State Of Grace escrita por Lavínia Black


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Okay, talvez esse seja um prólogo maior do que aqueles que todos nós estamos acostumados, provavelmente vai ficar bem maior do que os capítulos normais, mas eu precisava contar essa parte da história que acontece antes e simplesmente não dava para encaixar como um “primeiro capítulo”, então encare isso como um “extra”, talvez?

Warnings: Tem alguns palavrões lá pro final, nada muito forte, mas é necessário na situação, ah, e violência.

Bom, aproveite o/



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- Amber, por que você está demorando tanto? -

A voz de Hazel Heather coincidiu com o bip do microondas e ambas tiraram Amber dos seus pensamentos, e consequentemente, de encarar a janela com vista para a estrada escura. Amber esfregou os olhos tentando afastar o sono, sem sucesso, a vontade de dormir ainda estava lá, mas era sexta-feira, e toda sexta-feira ela e a irmã se reuniam para assistir algum filme que ambas gostavam, não que o propósito fosse assistirem algo, era apenas um momento em família, apenas as duas, sem armas ou treinamentos envolvidos.

Amber tirou a pipoca quente parta colocar em um balde sem responder à Hazel. Uma dor aguda e repentina nos seus dedos indicou que ela tinha sido burra ao tirar imediatamente a pipoca. Amber não pôde evitar o grito agudo ao tirar as mãos do recipiente fumegante.

- Droga! - Resmungou, colocando as mãos na torneira, torcendo para que a água aliviasse a dor irritante. Hazel riu calorosamente do que tinha acontecido, da cozinha Amber podia escutar as gargalhadas. Ela analisou os dedos, suspirando de alívio ao perceber que não tinha sido nada sério, estavam apenas doloridos e avermelhados, não havia nem bolhas. Uma queimadura de primeiro grau, como fora ensinada a reconhecer.

Enxugou as mãos e pegou o balde de pipocas e chocolates, além do refrigerante e deixou a cozinha. A sala da família Heather era clara e espaçosa, com janelas de vidro como paredes na ala norte e abajures, aceso à noites, a decoração era clássica e sem muitos exageros, com peças simples e charmosas, além de relíquias colecionadas pela Sra. Heather. Quase não havia fotos, apesar deles terem se mudado há um bom tempo, mas o brasão da família pendia orgulhosamente na parede maior, o dragão dourado entrelaçado coma cobra de olhos rubi pareciam seguir qualquer um que entrasse ali. Hazel estava esparramada no sofá vermelho de couro, ocupando quase todo o espaço, ainda rindo. Hazel era a irmã gêmea idêntica de Amber, as duas tinham o mesmo cabelo dourado liso, mas Hazel começou a cacheá-lo alguns anos atrás, olhos azuis claros e grandes, pele bronzeada e leves sardas pelo nariz afilado. Mesmo na personalidade eram parecidas, a mesma atitude e confiança, mesmo que Hazel fosse ligeiramente mais tímida que Amber, as irmãs gostavam das mesmas coisas, pensavam do mesmo jeito.

- Não ria - Falou Amber quando chegou perto da irmã, não antes de acertá-la com a almofada mais próxima - Eu deveria ter deixado a pipoca queimar.

- É apenas pipoca - Hazel riu novamente, mas puxou o balde das mãos de Amber - E você é uma péssima cozinheira.

- Então da próxima vez você faz - Rebateu a outra irmã, empurrando suas pernas no colo de Hazel propositalmente esbarrando as sandálias em sua regata branca.

- Idiota! - berrou a loura. Ela tentou limpar a mancha, mas não conseguiu. Manou um olhar mortal à irmã que apenas riu debochadamente.

- Isso foi por ter rido da minha queimadura - Falou Amber ainda rindo, o que a irritou ainda mais. Hazel agarrou uma almofada e tentou atingi-la, mas Amber evitou com outra almofada, de estampa de oncinha, com o estômago doendo de tanto rir.

- Não! Minhas almofadas não! - A voz da Sra. Heather soou tão de repente que assustou as garotas, como se ela tivesse surgido de repente e fosse sumir, mas ela estava ali, com a expressão dura e séria como sempre. Enquanto a maioria dos meus amigos tinham mães divertidas e doces, a Sra.Heather pareia ter saído de um filme policial. Os cabelos louros presos em um coque, maquiagem e roupas perfeitas e a expressão dura eram o que a caracterizava. E as roupas de couro que usava apenas aumentava o sentimento de autoridade que ela parecia expirar.

