A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 65
Gerando sonhos | A Herdeira (Bônus)


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, espero muito que gostem. A parte do flashback nesse capítulo eu escrevi em fevereiro de 2020! Quase 4 anos escrevendo essa parte final. Espero de todo o coração que gostem. Gabi, muito obrigada por ter comentado nesse último capítulo também!! ♥️

POSTEI UMA NOVA HISTÓRIA DE JOGOS VORAZES!!! Quem quiser ler, aqui o link!!!! https://fanfiction.com.br/historia/811227/Antes_do_para_sempre/



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Se eu tivesse visto seu rosto pela primeira vez no século quinze, em uma terra estrangeira

E eu fosse forçada a casar com outro homem

Você ainda teria sido meu, nós teríamos sido atemporais

Eu teria lido suas cartas de amor todas as noites

E fugido e deixado tudo para trás

Você ainda teria sido meu, nós teríamos sido atemporais

(...)

Em uma sala lotada, há poucos anos

E às vezes não há nenhuma prova, você simplesmente sabe

Você sempre será meu, nós sempre vamos ser

Eu vou te amar quando nossos cabelos estiverem ficando grisalhos

Teremos uma caixa de papelão com fotos da vida que criamos

E você dirá: Caramba, nós realmente fomos atemporais

Timeless, Taylor Swift (Taylor’s Version)

 

Todos estão presentes para a ceia de natal mais tarde. Está super frio, e pedi, como sempre, para a sala de jantar estar bem acolhedora para deixar bem marcado na cabeça dos sobrinhos de Peeta, os filhos de nossos amigos e dos meus primos que o natal é uma época onde qualquer coisa pode se realizar. Meu pai veio de Londres para celebrarmos mais um natal juntos, e trouxe algumas coisas para pôrmos na árvore. Tudo precisa estar perfeito.

Ando por todo o palácio querendo deixar tudo perfeito, delegando funções. Sinto uma tontura absurda, e tenho que me apoiar na parede, com três enfeites novos para colocar na árvore. Estou muito mal faz um tempo, mas hoje foi o dia de testar minha paciência e resistência.

— Katniss? Você está bem? Que ódio de você! Falei que eu iria resolver as coisas com o pessoal, você passou mal a noite inteira! — Peeta vai de preocupado para irritado e preocupado de novo em segundos. Segura minha mão, tirando os enfeites, colocando na sacola que carregava com os presentes que embrulhamos na semana passada. Passei a noite inteira vomitando, do tipo literal, mas não quis procurar um médico, porque sabia que dessa forma não conseguiria fazer as coisas hoje. — Vai deitar agora no seu quarto, garota! 

Bufo, cruzando os braços. Fico com vontade de sair correndo e deixar ele brigando as paredes. Mas sinto que se eu fizer isso eu vou desmaiar. Minha pressão cai. A tontura me envolve de novo e eu só me inclino para dar com o rosto em seu peito, e ele me abraça.

Sinto vontade de chorar. Acho que estou chorando. Ok, realmente estou chorando e chorando muito.

— Você está com dor? — nego, devagar, suspirando, com os olhos fechados.

— Estou muito tonta. Não acho que consiga andar. Que droga!

Peeta chama um guarda e orienta para posicionar os presentes. Do nada eu sou suspensa em seus braços, me segurando pelas pernas e as costas, o que faz que eu o abrace pelo pescoço. Sinto todo o café voltar na minha boca, mas consigo segurar até chegarmos na enfermaria. Vomito tudo quase que em cima dele, mas consigo segurar a lixeira primeiro e ele se safa.

— O que aconteceu? — Maggs se aposentou faz uns anos, mas quem me atende é uma médica que foi treinada por ela, e mantém uma boa descrição. Ver que é Cindy me deixa mais calma do que se fosse outro médico.

— Eu só não estou me sentindo bem. Estou muito tonta, e tive febre e enjoo a noite inteira. Hoje de manhã também — digo para ela, que assente. — Meu tio disse que minha prima mais nova também estava ruim do estômago, acho que estou com a mesma coisa. Acabei de vomitar.

— Você não tinha que ter levantado da cama para ficar fazendo um monte de coisa! — Peeta chama minha atenção, enquanto a médica silenciosamente mede minha pressão, depois que ele mesmo tira a lixeira que eu despejei meu café inteiro. — Você não para quieta, Katniss! Que raiva!

Sei que ele não está realmente com raiva. Posso ver pelo seu cenho franzido e a forma como está segurando meu cabelo como uma cortina para eu não ver ela pegando a agulha para tirar o meu sangue, como sempre fazem quando eu paro na enfermaria. Dou uma risada sincera, e ele solta meu cabelo, cruzando os braços. Fica ainda mais engraçada a sua preocupação, e até a médica ri.

— Sua pressão está mesmo muito baixa, majestade. Fiz alguns exames, em alguns minutos vamos saber. Talvez seja anemia ou alguma virose.

Assinto, me sentando devagar na cama, depois que Peeta silenciosamente me passou uma torrada com geléia de morango que Brianna, uma das minhas criadas, trouxe. Ele se sentou na poltrona ao lado da cama, então ficamos sozinhos enquanto o resultado não saía. Me ajuda a me arrastar até o banheiro para escovar meus dentes, já que eu tenho que vir aqui com frequência.

— Desculpa. Eu vou melhorar. Não deve ser nada demais. 

Digo, depois de comer a outra torrada e metade do copo de suco. Se ele ainda estava chateado, passou, porque começou a fazer massagem nos meus pés. Desconfio que ele fez um curso para massagear meus pés e minhas costas, porque é ótimo nisso.

— Sua pressão está baixa mas seus pés estão bem inchados. Tem alguma coisa errada — ele diz, pensativo. — Você está enjoada desde quando?

