A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 3
Adeus anexos, olá Embaixada!


Notas iniciais do capítulo

Não se assustem com o que possa acontecer nesse capítulo. No final, tudo (ou quase) será explicado.



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Na manhã seguinte, Raven acordou assim que o sol começou a nascer e começou a reclamar de dor nas costas, o que acabou acordando as companheiras. Como se não bastasse, a porta do banheiro caiu.

– Eu não fico nem mais um minuto nesse barraco! – Anunciou a egípcia.

– E agora? – Perguntou Jasmine, que estava agarrada com seu guaxinim de pelúcia. – Como vamos nos trocar?

– Cada uma vira para um canto e muda de roupa e quem terminar avisa as outras que está pronta. – Sugeriu Diana.

Foi o que fizeram. Após se trocarem e colocarem as camisetas laranja com shorts e tênis, menos Helena, que ocultou a camiseta por um casaco branco, já que para tomar banho era preciso sair com o balde e encher a tina. Tiveram que usar o banheiro comunitário do acampamento para fazer as necessidades, sendo que Raven o fez a contragosto. Havia uma multidão na Casa Grande. Cada um relatava um incidente diferente que tinha acontecido nos anexos. Dionísio acabou ficando irritado e mandado os campistas construírem coisa melhor.

– É isso que eu vou fazer. – Disse Raven pegando um celular dourado em forma de sarcófago. – Precisamos de um local bom.

As outras acompanharam a egípcia até um local um pouco mais distante dos chalés. Lá ela pegou o celular em forma de sarcófago, ligou para Anúbis e convenceu ao deus que lhe enviasse espíritos dos escravos para construir um chalé que prestasse.

– Godcels e seus milagres. – Disse a egípcia enquanto rabiscava algo no caderno.

– O que é um Godcel?

– É um celular criado por Thoth para que os deuses possam se comunicar uns com os outros e com seus filhos. – Explicou Diana. – Sem precisar carregar a bateria, sem precisar de operadora, sem mensagens promocionais e o melhor de tudo, o sinal pega em todo lugar dos nove mundos, têm câmera com alta resolução, filmadora, jogos, internet grátis, whatsapp e muito mais!

– E você não precisa nem saber o número para ligar do Godcel. – Disse Raven. – Só precisa cadastrar o seu, usar as letras para digitar o nome de quem você quer ligar e se ele também estiver cadastrado, pronto. Sem linha de crédito, sem operadora, o sinal pega em qualquer buraco e sem conta pra pagar. Thoth é um gênio!

– Thoth é o deus egípcio da sabedoria, do conhecimento, da escrita, da ciência e de tudo mais do campo intelectual que puder imaginar. – Explicou Helena à Jasmine. – Mas só os nórdicos e egípcios usam. Os gregos o recusaram.

– Hei, eu quero ver esse projeto! – Gritou a ruiva.

Diana e Raven começaram a discutir sobre o projeto e quando os escravos mortos vivos chegaram, Raven começou a dar ordens a eles. Diana convenceu Helena a invocar espíritos de trabalhadores, ferreiros e construtores para ajudar na construção. Assim que Helena os invocou, Diana se juntou a Raven na coordenação das atividades enquanto Helena e Jasmine foram ao pavilhão.

Ao entrarem no pavilhão as duas sentiram os olhares dos demais campistas sobre si. Helena os ignorou, para ela não eram diferentes dos hóspedes que viviam no palácio de sua mãe, eram como fantasmas, sobras do que um dia já foram. Para Jasmine os olhares eram irritantes. Ela se perguntava como a garota de cabelo estranho conseguia ignorá-los com tanta naturalidade. E como parte do cabelo dela era estranhamente branco e não parecia ser tingido ou descolorido. As duas se serviram e se sentaram em uma mesa afastada das demais, não antes de jogarem um pouco de comida na fogueira.

– Por que você ainda pratica esse costume se é nórdica?

– Mostrar um pouco de respeito não faz mal a ninguém e além do mais, eles não estão prontos para conviverem com nórdicos e egípcios.

– Os olhares deles incomodam. Como consegue ignorá-los?

– Vivi toda a minha vida em Helheim, só passei alguns fins de semana na casa do meu pai por imposição da minha mãe. Depois de passar a minha vida inteira no Elvidner, acabei me acostumando.

– Elvidner?