Tanto Amber quanto Hazel soltaram as almofadas imediatamente.

- Eu vou sair com seu pai. Não nos esperem - Pegou a bolsa de mão bege e saiu, fechando a porta ao passar quase sem fazer barulho. Mas Amber podia jurar que vira uma arma de fogo presa em seu cinto e ela logo perdeu a fala.

- Ela está levado uma… - Hazel começou, mas parou quando Amber lhe lançou um olhar. Armas era um assunto delicado naquela casa, pelo fato das meninas saberem exatamente o que os pais fariam com elas. O Sr. e a Sra. Heather não tinham um emprego comum, e nem eram comuns. Em seu tempo livre, eles eram caçadores de criaturas sobrenaturais. A família Heather era antiga nesse ramo caçando essas criaturas desde os primórdios, especialmente lobisomens. Enquanto a maioria das crianças crescem sem sequer ver uma arma ao vivo, Amber e Hazel foram criadas desde crianças para serem caçadoras também.

Só quando ouviram o carro dar partida as meninas relaxaram.

Amber e Hazel passaram alguns minutos em silêncio, com breves olhadas uma para a outra, cada uma imaginando o que Caius e Aubrey Heather podiam estar fazendo na floresta escura, que tipo de criaturas podiam estar atrás, o quão perigosos eles eram? Amber sempre sonhara em ver um lobisomem ao vivo, mas o máximo que já chegara a ver fora o cadáver de um garoto suspeito de licantropia - no final descobriram que o garoto era apenas um humano -. Para Hazel tudo estava normal, mas para Amber não. Ela não era uma garota de ficar sentada quando seus pais estavam atrás de lobisomens, em apenas aqueles momentos de silêncio, a inquietação de Amber era visível, Para ela, silêncio significava espaço para pensar, mas ela não queria apenas pensar no que sua mãe estaria fazendo com uma de suas pistolas preferidas do arsenal.

Amber olhou nervosamente para a irmã, desesperada por um assunto.

- Então, o que você estava tão ansiosa para me falar? - Mais cedo no mesmo dia, tudo que Hazel falava era que ela tinha algo para contar para Amber, e por mais que a gêmea mais velha insistisse, Hazel não abrira a boca. E Amber era naturalmente curiosa, ela não deixaria passar. Quando Hazel começou a corar, Amber soube que tinha algo a ver com meninos.

- Bom… você quer mesmo saber? - Ela perguntou hesitante, mas Amber conhecia muito bem a irmã, sabia que ela gostava de contar coisas como essas, assim como a própria Amber gostava. As duas irmãs não tinham segredos, e talvez, por isso se dão tão bem.

- Você passo o dia todo falando que tinha algo para me contar, claro que eu quero saber - Hazel respirou fundo, como se o que tivesse a dizer fosse muito importante, parecia estar se preparando para proclamar um discurso na guerra de secessão. Amber reconheceu seu drama, por isso pegou uma almofada novamente e acertou o lado direito do a sua cabeça.

- Mamãe disse nada de almofadas! - resmungou, mas largou o drama que usou para esconder o nervosismo. Amber não sabia porque a irmã estava tão nervosa, ela já contara coisas terríveis antes. respirou fundo e finalmente abriu a boca - Daniel me beijou. E eu acho que estou me apaixonando por ele.

- Como isso aconteceu? - Amber perguntou, se virando no sofá para ficar cara a cara com Hazel, como em um interrogatório.

- Foi tão inesperado, bom, claro que eu estava esperando por isso há um bom tempo, mas na hora foi inesperado. E sis, foi tão maravilhoso! - Amber levou alguns instantes para absorver, ela estava feliz pela irmã finalmente ter beijado o garoto com quem sonhara por tanto tempo, mas não podia ignorar a sensação esquisita que tinha toda vez que olhava para Daniel. - Você não vai falar nada?

- Bem, eu não preciso de todos os detalhes, mas você está bem com isso? -

- Isso o que? - O olhar inocente de Hazel era tão falso, que Amber revirou os olhos.

- Com o fato dele assustar todo mundo - Amber tentou falar sério, mas acabou rindo nervosamente, ela não queria que Hazel pensasse que ela não aprovava Daniel, o que ela não aprovava.

