I.

Fracos raios de sol penetram através da fresta deixada pela janela entreaberta. O toque quente se estende pelo chão de pedra e os lençóis de algodão até os corpos que repousam sobre a cama. A chegada da luz aquece e despertas as mentes, trazendo de volta para a realidade as almas que se encontravam na terra dos sonhos.

Ela é a primeira a despertar, os dedos, longos e finos, tremendo no peito sobre o qual repousam. Ela se move, procurando pelo calor, não do sol, mas do corpo adormecido ao lado dela. Ela levanta o rosto, os lábios tocando o pescoço dele. Ele se move, virando o corpo e aumentando a força com que a abraça. Ela sorri.

- Acorde. – ela diz.

- Nyx. – ele responde parecendo respirar o nome, mas sem abrir os olhos.

Ela levanta o corpo, se colocando parcialmente acima dele. Os dedos finos tocam o cabelo prateado espalhado sobre o travesseiro, brincando com os longos fios. Ele respira profundamente, inclinando a cabeça na direção do carinho. Com o sorriso ainda desenhados nos lábios, ela abaixa o rosto, encostando-o ao dele. Ele levanta o braço e toca a nuca dela, segurando-a contra seu colo.

- Ma vhenan. – ela sussurra e se afasta, escapando dos braços que tentam mantê-la perto do corpo que ainda repousa sobre o colchão.

Com os olhos finalmente abertos, ele a observa ir, um sorriso nos lábios e o coração leve, pois ele sabe que ela não está realmente indo, que ela sempre irá retornar para ele. Distraído, ele olha para a janela, vendo os raios de sol iluminado o céu. Em sua mente, ele pode ver a luz se espalhando pelo jardim, alumiando as flores e fazendo brilhar a grama intensamente verde. O som de um tecido caindo captura a atenção dele e os olhos escuros se focam a tempo de verem a camisola caindo dos ombros de Nyx, revelando a tinta que marca a pele pálida.

Entretanto, a visão das linhas escuras é obstruída pelo tecido da camisa branca que é vestida. Sentindo-se observada, ela vira o rosto, encontrando o olhar que não esconde a satisfação que é sentida ao admirá-la. Ela finge aborrecimento, mas vira o corpo, de modo que seja mais fácil para ele observá-la se arrumar. E em silenciosa apreciação, ele assiste ao tecido escuro que cobre as longas pernas, seguido pelas botas pretas, o branco da camisa que cai do ombro e cobre os braços e os compridos fios da cor da noite que escondem a bela face.

Ela se aproxima da cama, os passos ecoando pelo quarto silencioso. A cada centímetro percorrido por ela, o sorriso nos lábios dele aumenta, assim como o brilho nos olhos escuros. Com a mão dela aberta contra a garganta dele, eles compartilham um beijo. Ele segura o pulso dela, tenta mantê-la perto, mas ela escapa mais uma vez, um sorriso nos lábios vermelhos.

- Não esqueça seus deveres, meu rei. – ela diz e segue em direção à saída do quarto.

Nos corredores do castelo, o sol projeta sombras e toca a pele que todos aqueles que passam. Ela caminha sem pressa, descendo a escada que leva ao vasto jardim. É o início da primavera e a diversidade das cores aumenta a beleza da natureza que nasce no antigo reino. A grama cede sem resistência à caminhada de Nyx e as flores acariciam com suavidade as mãos da soberana.

A brisa sopra e traz consigo o distante som do tilintar do balanço. Ela segue o ruído, encontrando uma jovem menina a se balançar. A pequena para o balanço com os pés e se levanta, um sorriso nos lábios rosados. Nyx se aproxima e toca o curto cabelo de bronze, fazendo a criança rir.

- Minha rainha. – uma voz diz, forte e respeitosa.

- Senhor Tinia. – ela responde e aceita a fruta que lhe é oferecida – Como estão os preparativos para esta noite?

- Como planejado, minha senhora. – ele responde fazendo uma curta mesura.

Nyx assente e continua sua caminhada, a fruta sendo passada de uma mão para outra e uma música nos lábios vermelhos.

- Ame amin / Halai lothi amin / Aloamin Heruamin.