Dou de ombros, sem entender a razão para a pergunta. Penso que tenho que ajudar Prim a escolher o pijama para mais tarde, já que tornamos tradição pijamas e abrir presentes na véspera de natal. As crianças amam isso, e eu também.

— Acho que já faz mais de uma semana. Mas ficou pior de ontem pra hoje. Achei que fosse algo com a festa da semana passada, mas já perdeu o timing… não quis falar nada para não te preocupar — respondi, sincera. — Delly veio nos visitar com as crianças, então eu não quis causar nenhum mal-estar. Me faz bem estar com eles, ainda mais depois de ter passado por um momento difícil ajudando Nicolau com o nascimento do bebê.

Assente, devagar. Suspira, e começa a massagear meu outro pé. Gemo baixinho, aliviada. Ele sabe muito bem fazer isso.

— Será que você não está… grávida? — ele pergunta, baixo. — Faz um tempo que você não reclama das cólicas. Dormimos juntos quase todos dias na primeira semana desse mês, não foi? Geralmente é quando você fica no seu período. 

Eu penso por um instante, então olho em seus olhos. Nós dois estamos assustados. Cindy entra antes que eu possa dizer alguma coisa, e nós dois olhamos ao mesmo tempo. Ela está com um pequeno sorriso.

— Majestades, como médica, irei dar um conselho que embora a notícia seja boa, reflitam como vão lidar com ela até completar três meses. Deu positivo para gravidez. 

Ela entrega uma cópia para cada um, no exame de sangue ela fez para coletar apenas um resultado. Olho para Peeta outra vez, um pouco boquiaberta, da mesma forma que ele. Não tenho ideia de quantas vezes eu sonhei com esse momento, e nem de quantas vezes tive medo justamente disso. Nenhum de nós consegue dizer nada, o que acho que será engraçado quando contarmos para… o nosso bebê. Depois que nascer. Meu Deus.

— Acho que estão em choque, mas preciso fazer um ultrassom para documentar. Manterei em sigilo a informação. 

Peeta então começa a rir, se levantando para me abraçar. Eu começo a rir e a chorar também, sem acreditar naquele papel escrito positivo. Finalmente. Eu não consigo acreditar.

Quando vemos a imagem na tela, é como se fosse um borrão. Não conseguimos entender nada, e ainda nem dá para ouvirmos os batimentos. Porém estamos felizes demais para nos preocuparmos. Peeta chora. Sei que ele ficou comovido quando esteve presente nas vezes que acompanhou Amélia, mesmo nos dias mais corridos, ele se esforça para ser o melhor para todos nós ao seu redor. Eu sou muito agradecida que nosso bebê crescerá com pais que realmente se amam. Que se admiram. Que se respeitam. Que o desejaram ardentemente.

— Daqui uma semana acredito que já poderemos escutar o coração do bebê. Aconselho que realmente a senhora não passe por muitos estresses, as chances de perda são grandes nesse período, independentemente dos cuidados que possa tomar ou não. São as chances, mas bem, do que posso ver, está tudo bem, tudo sob controle. Um lindo presente de natal. Deixarei com o nome de outra pessoa, mas quando completar oito semanas, precisarei comunicar a equipe. Até lá, guardarei segredo.

Ela diz, discreta, saindo com um pequeno sorriso no canto do rosto. Peeta me olha, sorrindo. Seus olhos estão azuis perfeitos, em um tom que não dá para esquecer. Desejo com todas as forças que nosso bebê tenha seus olhos.

— Parece que não éramos adultos até esse instante — comenta, rindo, e eu rio também, porque não sei como reagir. — O que é que a gente faz com essa informação? A gente sai contando? Amélia me contou logo que soube.

— Vamos esperar o tempo que a médica nos aconselhou. Eu tenho muita ansiedade. Acho que ninguém vai perguntar ou comentar nada, porque a gente não bebe — assente, sem questionar minha decisão. — Como a gente vive depois disso aqui? Meu Deus. Minha cara está entregando alguma coisa?

Nega, me ajudando a levantar.

— Acho que você está ótima. Muito ótima, na verdade. Não tenho nada para falar sobre isso. Você deveria saber sobre isso.

Suspiro, porque sei que é verdade. Ele não falaria nada nem que sua vida dependesse disso. Porém eu sei do peso que ganhei nos últimos tempos. Faz uns três meses que as roupas precisam sutilmente de alguns ajustes, sei que meus peitos cabem completamente nas minhas mãos - e nas dele. Nada que me deixe abismada da minha cabeça. Se alguém notou sobre, não comentou comigo, e acho difícil que comentem, já que estamos tentando há um bom tempo e ainda não tinha acontecido. Estou feliz que finalmente tenha, ao mesmo tempo que estou consideravelmente desesperada.

— No que está pensando? O que foi? — pergunta, enquanto saímos da enfermaria. Um vento frio entra, e ele nos faz sentar em um divã perto de uma janela que ele mesmo fecha. Não estamos cercados de guardas ou criados, o que nos dá uma considerável privacidade.

— E se nós formos péssimos pais? Péssimos do tipo eu ser igual minha mãe. Do nada me tornar uma desequilibrada.

— Katniss, meu bem… você não é sua mãe. Você é perfeitamente você. E eu acho que pelo tanto que meus irmãos deixam meus sobrinhos conosco, Clove deixou Callum passar dois dias aqui, acho que é um sinal de que nós conseguimos dar conta do mínimo. Tipo, de verdade mesmo

— Uma coisa é cuidar por um curto tempo. Mas agora… pelo resto das nossas vidas. Acordar de madrugada, por muitas madrugadas, aguentar muitos choros, sem saber do que é no começo, então dias com resfriados, gripes e… toda Panem dependendo de nós. Agora que as coisas começaram a andar… Peeta… — começo a ficar muito agitada, ansiosa, pensando em todas as possibilidades possíveis, e faço o que eu sei fazer de melhor: começo a chorar.