- Lá vem você. Já tivemos essa conversa, Kath - Amber reprimiu o sorriso ao ouvir o apelido, ela ainda estava apreensiva com as decisões da irmã. Hazel era a única pessoa que chamava pelo apelido do segundo nome. Amber adorava de vez em quando ser a Katherine.

- É que parece que ele quer algo com você. Algo perigoso. - Hazel apenas lhe mandou um olhar cético saiu da sala, subindo as escadas de dois em dois degraus.

Levando a pipoca.

x-x-x-x-x-x-x-x

- Mais uma vez, Hazel. Agora de mais longe. -

Amber assistiu cautelosamente o momento que Hazel lançou mais uma flecha, que fincou na parede do alvo, alguns centímetros distantes do centro vermelho. A loura mais nova respirou fundo e pegou mais uma flecha e, com um suspiro, soltou novamente, dessa vez acertou um pouco mais perto do centro, mas ainda distante demais para os olhos de águia do Sr. Heather. Dessa vez quem suspirou foi Amber, ela sabia que Hazel não era tão boa em tiro ao alvo quanto o resto da família, e que isso iria lhe prejudicar. Hazel era muito melhor na luta física, alcançando uma força que nem mesmo Amber conseguia, mas na caçada, geralmente atacavam de longe, não eram lutadores.

Caius Heather apertou os lábios em um claro sinal de desaprovação, e as duas gêmeas olharam para baixo, Hazel por vergonha e Amber por solidariedade, quando ele, friamente, tomou o arco das mãos de Hazel e acertou exatamente no meio, quase sem mirar.

Ele baixou os olhos azuis congelantes para a filha mais nova.

- É assim que se faz. Você tem algum problema com o arco, Hazel? - Ao receber apenas um aceno de cabeça hesitante, ele continuou, as palavras saindo como cubos de gelo - Volte a treinar. Só pare quando a flecha acertar o alvo. Amber, sua vez.

Amber se levantou do chão onde estava sentada, os músculos do seu corpo logo começaram a reclamar do movimento, as duas tinham acabado de chegar de uma corrida de 2 horas como parte do treinamento, mas ela ignorou a dor nas pernas e braços e pegou o arco. Diferente de Hazel, Amber tinha facilidade com esse estilo de arma, arco e flecha, facas, armas de fogo, bestas, essas eram suas armas preferidas. Ela se posicionou na forma correta e encarou o alvo, tudo o que precisava fazer era acertar o alvo algumas vezes e estaria livre. Inclinou o arco levemente para cima e, com a flecha entre os dedos pronta para ser lançada, atirou. A flecha fincou bem no centro do alvo, a milímetros da flecha do seu pai. Mas não era suficiente, não se ela quisesse ser uma caçadora de verdade. Sem hesitar, puxou mais uma flecha.

Um par de horas depois, enquanto as garotas continuavam a treinar, com a supervisão do pai, Aubrey Heather desceu as escadas do porão, mais séria do que nunca. Os cabelos já presos em um coque apertado e as roupas de couro indicavam que ela não estava ali apenas para conferir o trabalho das meninas, era algo importante.

Uma caçada.

Sem dar uma segunda olhada nas meninas, ela parou ao lado de Caius, uma feição dura em seu rosto. Ela desenrolou um papel que mostrava, com detalhes, toda a cidade de Beacon Hills.

Amber tentou espreitar por cima do ombro da mãe, mas Aubrey não tentou nem mesmo evitar que as meninas vissem, quase de propósito, o que fez Amber desconfiar. Seus pais geralmente a proibiam de assistir as estratégias antes da caçada e de mesmo pensar em ir à uma caçada de verdade. Uma de suas lembranças mais antigas era dela mesma pequena, aos 3 anos, sendo expulsa pela mãe depois da mulher mais velha receber uma ligação.

Mas dessa vez nenhum dos dois fizera nada, as tratavam como se fossem caçadoras também.

Ao notar o olhar questionador de Amber, a Sra. Heather sorriu levemente.

- Vocês irão com a gente dessa vez - Se não tivesse entregado a arma ao pai mais cedo, Amber teria deixado o arco cair. Ela sempre se imaginou como a mãe, em uma busca implacável por entre a floresta de Beacon Hills, atrás de um lobisomem assassino, sempre se imaginara o capturando, o orgulho que a família sentiria ao vê-la seguir seus passos. Hazel tivera uma reação parecida com a de Amber, seus olhos se arregalaram assim que assimilou as palavras de Aubrey.

