Tal Mãe, Tal Filha escrita por Candidamente


Capítulo 12
Como sempre


Notas iniciais do capítulo

Chegueeei!
Como vocês estão?

Este capítulo é importante, espero que vocês gostem!
Boa leitura!



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A longa viagem de trem até a Estação de Hogsmeade passou rápido para Rose. Enquanto Albus e Roxanne jogavam xadrez de bruxo e Scorpius fitava a janela, ela lia algumas edições antigas da revista O Preparador de Poções que havia encontrado abandonadas na casa dos pais. Na hora do almoço, comeu duas fatias de pão torrado com geleia de maçã. Rose tinha mais dentro de sua mochila e ofereceu aos outros, porém, apenas Roxanne aceitou.

À medida que o Sol foi baixando no horizonte, a temperatura caiu gradualmente. Scorpius havia dormido e tremia com o frio. Roxanne saiu para trocar as roupas trouxas pelo uniforme de Hogwarts, e, quando voltou, encolheu-se no banco, murmurando feitiços de aquecimento e fazendo a própria capa de cobertor. Albus fora encontrar Mary em algum compartimento distante dali; e Rose, já há algum tempo com o uniforme da escola, ficava mudando a cor de sua mochila de azul para roxo, depois para rosa-choque, laranja, amarelo-mostarda, verde-limão, cinza e azul de novo. Ela não via a hora de chegar ao aconchego do salão comunal da Grifinória e aproveitar para descansar antes que as coisas começassem a ficar muito difíceis devido ao curso avançado em magia.

Rose deu uma trégua à mochila e observou a lua pela janela. O brilho prateado encoberto por nuvens cinzentas era a única luz no breu da noite lá fora. Rose sentiu falta das estrelas, mas Roxanne não a deixou pensar muito mais sobre isso, pois se levantou dizendo que, como dali a pouco o trem chegaria a Hogsmeade, ela precisava achar Juliet Cooper, sua amiga que estava em algum compartimento com James e seus outros amigos — Charles Arcatom e David e Sarah Finnigan —, dos quais Roxanne havia se distanciado um pouco durante as férias.

— Boa sorte — desejou-lhe Rose.

Roxanne apenas riu, fechou a porta atrás de si e desapareceu no corredor.

Rose voltou a olhar o céu, onde cada vez parecia haver mais nuvens para esconder a lua. Provavelmente, não demorou muito até que Scorpius acordasse, porém ela havia pegado no sono e só acordou com o rapaz chamando o seu nome.

O trem tinha parado e vozes podiam ser ouvidas de todos os lados. Rose empertigou-se no banco e esfregou os olhos, assim pôde ver as luzes da Estação de Hogsmeade e a silhueta de um meio-gigante em meio à chuva fraca, conduzindo um bando de seres minúsculos — os alunos do primeiro ano — até o lago para leva-los de barco ao castelo de Hogwarts.

Scorpius e Rose apanharam suas mochilas e saíram compartimento afora, seguindo pelo corredor e se espremendo entre a aglomeração de alunos também a fim de sair do trem. Desceram do vagão e logo foram alcançados por Albus e Mary, os dois usavam os capuzes de suas capas para não se molhar e estavam de mãos dadas. A garoa havia virado chuva e estava ficando mais forte, portanto Albus, Mary, Rose e Scorpius correram para uma das carruagens dispostas na estrada que levava aos terrenos de Hogwarts.

No fim, as capas não adiantavam mais. Os cabelos de Rose estavam colados nos lados do rosto e ela estava toda molhada; os outros três não estavam muito diferentes. Mary era a única que parecia não sentir frio, tampouco parecia gostar da chuva.

O silêncio dos quatro adolescentes fazia com que ficassem mais altos sons como o das rodas da carruagem e das vozes de dezenas de alunos conversando abertamente a bordo de outras carruagens, tanto as que vinham da frente quanto as que vinham de trás.

***

Embora a chuva forte o estivesse deixando um tanto atordoado, de uma coisa Scorpius tinha certeza: Albus e Mary estavam fazendo tudo aquilo de propósito. Desde o dia em que Albus descobriu seu segredo, um ano atrás, ele não confiava mais no amigo quando estava com Rose. A garota parecia não perceber, mas o Potter estava sempre aprontando uma e outra para deixa-los sozinhos. E então, aparentemente, Mary havia virado sua cumplice.

