram seu corpo, causando-lhe sobressaltos. Ela tinha uns desses, às vezes.

Seus olhos começaram a tremer, e um bocejo longo saiu de sua boca. Esticou os braços tentando afastar aquele torpor. Enquanto seus olhos tremiam de sono, viu algo que fez com que uma descarga de adrenalina tomasse conta de seu corpo. Em um sobressalto levantou-se, os olhos arregalados. Estava tencionada e desconfiada com os acontecimentos recentes. Entretanto, Lily não estava vendo coisas.

A plumagem do gato era indistinguível. Dizem que os Potter vão até as confusões, ou melhor, que as confusões vão até os Potter. Lily poderia simplesmente dar meia-volta e ignorar que o mesmo que lhe causara uma estranha curiosidade durante o interrogatório estava seguindo sorrateiro até a Floresta Proibida. Aquela seria apenas uma coincidência infeliz, depois esquecida e finalmente apagada de sua memória, mas a slytherin não coloca muita fé nesses acasos. Ela trabalha com probabilidades.

Lilian olhou para trás, onde o imponente castelo descansava, como se vazio, mas seu olhar foi breve. Juntando o casaco mais ao corpo de forma a se proteger do vento cortante, andou lentamente até onde o gato estava quase como se paralisado por um Petrificus Totalus muito bem executado.

Ela pisava devagar, receosa de assustá-lo. Quando não conseguiu evitar e pisou em um galho, fazendo um agudo barulho, prendeu a respiração. O ser virou-se e a encarou nos olhos. Ela manteve a troca de olhares, presa por um magnetismo inexplicável. Após dar um leve miado, ele tornou a avançar, de quando em quando tornando a olhar para ela. Sempre que ela reduzia a marcha, o Nebelung parava um pouco e olhava para trás, buscando-a.

Ela, ao longo daqueles seis anos, aprendera a não ser impulsiva. Dominar suas ações e pensar antes de falar e de agir eram artes. Porém, nada daquilo que ela havia cultivado ao longo dos anos valeu enquanto avançava cada vez mais hipnotizada e determinada a segui-lo. Ele não parecia nunca atingir o seu objetivo, e logo ela estava diante da orla sombria da Floresta Proibida.

Ela olhou de relance para o que parecia ser o castelo em sua torpe visão, mas um forte miado desviou sua atenção. Lily estava indo para o mundo da imaginação, numa comparação poderíamos assim dizer. Embrenhando-se em meio a uma floresta milenar, até aqueles que a desconheciam diriam que ela não estava sã.

Ora, mas Luna Potter apenas sorriria zombeteira ao extremo diante destas afirmações.

O que seria mesmo essa tal de sanidade?

Meio de controle. E só.

Ela não estava interessada.

 

—-----

 

Naquele ponto, ela se via completamente rodeada por uma espessa névoa. A sombra do gato ainda a assombrava, seu miado ferino não permitindo que um pouco de bom senso ganhasse a luta que era travada em sua mente. Seus sapatos estavam encharcados, mas seus pés ainda estavam intactos graças às botas impermeáveis. O chão estava úmido, pois chovera na madrugada. Os grandes troncos, com suas densas copas, impediam a entrada de muita luz.

Nos primeiros dez minutos o gato seguira um caminho aparentemente limpo para a passagem. Entretanto, ele logo desviara da trilha e ela não viu outra opção a não ser segui-lo. Ela tinha a impressão de que ele queria mostrar algo a ela. Com o passar do tempo, Lilian estava enveredando-se para cada vez mais ao fundo da floresta. Aquela era a Floresta Proibida, estava no nome bem claro que ela não podia e nem devia ir lá. Seres ancestrais habitavam aquele terreno. Os limites de Hogwarts estendem-se bem além do que se pensa, cobrindo toda uma gigante área de floresta mágica, protegida por poderosos feitiços.

Um guincho reverberou por entre as árvores. Estava tudo quieto demais, pensou. Lilian parou no lugar, levemente assustada. Ela sentiu seus pelos eriçados, e um arrepio passou pela sua espinha. Apressada tirou a varinha das roupas. Apontou-a ao esmo, dando uma volta ao redor de si mesma, temendo alguma ameaça. Ela começou a recitar baixo todos os feitiços de batalha que lembrava e que poderiam ser úteis.