- Por que a surpresa? - Perguntou Caius, agora fazendo círculos em lugares distintos no mapa - Vocês sabiam que esse dia chegaria.

Nenhuma das gêmeas responderam, ainda em choque. Amber respirou fundo tentando se acalmar, se ela não estivesse no mesmo cômodo que seus frios e julgadores pais ela vibraria, gritaria e até mesmo dançaria, mas se limitou a sorrir na direção da irmã, que também parecia segurar a animação. Quando conseguia falar sem sorrir, Amber deu uma olhada mais precisa no mapa.

A precisão não era excelente, mas Amber pôde ver que o mapa era de ótima qualidade, e enorme, ele tomava conta de quase toda mesa do canto do porão, mas era necessário para mostrar praticamento cada árvore da floresta da cidade. Seu pai tinha feito várias anotações nas laterais e marcado alguns lugares da floresta e arredores.

- O que estamos procurando? - O pronome subentendido “nós” foi usado propositalmente por Amber.

- Eu e a sua mãe encontramos uma nova alcateia na cidade, supostamente os Argent deveriam estar tomando conta disso, mas não estão fazendo um bom trabalho com os hale, dificilmente vão fazer com esses - Falou duramente, Amber sempre pensara que seu pai tinha uma simpatia pelos Argent, mas talvez, quando se fala de trabalho, ele não perdoaria nem as próprias filhas. Ele apontou para os pontos marcados entre a ala leste da floresta e uma fábrica abandonada atrás de uma cafeteria famosa. - Está vendo esses pontos verdes? É aí que eles estão.

- Quantos integrantes nessa alcateia? - Perguntou Hazel, se juntando à irmã e ao pai.

- As pegadas que achamos na última aparição indica por volta de 3 ou 2 betas e o alfa, naturalmente.

- Você está falando do assassinato do médico? - Perguntou Amber se lembrando dos acontecimentos da escola, principalmente no último baile. O Sr. Heather assentiu.

-Alguma estratégia? - Hazel parecia nervosa, e mordia o polegar, era um dos costumes que as gêmeas tinham em comum.

- Vamos chamar nossos próprios reforços, capturar os betas, matar apenas o alfa e tentar recolher o máximo de informações possíveis. Se os Argent não conseguem lidar com isso, teremos que fazer por ele. Estamos contando com as duas para isso. -

As duas gêmeas trocaram olhares.

Isso não era por acaso.

Era um teste.

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Eles chegaram em carros negros, com vidros mais negros ainda. Quando a campainha tocou, todos da casa já estavam prontos. Todos com suas roupas habituais e armados, prontos para uma guerra. Amber e Hazel, as gêmeas estavam tão parecidas, os mesmos rostos, as mesmas roupas, até mesmo o cabelo estava igual (Hazel não tivera tempo de arrumá-lo do jeito que gosta) e a mesma pose confiante, qualquer um podia confundi-las facilmente. Eram rostos desconhecidos para Amber, adultos velhos conhecidos dos seus pais, com seus filhos com idades próximas às das gêmeas, provavelmente passando pelos seus primeiros testes também.

Amber sempre foi levada a acreditar que o sucesso de uma caçada depende muito de quem você levava consigo. Durante toda a sua vida ela acreditara que Hazel seria a sua parceira para toda a vida, as duas trabalhavam bem juntas, mas na primeira oportunidade ela fora largada com dois desconhecidos.

Enquanto Amber tentava fazer o mínimo de barulho, Evan e Lucy pareciam nem ao menos se importar. Eles eram irmãos, Evan era alto, com o cabelo loiro e curto e uma pose que talvez assustaria algumas criancinhas se ele não abrisse um sorriso a cada cinco segundos, já Lucy era quase do mesmo tamanho que Amber, apesar de ser alguns anos mais velha, com a pele bronzeada, cabelos curtos e olhos verdes.

Os três entravam cada vez mais fundo na floresta, Amber silenciosa como uma gata, de armas em punho e uma lanterna, enquanto Evan e Lucy mais pareciam duas gazelas bêbadas, os dois vinham brincando e gargalhando desde que os três se separaram dos demais e isso estava deixando Amber furiosa. Ela não queria ser como o pai e reclamar com eles, mas desse jeito eles nunca achariam o alfa, que era sua meta, e Amber precisava disso. Ela precisava achar esse alfa para cumprir esse teste e ser uma caçadora de verdade.