– O palácio da minha mãe. As paredes são feitas de sofrimentos e a porta principal é o precipício. Os fantasmas dos mortos que não morrem em batalha vão para Niflheim e só os heróis, e deuses mortos vão para Helheim quando tem alguma festividade, por isso é possível vê-los nos corredores. Eles se sentam em fome, a mesa, já que fantasmas não comem e são servidos pelos criados Atraso e Vagareza. Inanição, a faca, é a sua fiel arma e às vezes surge para me ajudar.

– V-Você comia nessa mesa?

– Minha mãe nunca me deixou sentar à Fome, assim como não me deixa sentar em seu trono e muito menos deitar em sua cama, Preocupação, feita de preocupações.

– Como é a sua mãe?

– Metade dela é uma mulher de incrível beleza e a outra metade é um cadáver em decomposição acelerada. – Jasmine sentiu um frio percorrer a espinha. – Minha mãe é muito justa, por isso é extremamente impassível. Nem boa e nem má, apenas justa, até com os próprios filhos.

– Mas ela é a sua mãe!

– Mas isso não é motivo para eu não pagar pelos meus erros. Se ela não fosse assim, os outros deuses não a levariam a sério e também não a temeriam. Que justiça pode se esperar de um julgamento parcial? Nem sempre o autor está com a razão e nem sempre o réu é realmente culpado da acusação.

– Entendi. – Disse tentando desviar o olhar, mas o cabelo branco da outra não deixava.

– Por que olha tanto para o meu cabelo? Não minta para mim, é muito pior quando mente.

– Eu queria entender... O que deu na sua cabeça para fazer isso com o seu cabelo?!

Helena ficou um pouco perplexa, mas depois desatou a rir, o que assustou Jasmine e os outros que estavam no pavilhão, embora não estivessem conseguindo ouvir a conversa.

– Alguns semideuses têm uma peculiaridade herdada de um deus. Os filhos Afrodite geralmente nascem belos, um em cada 4 filhos de Rá nasce com o Olho de Rá, os filhos de Njord nascem com o cabelo loiro esverdeado ou inteiramente verde e os filhos de Hel nascem com cabelo metade preto e metade branco, como é o meu caso.

A conversa foi interrompida pela entrada de um campista histérico que gritava coisas sobre mortos no acampamento. Jasmine e Helena viram que era hora de sair dali, então pegaram uma maçã e um cacho de uvas e atravessaram a porta. Elas foram até o local em que tinham deixado Raven e Diana. A estrutura de madeira estava parcialmente montada, um escravo egípcio cortava pedras egípcias enquanto outro carregava tábuas de madeira. Alguns trabalhavam com mármore e outros montaram uma forja improvisada onde martelavam.

– Vocês levaram mesmo a sério. – Comentou a filha de Hel.

– Espere até ver como vai ficar quando acabar. Raven já está trabalhando na decoração.

– Mas vocês ainda mal começaram! – Espantou-se a filha de Gaia.

– Fale isso para ela. Hei, toma cuidado com esse mármore! Quer saber, me dê isso!

Diana foi até os mortos que lutavam para arrasta o carro com mármore e pegou a pedra como se fosse uma caixa vazia. Ela o levou até o local demarcado ao mármore onde os mortos começaram a trabalhar. Depois retornou às outras duas.

– Não está fácil coordenar os mortos, mas pelo menos trabalham bem depressa.

– Trouxemos isso para vocês. – Disse Jasmine entregando a maçã e o cacho de uvas para a nórdica. – Já que ainda não foram tomar café da manha.

– Obrigada. E não vamos sair daqui tão cedo. Raven!

A egípcia se aproximou do grupo com um monte de planos e tabelas em mãos. Diana entregou a ela o cacho de uvas e deu uma dentada na maçã. Vendo que elas não sairiam de lá tão cedo, Helena e Jasmine decidiram dar uma volta pelo acampamento sem rumo definido.

As duas passaram pelo lago, tomaram o caminho da arena e acabaram na forja. Viram mortos entrando e saindo com materiais de forja e os filhos de Hefesto reclamando como velhos que reclamam com crianças que invadem seus gramados.

– Mas o que significa isso?! – Perguntou Quíron, que passava por lá.

– Dionísio desafiou aos moradores dos anexos a construírem coisa melhor se não estivermos satisfeitos. – Esclareceu a nórdica. – Só estamos fazendo o que ele mandou.