Peeta já está acostumado com esse tipo de comportamento da minha parte. Minha bipolaridade não passou do dia para noite, embora eu tenha controlado o quadro depressivo. Ele também tem alguns surtos que começa a chorar, ficar ansioso, mas é claro que em uma proporção bem menor do que a minha. Faz um ano desde que tive um surto mais forte, precisando ficar internada por uns bons dias. Queria que essas coisas pudessem milagrosamente desaparecessem, mas infelizmente não é como acontecem. Ele segura minha mão, me puxando para seus braços. Percebo que também está tremendo. Nada realmente prepara a gente para um momento como esse. Somos dois seres humanos que terão que aprender a cuidar de um bebê, que rapidamente vai ter o tamanho de uma pessoa como nós.

— Eu não sei responder suas dúvidas. Mas eu vou estar aqui, porque tenho as mesmas inseguranças que você. 

Fecho meus olhos, inspirando seu perfume com o cheiro de pinheiro. Claro que todos os anos ele é o responsável por escolher todos os pinheiros que preenchem o palácio desde a segunda semana de novembro. O cheiro está ainda mais forte, e tem pedaços de festão em seu rosto e em seus braços.

Penso em como Nicolau ficou, quando nasceu Valentin, há alguns meses.

{Flashback On}

Nicolau é uma das pessoas mais incríveis e que eu mais amo em toda a minha vida. Eu o admiro desde que nos conhecemos, quando mal sabíamos sentar corretamente na mesa. Vê-lo soluçar de tanto chorar parte meu coração. Ainda mais em um dia como hoje, que era para ser o melhor da sua vida. Ele nunca comentou sobre ser pai — acredito que seja normal homens não pensam tanto assim nos filhos quando nascem para ser reis; mulheres ficam com a maior responsabilidade —, mas sempre se conformou com a ideia que é fazer o suficiente para que os filhos saibam quem ele é, algo que seu pai nunca fez questão.

— Ela é legal, né? É ótima. Inteligente, agradável. Bonita. Faz de tudo para me agradar, e não fazer barulho. Mas não é a Lara — contou, chorando em meu colo. Estou chorando junto com ele. — Eu me odeio tanto, Kamikaze. Eu sou um desgraçado por ter aceitado isso tudo. Nem consigo olhar para o meu próprio filho de tanto que eu me detesto. Eu me odeio.

Hoje pela madrugada nasceu seu primeiro herdeiro, Valentin, com sua esposa Dakota. O casamento foi arranjado, para que ele pudesse proteger seu irmão mais novo, Marcell, de ter esse destino. E também garantir estabilidade política. Embora muito amado na Rússia, o fato de manter a coroa sozinho não agradava a elite, que o forçou a ter outro casamento, ele ou seu irmão. Nicolau sempre expôs que não queria isso. Fez quase na força do ódio. Me surpreendi muito que não tenha se casado bêbado e causado um escândalo. Ele se comportou como uma pessoa totalmente controlada, mas eu sabia — assim como todos que o conheciam — que ele é disposto a fazer qualquer coisa pelo bem de sua nação.

Eu o consolei depois de seu casamento, um ano atrás. Ele estava completamente devastado por ter feito aquilo. Sabia que tinha sido o pior erro para sua própria consciência, já que ele ainda vivia o luto por Lara. Dakota é uma jovem russa, prima de terceiro grau de Lara. Não conversamos muito, porque ela é de falar pouco, sem contar que fala inglês muito mal, e meu russo é deficiente, mas sei que ela é uma boa moça, muito tímida, mas sem ser maldosa. Gosto dela. Seu olhar é delicado, é da mesma idade que a gente, mas parece uma boneca com os cabelos ruivos brilhantes e lisos, com olhos azuis bem claros. Nicolau disse que ela disse que gosta dele, mas não dessa forma romântica. O sentimento é recíproco.

Recordo do dia em que eles tiveram a primeira e única relação — parece estranho, mas nem tanto assim, nós passamos todos pelo mesmo protocolo, é desagradável para qualquer um. Nicolau estava tão abalado pelo telefone, de tanto chorar, eu mal pude entender o que disse. Quando saiu o resultado do exame de gravidez dela, algumas semanas depois, foi um alívio por saber que não seria necessário aquilo acontecer de novo tão cedo. 

— Eu nem posso fingir que ela é Lara. Lara tinha aquela cor de sol, aquele cabelo cacheado. Queria não comparar, mas como fazer o contrário? Katniss, eu amo Lara. Sinto falta dela todos os dias. Tem dias que eu nem saio da cama de tanto que estou sentindo a falta dela. Não sei que pecado tão grave posso ter cometido para Deus me castigar dessa forma tão cruel.

Suspirei, afagando seus cabelos pretos. É como se a sua dor fosse minha. E é. Meu amor por Vilu é de alma. Sinto como se a gente visse nossas almas. Como se fôssemos amigos de outras vidas.

— Tem alguma mentira que eu possa te contar para você ficar mais calmo? — perguntei. Ele negou, abrindo seus lindos olhos violetas. Parece covardia uma pessoa ater em si tanta beleza. Seu filho é sua cópia. Valentin herdou apenas as muitas sardas da mãe. Normalmente criança é tudo enrugada, mas ele já nasceu com um ar diferente. Quando a gente vê ele sente vontade de rir, suas bochechas são bem coradinhas, e ele é um bebê grande e gordo. Foi uma gestação bem cuidada e mimada. Admito ter me surpreendido e me deslumbrado com a força de Dakota, que é bem delicada e sensível, ter parido uma criança tão cheia de energia como Valentin em apenas seis horas de parto.