Bombarda, Aranha Exumai, Estupefaça, Impedimenta, Protego, Glacius, Filipendo, Conjunctivitis. As palavras se formavam em sua mente, e seu estado de alerta ia ao máximo à medida que escutava passos. O barulho de corpos se arrastando através da floresta e a ausência do gato a deixaram de certa forma temerosa, mas sem opções. Triste poderia ser seu fim, pensou, e sem nenhum espectador para contar a sua história.

Lumos Maxima.— o feitiço que não passou de um sussurro cumpriu seu efeito. Por alguns momentos teve um vislumbre mais claro do que a rodeava. As sombras se alongaram, e os barulhos aumentaram. Ela poderia chamar atenção mais do que precisava, e deixar de passar despercebida, mas o cheiro que os bruxos têm é facilmente reconhecível pela maioria dos animais mágicos.

Vasculhou a região. Ela não era como o seu pai, que acompanhado de dois leais amigos conseguia se safar de perigos mortais. Ela não cresceu como uma menina destinada à guerra tendo que desde os onze anos enfrentar bruxos das trevas. Ela nunca foi preparada para reagir diante daquelas situações.  Ela nunca foi testada. Ela não era uma daquelas corajosas pessoas que empunham a varinha sem pensar duas vezes. Ela não servia para aquele tipo de jornada, daquelas feitas para quem consegue que o medo dentro de si seja derrubado por uma valentia sem igual. Lily no fundo se achava um tanto covarde. Ela sempre colocava em primeiro lugar a sua pele e não arriscaria sua vida assim. Ela não fora para a Gryffindor simplesmente por não ir. Ela era solitária, andarilha, não tinha quem cobrisse seus flancos esquerdo e direito.

Finalmente, Lily sentiu na pele como sempre achara que seria. Ela estava com medo, e a realidade de estar perdida na Floresta Proibida caiu em seus ombros. Ela devia ter imaginado aquele maldito gato, isso sim. Agora era tarde demais para pensar duas vezes. 

Aparecium. – ela falou em tom firme. Nunca se sabe em que forma seus piores pesadelos aparecerão. 

O feitiço pareceu inútil. Lilian suspirou, mas levantou a cabeça, e com um encanto amarrou os cabelos. Os barulhos ficaram cada vez mais altos e uma luz arroxeada surgiu por detrás dos troncos. Lilian Luna Potter poderia não ser parecida com Harry Potter. E ela não julgava necessitar daquela impulsividade e coragem, de verdade. Seus olhos se encheram de uma determinação palpável. Ela era ambiciosa, queria chegar às estrelas. E ela ia, ah sim, ela iria transpassar qualquer tipo de barreira. E para isso precisaria ficar viva.

Se assim era necessário, ela não pensaria duas vezes antes de fazer o que fosse para se manter intacta. A ambição e a determinação moviam céus e montanhas. E ela as tinha, sem dúvida alguma. 

 

—------

 

Debilito.

A voz ecoou em sua mente, mas foi abafada por uma pontada aguda. Lilian sentiu as folhas no chão e ao tentar abrir os olhos, sentiu uma dor excruciante em sua cabeça. Gemeu levemente, e forçou-os a se abrirem. Sua visão era turva. Aos poucos, as imagens ao seu redor começaram a se focalizar. A primeira coisa que percebeu foi a pessoa que se encontrava sobre ela, as mãos apoiadas e exercendo uma pressão suave em sua testa. Ao sentir controle sob o seu corpo, afastou-se, e rolou pelo chão, tentando se levantar apesar da tonteira.

Quem estava sobre si ergueu-se. A mulher de longos e volumosos cabelos negros a olhou com certo mistério no olhar. O rosto apresentava seriedade e os olhos eram tão escuros quanto a noite. As roupas esvoaçantes faziam-lhe o conjunto. Lilian recuou. Conheci-a de algum lugar, quem sabe de algum de seus insanos sonhos.

— Quem é você? – ela fez uma pausa e a descrença assolou seu olhar. – O que é você?

A aparente mulher suspirou e ergueu o queixo.

— Vocês, bruxos, nos chamam de seres mágicos. Nós fazemos parte da essência da magia e somos filhos próprios da mesma, e é isso que sou. Quanto a quem eu sou já fui chamada de Virna Morgan. Agora, não possuo mais nome.

Lily trocou o peso de um pé para o outro e segurou a varinha que estava em seu bolso protetoralmente. A outra seguiu suas mãos com os olhos e riu baixo das atitudes da jovem, não debochada, mas interessada.

— Você não parece um ser mágico.

A mulher agachou-se e Lily notou que ela recolhia uma vasilha com ervas no chão.