– Com mortos?!

– Cada um se vira como pode.

– Hei, devolvam esse martelo! – Gritou um dos filhos de Hefesto enquanto corria atrás de duas almas de escravos egípcios, que carregavam algumas ferramentas.

– Estão indo escolher suas armas? – Perguntou o centauro.

– Já possuo as minhas. – Respondeu Helena.

– Armas?!

– Claro, ou irá treinar combates como?

– Combates?!

– Sim. Olhe, há dois combatendo bem ali.

Jasmine olhou para onde o centauro tinha indicado. Havia dois campistas combatendo com espadas, mas ela não viu o rosto de nenhum deles, apenas desviou o olhar um tanto assustada com a ideia do combate.

– Ela ainda é inocente? – Perguntou Quíron a nórdica.

– É, mas iremos dar uma olhada no arsenal mesmo assim.

Jasmine foi praticamente arrastada pela nórdica até o arsenal com Quíron atrás. Havia uma quantidade grotesca de armas, mas a grega insistia em não entrar. Aquilo a assustava.

– Não vou conseguir obrigá-la, mas Diana vai. – Pronunciou Helena. – Obrigada e sinto muito por desperdiçar seu tempo.

– Não tem problema, desde que os mortos devolvam as coisas depois.

– Falarei com Raven e Diana sobre isso.

Quíron se afastou para averiguar se outros novatos estavam com problemas. Helena deu de ombros para a situação e continuou andando e Jasmine a seguiu. A dupla parou nos estábulos, apenas para dar uma olhada.

– Cavalos alados? – Perguntou Jasmine.

– Pegasus. Deveria prestar atenção na sua própria mitologia.

– Ainda é estranho para mim. Antes deuses, ninfas e animais fantásticos não passavam de histórias e agora são reais. – Ela adentrou no estábulo. – Você não vem?

– Eles não gostam de morte.

Jasmine passou algum tempo conversando com os pegasus enquanto Helena apenas esperou do lado de fora. Infelizmente alguns dos filhos de Afrodite acabaram entrando no estábulo. Eles iriam pegar os pegasus para dar aulas de equitação aos novatos.

– Mas se não é a filha de Gaia, a titã que tentou derrubar o Olimpo. – Disse um.

– Credo! O que a outra fez no cabelo?! – Gritou uma loira.

– Nós já estávamos de saída. – Disse Jasmine em sua defesa enquanto saía do estábulo e passava por Helena, que a seguiu.

– Isso, volte para as suas amigas que te defenderam no jantar! – Gritou um.

– Aposto que essas duas nem sabem cavalgar. – Disse outro.

– Elas estão morando em um anexo de madeira porque seus pais são tão pequenos, mas tão pequenos que não têm chalés aqui.

– E Gaia a abandonou por ser fraca, pois se fosse forte teríamos lutado contra ela na batalha.

– De que adianta, iria perder mesmo assim.

Helena parou de caminhar e quando se virou para eles, fendas tinham sido abertas no chão e esqueletos de cavalos, gigantes e anões surgiram e no segundo seguinte a nórdica estava montada em um corcel negro como azeviche e tinha a calda e a crina em chamas, que também eram visíveis em seus cascos. Seus olhos eram de um vermelho ardente como lava e de alguma forma causava medo a todos, menos à nórdica. A multidão de ossos avançou e os filhos de Afrodite foram obrigados a correr. Os pegasus saíram do estábulo e se puseram em marcha.

Com a confusão de pegasus e ossos, Jasmine acabou se separando de Helena e correu para se salvar. Ela só parou quando suas pernas não aguentaram mais e caiu de joelhos. Ficou algum tempo puxando o ar e soltando até que recuperasse o fôlego. Quando sua respiração se normalizou, ela viu que estava no bosque perto do Riacho Zéfiro. Ela deitou no chão, se apoiou contra uma árvore e começou a chorar. Uma leve brisa começou a soprar, mas ela não percebeu.

Não chore. – Dizia uma voz dentro de si. Jasmine achava parecida com a que ouvira no museu. – Está segura.

Isso não adiantará de nada. – Dessa vez a voz era diferente.

Jasmine levantou a cabeça e enxugou as lágrimas o máximo que pôde. Ela não viu ninguém além de um corcel cor de mel e crina e cauda marrons.

