Meus parentes me obrigaram a voltar para casa.

Queria acompanhar a cirurgia de Sakura, mas eles acharam melhor não, então fui proibido de permanecer lá. E de retornar lá.

Eles deram várias desculpas para essa ação, mas a verdade é que eu pareço ser o único que está acreditando veemente que Sakura vai melhorar e vamos seguir nossas vidas como se nada disso tivesse acontecido, uma pedrinha no caminho que com muita luta conseguimos jogar para o lado. Eu sei que eles querem que eu siga minha vida, mas não é porque acham que eu preciso me adaptar a minha vida, e que Sakura fará o mesmo quando acordar. Eles querem que eu volte sem ela, cumpra minha rotina, porque eles acreditam que ela vai morrer e será menos doloroso se eu já estiver adaptado a vida sem ela.

Itachi disse que ficaria acompanhando e quando ela saísse de cirurgia ele me avisaria, e depois disso ele passaria lá todos os dias e me daria notícias.

Quando eu achei que ela iria melhorar isso acontece. Ela estava muito bem, como de uma hora para a outra ela teve um edema pulmonar? Não é possível, mas na realidade eu sei que é. Só queria poder ver ela e ficar ao lado dela até que ela acorde.

Faz 8 horas que ela está em cirurgia. Nada de noticias, o dia está amanhecendo e vou ter que ir trabalhar, o médico afirmou que estou em condições e não preciso de um atestado para ficar em casa, qual foi a frase que ele usou? Ah, "remoendo seus pensamentos e não ocupando sua cabeça". Eu iria ocupar minha cabeça com a Sakura enquanto eu ficava remoendo meus pensamentos por uma notícia qualquer, no momento se alguém ligar dizendo: "olha, ela está deitada em uma cama de hospital com o semblante calmo, mas ainda desacordada" iria me tranquilizar muito, todas as noticias que recebo são: "ELES ESTÃO FAZENDO O POSSÍVEL!" ou "Estamos rezando por ela, disseram que é uma cirurgia delicada, mas vamos torcer para que dê tudo certo".

Faz 9 horas que ela está em cirurgia, Itachi me ligou dizendo que os médicos deram a notícia de que ela foi estabilizada, dentro de uma hora eles irão conseguir encerrar a cirurgia, isso me acalmou. Disseram que agora as chances de ela acordar são menores, e à cada dia que passa as chances só diminuem, acho que isso não é nada calmante. Ele, me prometeu que assim que tivesse mais notícias me ligava novamente. O resto das pessoas fez as ligações "animadoras" de sempre. Daqui alguns minutos eu tenho que "acordar", mas eu não fechei os olhos uma vez essa noite, me trocar e me preparar para ir para o trabalho, ver várias pessoas me olhando de canto e com pena, terei vontade de mandá-las irem cuidar de suas vidas, mas vou me conter. Terei que voltar a suposta rotina "normal", mas sem a principal coisa que fazia dela normal. Sakura.

Faz 9 horas e 30 minutos que ela está em cirurgia, nenhuma notícia nova relevante, a última notícia que Itachi me deu foi de que ela foi estabilizada e logo a cirurgia acabaria. Tenho que ir trabalhar, pensei seriamente em inventar alguma doença para ficar em casa recebendo notícias, mas provavelmente meus parentes irão me condenar por isso. Eles não admitiram, mas eu vejo nos olhos deles que à cada complicação pela qual Sakura passa, menos esperança eles têm.

Me levantei, pensei em tomar café, mas a vontade passou assim que eu lembrei de ver Sakura acordada todo dia mais cedo do que precisava só para me desejar um bom dia e fazer meu café.

Entrei no banho e esperei muito para que a água levasse a preocupação. Mas havia uma parte de mim que queria se preocupar com Sakura, eu já não sabia exatamente o que fazer. Talvez ir ao trabalho realizar uma ou outra coisa fosse uma forma de ocupar minha cabeça.

Me troquei tentando não olhar para a parte do guarda roupas da Sakura. Assim que acabei me dirigi ao carro evitando ao máximo ter contato com as pessoas.

Naruto, que se tornou um grande companheiro que eu conheci no trabalho, apareceu na minha frente tentando conversar comigo e me animar. Eu achei legal da parte dele, mas eu não estava com ânimo, talvez fosse justo eu sofrer, a culpa é minha mesmo.

Antes de dispensar a conversa com o Naruto, eu pedi para que ele separasse um pouco da papelada que eu costumava organizar normalmente. Eu entrei na sala e lá estava a imensa pilha de papel que em um dia normal minha única motivação seria acabar logo e ir para casa onde Sakura estaria me esperando.

Eu fazia ela distraidamente, mas eu escutei alguns gritos do lado de fora, eles me lembraram de uma tarde divertida que eu tive com a Sakura.

-Sasuke, já vai?! - Naruto perguntou impressionado, pois eu sempre ficava até tarde trabalhando, naquele dia eu tinha algo muito importante durante a tarde então pedi para sair cedo.
-Eu havia te avisado... - disse sem olhar para ele.
-Ah! Aquilo era hoje? - ele perguntou perdido.
-Aquilo É hoje - disse dando ênfase no é.
-Então...
-Tchau até amanhã! - eu disse e saí correndo.

Eu dirigi até a minha casa, tinha combinado com Sakura há uma semana de ela me encontrar, passei meu endereço, ela disse que viria.