Albus discutia meios de aproximar Scorpius e Rose cada vez mais. Por mais que os sentimentos de Scorpius fossem claros e tão fortes que quase chegavam a ser insuportáveis, ele não queria ajuda. Queria que Rose percebesse aos poucos o que ele tinha aprisionado no peito, tudo a seu tempo. Ela era esperta demais para não notar, e ele nem ao menos conseguia manter seus batimentos cardíacos normais quando estava perto dela.

E mesmo assim a garota ainda parecia tão fechada acerca dos próprios sentimentos... Tão compreensiva e adoravelmente gentil para com os amigos, do tipo que ajudava da melhor maneira a seu alcance e que sabia entender o que estavam sentindo, porém aparentava ser tão cega quando se tratava de si mesma. Scorpius desejava intimamente que ela fosse capaz de vê-lo como ele realmente queria ser visto.

Demorara muito tempo para que o garoto admitisse para si mesmo que estava gostando de Rose. No começo, nem sequer percebera; era como se tivesse sentimentos inconscientes que se manifestavam aos poucos, cautelosamente, escondidos até mesmo de seu dono. Scorpius também nunca entendeu porque ele e a garota tinham de ser rivais, não sabia porque ela parecia desprezá-lo. Entretanto, certo dia no final do quarto ano letivo em Hogwarts, pelo menos os seus sentimentos começaram a lhe mostrar que estavam ali.

Ele não tinha certeza, na verdade, só lembrava-se de que o caminho até Hogsmeade e as próprias ruas do vilarejo estavam cobertas de flores. Não se lembrava do céu ou do clima, porém jamais esqueceria a Casa dos Gritos ao longe e uma Olivia Basford rindo com entusiasmo, como se o motivo fosse muito divertido.

Ela havia zombado de alguma coisa em Rose que aparentemente achara hilária. Já começava a ficar desprezível agindo de tal forma, parecia cruel; Scorpius ainda não havia notado aquele seu lado repugnante que o estava deixando enojado.

A garota cuspiu tantos insultos, tantas piadinhas de mal gosto a respeito de Rose, que o Malfoy, ciente de que não suportaria ouvir mais, deu-lhe as costas, sem demais explicações. Apenas “Eu vou voltar para o castelo. Me desculpe, mas você está me assuntando.” Ele esperou não ter soado cruel como as palavras da própria Olivia, porém, depois disso, ela nunca mais lhe dirigiu a palavra.

Na última semana de aulas daquele mesmo ano, Scorpius ouviu alguns garotos comentando algo relacionado a Olivia tê-lo deixado em prantos, sozinho e abalado. Ele achou engraçado e, depois de um tempo, quando parou para pensar, chegara à conclusão de que fora melhor assim. Embora nem importasse muito na verdade, tudo foi esquecido depois do verão e as coisas voltaram ao normal.

Agora, mesmo depois de ter conseguido se aproximar de Rose, às vezes parecia que ela não lhe dava a mínima... E isso não era fácil para Scorpius. Ele tinha quase certeza que ela o queria apenas como amigo. Não que não fosse ótimo ter a sua amizade, ainda assim era um pouco doloroso para ele. Porque Rose parecia ser tão desligada e tão superficial acerca de sentimentos que tudo o que Scorpius podia imaginar era que, ou ela andava tão concentrada nos estudos a ponto de não pensar em mais nada a não ser na bela poeira da biblioteca, ou ainda gostava do ex-namorado, David Finnigan — a quem costumava chamar de Dave.

Embora a opção mais provável fosse a primeira, Scorpius não tinha vergonha de admitir — pelo menos para si mesmo — que, sim, sentia um pouco de ciúmes.

Mas não era o dono de Rose, e nem em um milhão de anos chegaria a ser, tampouco queria isso. Scorpius gostava de observá-la, era o melhor que podia fazer. Assim, os finais de semana em Hogsmeade eram uma grande vantagem, afinal, Rose estava sempre sorrindo.

Certa vez ela saíra pulando pela rua principal, porém voltara para puxar a mão de Scorpius e dizer que não o deixaria para trás.

Às vezes o garoto sentia-se um idiota com tantas ilusões, mas o que mais fazia era tentar desviar-se do pensamento de que elas eram de fato ilusões. Scorpius só queria continuar assistindo enquanto Rose sorria e seus olhos azuis brilhavam. Ele sentia que podia ser o motivo de alguns daqueles sorrisos e que talvez até já tenha sido sem perceber.