— Tenho vergonha de ir falar com Dakota agora. Sabe se ela já comeu? Sei que ela estava de jejum por um bom tempo por causa do parto, fico preocupado — perguntou, fungando. Ele é elegante até num momento como esse.

— Está bem. Contou que já almoçou e Valentin já mamou. Ela quer que você vá ver. Foi lindo o momento que ela pegou no bebê sem estar com dores do parto.

Assentiu, miserável. Depois que ela recebeu dois pontos e o bebê foi levado para os exames, ele subiu. Queria chorar mais, porém fomos interrompidos por seus criados.

— Majestades — nos reverenciaram, sem achar estranho ele com a cabeça em meu colo, chorando na sua cama. Todo mundo sabe nossa relação. — A rainha Dakota está de alta, e gostaria de vê-lo. Disse que é importante.

Quando saíram, se sentou na cama, passando as mãos nos olhos. É tanta tristeza em seu olhar, que me senti um pouco sobrecarregada. Nicolau é alguém sem sorte. Sua primeira esposa, o amor e o sol de sua vida, faleceu às vésperas do segundo ano de casamento deles, no dia que daria à luz à Leona. Lara era uma mulher estonteante, forte, chamava atenção por onde passava por sua energia. Ela era impossível passar despercebida, defensora de causas humanitárias, se colocava na frente do povo como ninguém. Acho que eu vi essas características em Peeta, e por isso o observei desde o começo da Seleção. Talvez se eu não a tivesse conhecido, Peeta poderia quase passar por uma aberração diante dos meus olhos. Eu não o achei estranho porque tinha muito contato com ela, éramos muito amigas.

Me lembro de ficar apaixonada com a sintonia deles até ao falar. Uma coisa muito doce, é que eles caminhavam sincronizados, sem perceber. Eram almas gêmeas, completamente doados para um amar o outro. O brilho constante dos olhos dele desapareceu completamente depois que ela se foi.

Vim visitá-lo para dar felicitações pelo nascimento, mas no meio da viagem fui surpreendida pela notícia de sua perda. Meu pai permitiu que eu ficasse uma semana lá em Moscow para poder confortar meu amigo, que é um irmão de alma. Ele perdeu muito peso, acho que cinco quilos em um mês, me lembro de obrigá-lo a comer junto com Marcell. Como retornei uma semana depois, o ligava e suplicava para que se alimentasse. Chegou ao ponto de ficar internado, e mesmo assim foi muito tempo até que saísse sozinho de uma cama.

— Quando você se sentir que pode andar, eu vou estar com você. E se você não achar, eu também vou estar aqui, Vilu.

Assentiu devagar, passando as mãos nos fios. Está de pijamas, todo bagunçado. Passou todo o nascimento de Valentin ao lado de Dakota, segurando na mão dela, preocupado, conversando o tempo todo com os médicos e com ela, auxiliando como podia, provavelmente revivendo tudo o que passou com Lara. Foi necessária muita força para ele estar ali. O admirei ainda mais por isso.

Ele ficou tão radiante ao contar que tinha segurado o neném nos braços, e cortado o cordão umbilical e que era um bebê saudável. Foi a primeira vez em anos que vi o brilho que ele tinha, que não vejo desde a perda de Lara. Imaginei que tivesse melhorado o coração sobre isso. Até que Dakota amamentou a criança, que dormiu, depois de todo o procedimento normal, ele esperou ela também cair no sono para então se trancar no quarto. Abriu faz duas horas para eu entrar.

Sua relação com os pais é bem ruim também. Não tanto quanto era com a minha mãe, mas seus pais sempre deixaram claro o repúdio contra ele por ter se casado com uma russa. Nicolau também tem a mente muito aberta, como eu e Peeta, sobre política. Seu diálogo com seus genitores se resume ao mínimo possível, sempre assuntos referentes à negócios. Ele não merece a vida que tem.

— Não posso culpar meu filho pela merda que é a minha vida — disse, simplesmente. — Vou tomar um banho, escovar os dentes, logo apareço.

Assenti, beijando sua cabeça, lhe dando mais um abraço. Continuei deitada na sua cama, esperando que voltasse. Retornou vestindo uma calça social, e um casaco de moletom branco bem grosso, por causa do frio que está fazendo. Neva bastante na capital alemã. Calçou pantufas, me fazendo rir.

— Você está indo buscar seu filho com pantufas? É isso mesmo?

Sorriu, dando de ombros.

— Dizem que depois que a gente vira pai não tem mais volta, então quero estar confortável, Kamikaze.

Concordei, correndo para seu lado para sairmos juntos. Caminhamos abraçados um ao outro, sem ouvir comentários, pois todos sabem que somos assim desde muito jovens. Peeta ficou em Panem, porque passou mal. Pegou febre amarela em uma visita à Austrália semana passada. Eu não teria vindo se não soubesse que Nicolau precisava mais de mim nesse momento. Além disso, só hoje, liguei para Stuart quatro vezes, para que me atualizasse sobre o quadro de saúde do meu marido. Está estável, mas hoje de madrugada vou voltar para casa. Me parte o coração saber que vou deixar Nicolau assim.

Amandine,  Heiko e Marcell, seus pais e irmão, respectivamente, estavam juntos com Ivan e Olga, pais de Dakota. Nós os cumprimentamos. É tão estranho que Nicolau seja tão amável, mas só me tenha como amiga. Ao menos a única que sabe a grave depressão que está enfrentrando e aparentemente se importa. Lidar com pessoas é sempre uma coisa complicada.

Todos pareciam eufóricos, vendo o bebê do outro lado do vidro. Vieram abraça-lo, parabenizar pelo fruto de seu casamento.

