Ele estava observando a famosa Lula-Gigante nadar pelo lago que se encontrava nos terrenos de Hogwarts (por mais que estivesse frio) e se perguntava como seria se tudo fosse diferente. Se talvez pudesse ter tomado a escolha certa logo no início, talvez estivesse feliz. Se tivesse tomado a escolha certa, neste exato momento poderia estar ouvindo uma de suas maluquices e com certeza estaria rindo, se perguntando o que seriam zonzóbulos ou narguilés.

Talvez ele pudesse metê-la em encrenca, já que sua vida não era nada fácil, mas a partir do momento em que ela decidiu ajudá-lo no Departamento de Mistérios, ela se mostrou capaz de fazer qualquer coisa por ele. Seu amigo.

Mas esse era o problema: ele não queria ser apenas “amigo” dela; ele queria ser muito mais do que isso, e se odiava por ter percebido tão tarde. Agora não tinha mais chances, ela simplesmente não sentia o mesmo. Por que fora tão burro? Por que não falara o que estava sentindo quando tivera chance? Será que era tão difícil assim ser feliz?

Harry não parava de refletir sobre tudo isso. Sempre perdera tanto tempo a julgando, chamando-a de louca, de Di-lua, que simplesmente não enxergou seu verdadeiro valor quando tivera chance. E como ele já repetiu para si mesmo várias vezes: era tarde demais.

— Harry! — uma voz gritava seu nome ao longe. Não pôde reconhecer de quem era por estar vindo de muito longe, mas não queria falar com ninguém nesse momento, tudo que queria era ficar sozinho e apenas isso. — Harry, aqui! — a voz o chamou mais uma vez e corria em sua direção, enquanto ele acelerava os passos cada vez mais.

A última coisa que queria nesse momento era algum idiota o infernizando e fazendo perguntas idiotas, como sempre faziam. A tal pessoa não parava de chamá-lo e só quando se aproximou o suficiente para ouvir melhor aquela voz foi que ele a reconheceu. Parou de andar imediatamente e sentiu seu corpo travar. Não conseguia mover um músculo sequer. Como fora tão burro a ponto de não reconhecer aquela voz? Aquela voz a qual ele estava esperando ouvir de perto por tanto tempo…

— Por que não quer me ouvir? — Luna perguntou, parecendo desapontada. Harry, ainda temendo o que fosse acontecer, conseguiu virar-se para encará-la (sabe-se lá como).

— Me desculpe, eu… — as palavras pareciam ter fugido completamente de sua boca. Conseguiu dar um último suspiro antes de retomar sua fala. — Eu não sabia que era você. Só não queria que me enchessem de perguntas ou me perturbassem. Queria ficar um pouco sozinho. — falou com dificuldades, pois estava muito frio. A neve caía lentamente pelos jardins e deixava tudo diferente. Saía vapor da boca de Harry enquanto ele falava. Jamais se sentira tão inseguro como estava nesse momento.

— Oh, me desculpe. Se você que ficar sozinho então eu… Eu já vou indo. — sorriu fracamente e virou as costas, mas Harry foi mais rápido.

— Não, por favor. Fique. — puxou sua mão e a fez virar-se rapidamente, fazendo seus corpos colidirem. Sentir o toque um do outro criou reações em ambos que nenhum dos dois jamais imaginara sentir.

— Ér… Não. Eu não deveria ter vindo… Queria falar com você, mas deixa pra lá. Era bobagem. — Harry sentiu um arrepio em sua nuca que ele tinha certeza de que não tinha nada a ver com o frio. Luna queria falar com ele. O que ela queria falar comigo? Quero dizer, faziam-se três semanas que não nos falávamos. Ela não queria ficar perto de mim por medo, certo? Será que ela realmente tem medo de mim?, pensou Harry, nervoso.

Não podia deixá-la simplesmente ir sem falar o que queria.