– Foi você quem falou comigo?

Não, foi a árvore. Não está vendo que as árvores falam?! – Respondeu ríspido.

– Falo com árvores também e elas sempre me respondem.

Então você é a filha de Gaia. O acampamento não fala em outra coisa.

– Eu me chamo Jasmine. E você?

Árion. Sinto cheiro de queimado.

Ao olhar para o lado, o cavalo amedrontador de fogo estava lá. Helena desmontou dele e segurou suas rédeas. Árion não se sentiu nem um pouco à vontade com a presença do outro e ambos se encaravam mortalmente.

– Onde esteve?! Tive que adiar a partida de Sinnen para te procurar! – Esbravejou a nórdica, que naquele momento assustava mais a grega do que o cavalo de fogo.

Cuidado com ele! – Gritou Árion encarando o outro cavalo. – Ele é tenebroso!

Quem diria que encontraria Árion, o veloz. Você não tinha crina e cauda azuis?

– Eu pinto a crina e a cauda, ta.

– Com cascos?

– Derpina pinta pra mim. – Bufou.

– Basta Sinnen! Se há algo a dizer Árion, não esconda através da língua dos cavalos.

– Língua dos cavalos? – Perguntou Jasmine. – Você entende o que eles dizem?

– Sinnen é um pesadelo, pesadelos se comunicam com os cavaleiros por meio de telepatia. Árion é filho de Poseidon e Deméter. Ele tem os poderes da fala e o de ver o futuro.

– Tem?!

– Eu tenho. – Disse o cavalo. – E não saberia se não fosse pela... Puta que pariu! Você não!

– É melhor voltarmos para ver como está o progresso de Raven e Diana. – A morena albina ignorou o comentário do equino. – Sinnen, vá. Se o acharem teremos problemas.

Relutante, o pesadelo se virou e galopou para longe, sumindo entre as sombras que tinham no bosque em questão de segundos. Helena pôs-se a andar e Jasmine se despediu de Árion antes de seguir a nórdica. O silêncio era constrangedor, foi a grega quem o quebrou.

– Sinnen é rápido, não?

– É um pesadelo, pesadelos podem atravessar dimensões. Foi o que ele fez.

– Ah, ta. – Novamente o silêncio foi estabelecido. – Helena, por que fez aquilo?

– Não gosto de injustiças. Ninguém tem o direito de te julgar antes de te conhecer.

Caminharam de volta para a construção. O primeiro andar parecia estar terminado e o segundo já mostrava avanço considerável. Novamente se afastaram das duas, pois ouvir as ordens berradas de Diana e Raven não era a melhor das ideias, ainda mais com a ruiva xingando os trabalhadores por cada erro que cometiam. Só voltaram quando estava próximo do horário de almoço. Estava pronto e os operários devolviam as ferramentas.

A construção se revelou um chalé de dois andares feito de pedra egípcia em um estilo semelhante ao de uma casa nórdica com colunas gregas dóricas e cinco degraus de mármore na fachada. Acima estava um brasão formado por um corvo com udjat no lugar dos olhos enquanto segurava a runa Eolh enquanto era rodeado por uma coroa de louros. O portão era de ferro fundido. Diana e Raven a nomearam Embaixada.

Ao adentrarem, viram que o interior possuía uma sala grande com sofás aconchegantes e uma lareira no canto. No meio da sala havia uma fonte escavada com flores de lótus. Também tinha uma pequena cozinha e uma biblioteca grande com estantes de livros, telescópio, uma mesa central e instrumentos astronômicos e de navegação.

Na parte de cima ficavam os quartos, cada um possuía uma cama de casal, uma escrivaninha, uma pequena cômoda e criados-mudos com abajures, duas portas também se faziam presentes, sendo que uma delas dava para o banheiro e a outra para um closet. O quarto era decorado de acordo com os gostos das integrantes. Jasmine notou que o piso do seu era de carvalho e tinha uma cama feita de olmo, a cômoda feita de mogno, os criados mudos feitos de cedro, a escrivaninha de salgueiro e a cadeira de cerejeira. Abajures ecológicos estavam em cima dos criados mudos, uma árvore forjada em ferro estava na parede, havia um tapete verde e creme reciclado e uma luminária pendia no teto. Seu guaxinim de pelúcia estava em cima da cama, com uma roupa de cama branca com desenhos verdes de folhagem.