— Valentin representa uma nova era! Uma nova geração! — Amandine celebrou, quase sufocando o filho num abraço apertado. — Estou tão orgulhosa de você, meu filho! Ele é tão lindo quanto você quando nasceu.

Meu coração se apertou, e tive que desviar um pouco a atenção para o bebê. É tão bonito. Tão frágil. Valentin pode até não ter sido desejado pelo pai no início, mas será uma criança louvada e amada por ele, sem a menor sombra de dúvidas. Conheço o coração de Vilu. Vai ressignificar tudo o que está passando. A forma como ele segura o bebê diz tudo. 

Quatro anos e um pouco de casados, já deveria ter o meu bebê no colo, mas tento evitar pensar demais sobre isso, porque estou verdadeiramente feliz por Nico. Hoje eu não sinto mais dor e pesar quando vejo meus amigos terem filhos. Foi um pouco mais doloroso quando Olívia nasceu, filha de Delly e Stefan, há oito meses, porque sinto que mesmo que eu perdoe e deixei ela voltar para a minha vida de todas formas possíveis, sinto como se ela ainda pudesse ser mais feliz do que eu. Não consigo explicar. Fico sinceramente feliz por todas suas lindas conquistas, mas me sinto triste por muitas não me acontecerem também. De resto, tenho tratado com muita terapia e prática em arco e flecha. Peeta é fundamental. Eu e ele saímos cada vez mais fortes depois de cada circunstância. Saber que seus braços estarão ao meu redor quando eu tiver pesadelos me faz descansar.

Eu me senti mal quando o vi tão feliz pegando Sky e Angelo no colo, os gêmeos de Amélia. Queria que ele sentisse essa alegria ao pegar um filho nosso nos braços. Chorei tanto naquele dia, que dormi no chão do meu quarto. Porém, graças minhas terapias, coloquei na cabeça que existem coisas que eu não posso controlar. O que posso fazer é buscar estar saudável, e estável, para um dia, quem sabe, ter o privilégio e a honra de ser mãe. Minha terapeuta disse que minha função hoje é focar em ser uma boa Katniss. Um passo de cada vez.

Nicolau foi primeiro conversar com Dakota, e esperei sentada em um dos banquinhos, depois de me lembrarem que devo usar minha tiara brilhosa para as fotos. A imprensa já está esperando. Saiu com ela ao seu lado, caminhando devagar, mas sorrindo, os dois conversando sobre algo que não pude escutar. Ela está de sapatilhas brancas, inseparáveis, por ser bailarina, e um vestido ombro a ombro de flores, até o joelho, sem marcar a barriga. É um contraste divertido para Nicolau, de moletom branco felpudo, embora seja refinado, e as coroas de rei e rainha estejam em suas cabeças para as fotos. Se não tivessem coroas, você ainda saberia que eles são os monarcas. 

Acho que hoje começa uma nova fase na relação dos dois. Não digo amor, mas acredito que podem aprender muito um com o outro. Agora tem um filho juntos, isso é um elo que não pode ser nunca rompido. Sinto que há bastante admiração da parte de Dakota para com Vilu. Eu a perguntei se estava bem, quando descobriu estar grávida. Sabendo que Nicolau confia em mim, ela também confia, e disse que ele foi muito respeitoso. Tenho certeza que sim. Ele é um homem de caráter, o conheço sóbrio e bem alcoolizado, e o máximo de indecente que faz é xingar bastante. Sei também que ele não foi dormir com ela sob efeito de alguma bebida, por isso chorou e se arrependeu, por não ter conseguido beber, justamente para poder dar à nova esposa uma noite de núpcias o mais decente possível.

Só desejo que Nicolau encontre seu caminho de volta para paz. Ele merece mais do que ninguém, e no que eu puder fazer, vou para tornar sua vida mais fácil. Nico já me ajudou de formas que só Deus sabe, e sou eternamente grata por isso. Dado um tempo para eles irem até o berçário buscar o bebê, fui lá saber como estavam e entrei para ver e realmente conhecer meu afilhado. Só o vi de longe, assistindo o parto da sala de espera.

Meu amigo estava encantado com a criança, amamentado por uma Dakota visivelmente emocionada, ainda inchada por causa de tudo, principalmente seus seios, que tem o dobro do tamanho agora, mas com um sorriso impagável de tão radiante para o recém-nascido, que mexia os dedinhos do pé, segurados pelas pontas do dedo de Nicolau. A mãozinha de Valentin gesticulava de maneira fofa no peito da mãe, descobrindo todo um novo mundo fora do ventre dela. Eu estou tão feliz pela vida de Valentin, e por Nicolau ser pai. Eu poderia escrever uma poesia sobre isso.

— Olha, que mão mais linda! — comento, me sentindo lisonjeada que Dakota me deu o bebê no colo, antes que os pais de Nicolau pegassem. — Vou ter que roubar você, Tin-Tin! Dakota, ele tem seus olhos e cílios longos tão charmosos!

— Não acredito que você acabou de dar um apelido tosco para o meu filho, Kamikaze — Vilu resmunga, mas Dakota ri. Noto que ela encosta a cabeça no ombro dele, e ele deixa a cabeça dele sobre a dela. Só Deus é capaz de entender como meu coração fica aquecido com isso. — Espere só, quando você tiver um bebê, vou pensar no apelido mais horrível para dar.

— Como se você pudesse apelidar uma criança errado, Nine. Você é ótimo nisso — Dakota comenta, com a voz baixa e delicada dela. 

— E se for um apelido realmente ruim, pode se desconsiderar oficialmente não-padrinho do meu filho que eu ainda nem gerei. Mas Dakota será madrinha. Você vai ficar assistindo de longe. 

