A conspiração escarlate escrita por Drafter


Capítulo 5
Escarlate




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Kurama passou a manhã seguinte relembrando os fatos da noite anterior. O homem agressivo, a jovem morena, as energias em níveis diferentes... ele ainda não se perdoava pelo erro primário na avaliação prematura, e tentava não pensar nisso enquanto se concentrava na investigação. Não era do tipo ansioso, mas quase não prestou atenção nas aulas daquele dia. Sua mente estava agitada e sua intuição dizia que aquele homem estava escondendo algo muito maior e sinistro do que um problema de bar.

Ouviu o sinal marcando o fim das aulas e decidiu procurar Yusuke e Kuwabara para saber o resultado da investida deles no endereço dado por Botan. Talvez eles também tivessem alguma pista para contribuir e se juntassem as peças, poderiam descobrir que caminho seguir.

Os encontrou na saída da escola, misturado aos outros alunos no pátio da Sarayashiki. Eles conversavam, sérios, quando foram interrompidos por Kurama.

— Yusuke, Kuwabara. Alguma novidade de ontem? 

— Estávamos mesmo falando sobre isso — Yusuke respondeu — Vimos uma pessoa muito suspeita no endereço que Botan nos deu, mas ele sumiu de vista antes que pudéssemos alcançá-lo.

— O cara era realmente estranho... acho que estamos na pista certa — confirmou Kuwabara — E você, viu alguma coisa?

— Também encontrei uma figura esquisita. Sei que tinha poderes e uma energia acima do normal. Algo nele me pareceu suspeito e acho que pode estar acontecendo mesmo alguma coisa errada por aqui.

— Figura esquisita? Será o mesmo homem que vimos?

— Cabeça raspada e cicatriz na orelha direita? — perguntou Kurama.

— Não sei, ele estava de capa e chapéu, quase não vi o rosto dele... — lamentou Kuwabara.

— Mas ele também tinha uma energia bem incomum. Se não for o mesmo cara, talvez estejam conectados de alguma forma — raciocinou Yusuke — Sabe se Hiei encontrou algo?

— Ainda não falei com ele, vou procurá-lo mais tarde. Algum plano para hoje?

— Pensamos em voltar no mesmo lugar, ver se o sujeito aparece de novo. Entramos no apartamento que ele estava, mas o lugar estava imundo e abandonado, não achamos nada de útil.

— Talvez seja apenas para despistar... — ponderou Kurama — ou talvez ele também estivesse procurando por algo. Seja como for, fiquem atentos. Ainda não sabemos com quem estamos lidando.

— Esse caso está ficando complicado! — reclamou Kuwabara, coçando a cabeça.

— Não era você que estava resmungando por aí, sentindo falta de ação? 

— Sim, ação, e não ficar procurando um cara que nem sabemos quem é ou revirando apartamentos baldios!

— Você vai ter muita ação se descobrirmos que algo está acontecendo mesmo — retrucou Kurama, achando graça — Qualquer novidade, me avisem. Vou tentar descobrir mais coisas sobre a pessoa que vi ontem também. Só tomem cuidado, isso pode ser mais grave do que parece.

Kurama se despedia dos amigos quando viu uma pessoa próxima aos portões da escola. Uma estudante, cabelos curtos e morenos, andar distraído enquanto se afastava da multidão. Vestia o uniforme da escola, com um blazer largo por cima e uma mochila amarela desbotada pendurada em um dos ombros. O olhar deles se encontrou por alguns segundos, mas ela logo virou o rosto, seguindo apressada.

— Yusuke, quem é aquela menina?

— Ih, Kurama, ficou interessado, é? — riu Yusuke, tentando ver quem ele apontava.

— Nada disso, só acho que a conheço de algum lugar...

— Ah, aquela é a menina nova. Não sei muito sobre ela, só vi uma vez, veio transferida ou algo assim. A Keiko que deve saber, ela sempre está por dentro das fofocas da escola. Quer que pergunte a ela?

— Não precisa, devo ter me confundido. Vou indo, nos falamos depois — e Kurama se afastou, os pensamentos caindo inevitavelmente na garota. Tinha quase certeza de que era a mesma jovem que encontrou na noite anterior. Tudo estava parecendo uma terrível coincidência e ele tentava encontrar alguma lógica por trás. 

Imerso em suas reflexões, Kurama parou de súbito, sentindo a aproximação de alguém. Se virou apenas para encontrar a menina de antes, com seu uniforme escolar e mochila nos ombros. De perto pode confirmar o que já suspeitava: era de fato a mesma pessoa que manipulava os dados no ambiente escuro do bar.

— Você está me seguindo? — ele perguntou, desconfiado.

— Eu que quero saber! Por acaso está me seguindo? Eu te vi lá na escola. Como me achou?

