Já havia esfriado consideravelmente, e ainda estávamos no começo do inverno. Provavelmente nevaria dali a alguns dias... e a lua iria trocar de fase de novo. E aquilo, como sempre, já me incomodava dias antes de acontecer. Acho que Uruha havia percebido isso, motivo pelo qual ele agora estava na minha casa, decidindo qual dos quinze filmes que ele havia alugado iríamos assistir primeiro.

- Você não acha que exagerou no número de filmes não?

Ele desviou os olhos de uma das capas, a ponta do saco da pipoca de microondas na boca.

- Hm?

Eu ri, negando com a cabeça, indo pegar o saco de pipocas.

- Eu perguntei se você não exagerou na quantidade de filmes.

- Ah. Bom, é que eu estava em dúvida entre tantos... que acabei trazendo todos.

- Eu percebi.

Ele sorriu, um pouco sem jeito, e eu só baguncei seus cabelos. Fui até a cozinha, que não era muito longe mesmo, colocando a pipoca no microondas. O colchão da minha cama havia sido jogado no chão, e duas cobertas estavam ainda dobradas em cima do sofá. E só a possibilidade de ficar assim, tão perto dele a tarde toda, já me trazia um sorriso idiota na cara e um calor no peito.

Depois de muito pensar, e as pipocas quase esfriarem, Uruha finalmente decidiu qual filme veríamos, colocando no DVD. Sentou-se no colchão, as costas apoiadas no sofá e se enrolando no cobertor. Me sentei ao seu lado, imitando-o, os olhos fixos na tela. Não queria dar muito na cara.

Quinze minutos depois, senti Uruha encostando sua cabeça no meu ombro. Me virei, olhando-o intrigado, mas sorri ao vê-lo dormindo. Com todo o cuidado pra que ele não acordasse, passei o braço pelos seus ombros, acomodando-o melhor. Beijei o topo de sua cabeça, apoiando o rosto ali.

Droga, Takashima. Mil vezes droga. Desde quando você tinha ficado assim tão importante pra mim? Tão especial? Merda. E ainda havia aquele medo infernal de perdê-lo. Medo de fazer qualquer besteira e ele ir embora. Tirei a franja do olho dele, colocando-a atrás de sua orelha. Inferno. Ele era tão lindo.

Fiquei ali, só olhando-o dormir. E quando eu menos esperava, ele simplesmente abriu os olhos. E me deu um sorriso tão lindo, que quando eu percebi, eu já tinha feito. Já estava beijando-o. Só colado os lábios. Até eu perceber o que eu estava fazendo, e me afastar.

- Desculpa, Uru, eu não...

E no instante seguinte, ele estava me puxando de volta, os lábios colados nos meus, sua mão indo pra minha nuca. Num primeiro instante eu fiquei perdido. Mas acabei sorrindo, puxando ele pra mim. Depois de um tempo, separamos os rostos. Uruha sorria feito uma criança.

- Achei que você nunca ia fazer isso.

- Eu também achei.

- Que bom que você mudou de idéia.

Como se tivéssemos combinado, nossos lábios voltaram a se unir, mas daquela vez, as línguas se conheceram. Mas tudo tão suave, carinhoso... tão bom. Apenas aproveitar aquele momento, sem pensar em mais nada. E só quando nossos rostos se separaram que eu tive consciência de pra onde eu tinha puxado Uruha. Ele estava no meu colo, uma perna de cada lado do meu corpo.

Eu o olhei, incerto quanto àquilo. Seria mesmo certo dar um passo daqueles? Mas... Uruha tinha um sorriso tão doce nos lábios... Tão feliz. Ele queria ser meu. E eu queria ser dele. Tão simples quanto poderia parecer.

- Uru, eu não...

- Não está apressando nada.

- Mas e se...

- Vai me fazer pedir?

Mordi o lábio, divertido. Sorri, minhas palavras saindo num sussurro.

- O que você quer, Uru?

Ele rolou os olhos, rindo e negando com a cabeça. Se abaixou, os lábios próximos à minha orelha, sussurrando.

- Eu quero fazer amor com você, Shiroyama Yuu.

O beijo que se seguiu fui muito mais intenso, embora nós dois sorríssemos. E... acho que apenas por uma noite, eu poderia esquecer qualquer problema ou maldição. Não quando eu tinha uma bênção em mãos.

Continua...