Mas era tudo tão complicado e surreal. Apenas algumas de muitas barreiras já haviam sido rompidas e, distraído, ele só conseguia pensar no quanto amava a dificuldade de tudo aquilo. No quanto amava a complexidade de Rose.

Scorpius punha muitas objeções a si mesmo e, acima disso, havia o pai de Rose. Talvez aquela fosse uma das últimas barreiras; um obstáculo que ele teria de estar disposto a enfrentar se quisesse realmente ficar com Rose. E quem disse que ele não estava pronto para isso?

Mais uma vez Scorpius sentia-se o mais completo idiota. Mal sabia se a garota gostava dele e já estava pensando nos problemas que o Sr. Weasley tinha com ele. Ronald claramente não gostava de Scorpius. O porquê disso, o garoto não fazia ideia; embora já tivesse pensado em inúmeros motivos diferentes, ainda parecia complicado tentar entender o pai de Rose.

Entretanto, mesmo que não tivesse certeza de nada, não perderia a esperança — ilusões, basicamente — tão fácil, sendo que continuava em sua zona de conforto absoluto. Apenas seu caderninho velho e seus poemas. Concentrando-se em não demonstrar abertamente o que sentia por Rose e em não citar o nome da garota perto de Albus, que sempre alongava a conversa e começava a criar estratégias enjoativas e sem sentido de fazer Rose falar mais sobre o assunto. E mesmo com tudo isso, Albus não dava uma ideia clara ao amigo; ele não concordava nem discordava diante da alternativa de que Rose pudesse sentir algo por Scorpius, apenas enrolava o assunto e nunca dizia nada com nada.

Às vezes o jovem Malfoy se perguntava se o melhor amigo estaria tentando facilitar ou dificultar as coisas... Ou fazendo os dois ao mesmo tempo. Devia ser divertido para Albus, afinal.

Scorpius tinha dúvidas insuportáveis e não gostava de iludir-se por nunca ter uma resposta de verdade. Se ele tivesse coragem suficiente, poderia falar com Rose e assistir enquanto a verdade viria aos seus ouvidos como balas de canhão explodindo uma fortaleza ou como uma pena fazendo cócegas em seus pés. Pois caso houvesse alguém capaz de fazer com que tudo ficasse mais claro para Scorpius, esse alguém era Rose.

Mas antes disso ela precisava ao menos saber do que o garoto sentia. Ele havia se preparado psicologicamente durante o verão inteiro, na verdade.

No entanto... Será que estava pronto?

Ele a fitou pelo canto do olho quando eles desceram da carruagem. O mundo à volta era indiferente à sua insegurança. Os testrálios não eram exceção, com suas caras sombrias e esqueléticas. Eram animais dos quais Scorpius gostava, mesmo que os enxergasse por um motivo definitivamente nada agradável.

O primeiro impulso de Rose fora correr para dentro do Saguão de Entrada, ela chegou aonde a chuva não podia alcançar e virou-se com o cenho franzido. Só então Scorpius, distraído, percebeu que estava sozinho na chuva e que vestes molhadas com a adição de frio não lhe deixariam muito confortável. Ele correu e alcançou Rose. Ainda assim, por mais rápido que chegasse aos portões, não faria diferença alguma, já estava inteiramente encharcado.

— Onde estão Albus e Mary? — perguntou Scorpius a Rose.

— Acabaram de entrar no Salão Principal. — respondeu ela, então levantou uma sobrancelha. — Scorpius, acorde! Eles estavam junto com você! — riu-se.

Rose fez menção de encaminhar-se para o Salão Principal, no entanto parou, deu uma olhada em si mesma e depois no resto dos alunos à porta do Grande Salão. Scorpius seguiu seu olhar e percebeu que eles eram os únicos que ainda estavam molhados.

Sem cerimônias, a garota apontou a varinha para as próprias roupas, murmurando um feitiço para secar. Scorpius imitou-a, perguntando-se porque não havia pensado nisso antes. Logo, parcialmente secos, os dois juntaram-se ao amontoado de alunos que tentava adentrar o Salão Principal.