– Ficou incrível! – Exclamou Jasmine.

– Tudo neste quarto é ecológico. – Disse Raven. – Agora só precisamos dar um jeito nas suas roupas.

– O que tem de errado com as minhas roupas?

– Parecem que foram compradas no brechó do exército da salvação. Venha, eu te levo ao shopping mais próximo para comprar roupas novas.

– É melhor eu ir também. Raven pode querer comprar o shopping inteiro. – Disse Diana. – Você vem, Helena?

– Tenho mortos para cuidar.

As três saíram do acampamento enquanto Helena ficou para trás para se certificar de que os mortos devolvessem as ferramentas e depois voltassem ao seu descanso.

Enquanto isso, Árion estava no meio da floresta pensando na vida quando o ambiente pareceu congelar. As árvores perderam as folhas rapidamente e o gelo se apoderou do local.

– Resolveu se tornar gentil com uma das crias, Árion?

– Oi pra você também, Derpina.

– Sabe que eu odeio ser chamada assim. – Seu tom era tão gelado que parecia que as palavras se materializariam em gelo.

– Relaxa, Despina. Você não tem senso de humor.

Despina era a deusa do inverno, filha de Poseidon e Deméter, irmã gêmea de Árion e meia-irmã de Perséfone. Era uma mulher pele glacial, cabelo azul claro quase branco e olhos azuis que lembravam as geleiras e vestia um vestido azul claro e branco. Enquanto Árion era sarcástico, Despina era fria.

– O que seus olhos vislumbraram do futuro? – Perguntou sem rodeios com a voz glacial. Era muito direta.

– Muitas coisas, mana, e digo mais, está tudo se encaminhando para a maior treta dos deuses!

– Ouvi dizer que o acampamento está tendo um dia fora do comum.

– Que nada. Só teve alguns mortos roubando ferramentas e construindo coisas, fendas se abrindo, a filha da Cruella Deville à solta e um maldito pesadelo galopando por aí. Mais normal do que isso só nosso pai fodendo a nossa mãe em forma de cavalo.

– É mesmo? Pensei que fosse você se tornar subordinado de uma menina.

– Eu não sou subordinado a ninguém!

– Está até trocando de menina. – Comentou em um tom mais divertido.

– Não estou trocando de menina! E não sou subordinado a menina nenhuma! Só me aproximei porque aquela garota será a minha chance de conhecer o jovem mestre.

– Está até querendo arrumar um mestre.

– Não estou! Porra, Despina, você não vai entender!

– Explique.

– Ele é filho da Senhora.

– A Senhora sou eu.

– Puta que pariu! Você não tem jeito Despina!

Despina soltou alguns risinhos, coisa que só acontecia quando estava com Árion ou Anitos, o titã que a criou e lhe deu o nome. Árion estranhava quando a irmã ria, Despina era tão calorosa quanto um iceberg, mas preferia um sorriso ao ódio da irmã.

– Soa como Poseidon.

– Não, ele quando soube de você, ele disse: “Puta que pariu, essa menina não tem jeito! Como Deméter pariu uma criatura dessas?! Ela congelou meu palácio e matou meus cavalos de frio e hipotermia!”.

– É bem verdade.

– Vou dar uma corrida e ver se encontro ouro para comer no lugar daqueles cereais.

– Você é o único que Deméter não pode reclamar que não come cereal.

– Também eu sou um cavalo, ninguém deixa o pudim para o cavalo. E você congelou minhas frutas, Let it go!

Árion se afastou da irmã, que lançou um raio de gelo no lugar onde ele estava. Os dois começaram a correr em círculos como quando eram crianças enquanto Árion cantava.

– Let it go! Let it go! Winter is Coming! Let it go! Let it go! Vou armazenar comida antes que Despina a congele! Let it go! Let it gooooo!

Ficaram assim durante um tempo até Árion dar de cara com um monte de neve, fazendo com que a irmã desatasse a rir. Após se recompor e voltar à sua expressão fria, Despina desapareceu, deixando o cavalo sozinho enquanto balançava a cabeça para tirar a neve da crina.


