A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 6
Não tem mais volta | A Seleção


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria de agradecer a todos que comentaram no capítulo anterior, e espero que gostem desse capítulo, gente! Amei ler todos os comentários e mensagens ♥ ♥ *~*
Ao som de It Will Rain, Bruno Mars, bem vindos a mais um passo que Peeta está de finalmente conhecer a princesa Katniss e sua família real. Espero que gostem! :D PS.: O que acham dos gifs no final do capítulo? Já mexi nos capítulos anteriores, e todos tem um agora. Nos que tem música, estou pensando em anexar o link na versão que eu acho que se encaixa melhor... o que acham? Ou melhor deixar tudo puro, apenas o texto?



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Se um dia você me deixar, amor

Deixe um pouco de morfina na minha porta

Porque eu precisaria de muitos medicamentos

Para perceber que não temos mais

O que tínhamos

Nenhuma religião poderia me salvar

Não importa quanto tempo eu passo ajoelhado

Então lembre-se dos sacrifícios que eu estou fazendo

Para te manter do meu lado

E evitar que você saia pela porta

– It Will Rain, Bruno Mars

— Hey, Peeta... — uma voz delicadamente disse, balançando meu ombro – Querido, por favor, acorde. – minha mãe, só pode.

— Hm... — murmurei, ficando de costas para ela e sua voz bonita.

— Acorda, querido. Já são 10h30m — disse me balançando suavemente. — Acorde, por favor. Tem um senhor do palácio querendo falar com você sobre a Seleção. — Me debati, e ela riu. — ACORDA AGORA, MOLEQUE! EU NÃO TO CRIANDO UM DOIS! EU CRIEI UM SETE, QUE AGORA VAI SER UM! — gritou no meu ouvido, e me deu um tapa nas costas.

— CARACA, MÃE! — eu disse levantando, cobrindo um pouco dos olhos por causa do sol que entrava pela janela. — Poxa! Ai! — Tentei alcançar aonde ela tinha me acertado, mas eu não alcançava. Minha cara de insatisfação deveria fazê-la sentir remorso por si só.

— Menino! TÔ tentando te acordar desde às 10 horas! — Deu de ombros. — Cadê sua blusa branca? Aquela que eu comprei no mês passado? — Abriu nosso guarda roupa, mas não procurou nada. — Vista ela e sua calça jeans.

— Mas tá gasta — falei com a voz mais rouca que o normal, causada pelo sono.

— Vista ela, mesmo assim. — Estava saindo.

— Mãe, eu não sei aonde está aquela blusa. Só usei para... para... — Fechei os olhos, colocando as mãos na cintura. — Nem me lembro aonde e por que a usei, na verdade. — Levantei um pouco as mãos, com a voz ainda sonolenta, e meus olhos semicerrados.

— Peeta Ryan Mellark... — Ela quem tinha as mãos na cintura agora, e caminhou até mim, de forma ameaçadora. — Se eu mexer no seu guarda-roupa e achar, vou vir até aqui! — Aproximou-se de mim. — E esfregar na sua cara! — Virou-se, indo para o guarda-roupa, e começou a revirar as coisas.

Droga, ela não pode achar a blusa. Ela realmente esfrega na nossa cara quando encontra algo.

— , gata — eu disse beijando o topo de sua cabeça. Ela é muito baixinha. — Eu procuro, querida. — Assentiu, e parou de procurar, olhando para nossas roupas. Seus olhos se encheram d’água. — O que foi, mãe? — perguntei ao seu lado, procurando minha blusa.

— Eu não me lembro o que vim fazer aqui... — disse cobrindo a boca com as mãos, e algumas lágrimas ameaçavam cair. Imediatamente, parei o que fazia. Trocar o nome dos seis filhos é uma coisa... agora se esquecer do que veio fazer, é uma outra totalmente diferente. — Eu nunca me esqueço o que preciso fazer, Peter. — Olhou para mim, com os olhos quase verdes.

— Acontece, mãe. — Passei o polegar para secar suas lágrimas. — Todo mundo se esquece o que precisa fazer, querida. — Negou, fechando os olhos e baixando a cabeça. — E meu nome é Peeta.

