Meu maior medo no dia em que a Sakura foi embora e me deixou na varanda foi de que daquela vez eu nunca mais pudesse vê-la.

Foi grande minha surpresa quando ela me ligou dois meses depois, dizendo que havia se mudado para um apartamento próximo a casa em que morávamos juntos, e na qual eu ainda residia. Ela perguntou se poderíamos nos encontrar: "Claro, só se você quiser!". Mas é óbvio que eu queria! Vamos nos encontrar hoje em um café, para conversar e... Conversar.

Eu aceitei no mesmo momento em que ela tocou no assunto, mas depois ficou um clima estranho, não tinhamos mais sobre o que conversar, aí Sakura fingiu que nada havia acontecido e se despediu, detalhe: de uma forma bem formal, e desligou.

Esses dias em que eu fiquei esperando ansiosamente pelo nosso encontro, eu pensei em que tipo de assunto eu poderia tocar, eu não conheci a Sakura nessa época da vida dela, mas eu estou tentando conhecê-la. O primeiro assunto a ser descartado foi: lembranças. Ela não as possui, apenas eu, infelizmente ela ainda não se lembra.

Depois de pensar muito eu decidi que talvez fosse melhor deixar ela puxar assunto, eu já não era bom nisso, mas agora que todos os assuntos que me vem a mente são coisas pela qual passamos e da qual ela não se lembra, fica ainda mais difícil.

Nós havíamos marcado o "encontro" para sexta-feira, e como agora ainda é de manhã, e eu não me mexi para fazer nada, eu estou jogado na cama, esperando o despertador tocar para eu levantar e ir para o trabalho.

Meu irmão havia voltado para sei-lá-onde no mês passado, então eu estava sozinho em casa de novo. Eu levantei no mesmo instante que o despertador começou a apitar, desliguei ele e me dirigi para a cozinha. Comecei a fazer torradas e assim que as coloquei na torradeira fui pegar o suco na geladeira. Eu de fato não comia isto no café da manhã, mas eu mudei bastante meus hábitos alimentares, para não ter que vivenciar novamente certas lembranças que só iriam me deixar desanimado, por não poder tê-las de volta.

Cheguei no trabalho e passei por algumas reuniões, algumas de última hora que tiveram de ser encaixadas na minha agenda, eu olhava desesperadamente para o relógio, cronometrando o tempo que eu tinha para encerrá-las e chegar à tempo no café. Quando eu finalmente acabei todas as reuniões, fui para a minha sala onde encontrei uma pilha de no mínimo dez centímetros de espessura de papéis que no mesmo instante eu reconheci como um novo contrato que estávamos terminando de fechar na empresa.

-Fala sério! - eu exclamei saindo da minha sala e indo falar com o meu secretário.
-Eu não falei nada! - ele exclamou um pouco assustado.
-Não falou, mas deixou aquela pilha ali! - eu falei indicando a pilha de papéis em minha mesa.
-O Sr. Itachi, me mandou esse arquivo por e-mail hoje, ele me pediu para entregá-los para você. - ele falou calmamente enquanto olhava algo em seu computador. - Ele disse que é a parte que você precisa checar no contrato.
-Não vou checar nada hoje! - eu disse virando as costas e indo para a minha sala para pegar minhas coisas e ir embora.
-Sr. Sasuke! - meu secretário exclamou chamando minha atenção. - Seu irmão falou que precisa disso até às... - ele checou o relógio e continuou - às seis da tarde.
-Tudo bem, obrigado. - eu falei indo para a minha sala e pegando o telefone.

Disquei o número do Itachi e fiquei esperando ele atender, eu estava sentado com o telefone apoiado ao ombro enquanto já iniciava o preenchimento da papelada, quanto mais rápido eu acabar melhor!

-O quê foi, Sasuke? - ele atendeu muito simpático.
-Eu que pergunto isso! - eu disse exaltado, pude ver que acabei assustando meu secretário, que por sinal estava fora da sala. - Você falou que iria me mandar esses documentos na semana passada!
-Mas eu esqueci. - Itachi admitiu tranquilamente.
-Não podia ter esquecido mais um dia? - eu perguntei com um timbre bravo.
-Não! É para amanhã! - ele falou como se fosse óbvio.
-Se eu estivesse em... Seja lá qual for o lugar onde você está agora, eu estaria te estapeando! - eu falei exagerando, já que eu e meu irmão nunca nos batemos, mesmo em nossos piores momentos, a gente respeitava um ao outro.
-Também te amo! - ele falou e desligou.