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Notas finais do capítulo

Godcel é um celular inventado por Thoth apenas para deuses e semideuses. Ele possui sua versão fixa, conhecida como Godphone. Seu alcance vai desde o topo da Yggdrasil até as profundezas de Nifleheim, tem todos os serviços de um celular normal, mas com uma internet que presta e sem conta pra pagar e sem bateria para recarregar toda hora.
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Thoth é o deus egípcio da sabedoria, do conhecimento, da escrita, da astrologia, astronomia, da ciência, matemática e das invenções, além de outros títulos voltados ao campo intelectual.
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Helheim é um dos nove mundos da mitologia nórdica, é o mundo dos mortos e morada de Hel. Algumas versões dizem que foi construído em cima de Nifleheim, em outras, que conteria outros nove mundos que seriam equivalentes aos nove mundos nórdicos.
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Niflheim é o mundo do frio e da neve eterna, abaixo de Helheim. Não fica se ambos são uma coisa só ou se Niflheim fica nas profundezas de Helheim ou se Niflheim já existia antes de Helheim. Eu os considero como dois mundos em um, mas isso é de cada um.
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Elvidner é o nome do palácio de Hel, cujo significado é miséria. Ele é um dos três palácios mais importantes da mitologia nórdica, os outros dois são Valhalla, governado por Odin, e Folkvangr, governado por Freya. O Elvidner recebe as almas daqueles que foram portos por qualquer outra coisa que não seja por batalhas enquanto Valhalla e Folkvangr dividem os mortos em batalha.
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Pegasus (pégaso ou pégasos) é um cavalo alado nascido do sangue da medusa e que voi domado por Belerofonte, um filho de Poseidon, em outras versões era filho de Glauco. Ele o dominou com as rédeas de ouro dadas por Atena, venceu a quimera com o cavalo, fez vários feitos e teve a brilhante ideia de voar até o Olimpo. Zeus enviou uma vespa para picar o cavalo. Em algumas versões, ele morreu na queda, mas a versão mais comum é a que Atena pediu para que o solo se tornasse macio, salvando a vida do herói, se tornando um aleijado procurando pelo pégaso.
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Pesadelo é um cavalo negro demoníaco feito de trevas com fogo nos olhos, na crina, na cauda e nos cascos. Além de eles causarem medo e temor em quem os olhar, podem viajar entre dimensões e geralmente são montados por demônios, mas outros podem montá-lo. Uma vez montado, o pesadelo se torna leal ao seu mestre e pode se comunicar com ele através de telepatia, não sendo necessário conduzi-lo para onde quiser, bastando pensar para onde quer ir (imagine um carro funcionando com o poder da mente ou com um GPS que realmente funcione e um piloto automático dos filmes de ficção científica, só que troque carro por cavalo em chamas).
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Para domar um pesadelo, é necessário usar um pouco de platina (o mineral mais caro que ouro), que é o seu alimento, mas isso não é nenhuma garantia de que consiga realmente domá-lo.
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Sinnen vem de Sinne, que em norueguês quer dizer fúria.
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Na mitologia grega, Árion tinha crina azul, assim como seu rabo, o dom da fala e da visão futura. Na fic, ele pinta de castanho para se parecer com outros cavalos.
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Árion é filho de Poseidon e Deméter e irmão gêmeo de Despina, a deusa do inverno. Tudo aconteceu após o rapto de Perséfone por Hades e Deméter foi procurar pela filha. Em uma de suas procuras, ela acabou sendo desejada pelo seu irmão Poseidon e teve que fugir dele. Durante a fuga ela teve a ideia mais incrível do mundo de se transformar em uma égua para fugir do senhor dos cavalos. Poseidon virou um cavalo, se acasalou e depois nasceram os gêmeos Despina e Árion e os abandonou, sem sequer dar um nome para Despina, para procurar Perséfone. Os dois foram encontrados e criados pelo titã Anitos (que não tem muitas informações) e que deu um nome para a menina.
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Despina é tão revoltada e odiosa com os pais que congela o solo e os lagos, e até mesmo mares, enquanto Árion já ajudou vários herois. E Despina era tão temida que para não pronunciarem seu nome, a chamavam de senhora.
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Na fic, Árion é o único que ela considera sua família, além de Anitos, e além de ter que suprir a falta de polegares do irmão, ela tem que aguentar seus apelidos toscos como Elsa, lerigou, Frozen, Winter is Coming, inverno de Westeros... Ah, se eles não fossem gêmeos.
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É isso, espero que tenham gostado, que as informações estejam claras, se esqueci de algo, me avisem, vamos debater e não chorar.