Quando Evan empurrou Lucy contra uma árvore e a garota soltou uma risada aguda, Amber chegou ao seu limite.

- Certo, já chega! - Ela manteve o tom de voz baixo, o que só a deixava mais intimidadora, apesar da idade, Amber sabia quando usar o que mais aprendeu com os pais - Desse jeito nunca vamos encontrar o alfa, só se ele for surdo e retardado mental para não notar vocês. Ele já deve estar a milhões de quilômetros de distância daqui.

- Não seja tão ranzinza, Amb - Evan começou, colocando um dos braços por cima dos de Amber. A loira os retirou bruscamente.

- Não me chame de Amb - A cada segundo ela gostava menos dele.

- Ah, vamos lá, Amb - Ele foi interrompido por um grito cortante. Todo o clima de diversão, pelo menos para Evan, se foi quando eles perceberam que aquela voz aguda só poderia pertencer a Lucy, que não estava mais ali. Amber se mexeu antes de Evan, procurando a garota, a lanterna iluminando às árvores escuras. Ela ouviu um barulho atrás dos dois, virou rapidamente apenas para encontrar a completa escuridão.

Amber se enchia de tensão, coração batendo forte, era para isso que ela fora treinada, ela se esforçou para manter a mão que segurava a lanterna sem tremer.

- LUCY!! - Evan gritou ao seu lado, mas nada mudou. Os gritos de Lucy cessaram e um silêncio mortal o seguiu.

Amber engoliu em seco, milhões de hipóteses correndo por sua mente enquanto ela observava Evan procurar pela garota nas árvores próximas. Será alguma brincadeira de Lucy? O alfa a tinha pego? Ou algum beta? Ou alguma outra criatura?

- Lucy! - Evan gritou novamente, o desespero começando a ficar evidente em sua voz. Amber revirou os olhos com o barulho que o garoto estava fazendo, ela ia mandar ele calar a boca quando, subitamente, algo pesado caiu na frente dos dois. Amber não pode conter o próprio grito de horror ao reconhecer o corpo ensaguentado da companheira de caça. Não havia dúvidas que Lucy estava morta, os olhos verdes estavam arregalados, sem nada encarar e saía sangue da sua boca, seu tronco estava todo perfurado, marcas profundas que ainda sangravam, marcas de garras.

- Lucy - Evan sussurrou fracamente ao ver a irmã morta. Ele deu um passo em sua direção, mas algo se chocou com seu corpo.

- Evan! Não! - Amber gritou sacando a arma e, cegamente, desferiu algumas balas no vulto, mas de nada adiantaram. O vulto arrastou pelos pés o garoto gritando para fora do seu campo de visão.

Amber não pensou por um segundo, correu na direção dois dois. Ela parou para recarregar a pistola e voltou a atirar, mas não tinha como ter certeza se alguma de suas balas atingiram o alvo. Ela corria no escuro, tinha deixado a lanterna cair, tropeçava em alguns galhos e pequenos buracos no chão, sentia os galhos perfurando a pele por debaixo da calça, mas ela continuou correndo atrás do lobisomem. Suas pernas altamente treinadas para essas corridas não conseguiriam alcançar o lobisomem, e logo ela estava arfando, cansada.

Amber apoiou-se nas pernas, tentando controlar a respiração, o suor escorria por seu pescoço, agarrando em seus cabelos presos. Ela olhou em volta, a floresta densa não lhe dava mais nenhuma pista de para onde o lobisomem levara Evan. Amber tinha certeza que aquele era um dos betas, não o alfa. Ela deveria correr para o outro lado e procurar o líder, mas ela não queria deixar Evan morrer desse jeito e, sendo um pouco insensível, ela não queria ver o corpo dele estraçalhado e sair da floresta sozinha, ela já teria pesadelos o suficiente com Lucy.

Respirou fundo, o que estava virando um hábito, e se concentrou. Sua audição podia não ser tão apurada quanto a do beta, mas era uma das primeiras lições, escute o seu redor, procure os sons. Sem hesitar, com a arma em mãos, sem lanterna, forçou suas pernas a correr na direção do primeiro som que ouviu.

A adrenalina lhe preencheu novamente e a determinação a ajudou a seguir a trilha que o lobo fazia. Enquanto corria por entre as arvores, uma coisa a incomodava, estava fácil demais, Amber estudou por várias horas o comportamento dos lobisomens, esse beta estava deixando pistas demais, quase como se quisesse que a garota o seguisse.