— As imagens idealizadas para certos conceitos nem sempre condizem com a realidade. – a mulher levantou o olhar e Lily com um pouco de dificuldade o sustentou. – Mas você sabe disso, Lilian, mesmo que no fundo.

A Potter se afastou um pouco. Por alguns instantes observou a clareira onde se encontrava, iluminada por uma luz esverdeada. Levantou o rosto, curiosa.

— Como sabe meu nome?

Virna Morgan sorriu com um tanto de ironia.

— As árvores sussurram entre si bastante. Ás vezes é impossível não entreouvir algo, elas falam alto demais.

Pareceu que um vendaval havia tomado conta de onde elas se encontravam. Os galhos se balançaram violentamente e Lily teve a impressão de que os troncos se moviam. Só que não havia realmente vento ali. Ela notou que a mulher levantou as mãos em um gesto e fechou os olhos enquanto murmurava algo indecifrável. Ela inspirou e Lily percebeu uma sombra translúcida se formando nas costas dela. Asas. Colocou a mão na boca, impressionada.

— Já que insiste tanto, minha querida, agora tem a sua resposta. Vocês me chamam de fada. Do latim fatum, que significa fado, destino. Uma crença de que intervimos de forma mágica nele. Ao menos quando se acreditava que não estávamos extintas, é claro.

A fada recolheu as asas e andou apressadamente até ela. Estática, Lilian deixou-a colocar a mão em sua testa. Sorriu, genuína.

— Você está recuperada, a magia já não apresenta nenhum rastro em você. Acho melhor que você volte para o castelo, em breve eles darão pela sua falta. Uma jovem humana não devia ficar rondando pela floresta se não a conhece.

Lilian assentiu, incomodada.

— Você me encontrou? Eu apenas me lembro de uma explosão me empurrando para longe quando me aproximei daquela luz arroxeada e recitei um feitiço. 

A mulher, fada, ou o que quer que fosse, tremeluziu levemente, como se Lilian estivesse num sonho.

— Ora, Luna, de onde você acha que a explosão veio? – a mulher sorriu levemente enquanto fazia um floreio com as mãos. Uma fumaça arroxeada pareceu dar continuidade ao seu corpo. – Fui eu quem a produziu, achei que soubesse. Lamento, confundi a vibração da sua magia com a de outros seres. Na floresta, cada dia é uma batalha.

Lilian anuiu, ainda parecendo desconfiada. Virou-se, com o intuito de deixar a clareira, quando sentiu o ar se movimentar e tão logo a mão de Virna estava em seu ombro. Olhou por sobre ele. A fada percebeu que tinha atenção da feiticeira.

— Espere. Tenho algo a lhe dizer. Embora não trace o destino de ninguém, o céu de Hogwarts é extremamente limpo e eu tenho lido-o muito. Cuidado com as mãos que em ouro tornam tudo que tocam. Lembre-se disso, Lilian.

Lily girou o corpo totalmente, ficando de frente para Morgan.

— Quê? O que você quer dizer com isso?

— Nada quero dizer, criança, e sim as estrelas. Não esque...

A mulher fechou os olhos e Lily viu toda a imagem se desfazer em mil pedaços, a voz ainda a ecoar em sua mente. A caricatura de Virna Morgan ainda parecia nítida em sua mente, mas rapidamente embarcou num breu que foi instantaneamente substituído por um clarão.

Ela despertou como se emergisse do mar com força. Retomados seus sentidos, percebeu que se encontrava apoiada num tronco da Floresta Negra e seu joelho ralado ardia um pouco. Ela via as marcas no chão do pequeno e curto embate que travara com um escorpião gigante. A luz roxa a atraiu até onde ele estava, não é mesmo? Algumas lembranças começaram a surgir, preenchendo lacunas que ela agora via que existiam. Na sua frente, o gato a observava. Quando abriu os olhos, ele se aproximou e, com um pouco de dificuldade ela o acompanhou até a orla da floresta, onde tornou a desaparecer.

O quanto daquilo era realidade e o quanto era fantasia? Ela não estaria apenas imersa num sonho? Ao observar que a tempestade começava a cair, Lily correu em direção ao castelo. Presa na floresta achara que muito mais do que duas horas haviam se passado. Mas tudo, inclusive o tempo, é relativo. E naquele mundo mágico, parecia não haver irrealidades. Tudo era extremamente excêntrico e estranho.