Todos nós rimos. Fico por mais alguns minutos, até entrar um casal de fotógrafos amigos de Nicolau, tirar algumas fotografias oficiais. Me senti honrada mais uma vez por ter saído segurando o bebê em boa parte das fotos. Dakota confia em mim, porque não reclama, nem chama minha atenção sobre como estou segurando o bebê. Eu a agradeço por isso. Pouco tempo depois a privacidade é ferida, como esperado, pois já haviam alguns jornalistas, fotografavam de diversos ângulos a cena tão bonita, que eram os três juntos. Formam uma família linda. 

Me afastei, me despedindo, depois de algumas fotos com eles, um pedido de Dakota. Fechei os olhos, e sussurrei uma breve oração, pedindo para Deus os fazerem feliz. Que meu amigo consiga ser feliz. Que Nicolau seja muito feliz, que Dakota também seja, ainda que a única fonte seja Valentin. Senti uma paz, mesmo com as mãos no bolso do meu sobretudo preto, tremendo com tanto frio que faz, então apenas dou as costas, caminhando para o meu quarto.

{Flashback Off}

 

— Nós vamos ficar bem — Peeta diz, em meu ouvido. Ainda estamos sentados, mas ele me coloca castamente em seu colo, com minhas pernas pendendo para um lado. — Nós vamos ficar bem, assim como nosso bebê. Você me tem, eu tenho você, e o bebê terá nós dois.

— Você jura isso, Peeta? — pergunto, me sentindo como uma taça de cristal, prestes a deslizar de encontro ao chão.

— Só digo para você o que eu tenho certeza, Katniss. Você já deveria saber disso. Mas já que ainda não fixou isso na cabeça… vai. ficar. tudo. bem.

A cada ponto ele me dava um beijo casto pelo rosto, me fazendo sorrir. Me sinto ofegante, porém alegre por isso.

— Temos um natal para celebrar — digo e ele sorri, brilhante como nunca vi.

 

(…)

 

A ceia de natal foi muito especial. Todos nós passamos de pijamas, e fazemos com que as crianças se sintam à vontade. Pensei o tempo inteiro que no próximo natal eu e Peeta teremos um bebê nosso aqui.

Será menino ou menina? Eu não vou fazer chá revelação, com certeza. Nicolau me ligou na mesma hora que sugeriram, assim que Dakota completou cinco meses de gravidez de Valentin, e rimos muito. Concordamos que é cafona.

— Você está o dia todo super longe em pensamentos, filha. O que houve? — Meu pai pergunta, se sentando ao meu lado no sofá, enquanto as crianças se divertem abrindo presentes. Peeta está deitado do outro lado do cômodo, com a cabeça no colo de Amélia, que está contando algo que o faz rir e seu pai também, sentado ao lado dela. 

— Nada, está tudo bem — respondo, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas. 

Ele ri. Sabe que estou mentindo.

— Tudo bem se não quiser me contar. Prim me horrorizou em muitas camadas, acho que sempre desbloqueio novos pesadelos. Ela tinha recusado o pedido de Stuart porque achava que estava grávida, e me contou na mesma hora, antes de vir para te ver. Tive que lembrar que ela nem filhos pode ter. Na hora foi horrível, mas depois foi bem engraçado — rio com sua risada e pelo fato das coisas também. Não é novidade que ela não pode ter filhos de barriga, sabemos disso desde que ela tem uns 8 anos.

Stuart levou numa boa. Nem todo mundo quer filhos, e minha irmã e ele são esse tipo de casal, o que torna o assunto uma piada. Diferente de mim, Prim é completamente aberta sobre suas coisas, ela me ligou por chamada de vídeo depois que ela e Stuart tiveram a primeira vez deles, não muito depois de se mudarem para Londres. Eu fiquei constrangida, mas ela não parava de falar. Fiquei com o rosto vermelho de vergonha por horas depois que ela fez questão de me contar como se sentiu e todos afins.

Até hoje tenho dificuldade em ficar perto de Stuart sem pensar muito sobre as coisas. Sei que ela está muito feliz — por bons motivos — e eu ainda não a perdoei por me contar detalhes sobre sua vida íntima. Ainda tenho que lembrar a ela que não tem que me contar tudo. 

— Você vai contar para ela se eu contar para o senhor? — ele me olha com cuidado, então assente, devagar. — Eu fiz exames. Estou grávida.

Ele assentiu outra vez, devagar. Falei bem baixo, porém sei que escutou. Combinei com Peeta que não contaríamos, mas eu não sei se aguentaria. Delly vem até nós, com Olívia no colo, e a menina que se parece tanto com ela sorri para mim, com um presente nas mãos.

— Com licença, majestades. Mas gostaria de dar um presente para a tia Katnip — Acho adorável que todas crianças agora me chamem de tia Katnip. Delly estica a menina em seu braço de modo que me alcança com o presente, que pego. Meu pai ri, curioso para que eu abra.

— Ela mesma fez, com Theodore. Bem… mais ela sozinha, porque o Theo não larga o babador, mas… — Minha amiga tenta se desculpar, mas não tem razões para isso. Sorrio muito sincera ao ver uma boneca de argila, consideravelmente desproporcional, porém acho linda da mesma forma.

Me levanto e pego Olivia em meu colo, beijando sua bochecha. Gostaria muito de ter uma filha menina, para que ela possa ser amiga dela também. Cinco anos de diferença não é tanto.

— Muito obrigada pelo presente, Oli. Eu adorei. Vou deixar ao lado da minha cama, ok? — ela sorri, feliz que eu gostei, e desce do colo, indo correndo para debaixo da árvore. Delly me dá um beijo no rosto e me entrega um cartão de natal, pedindo para que eu leia depois.

Sento ao lado do meu pai de novo. Ele pega uma das minhas mãos e dá um beijo. 