Esse pensamento fez a garota parar a corrida. Com certeza era uma armadilha, e ela quase caíra, mas o que poderia fazer? O beta ainda tinha Evan e tinha matado Lucy. Enquanto se decidia entre ir atrás do beta ou voltar e tentar rastrear o alfa, novamente o balançar de folhas chegou aos seus ouvidos. Amber levantou os olhos apenas para encontrar os olhos azuis do beta. Uma vez ela tinha lido que lobisomens com íris azuis brilhantes são aqueles que já tiraram vida inocente. E esse em sua frente com certeza era um assassino.

Amber encarou o lobo em sua frente, tentando ver por trás da sua forma lupina para adivinhar quem era. Ela tinha a impressão que o conhecia, algo na sua mandíbula, olhos e nariz eram familiares para ela, mesmo na floresta escura. O lobo tomou alguns passos para frente, ficando há poucos metros de distância, Amber ainda não conseguia colocar um nome nele, mas tomou alguns passos para trás, seus olhos rodando por todos os lados da floresta, buscando uma rota de fuga. O beta, novamente, se aproximou, as garras e presas brilhando sob a luz da lua cheia. Ela estava ficando sem tempo, atirou algumas vezes na perna direita do lobo e ele soltou um gemido de dor, mas não foi o suficiente, porque ele continuou cambaleando em sua direção, rosnando.

Amber atirou novamente, agora na outra perna, o lobisomem grunhiu e caiu. Esse era o tempo que ela precisava. Começou a correr na direção oposta, forçando suas pernas cansadas a se movimentar cada vez mais rápido. Quando ouvia que ele se recuperara o suficiente para persegui-la, ela atirava em suas pernas. Isso teria que durar até Amber chegar a um lugar seguro. Nesse momento ela nem se importava mais com Evan, muito menos com Lucy.

Quando achava que estava conseguindo, um barulho na sua frente a deixou em alerta, sem aviso nenhum, outro lobisomem surgiu das sombras, esse tinha brilhantes olhos vermelho-sangue e era muito mais assustador que o primeiro, mas Amber não tinha medo do alfa, ela não tinha mais medo de nada, estava tão em modo automático que nem mesmo as presas do lobisomem mais poderoso a impediu de agir. Ela sacou uma de suas facas do cinto e jogou contra o lobo, mas ele desviou facilmente, se aproximando da loura.

Amber tentou recuar, mas os passos atrás dela indicavam que o beta a tinha alcançado. Ela estava presa, mas não ia cair. Sacando uma arma carregada do cinto começou a atirar no alfa, várias vezes, mas ele sempre desviava. O beta a agarrou, prendendo a garota em seus braços, a fazendo soltar a arma. O aperto estava ficando forte demais e Amber gritou, as pernas balançando, tentando chutar o lobisomem.

O alfa lentamente voltou a forma humana, revelando uma face jovem, tatuada, com olhos claros e brilhantes e um sorriso falso.

- É essa? - Perguntou, a voz era um pouco mais infantil do que Amber esperava.

- Não. Essa é a irmã gêmea - Respondeu o beta. Quando ele falou, Amber finalmente percebeu de onde o conhecia, porque tudo dele era familiar. Seus olhos se arregalaram quando ela finalmente reconheceu aquele rosto.

- Daniel - Sussurrou antes de tudo ficar preto.

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- Ei, Kath, vamos, acorda - Sussurrou uma voz em seu ouvido ao modo que ela recuperava a consciência. Mesmo grogue, ela conseguiu resmungar em irritação.

- Não me chame assim - Daniel riu baixinho, em tom de zombação.

- É como a sua irmã te chama - Essas palavras acordaram Amber totalmente, ela se levantou em um pulo, desferindo tapas fortes por todo o corpo do beta.

- NÃO FALE DA MINHA IRMÃ! - Ela podia não ser um sobrenatural, mas seus tapas ainda machucavam, então Daniel segurou seus pulsos esperando que ela ficasse quieta, mas a garota ficou se contorcendo, tentando escapar do aperto - Seu idiota, asqueroso, imbecil, retardado, filho da puta! Fique longe dela!

- Ora, pare de reclamar! Por um acaso eu confundi você com sua irmã, e agora ela está salva. Ou não. - Sorriu malicioso na última frase.

