Mesmos erros? escrita por Sophia Snape


Capítulo 6
Encontro


Notas iniciais do capítulo

Hey, pessoas! Vamos atualizar? Vamos!



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Senhorita Granger,

Será um prazer encontrá-la novamen...

— Droga! – ele amassou o pergaminho e jogou na lareira – “Será um prazer”? Pareço um idiota.

Senhorita Granger,

Fiquei surpreso com o seu bilhete,

— Não. Merda merda merda! – praguejou, repetindo o ritual dos últimos quarenta minutos de amassar e jogar no fogo.

Granger,

— Granger? GRANGER? Você quer o que, Severo? Acabar de vez com o que resta dessa amizade? – disse, furioso, murmurando um feitiço para limpar a bagunça que fizera na tentativa de escrever uma resposta simples para o convite dela. Mil coisas passavam pela sua cabeça sobre o que Hermione Granger poderia querer falar com ele, e nenhuma resposta suficientemente boa se encaixava. Não era para Hermione odiá-lo? Ele a beijara pelo amor de Deus! E depois a deixara sozinha! Por meses!

—  Hermione... – ele suspirou, segurando a cabeça entre as mãos. “Como seria revê-la depois de tanto tempo?”, pensou sentindo aquele frio na espinha só de imaginar. Ele precisava se preparar se não quisesse fazer de idiota na frente dela novamente, e só tinha um jeito de fazer isso: se acostumar novamente com a presença dela. E como, por Merlin, ele faria isso?

— Vê-la de longe! – disse para si mesmo, como se fosse a melhor ideia do universo todinho. – Não – ponderou – Isso é horrível. Espioná-la? Não sou mais um maldito espião. – suspirou novamente, jogando o peso contra o encosto da cadeira.

A verdade é que no fundo Snape sabia o que tinha que fazer: enfrentar a situação. Ele nunca fora covarde, mas tinha agido como um com Hermione. Sua atitude de se afastar dela fora a pior, digna de um adolescente. Ele tinha que encontrá-la, devia isso a ela. Mesmo que fosse para ouvir a rejeição que viria, mesmo que fosse para continuar apenas seu amigo, ele iria. Se ele ao menos tivesse a chance de conversar com ela novamente seria suficiente.

Hermione,

Estou surpreso, e muito feliz, com o seu bilhete. Estarei lá as 16 horas na sexta-feira.

SS

— O que preciso dizer a ela não pode ser dito por aqui – disse, finalmente selando o envelope para entregar a coruja graciosa parada na janela.  – Obrigada por cuidar de Hermione durante esse tempo, Íris. – a coruja piou em reconhecimento, pegando o envelope leve e sumindo por entre as nuvens carregadas.

Minutos depois Snape se dera conta do que tinha acabado de fazer e sentiu o frio na espinha de novo. Ele havia respondido. E eles iriam se encontrar. Só tinha uma palavra que podia defini-lo naquele momento, e foi exatamente a que ele usou quando se deu conta que em menos de 72 horas veria a mulher que assombrara seus pensamentos a pouco mais de um ano.

— Merda.

...

Sexta-feira havia chegado em uma velocidade alarmante, muito diferente dos meses que se arrastaram enquanto Hermione e Snape ficaram separados.

Hermione olhou para o espelho e refletiu sobre sua aparência, se perguntando pela centésima vez como ela parecia. Estava usando um vestido simples de verão, a pele dourada dos dias ensolarados na América contrastando com o azul claro do tecido. Seus cachos tão selvagens como nunca caíam pelos ombros finos, com algumas sardas a mostra. Não havia se passado muito tempo desde que vira Severo pela última vez, mas ela se sentia mudada.

— Chega, Hermione. Ele nem vai reparar nisso. Só... vai lá e faz o que tem que fazer. Fim. – ela repetia isso como um mantra, tentando de toda forma acalmar seu coração e controlar o frio na barriga.

Mas não tinha jeito. Ela estava nervosa demais, ansiosa demais, tudo demais. Saber que em poucos minutos ela veria Severo Snape era muito para lidar. Hermione queria parecer madura e equilibrada na frente dele, o epíteto da racionalidade e do equilíbrio, mas pelo visto não daria.