Estacionei o carro na garagem e não tinha ninguém em frente a casa. Quando eu pensei em entrar e esperar ela lá dentro eu escutei um barulho vindo da minha casa, mais especificamente um grito.

-AHHHHHH! AIIIIIIIIII! - parecia a voz da Sakura.

Eu entrei correndo e procurei ela por toda a casa, senti cheiro de comida vindo da cozinha, isso me lembrou que eu fui embora sem almoçar.

-Sakura?! - eu perguntei confuso vendo ela cozinhando na minha cozinha. - Foi você que gritou?
-Oi, Sasuke! - ela disse virando para me olhar e sorrindo, aquele sorriso... - Sim fui eu, desculpa é que... eu me queimei. - ela disse um pouco envergonhada.
-O que você tá fazendo? - eu não sabia se eu me referia a comida ou ao fato de ela ter entrado na minha casa...
-Ah. Eu achei que do jeito que você é avoado, mas muito focado no trabalho ia esquecer de almoçar - ponto pra ela. - Então, eu do jeito que sou bisbilhoteira, sabia onde estava a chave reserva. E entrei! - ponto... pra ela?

A questão não foi ela invadir a minha casa, nem nenhum dos outros eventos que se passaram depois de ela ter invadido. O que importava era que ela estava lá. Ela parou tudo para ir me ver, ela se preocupou comigo. E ainda foi sinistra do jeito que só ela sabe ser!

Nós almoçamos juntos, conversamos sobre várias coisas banais, vez ou outra a Sakura fazia um comentário muito desnecessário, mas que me vazia rir como ninguém fazia.

-Me conte sobre a sua família Sasuke. - ela disse repentinamente
-Hãm... por que?
-Eu não os conheço, e se eles forem legais igual você? Eu preciso saber!
-Ah! - eu disse rindo um pouco. - Bom, meu pai e minha mãe ainda são casados, eles moram em Nova York, eu tenho um irmão mais velho que viaja quase todo dia à trabalho, ele trabalha na empresa do meu pai. Não sei onde ele está por que ele nunca me fala e eu nunca pergunto.
-E você não quis trabalhar na empresa do seu pai? - ela perguntou colocando uma garfada de comida na boca.
-Na verdade, eu trabalho, mas na unidade 8. É longe de onde meu pai trabalha, e eu precisava de um tempo. Eu já pensei em voltar, mas tem algumas, ou melhor uma coisa que me prende aqui.
-O que? - ela perguntou ainda se concentrando na comida.
-Bom... É você. - eu disse e ela me olhou um pouco surpresa e depois sorriu, ela veio de encontro a mim e me abraçou.
-Achei que era só eu, mas você também se importa. - ela disse sorrindo.
-Como assim? É claro que eu me importo!
-Era para eu ter voltado pra casa no dia seguinte ao que eu te encontrei. - ela disse revelando uma coisa que nunca tinha passado pela minha cabeça.
-Sakura... quer namorar comigo? - eu disse e ela me olhou surpresa, ela se levantou, sentou novamente na cadeira à minha frente, pegou uma garfada de comida e colocou na boca.
-Bom... acho que eu cometi a maior loucura da minha vida, quando eu pela primeira vez decidi esperar a ligação de um cara, eu nunca tinha feito isso. Até que você ligou rápido Sasuke. À partir daquela loucura muitas outras vieram, e eu estou aqui. - ela disse me olhando, ela colocou outra garfada na boca, quando acabou de mastigar me olhou com um olhar bem significativo. - Você é péssimo com esses pedidos não é? - ela perguntou séria me fazendo rir. - Eu aceito, mas quando for fazer o pedido de casamento se esforce mais! Tudo bem?

Ela me pegou de surpresa, mas me fez rir, como saiu da boca da Sakura eu levei à sério.

-Tudo bem.
-Fechado?
-Fechado.
-Promete?
-Prometo, Sakura! - eu disse rindo.
-Esse foi nosso contrato. Ele não precisa ser legalizado em lugar nenhum. Ele tem valor para mim, isso já é mais do que suficiente. Mas eu ainda quero um pedido mais decente do que esse que você fez! - ela disse me surpreendendo.
-Ele também significa muito para mim, vou começar a pensar desde já no próximo.
-Bom mesmo!
-Aí será oficial? - eu disse sorrindo igual um bobo.
-Totalmente e absolutamente oficial. - ela disse retribuindo o meu sorriso.

Me peguei sorrindo com essa lembrança, mas ao mesmo tempo várias lágrimas escorreram pela minha face. Eu não tinha chorado desde o momento em que me deram a notícia, mas agora é insuportável demais.

Eu acabei a papelada, e não tinha mais nada para fazer. Não havia Sakura para eu conversar.

Meu celular tocou eu enxuguei as lágrimas assim que vi o nome do Itachi no visor.

-Itachi?
-Sasuke!
-O quê? Me fala logo!
-Estou te ligando há uns 10 minutos! Já estava ficando preocupado!
-Foi mal... Eu estava distraído.
-Ainda bem. Então, a Sakura está bem! Ela já foi para o quarto na UTI, mas ela está bem melhor.
-Que bom!!
-O horário de visita termina em 1 hora e meia, vem para cá!
-Tudo bem!
-Quer dizer... Se puder sair do trabalho.
-Eu posso, já vou.

Eu desliguei o celular e fui falar com o Naruto para avisar que eu estava saindo e já tinha acabado o trabalho.

Eu vou ver a Sakura. E não vou mais sair de perto dela.