 

—------

 

Lilian correu para dentro do castelo e parou na varanda. Seus cabelos e sua roupa estavam molhados, mas logo fez um feitiço para que secassem, assim como um para curar seu joelho. Era melhor ir para o salão comunal e descansar um pouco. Abriu a porta que rangeu alto. Preocupada em evitar questionamentos sobre o que fazia fora do castelo em meio à eminência de uma chuva torrencial, resolveu pegar o caminho mais longo para chegar às masmorras e depois ao salão.

Estremeceu. Um raio cortara o céu bem na sua frente, e o estrondo o acompanhou tão rapidamente que provavelmente ele caíra por perto.  Andou em passadas calmas e espaçadas, observando os quadros. Sorriu e acenou para Lady Bianca Les Falaises que observava um céu estrelado pela moldura.

— Boa-tarde, Lilian. Como vais? – a mulher sorriu-lhe e se aproximou da borda da pintura.

A ruiva de ombros e balançou a cabeça negativamente.

— Confusa, Bianca. Somos bruxas, mas às vezes tudo parece fantasioso demais.

A morena sorriu-lhe com compaixão.

— Eu sei querida. Vós sois tão madura para a idade... Passai mais por aqui, sim? 

Lily sorriu verdadeiramente.

— Passarei, Lady Bianca. Até outro dia.

A senhora balançou a cabeça e acenou enquanto ela se afastava.

Ela virou por mais alguns corredores, e cumprimentou o Barão Sangrento de forma contida. Continuou seguindo seu caminho e estranhou a falta de iluminação pelo castelo. Apenas uma luz embranquecida lhes dava luz nos corredores com janelas. As tochas nem acesas estavam. Cruzou com alguns alunos mais novos, e retribuiu o aceno desanimado de Provence Nott.

Quando mais seguia pelos complicados corredores das masmorras, mas frio sentia. De repente, escutou um grito, seguido de um barulho que parecia choro. Orientando-se dos barulhos, chegou até uma porta que estava trancada por um Colloportus.

Alohomora! – a tranca foi destrancada, e Lily segurou a maçaneta. Ela queria mesmo ir lá? Vejam bem, espectadores, ela pensava que alguém poderia estar precisando de ajuda, mas também achava que talvez quem fosse desejasse um pouco de espaço. Hesitou, é verdade, mas empurrou devagarinho a porta. Ao escutar uma voz que não lhe era estranha, abriu de vez a porta. Logo foi notada.

— Saia daqui. – os olhos vermelhos faziam um conjunto meramente triste com o rosto marcado por muitas lágrimas. A garota estava encolhida num canto. Lilian entrou rapidamente, fechou a porta e lançou um abaffiato.

Correu até onde ela estava e se ajoelhou. Aisha segurou as lágrimas. Lilian suspirou e puxou-a com uma mão. A Nott balançou a cabeça e recolheu-se diante do toque. Lilian viu que uma carta estava jogada no chão.

Ela esticou a mão e pegou a carta já aberta. Aisha tinha o olhar baixo e chorava em silêncio. Lilian analisou o papel amarelado e a letra elegante. Correu os olhos pela carta, tentando descobrir o que ocorrera. “Infelizmente eu não pude ir até aí para te falar pessoalmente, minha querida. O enterro será realizado amanhã às dez horas, seu pai está voltando do Congresso em Berlim, já falei com a diretora, você sairá com uma chave de portal às 9 horas. A sua tia não gostaria que você se entristecesse, Aisha. Eu sei que é difícil, mas vamos superar essa perda...”. Lilian olhou para Aisha, penalizada. Esticou a mão novamente e dessa vez o toque não foi repelido. Aproximou-se da menina, que logo se apoiou nela. Ficaram lá por mais alguns minutos.

— Que tal limpar esse rosto, Aisha? – conjurou um lenço e o entregou para a colega, que secou os olhos. A garota suspirou. – Vamos?

— Eu vou daqui a pouco, okay? – a voz ainda estava embargada. – Se não as pessoas vão me encher de perguntas e... – ela retornou a chorar baixo, mas após alguns minutos parou.

Lilian anuiu e caminhou até a porta.

— Eu sei que não é hora para isso, Aisha, mas você pode contar comigo.

A menina sorriu fraco.

— Achei que me detestasse. Eu sei que fiz besteiras, mas me arrependo tanto...

Lilian abriu um pequeno sorriso.

— Claro. Acalme-se. Sua tia não gostaria de te ver triste.

Aisha sorriu irônica.

— Como você sabe?

Lilian revirou os olhos.

— Você sabe que sim.

