Olhos de spoilers e uma constelação de cachos dourados.

River Song era uma galáxia inteira de sorrisos tortos e sentimentos dúbios. Ela poderia enchê-lo de beijos, poderia matá-lo e, mais importante, poderia fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Ele sabia de tudo isso e, ainda assim, não conseguia controlar sequer um dos corações a respeito daquela mulher.

O plano era muito simples, como a maior parte deles costumava ser, na verdade. O Doctor havia prometido à Amy e Rory que cuidaria dela e era isso que ele vinha fazendo. Com uma frequência maior do que ele havia esperado, de fato, e com um apego cada vez mais preocupante também, mas o que diabos ele poderia fazer?

Ela era intrigante como ninguém mais. Uma psicopata em reabilitação e ele nem tinha ideia se aquilo era realmente possível ou se estava apenas sendo muito otimista, como mandava o traço mais marcante da sua décima primeira regeneração.

O que – infelizmente – ficava cada vez mais certo, por outro lado, era o quanto gostava de sua companhia.

Eles tinham acabado de chegar de um passeio rápido pela quinta lua de Zinstra e Doctor não poderia estar com mais pressa para se livrar de River. Ela havia sido adorável durante todo o percurso e conseguira tornar todas as partes entediantes em gargalhadas genuínas.

– Você é péssimo com expressões faciais, querido. – A voz dela resgatou-o do principio de colapso nervoso que ele estava tendo.

Em resposta, o Doctor a encarou com duvida.

– São esses olhos tristes de filhote abandonado. – Explicou-se, sorrindo enquanto manejava o painel da Tardis. – Mas não se preocupe. Já estou indo embora.

Ele negou com a cabeça, inutilmente. Ela o conhecia bem demais, então ele achou melhor não prolongar a mentira, enfiando as mãos nos bolsos.

– No que você está pensando? – River questionou, encarando-o.

– Em nada. Nada demais. – Enfatizou, ajeitando o cabelo. – Estou pensando no lugar para onde estamos indo.

– Uh. Isso parece intenso.

Ele suspirou, cansado.

– Você não parece preocupada.

– Se eu estivesse, você saberia? – Piscando, ela lhe abriu um de seus melhores sorrisos.

– Para onde estamos indo, River? – Ele julgava já ter intimidade o suficiente para lhe fazer perguntas honestas e sérias.

De fato tinha. O suficiente para saber também que ela nunca o responderia.

– Oh... Spoilers. – Mais um sorriso e ele não resistiu ao impulso de segurá-la pela cintura.

River era controlada o suficiente para manter os dentes à mostra por mais cinco ou seis segundos antes de finalmente desmanchar sua pose confiante e encará-lo da mesma maneira séria e intensa que o Doctor estava fazendo.

Ela gostaria de continuar odiando mais uma daquelas caras de garoto que ele vinha insistindo em manter, mas, como tudo em relação ao Doctor, era difícil resistir por muito tempo. River sentia um fisgar no peito toda vez que ele colocava os olhos sob ela. Era tomada por uma vontade insana de viver uma vida normal, ou ao menos tão normal quanto uma pessoa como ela e um senhor do tempo como ele poderiam ter.

Estava claro que aquilo não acabaria bem. Seu diário não precisava estar completo para ela entender que duas linhas temporais que corriam em direções opostas uma a outra não tinham exatamente um final agradável.

Ainda assim, ela desejava que tivesse.

Talvez por isso tenha encostado os lábios nos dele.

Talvez por esse mesmo motivo ele tenha correspondido.

Havia tantos “talvez” entre eles quanto às estrelas naquele pedaço de céu em que estavam. Ambos estavam cientes de que sempre haveria. Naquele instante, entretanto, no instante em que o Doctor cedia aos hábitos humanos que havia adquirido ao longo de todos aqueles anos e que River se desarmava de suas falas afiadas, de sua postura e segredos, não havia nada alem de Melody Pond e do viajante do tempo de Gallifrey cujo nome só ela saberia, muito em breve, no dia em que eles se casassem.

Não havia nada alem do sentimento que transporia o tempo e espaço e escoaria pelo restos de suas vidas.