— Você será a melhor mãe do mundo, querida. Mal posso esperar para ver você como mãe. Eu amei ver sua versão criança, adolescente, jovem… casada, rainha. Mal posso esperar pela próxima versão de você, que se reinventa sempre. 

Fico emocionada por seu comentário. O abraço apertado, fechando meus olhos.

— Nem acredito que meu bebê vai ter um bebê! Céus, nada prepara a gente para isso mesmo. Estou muito velho — diz baixinho, mas empolgado, e isso me faz rir. Ficamos abraçados por mais um tempo. — Não deixe que seus medos façam você se esquecer disso, meu amor.

Assinto. Algum tempo depois todos temos que nos juntar perto da árvore para uma foto de natal. Peeta me abraça por trás, me dando um pequeno susto que logo vira uma risada. Sua mão descansa na minha barriga, como em quase todas fotos em que fica atrás de mim. Mas dessa vez soa diferente, mais importante.

— Ano que vem a gente vai estar segurando nosso bebê. Bem aqui. Feliz natal — ele sussurra, arrepiando meu corpo inteiro, e dou o que sinto ser meu melhor sorriso. 

Nicolau se aproxima, com Valentin no colo. O bebê dá uma risada gostosa ao me ver. Como eu tinha desconfiado e imaginado, ele e Dakota conversam mais, por causa do bebê. Há duas semanas me perguntou se não poderia passar o natal aqui, e eu obviamente deixei. 

— Você não está bebendo? — Peeta percebe, enquanto Tin-Tin vem para o meu colo, e eu o embalo perfeitamente em meus braços. Olho para meu amigo, que ri, negando.

— Eu acho que não bebo faz quase um mês. Valentin fica acordado praticamente o tempo todo, então Dakota cuida de noite e eu pela tarde. De manhã é quando ele dorme um pouco melhor, e eu uso para trabalhar. Marcell está me ajudando agora — balanço a cabeça, mas surpresa. Peeta dá um sorriso.

— Hoje é um dia de milagres mesmo, então! Vem, minha irmã trouxe eggnog sem álcool para a gente, porque as crianças gostam de beber o mesmo que a gente nos copos coloridos — dou risada, porque Peeta o puxa, e fico com o filho dele, que brinca com a trança que cai no meu rosto. 

Procuro Dakota com os olhos, e a encontro conversando com Prim e Amanda. Caminho até lá, ninando o pequeno em meus braços. Os olhos de Dakota brilham ao reconhecer o menino, que estica os braços para ir ao seu colo. Logo ela está o amamentando.

— Que bom que você conseguiu! Eu tentei, mas não conseguimos nos adaptar — Amanda comenta, se referindo à bebê que está no carrinho ao seu lado, dormindo. — Você consegue amamentar sempre?

— Graças a Deus, quase sempre! Mas quando está na hora do turno do Nicolau de olhar ele, que ainda está com dificuldade de manter uma rotina para dormir, ele usa a mamadeira — Amanda fica maravilhada com o relato, o que faz todos nós rirmos. — A sua precisou de fórmula?

— Sim, não consegui, porque acabei tendo um machucado, e desanimei. Ela tem se dado bem e eu acabo um pouco menos cansada. Não imaginei que pudesse ser tão difícil assim — Dakota assente, cansada. 

— Acho vocês incríveis. Hoje eu ajudei a trocar fralda do Theodore e quase desmaiei — Prim comenta, e todos nós rimos de novo. — Seu inglês melhorou muito, Deedee.

O relacionamento de Vilu com Dakota melhorou ao ponto dele ter dado um apelido para ela e ter colado entre nós, que somos amigas dos dois. Ele a chama de Deedee, enquanto ela o chama de Nine. Valentin vai crescer em um ambiente onde os pais estão crescendo em respeito e afeto um pelo outro. Um dia, eu espero, por amor também.

— Nine me colocou para assistir seus filmes favoritos, e todos são em inglês, eu não tive escolha. Além disso, ele fala o tempo inteiro com Valentin, e o leva até a academia. Ele o coloca em um sling e faz sua rotina na esteira, treina os braços, algumas flexões, tudo isso contando sobre livros e filmes que ele gosta. Não tenho ideia do que esse bebê vai falar quando começar a falar. Isso tem me feito ter tempo de fazer outras coisas também, mas acabamos fazendo tudo juntos, porque esse bebê é muito chorão. Parece que ele fica bem só quando estamos juntos. 

Sorri, sentando sem problema nenhum no chão. Escuto junto com Prim, ela e Amanda compartilharem histórias e juntas damos boas risadas. Nicolau aparece, para pegar Valentin, e o leva para ficar com ele, Ben, Dean, os maridos de Stacey e Amanda, Peeta, meu pai, senhor Samuel — pai de Peeta — e o marido de Delly. Disse que era hora dos homens conversarem (mentira, entraram em um jogo na mesa de sinuca, que acabou com um Dean indignado jogando marshmallows por perder para o time de Nicolau – que fingiu não ser campeão em jogos de sinuca desde os 14 anos de idade). Durante essa parte da noite, de muitas conversas e risadas, eu me esqueci completamente sobre a gravidez, de tão entretida que fiquei, e todos que estavam presentes também.

Aos poucos as crianças vão ficando sonolentas e todos se recolhem para dormir. Quando deito na cama, Peeta está cansado, com os dedos marcados de tanto que amarrou balões para as crianças e pede para eu apagar as luzes, porque Angelo só parou de chorar quando ele foi colocado nos ombros por Peeta, só sossegado depois de vinte minutos inteiros.

— Você vai ser o melhor pai do mundo. Na verdade, acho que você já é — murmuro, encontrando sua boca para beijar. — Eu amo você demais, meu bem.

— Eu também — responde, me beijando de volta, me trazendo para seus braços tão fortes e acolhedores.