- Você não ousaria - Ela se moveu para dar outro tapa, mas ele agarrou sua mão no ar, antes que atingisse seu rosto.

- Relaxa, eu não vou tocar nela -

- Isso não muda o fato que você usou minha irmã para chegar a mim - Tentou escapar novamente, mas ele lhe segurou mais forte.

- Não se ache tanto. Qualquer uma das duas serviria! - Ele riu alto agora. Amber lhe lançou um olhar feio.

- Idiota! - Amber usou sua perna para lhe chutar nas partes íntimas, Daniel rosnou, mas lhe soltou, seus olhos brilhando azuis.

- Chega! - O alfa apareceu no canto da sua visão, sua voz já não tão infantil e sim poderosa e autoritária - Você tem certeza que ela serve?

- Sim - Confirmou Daniel. Amber arregalou os olhos receosa com o rumo da conversa.

O alfa sorriu sombriamente. E sem aviso, Daniel agarrou os braços de Amber e tudo que ela sentiu foi a dor da mordida.

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Amber voltou à consciência mais lentamente que da outra vez e com mais dor. Seus membros estavam dormentes, sua cabeça latejava e sua coluna doía, como se ela tivesse passado muito tempo em uma só posição. Mas seu ombro conseguia ganhar de todos os outros, ela talvez nunca tenha sentido uma dor tão profunda, nem mesmo os exaustivos treinamentos que ela fizera desde pequena a tinha deixado tão debilitada, era uma dor tão forte que ela queria gritar, mas sua voz não saía.

Amber passou um tempo assim, semi-consciente, até que depois de algum tempo ela pôde ser capaz de sentir algo além de dor.

O grito escapou dos seus lábios ao mesmo tempo em que seus olhos se arregalaram, assustados. O grito rapidamente cessou no momento que Amber começou a arfar, os olhos correndo por todo canto tentando descobrir onde estava. O lugar estava escuro, mesmo que as janelas mostrassem o sol brilhando.

Como se tivessem acendido uma luz, Amber soube que ela estava na fábrica abandonada atrás da cafeteria, um dos lugares que seu pai marcara. Esse pensamento faz calafrios descerem por sua espinha, ela tinha sido trazida aqui por um dos lobisomens. Seu pescoço latejou novamente e ela tocou levemente com a ponta dos dedos o ferimento.

Era uma mordida.

Tinha o exato formato de uma mandíbula semi-humana, Amber não era estúpida, ela sabia o que a mordida de um alfa fazia com você. Na próxima lua cheia você seria um monstro como eles. O pensamento de virar um lobo a enojava. E ela tinha certeza que seus pais teriam a mesma reação.

Amber não gostava de chorar, mas não pode impedir as lágrimas salgadas de interromper suas bochechas ao pensar em sua família. Eles a odiariam. Ela passaria de garota prodígio à deserdada, ela tenha dúvidas se seus pais mesmo deixariam ela sair viva se eles soubessem disso.

O códigos dos caçadores era bem claro em situações como essa, suicídio. Ela se arrepiou com esse pensamento, eles a forçariam a fazer isso, talvez Hazel soltasse algumas lágrimas, mas Amber tinha certeza que para seus pais la morreu no momento que o alfa a mordeu, para eles, ela era nada mais, nada menos, que o cadáver da filha que um dia eles tiveram, andando, pedindo para ser enterrada. Amber nunca poderia fazer isso, ela não era corajosa o suficiente, ela não acreditava o suficiente.

Mesmo que a garota amasse os pais e a irmã, ela não se colocaria em risco dessa maneira. Mesmo que eles a odiassem para sempre, ela não tiraria a própria vida, ou deixaria alguém tirá-la. E era em momentos assim que Amber finalmente absorvia algumas características do pai, a frieza na hora de tomar decisões difíceis. E a decisão que ela tomou foi a mais covarde de todas (ou a mais corajosa dependendo do ponto de vista), fugir. Fazer eles pensarem que ela havia sido morta junto com Evan e Lucy, não os ver mais parecia mais fácil que matá-los, Amber jamais seria capaz disso.

Ela não tinha muito tempo, logo eles iriam em busca dos três adolescentes, e não encontrariam nenhum. Mesmo com os músculos doloridos, ela se levantou do chão duro e úmido. Suas roupas apertadas estavam desfiadas e sujas, ela havia perdido um dos tênis enquanto corria de Daniel e a sola do seu pé sangrava, mas ela não se incomodou. A madeira rangia aos seus passos e o sol machucou seus olhos quando ela saiu.