— Que se dane! – gritou para si mesma, decidindo que não havia o menor motivo para se sentir nervosa, já que havia sido ela, e não ele, a ficar abandonada num corredor frio e escuro em Hogwarts. Não fora ela quem começara o beijo, tinha sido ele. Então porque diabos ela estava tão insegura?

— Eu estou é furiosa! Como ele ousa me beijar daquela maneira – ela se arrepiou apenas com a lembrança do beijo que acontecera meses atrás – e... e... e simplesmente me deixar! Ele NÃO tinha esse direito, Bichento. E sabe do que mais? – Hermione estava furiosa – eu ia até lá pedir desculpas. Imagina só! Desculpas! – bufou, tentando parecer sarcástica e falhando miseravelmente. – Mas é ele quem deve se desculpar!

E com o coração a mil e uma última olhada no espelho ela desaparatou.

...

— Se controle, Severo. Foi ela quem mandou o bilhete pedindo para encontrá-la, então não há o que temer. Você só vai ficar calado ouvindo o que ela tem a dizer e depois se desculpar pelo seu comportamento horrível na noite do baile.

— O senhor está bem? – Severo levou um susto com a voz desconhecida atrás dele, chocando-se com o fato de ter deixado alguém se aproximar sem perceber. Ele devia mesmo ter ficado louco.

— O que?

— É que o senhor estava falando... bem, sozinho... e parecia um pouco nervoso. Eu só... – o trouxa parou ante a expressão quase assassina de Severo – Bem, eu vou indo.

— Boa escolha – respondeu, fazendo o pobre homem tropeçar nas próprias pernas para sair correndo dali. Severo revirou os olhos, sentindo-se ridículo parado num beco vazio nos fundos do pub, falando sozinho, sua coragem vacilando a cada volta que o ponteiro completava um minuto. Ele sabia que Hermione costumava aparatar no beco a frente, e esperava que ela seguisse a rotina, já que ele ainda não estava preparado para vê-la.

— Porra! – praguejou, fechando os punhos. – Isso é ridículo! Só acabe logo com isso, homem. Talvez ela nem fale do que aconteceu, talvez ela tenha odiado tanto que vai fingir que nunca nos beijamos e falar sobre outra coisa. – era óbvio que estava mentindo para si mesmo, mas era tudo que precisava para encará-la. Tinha que bastar.

Em poucos passos ele alcançou a entrada do pub, e seu olhar instantaneamente recaiu onde Hermione estava sentada. Era o lugar que eles sempre sentavam quando iam. Era o lugar deles.

E Hermione? Severo sentiu a boca seca só de olhá-la à distância. Estava ainda mais linda, o queixo apoiado numa das mãos enquanto a outra passava as folhas do livro que estava lendo. Claro que ela estaria lendo um livro. E naquele momento era como se nada entre eles tivesse mudado, como se os meses separados não tivessem existido. Como se eles tivessem se falado ontem enquanto tomavam chá nos seus aposentos, e aquela seria mais uma das ocasiões em que se encontravam para beber e falar coisas sem importância. Naquele momento toda a sua insegurança passara, todo o nervosismo havia ido embora. Ele só conseguiu vê-la no meio de todas as pessoas e caminhar ao seu encontro.

No meio do caminho ela tirou a atenção do livro e olhou para ele caminhando até ela, sem conseguir se mover, sentindo o sangue subir para a cabeça. Ela levantava ou ficava sentada? Ele a abraçava ou só diria “oi”? Como eles chamariam um ao outro? Severo? Srª Granger?

— Severo – ela falou por fim, ainda sentada, incerta de como prosseguir.

— Hermione – e ela estava perdida. Completamente perdida. Ela não tinha a menor chance com aquela voz falando seu nome.

— Por favor, sente-se. – Hermione finalmente falou, sua voz denunciado todo o nervosismo. Seus olhos acompanharam os movimentos do homem a sua frente, que ao contrário do usual parecia comedido, tão incerto quanto ela de como proceder. – Como você está?