Lily abriu a porta e saiu por ela. Andou um pouco até chegar ao salão, refletindo se já não estava na hora de abrir um pouco de espaço a Aisha. Deu de ombros. Tentaria conciliar o emocional com o racional. Ninguém é perfeito, e a garota estava tentando mudar.

Quando estava chegando à entrada da casa da Slytherin, percebeu que um auror estava parado no corredor. Aproximou-se.

— Algum problema? – o auror virou-se para ela.

— Olá. Você pode chamar a minha irmã, Caledônia Rosier? Eu era da Ravenclaw, não posso entrar no seu salão comunal. – Lily reconheceu as feições de Eric Rosier.  

Ela balançou a cabeça em concordância, mas se interrompeu quando começou a andar até a entrada. Virou-se, avançou um pouco, sorriu de canto e estendeu a mão.

— Sou Lilian Potter. – o homem arqueou uma das sobrancelhas.

— Eu sei. Auror Rosier, a propósito. Você poderia não se demorar? Eu estou com um pouco de pressa.

Ela assentiu e estranhou o jeito que ele a olhava, levemente inquieto. Murmurou a senha e entrou no salão e procurou pela setimanista. Caledônia não estava. Informou-o.

— Obrigada, de qualquer forma. Ah, você saberia onde eu poderia encontrá-la?

— Talvez na biblioteca. – ela sugeriu incerta.

Ele assentiu e estava prestes a dar meia-volta.

— Eu sei que você tem que manter sigilo, mas eu era amiga de Alexia. Como as coisas estão?

Eric coçou a cabeça, ponderando.

— Eu não posso lhe falar nada, Srta. Potter.  – ela já ia interrompê-lo e insistir mais um pouco. – Mas, - ele fez uma breve pausa. - eu entendo sua preocupação com Deschanel. Acredito que ela ainda se mantem viva, mas quanto a quem fez o que fez, pouco sabemos. E, infelizmente, a diretora não quer nos deixar realizar os procedimentos fora da escola. Nem mesmo os jornais estão comentando sobre.

— Entendo. – ela balançou a cabeça. – Obrigada, Rosier.

Ele sorriu-lhe.

— Não sei do que está falando, Potter. Boa-noite. – piscou e seguiu a direção contrária.

Ela desejou-lhe uma boa noite e voltou-se para o seu salão comunal.

 

—----

 

Lilian estava esparramada na cama enquanto fazia um rascunho do seu ensaio sobre a poção da Bela Adormecida, quando Michelle entrou.

— Hey, a Mcgonnagal me pediu pra te chamar. – falou enquanto jogava a sua bolsa na sua cama. Lilian não tirou os olhos do texto.

— Agora?

— Sim. – Michelle tirou a pesada capa da escola. – Está um temporal lá fora, sorte que estamos bem embaixo da terra. – riu.

— O que ela quer? – perguntou concentrada em descrever os efeitos da folha de beladona na poção e em como eles poderiam ser drasticamente minimizados.

— Não faço a menor ideia. – deu de ombros.

Lilian se levantou, vestiu os sapatos, colocou um casaco grosso e cachecol.

— Para que tudo isso, Lily? – Parkinson apontou para as roupas da amiga.

— Da última vez você ficou uma semana de cama e perdeu matéria loucamente. – a Fay revirou os olhos e acenou para Lily enquanto a menina saia.

Ela atravessou toda a Ala Feminina. Buscou Aisha com os olhos e a encontrou-a escutando os dramas de Blu. Cumprimentou-a discretamente, e admirou-se pela tentativa dela própria em se distrair.   

Quando chegou ao nível da terra apertou o casaco contra si. As lareiras não seriam suficientes para o forte vento. Olhou a distante floresta pela janela envidraçada e aceitou a realidade, aquilo não fora uma alucinação. Lembrou-se de uma frase que o pai disse-lhe uma vez.

 

Naturalmente está acontecendo dentro da sua cabeça, mas por que é que isto deveria significar que não é verdadeiro?

 

Suspirou com a sua conclusão, pensando no aviso de Virna Morgan. Imersa em conjecturas sobre o que a sua vida havia se tornado, caminhou até as gárgulas. Percebeu, já lá, que não sabia a senha. Quem sabe a mulher que estava saindo pela porta não pudesse lhe ajudar. Quem sabe, Raven Deschanel se lembrasse de Lilian Luna Potter. E contasse um pouco do que os outros se negavam a lhe revelar.


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Notas finais do capítulo

Oiiie, então, o que acharam?
Dividam comigo as suas impressões naquele espaço abaixo ;)
Bjnhs
Lyn



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