Comecei a ler e preencher os papéis o mais rápido que eu consegui, a cada segundo que eu olhava para o relógio eu me desesperava mais.

Quando eu finalmente consegui acabar, fui o mais rápido que eu consegui para o carro e comecei a dirigir em direção ao café.

Olhei para o meu relógio de pulso no momento em que abri a porta do café, me desesperei quando vi que estava atrasado mais de uma hora, mas logo eu avistei a Sakura em uma mesa no fundo olhando pela janela.

-Oi! - eu falei exasperado, assim que me sentei em frente a ela. - Eu... Desculpa... Uma hora... E... Itachi...
-Itachi é o seu irmão, não é? - ela me interrompeu. - foi alguma coisa no trabalho?
-Sim, eu me atrapalhei com a entrega de um documento. - falei olhando para ela que assentiu e abriu um sorriso discreto. - Estou atrasado uma hora, me desculpa!
-Tenho que te corrigir, eu acabei ficando mais meia hora por causa de uma aula extra na faculdade, cheguei a uns dez minutos. - ela falou bem humorada.
-Então não te deixei esperando muito? - ela fez que não com a cabeça. - Que bom!
-Como vai? - ela perguntou simpática.
-Eu... Estou bem, mas com saudades. - eu admiti, recebi um sorriso sem graça de sua parte e mais nada. - E você?
-Me distraio bastante com as aulas na faculdade, são muito legais, ainda bem que eu não tranquei! - ela falou olhando para cima e sorrindo, como se, acabasse de lembrar de algo.
-Posso perguntar por que pediu para nos encontrarmos aqui? - eu falei curioso.
-Nós vínhamos aqui, não era aqui?! - ela falou preocupada.
-Sim! Nós vínhamos aqui quase toda semana! - eu disse animado com todas as lembranças, até que me surgiu uma esperança. - Você se lembra?!
-Na verdade não. - ela falou e senti meus ombros caírem. - Andei falando com algumas pessoas. Não me lembro de nada.
-Ah... - eu deixei escapar.
-Então, como foi a primeira vez que nós viemos aqui? - ela perguntou com curiosidade.
-Você queria um café vinte e quatro horas... Claro, que vendesse também balas de uva. - eu falei e ela revirou os olhos rindo.
-Odeio balas de uva, mas eu... Estou começando a não me incomodar em comê-las de vez em quando. - ela disse rindo. - Mas por que vinte e quatro horas?
-Às vezes você ficava trabalhando de madrugada e queria sair de casa, só para dar uma volta, um dia você me chamou para sair, eu tinha visto esse na época, como ele preenchia todos os requisitos, nós viemos nele. - eu disse me lembrando da noite em que ela me acordou gritando, como em quase todas às vezes em que ela me acordava, falando que precisava tomar um capuccino.
-Que legal! - ela falou empolgada.
-Lembra de uma... - eu me interrompi, eu havia acabado de descumprir meu próprio combinado, é claro que ela não se lembra. - Desculpa, eu só...
-Não tem problema! Me conta! - ela falou me olhando com interesse. - Por favor.
-É que... Teve uma vez que nós viemos aqui de madrugada, mas esquecemos que era feriado, então estava fechado, obviamente. Então você ficou furiosa, e nós começamos a dirigir pela cidade procurando outros cafés vinte e quatro horas. - eu falei rindo. - A gente não encontrou nenhum! Mas aí você surtou e pediu um sorvete, naquele frio. Como nós já haviamos dirigido tanto que estávamos perto da praia, eu fui até uma sorveteria por lá, e ficamos olhando o mar até o Sol nascer...
-Deve ter sido lindo... - ela disse perdendo o sorriso que tinha segundos atrás, desviou seu olhar de mim. - Queria me lembrar...
-Talvez você se lembre daqui algum tempo - eu disse pensando positivamente.
-É... - ela disse vagamente, até que abriu outro sorriso e me olhou. - Me conta mais!
-Tudo bem, teve uma vez que...

Nós ficamos sentados lá, um de frente para o outro, enquanto eu contava histórias e mais histórias, de coisas que passamos juntos.

Que irônico, o primeiro assunto que eu descartei, foi quase um dos únicos a ser mencionado.

Ficamos ali até a hora que o café fechou, nos despedimos e fomos cada um para... A sua casa.