“Miserável sem você”, era o que Severo queria responder.

— Bem, e você?

— Estou bem... – ela sorriu, tentando parecer natural – tentando me acostumar ao clima de Londres novamente.

— É horrível, de fato. – ele concordou, tentando parecer simpático.

O silêncio pairou novamente entre eles, os olhares evitando se cruzar a todo custo.

— Já escolheram o pedido? – ambos se assustaram com a voz gentil da garçonete segurando um bloco de pedidos e uma caneta, olhando em expectativa para os dois.

— Só um café, por favor – Hermione disse – Ainda toma chá preto? – perguntou timidamente, ganhando o olhar dele.

— Sim – Severo respondeu, sem tirar os olhos dela – Chá preto, por favor.

— Leite e limão? – a garçonete perguntou, mas foi Hermione quem respondeu.

— Só leite – percebendo o que havia feito ela tentou consertar – quer dizer, era como você costumava pedir. Mas você pode ter mudado, claro. Eu só deduzi...

— Com leite, obrigada. – Severo interrompeu suavemente, olhando divertido para o desconcerto dela. Pelo menos não era o único nervoso.

— Desculpa – Hermione suspirou logo depois que a garçonete saíra – estou sendo tola. Eu só... É que não nos vemos há meses, e é estranho.

— De fato. – respondeu, desconfortável.

— É só isso que vai dizer? “De fato”? – a impetuosidade grifinória levou o melhor sobre ela.

— Eu... – ele hesitou, totalmente incerto de como prosseguir – eu confesso que não sei o que dizer além de me desculpar pelo meu comportamento terrível naquela noite. Foi indigno de mim e você claramente ficou desconfortável. Eu sinto muito, Hermione.

— Não marquei esse encontro para ouvir desculpas. Não pelo beijo. Talvez pela maneira como as coisas ficaram depois, mas... O fato é que... Bem – ela riu nervosamente – o fato é que eu sinto a sua falta. - Severo instantaneamente olhou para ela, em choque – Sinto falta da sua amizade. Dos seus comentários irônicos. Do seu humor. Da sua inteligência. De conversar até tarde com você, e de beber com você. Só queria saber se podemos deixar isso para trás e voltar a sermos amigos? - ela falou tão rápido que perdera o fôlego.

Dizer que Severo estava atordoado era pouco. É claro que ele queria continuar a vê-la, mas como poderia depois de provar o beijo dela? De tê-la em seus braços? Não. Ele a magoaria em algum momento, ou faria um tolo de si mesmo.

— Não vejo como isso é possível. – ele forçou a sair.

— Eu vejo – Hermione murmurou fracamente, sentindo os olhos marejarem. A dor física em seu peito profunda demais para que conseguisse dizer qualquer outra coisa. – Bem, eu... Eu entendo. Não vou incomodá-lo novamente, Seve... Senhor Snape. Boa tarde.

A cada movimento que Hermione fazia para sair da mesa era como um soco no peito de Severo. Sua cabeça só conseguia gritar que ele estava deixando-a ir embora sem falar o que sentia, sem explicar os motivos mais profundos de seu coração.

— Senhorita Granger – Severo praticamente pulou de seu assento para alcançá-la.

— Chá preto com leite e o café, Senhor.

— Obrigado – ele disse apressadamente, olhando para a rua a procura de Hermione – Aqui. – ele entregou uma nota de 20 euros – E fique com o troco. Hermione!

Ele alcançou a rua, mas não havia um único sinal dela. Claro que não. Ela era uma heroína de guerra, afinal. Precisava encontrá-la e se desculpar. Ele não quis dizer da maneira que soou, mas era o que era afinal. Ele não podia ser amigo de Hermione Granger. Não mais. Seria demais para ele tê-la tão perto e não poder tocá-la. Ao mesmo tempo, não tê-la de maneira nenhuma? Qual seria pior?

— Merda! – Severo praguejou, sabendo exatamente o que deveria fazer.

***


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Contem, contem, contem!