— Luna, espera! — correu para tentar alcançar os passos da garota, que já estava indo embora. Ela virou-se rapidamente em meio a um suspiro. — O que você queria falar comigo? — perguntou Harry com medo do que pudesse vir pela frente. Seria melhor deixá-la ir do quê ouvi-la dizer que tinha medo dele e que precisava ficar longe dele, certo? Certo. Mas ele não queria fazer isso. Ele não podia fazer isso. Esta era sua chance. Poderia ser sua única chance de falar o que estava sentindo naquele momento. Será que conseguiria?

— Olha, eu… Eu vim me desculpar. — Harry franziu a testa. Se desculpar? Se desculpar pelo quê? Ela não tinha feito nada de errado. Ou será que tinha? Ou talvez fosse jogar tudo na cara dele, mas antes de falar precisava se desculpar para não deixá-lo completamente constrangido.

— Se desculpar, Luna? Pelo quê? — perguntou, ainda confuso. Luna nunca fizera nada de errado para ele. Muito pelo contrário, ela sempre o ajudou quando ele precisou e ele não conseguia encontrar motivos para ela estar se desculpando.

— Eu agi muito… Estranha essas últimas semanas. Eu estava tentando evitar você. Precisava ficar longe de você. Não conseguiria ficar perto de você por muito tempo sem… Fazer alguma besteira. — então ele estava certo. Luna realmente estava o evitando; ela realmente sentia medo dele; precisava ficar longe dele; afinal, quem não teria medo dele? Ele era quem Voldemort estava tentando matar; ele é quem está em guerra com o maior bruxo das trevas de todo o tempo. É claro que ela sentia medo dele.

— Eu te entendo. — falou abaixando a cabeça e olhando para os pés. — Sei o porquê de você estar me evitando. — falou fazendo o possível para não mostrar desapontamento em sua voz. Não conseguiria encará-la. Permaneça de cabeça baixa, não levante a cabeça. Olhe para baixo, pensava ele.

— Sabe? — Luna perguntou, mostrando nervosismo em sua voz. — Então eu estava certa. Você não gosta de mim. Você não sente o mesmo. — Harry sentiu como se tivesse descido dois degraus de uma vez, sem querer. O que ela queria dizer com “você não sente o mesmo”? É claro que ela estava se referindo ao medo que ela sentia dele. Mas e o “você não gosta de mim”? Talvez fosse porque ele não demonstrou o mínimo esforço para reconquistar sua amizade, não? Não, isso não fazia sentido algum. Harry respirou fundo e finalmente a encarou.

— Como assim eu não sinto o mesmo? Eu gosto de você, Luna. — seria agora. Aquele era o momento. Precisava falar o que sentia e iria ser agora mesmo. Luna não demonstrou reação alguma depois de ouvir o que Harry falara. — Mais do que deveria. — nesse momento, Luna sorriu. Era aquele sorriso sonhador de sempre e, céus, como Harry adorava aquele sorriso!

— Então por que você demonstrou estar tão decepcionado quando falou que sabia o porquê de eu estar o evitando? Eu estava te evitando porque… eu gosto de você, Harry. Não conseguiria ficar no mesmo lugar com você sem fazer alguma maluquice, algo de que me arrependesse. — foi como se um ferro tivesse sido arrancado do estômago de Harry.

— Você… gosta de mim? — perguntou, quase sorrindo.

— Mais do que deveria. — sorriu, repetindo as palavras do garoto.

Harry não sabia exatamente o porquê, mas não conseguiu fazer mais nada além de sorrir. Ela gostava dele. Luna gostava dele. Ela não tinha medo dele, tinha medo de estar com ele. E, por um momento, tinha medo do que sentia por ele. Mas não mais. Não pelo que seu rosto demonstrava.

— Eu achava que era tarde demais. — falou sem perceber as palavras saírem de sua boca.

— Pra você, nunca será tarde demais. — e sorriu também.

Harry nunca se sentira tão feliz na vida.