— Deixa eu te falar… acabei contando para o meu pai. Mas sei que ele não vai falar nada. Desculpa — me afasto um pouco para ver sua reação. Ele apenas assente, com um sorriso de lado.

— Tudo bem. Você quem tem que botar as cartas na mesa agora, meu bem. Sério. Eu nem sei como deve ser pra você, saber que tem alguém dentro de você, crescendo, se desenvolvendo. Conte comigo para o que você precisar — diz, e eu balanço a cabeça. — Estaremos sempre juntos, até o fim.

Isso faz com que eu sinta um desejo absurdo por ele. Sempre tenho, mas vê-lo fazer tudo o que fez e faz, e saber o quão bem fiz ao escolher ele para ser meu homem. Meu marido. Meu rei. Pai do meu filho. 

Faz amor comigo — peço em um sussurro, mesmo sabendo que não preciso pedir para ele me dar. Pelo mesmo motivo que uso um colar com a inicial do seu nome, desde o nosso primeiro aniversário de casamento, e por sempre pensar nele antes de fazer qualquer coisa, porque sei que ele também pensa em mim. Ele me conhece, e me ama mesmo assim. Ele sabe que vamos ter dias muito difíceis, porque minha mente é um lugar profundo e confuso, mas ele fica todas as vezes. Ele aguarda do outro lado da porta quando eu peço para ele ir embora, porque estou me sentindo ruim. Ele segura minha mão quando estou com medo de fazer alguma coisa, e me incentiva até que eu consiga. Ele faz com que eu me ache linda, mesmo nos dias em que eu nem consigo tomar banho. 

Ele beija minha boca com toda a cerimônia possível. Sinto todo o sentimento que ele tem por mim. Suspiro em sua boca, quando sua mão segura a minha nuca, me trazendo para perto. Desabotoa cada um dos meus botões, e tira devagar a peça de roupas de mim. 

Não aguento que faça tudo por mim. Tiro sua roupa toda, e o faço ficar quieto por um instante. Pego seu membro nas mãos, e seguro com movimentos lentos, estimulando com meu polegar. Ele geme, jogando a cabeça para trás. Geralmente nega que eu cuide dele dessa forma, mas hoje não vou deixar passar. Eu gosto de fazer isso. Eu gosto demais.

Aperto mais, e suspiro, querendo ir mais além. Então, sigo aumentando a velocidade, até ele me interromper, me deitando de novo. Acabo cedendo seu pedido, com um risinho, pela forma que o deixei. Sinto minhas bochechas ficarem vermelhas, mas eu gosto muito disso. As bochechas dele também estão totalmente coradas, e tem um sorriso específico no canto do rosto que eu sei que dá sempre que está satisfeito.

— Posso? — Se refere aos meus seios, que anteontem reclamei que estavam muito doloridos. Concordo, e sem que eu precise dizer mais alguma coisa, ele coloca um na boca. Meu corpo treme, arrepiando de prazer e pelo cuidado que tem. É diferente de todas as outras vezes. 

Faz o mesmo com o outro, sem me machucar. Eu já estou em outro lugar mentalmente, de tão satisfeita que ele me faz ficar, mas não quero apenas isso essa noite. Tiro sua blusa, e o apresso para tirar o resto do pijama. Sorri, olhando para mim. Eu sorrio de volta, quando ele acende a luz da cabeceira.

— Eu quero olhar para você — diz, me tocando exatamente onde mais pede por ele. Beija meu joelho, mas dessa vez não abaixa o rosto. Sinto ele se acomodando entre minhas pernas, e eu fico sem ar em antecipação.

Seus movimentos são lentos, estáveis, e eu o agradeço muito, porque realmente estou sensível. Mas mais uma vez, não quero apenas isso. O olho nos olhos, o puxando pelos ombros, deixando seu rosto próximo do meu.

— Eu quero tudo de você — digo, suspirando fundo, sentindo nossas respirações se misturando e eu adorar. Amo sentir seu corpo no meu, o suor em nossos corpos, sua voz chamando por mim, e a minha chamando por ele. 

Seguro os lençóis, prendendo as pernas em seu quadril. Escondo meu rosto em seu pescoço, quase não suportando tanta euforia em mim. Seus movimentos são rápidos, precisos, acertando exatamente onde eu quero. Arqueio o corpo para trás, quase tonta, e ele faz o que eu mais gosto, que é colocar a boca no meu seio. É o limite para mim, grito seu nome ofegante, sentindo meu corpo arrepiar da cabeça aos pés. Ele sorri, continuando os movimentos, com uma mão na cabeceira da cama.

Adoro quando ele faz isso. Me mexo junto, e ele logo cede, chamando por mim também. Desliza o bastante para sair de mim, mas deixa o rosto na altura da minha barriga. Fala algo que não consigo ouvir, porque meu coração está acelerado demais e só isso que chega aos meus ouvidos. 

Enfim deita ao meu lado, apagando a luz do abajur. Beija meu cabelo e faz massagem na base da minha coluna. Suspiro feliz, depois de levar um tempo até recompor minha respiração e ele também.

— Esse vai ser o melhor ano de todos — eu digo, e ele nega.

— Vai ser o primeiro melhor ano de todos, embora eu esteja muito feliz até aqui.

Com certeza, sem a menor sombra de dúvidas, eu casei com a pessoa certa. Eu concordo, e vamos dormir.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Nós que postamos histórias temos acesso a quantas pessoas leram, embora não saiba quem, mas tem pelo menos 50 pessoas ainda lendo esses últimos capítulos. Se puderem comentar, vou ficar muito feliz ♥️ Volto logo!

POSTEI UMA NOVA HISTÓRIA DE JOGOS VORAZES!!! Quem quiser ler, aqui o link!!!! https://fanfiction.com.br/historia/811227/Antes_do_para_sempre/



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