— Eu não sabia que você estudava lá, fui conversar com amigos — ele respondeu, surpreso com a reação dela.

Ela estreitou os olhos, desconfiada. Hesitou alguns segundos, tentando manter a pose.

— É bom que isso seja verdade, não quero ninguém se metendo na minha vida.

— E por que eu estaria seguindo você? 

— E eu que sei? Você cisma comigo ontem e hoje aparece na minha escola... eu estou ligada, ouviu? Por acaso falou para alguém sobre os dados?

Ele acabou achando divertida a situação. Apesar de ter tentando entender uma possível ligação dela com o caso, agora, vista à luz do dia, ele já descartava essa hipótese. Ela realmente possuía alguma energia espiritual e tinha uma habilidade interessante, mas parecia inofensiva e ele não conseguia mais enxergar como ela estaria envolvida. 

— Fique tranquila, não quero nada de você e também não contei nada a ninguém. Já falei, foi só uma coincidência...

Ele interrompeu a fala por uns instantes, sob o olhar atento dela. 

— Você vai mesmo voltar naquele bar hoje a noite? — acabou perguntando.

— Por que quer saber?

Kiki cruzou os braços, em uma postura defensiva, e franziu a sobrancelha.

— Também quero encontrar aquele sujeito. Talvez a gente possa se ajudar.

— E porque eu ajudaria você?

— Você quer seu dinheiro, não quer?

— E o que te faz pensar que eu preciso de você para pegar ele de volta, ruivo?

— O fato de que tampas de lata de lixo não são suficientes para dar uma lição naquele cara.

Ela corou.

— Eu não tenho medo de briga, ok? Ontem eu estava cansada, só isso. Hoje vou mais preparada.

— Tenho certeza que sim, mas ele não é uma pessoa comum, você deve ter percebido. Me ajude a encontrar aquele cara, e eu te ajudo a pegar seu dinheiro. Combinado?

Kiki o fitou desconfiada. Não estava acostumada a aceitar ajuda de estranhos, mas talvez ele tivesse razão. O sujeito da noite passada pouco se abalou com seus socos e apesar de ser boa nos dados, sua habilidade em mover objetos deixava a desejar algumas vezes. Além do mais, ficou bem impressionada quando ele sumiu daquele jeito e reapareceu do outro lado. Era melhor engolir o orgulho, ao menos daquela vez.

— Ok, mas eu não vou dividir o dinheiro com você! E isso fica entre a gente, ouviu? — ela falou, tentando soar ameaçadora.

— Claro! Te vejo mais tarde então?

Ela não se deu ao trabalho de responder. Virou as costas e se foi, deixando Kurama para trás.

Ele definitivamente não pretendia incluir a garota no caso, mas tudo indicava que ela iria atrás daquele homem de uma maneira ou de outra. Se ao menos ele estiver por perto, menores seriam as chances de ela se machucar.

Ao menos era isso que Kurama esperava.

(...)

Hiei estava mais taciturno que o normal. Pensava na mansão que havia visitado no dia anterior e na sensação que o não o abandonou durante todo o tempo de que algo muito grave estaria acontecendo por ali. Na reunião de Botan, apesar da preocupação de Koenma, ele imaginou que encontraria vestígios de demônios classe D, um tipo ordinário e fácil de lidar. No entanto, o que encontrou lá não parecia se encaixar nessa classificação.

Kurama interrompeu os pensamentos de Hiei, que meditava sentado na sombra de uma árvore. Conhecia o amigo e, pela expressão carrancuda em seu rosto, já esperava por notícias desagradáveis da sua busca no endereço de Botan.

— O que está te preocupando? — Kurama quis saber.

— A mansão do endereço de ontem não é uma casa humana normal — ele disparou — Tudo lá dentro soava falso.

— Você encontrou alguém lá?

— Não, mas havia muita energia espiritual pairando ali. Mais do que eu esperava... acho que estamos lidando com demônios de classe B+, pelo menos.

Kurama gelou. Raramente Hiei se enganava. Não que eles não tivessem capacidade de lidar com aquele tipo de demônio. Estavam mais fortes do que nunca e tinham superado desafios maiores. Porém, se Hiei estivesse certo, isso significava uma ameaça muito maior ao Mundo dos Humanos do que eles estariam prevendo, e precisariam agir rápido para evitar maiores estragos. 

— Se esse for o caso, devemos reportar ao sr. Koenma... — ponderou Kurama.

— E deixar aquele baixinho acabar com a diversão?

— O que você acha que está acontecendo, Hiei?

Ele hesitou por um momento.

— Eu encontrei isso dentro da casa.

Hiei tirou de trás das costas uma pasta vermelha, do tamanho de uma folha de ofício, abarrotada de papéis. Kurama olhou com curiosidade, folheando lentamente os documentos. O que encontrou deixou o youko em choque.


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