Pouco antes de atravessarem os portões de carvalho e de ser possível se desvencilhar do monte de alunos falantes e finalmente ir até as mesas das Casas, Scorpius queria dizer alguma coisa legal para despedir-se de Rose. Porém, apontando para o teto encantado e coberto por nuvens cinza-escuro do Salão Principal, apenas disse, quase num murmúrio:

— A chuva parou.

Rose olhou para cima, provavelmente para confirmar — ou porque ainda não havia dado sua típica olhadela de todos os dias na imagem quase falsa de céu — e assentiu, sorrindo fraco.

Eles já estavam dentro do Salão Principal, mesmo que no meio de um bolo de alunos que começava a se dispersar. Por um momento, Rose desviou os olhos para o teto de novo, então baixou o olhar na altura dos olhos de Scorpius e beijou-o rápida e levemente na bochecha esquerda. Ele ficou no mínimo atônito, mas conseguiu sorrir.

Sua voz saiu fraca em resposta ao murmúrio de “Até amanhã” da menina. Com um sorriso enorme e encantador que de repente surgira em seus lábios, Rose encaminhou-se para a mesa da Grifinória, deixando Scorpius meio atordoado antes de se dar conta de que deveria ir sentar-se à mesa da Sonserina.

Ele achou lugar entre Tom Zabini e Daniel Nott — seus colegas de dormitório, de quadribol e, talvez, amigos. Os dois estavam conversando sobre a próxima temporada de quadribol, que começaria em outubro — nada muito interessante para Scorpius no momento.

Inspire... Um... Dois... Três... Expire... Um... Dois... Três...

Scorpius tentava concentrar-se apenas em sua respiração que devia normalizar, ele precisava ficar calmo. Fora apenas um beijinho de nada, Rose era sua amiga, e despedir-se assim era normal da parte dela já havia algum tempo... O problema era que Scorpius tinha certeza de que vira as bochechas da menina adquirirem um tom mais avermelhado, coisa que havia parado de acontecer também havia algum tempo, desde que eles haviam de fato se acostumado um com o outro.

Ela não tinha motivos para enrubescer... Tinha? O assunto intrigou Scorpius mais do que deveria e ele flagrou-se querendo saber o que levara Rose a ficar envergonhada. Era exagero, ele bem sabia, porém estava inevitavelmente atento aos mínimos sinais e detalhes.

Ainda que receasse acabar em um mal-entendido, caso surgisse alguma oportunidade, Scorpius não a deixaria passar.

A fim de esvaziar um pouco a mente, tentou concentrar-se no que acontecia à volta. Logo, houve a Seleção das Casas — a mesma coisa de sempre, a cada ano os alunos pareciam menores —, no entanto os minutos seguintes ao evento foram confusos, ou talvez apenas devaneados.

Scorpius voltara a se desligar de tudo, a conversa incessante de Tom e Dan era mais entediante do que qualquer outra coisa; ele não estava com fome e, além disso, Minerva McGonagall não era o tipo de diretora que costumava fazer discursos. Naquele momento, tudo o que Scorpius queria era um discurso para prestar atenção e não apenas aquela minúscula mensagem de boas-vindas seguida do anúncio do jantar.

Não havia professores novos, não havia comunicados importantes do Ministério ou um ataque interessante de Comensais da Morte que ficaram loucos depois da guerra; não havia fugas em Azkaban, não havia mais tanta tristeza na comunidade bruxa. E isso era bom. Ótimo, na verdade. Contudo, o que McGonagall teria para falar?

Nada mudara, aparentemente, como sempre. Apenas o fato de que Scorpius sentia uma leve dormência no lado esquerdo do rosto, bem onde Rose o beijara. Não era ruim. Era apenas uma sensação calorosa e confortável que fazia com que aquele primeiro de setembro divergisse dos anteriores da melhor forma possível.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu acho que vou postar o capítulo treze no domingo, que é quando eu terei internet novamente. Ele já está pronto, então é só editar e tal.

Sobre a narração pelo lado do Scorpius: ele viaja no pudim de arroz de vez em quando, aquilo ali são suposições da cabeça dele, algumas coisas podem estar certas e outras não. Até mesmo o Scorpius é meio lerdo às vezes, ele nunca (ênfase aqui, por favor) tem certeza de nada.
Ah, e outra coisa, caso estejam se perguntando: não, a Liv (Olivia) não é um problema. Ela só é meio incompreendida, na verdade.
Mas enfim, o que acharam?

Feliz Natal e até a próxima!
xx



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