Amber conhecia Beacon Hills como a palma da sua mão, achar uma maneira de chegar em casa de um jeito que ninguém a visse foi fácil, Amber era conhecida na cidade e a garota era vaidosa demais para deixar que as pessoas a vissem tão desleixada. O sol estava começando a nascer, então a maioria das pessoas estavam dormindo e ela torcia que seus pais ainda não tivessem chegado.

Ela chegou na frente da sua rua e quase deu meia volta. Sua casa se erguia majestosamente com o sol brilhando atrás, era intimidante, parecia querer aterrorizar Amber, fazê-la querer abaixar a cabeça, entrar em casa e aceitar o destino. Ela respirou fundo e cruzou a rua, parando novamente para checar se o carro dos pais estava em casa, para sua sorte, eles não estavam.

Silenciosamente, a garota escalou a parede para chegar ao seu quarto. Passando uma perna de cada vez, ela tomou cuidado para que ninguém a visse, tudo o que ela menos precisava era que os vizinhos avisassem a seus pais que ela entrara pela janela. O seu relógio de cabeceira marcava 7:32 da manhã, seus pais geralmente voltavam a essa hora, ela tinha que se apressar. Pegou uma de suas malas gigantes e colocou o máximo de roupas que pôde, camisas, jaquetas, jeans e sapatos, deixando espaço para sua maior conquista, suas botas louboutin.. Depois desceu para pegar dinheiro, comida e seu celular.

Quando estava empacotando seus itens de beleza (Amber ainda era uma garota muito vaidosa) ela ouviu um carro chegando em sua rua. Amber quase agradeceu a sua nova audição, ela recolheu suas coisas e pulou da janela antes do carro chegar em sua casa.

Passar despercebido carregando uma mala gigante cor de rosa não foi tão fácil, mas ela conseguiu chegar até um praça da cidade, distante o suficiente para que leve um tempo para seus pais lhe acharem. silenciosamente, ela voltou a chorar, as lágrimas caindo sem controle, a adrenalina abandonou seu corpo e e agora ela sentia todo o peso da sua turbulenta noite e de tudo que teria que sofrer de agora em diante. Ela estava completamente perdida, Amber tinha apenas 14 anos, ela estava completamente perdida, era uma lobisomem agora, ela não fazia ideia do que seria agora em diante.

Ela chorou até soluçar, esfregando os olhos com as mãos sujas de terra e sangue, logo a praça se encheria de gente, logo alguém a reconheceria e a enviaria para casa, o que era a última coisa que ela esperava no momento. Seu celular vibrou por alguns momentos, ela suspirou e pegou, ele tiraria sua cabeça do desespero um pouco, para que ela pudesse pensar. Era uma mensagem de Hazel, perguntando onde ela estava. E seu coração apertou um pouco, sabendo que nunca mais poderia responder à irmã gêmea.

De repente, ela teve uma ideia, talvez tão estúpida quanto todas que ela tomou até agora. Foi até a sua lista de contatos e clicou no número que estava procurando.

A pessoa demorou um pouco para atender, mas Amber ficou lá esperando, mordendo o lábio para não voltar a chorar.

- Hã… Alô? - Perguntou confusa e Amber entendeu completamente, elas eram amigas, mas não eram exatamente próximas, não o suficiente para uma ligar para a outra cedo da manhã.

- A-Allison? Eu preciso da sua ajuda. -


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Notas finais do capítulo

Eu só queria contar um pouco de como essa história surgiu, a Amber surgiu em um rpg AU de Teen Wolf, um dia relendo aquilo que eu escrevi para esse rpg (e revendo TW) deu a ideia de colocar em uma fic, então se por acaso você reconhecer, eu estou roubando a Amber de mim mesmo, lol.

E para vocês que assim como eu gostam de imaginar atores como os personagens, aí vai:

Amber/Hazel Heather: Chloë Grace Moretz (’cos she’s bae)

Caius Heather: Aaron Eckhart

Aubrey Heather: Vera Farmiga

Evan: Liam Hemsworth

Lucy: Willa Holland

Daniel: Hunter Parrish

Alfa: Jay Courtney

Bom, foi um longo capítulo, então temos bastante para conversar, certo? Deixe um review, você não sabe como isso me faz feliz ♥

— Lavs



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