— Eu me esqueci do meu aniversário de casamento, Peeta. Nunca esqueço uma data... — A abracei, depois de puxar a blusa branca.

— Mãe, a senhora anda muito estressada ultimamente, muito preocupada... – eu disse calmamente. — O que acha de sair do seu emprego, hein? Amélia disse que vai começar a trabalhar aonde a senhora trabalha, e vamos ter mais dinheiro no final do mês.

— Não, eu gosto de trabalhar — disse, e eu sabia que era verdade. — Me deixe trabalhar, por favor.

— Ok, a senhora continua trabalhando, mas vai diminuir a carga horária, está bem? — Não se mexeu. — Mãe?

— Tudo bem... – sua voz saiu em um sussurro, como se lutasse com sua própria mente, e eu fechei os olhos, sentindo as minhas próprias lágrimas surgirem por vê-la nessa situação.

— Vou tomar um banho rápido. O que acha de fazer aquele seu chá de camomila para o senhor enviado do palácio?

— Hã? Que senhor do palácio? — perguntou confusa.

— O que acabou de chegar, amor. — Beijei sua testa. — Eu preciso ir para o palácio, lembra? — Assentiu, e saiu do quarto.

Fechei os olhos, tentando absorver o que tinha acabado de acontecer. Não chorei. Não consegui. Eu precisava ser forte, e enfrentar algo que eu nem queria.

Fui para o banho, e rapidamente me lavei, sem muito ânimo, e coloquei as roupas que ela me pediu para vestir.

Ao sair do quarto, logo vi todos meus irmãos no chão da sala, rindo e brincando de cartas. Ben estava no colo de Amélia, e segurava as cartas com força, rente ao peito, para ninguém descobrir nada, e eu ri disso. Ele é demais.

— Senhor Mellark? — uma voz masculina diferente me chamou, na cozinha, e eu fui até lá, encontrando um cara um pouco mais baixo que eu, e muito mais magro que eu. Seus fios pretos e lisos lhe cobriam os olhos, e o mesmo não parecia se incomodar. Aparentava uns... não sei. É o tipo de pessoa que você não sabe quanto de idade dar. É um meio termo. — Bom dia, eu sou um mensageiro do governo, e gostaria de conversar com o senhor. — Assenti, sentando-me na cadeira de frente para ele, e meu pai estava na cozinha, ao lado da minha mãe na mesa, a pedido do cara.

Ele me perguntou diversas coisas. Alergias, doenças, passado médico, histórico da família, minha alimentação, no que trabalho, por qual motivo trabalho, quanto ganho, quando fez uma pergunta que eu não sabia o que responder.

— O senhor namora? Está em um relacionamento sério? — perguntou sem se afetar, e eu não sabia o que dizer.

Não — essa voz não era minha, e nem dos meus pais. Era de Delly. — Sou a melhor amiga dele, e se ele namorasse, com certeza me contaria — disse com um sorriso, que meus pais devolveram

— Oi, Delly. — eles disseram juntos. — Nosso filho nunca namorou — meu pai disse serenamente, e o mensageiro assentiu, anotando, e eu troquei um olhar com Delly “O quê...?”, perguntei com o olhar, e o dela foi severo na minha direção, indicando que conversaríamos sério a respeito disso muito em breve.

Saiu da cozinha, e eu abaixei a cabeça, mordendo o lábio inferior para não chorar. Que droga foi essa?!

—, mas ela é precisa. Para o próprio bem da princesa. — Levantei meus olhos, e orei mentalmente para que não estivesse na cara que eu quero chorar. — O senhor é virgem? — Meu queixo caiu completamente, e com meus pais não podia ser diferente.

— Quanta audácia! — minha mãe disse, ofendida pela pergunta. — O fato de ele ser homem, com 18 anos, não significa que tenha relações!

— Perdoe-me, senhora... — ele disse sem graça. — Mas é o protocolo. — Suspirou. — Ok, deixa eu explicar-lhes algumas coisas.

“A partir de agora, você é propriedade de Panem. Tudo o que quiser mudar no corpo, enquanto estiver participando, precisará passar por várias situações e pessoas. Não pode ganhar ou perder um quilo se não for estritamente necessário. No seu caso, por exemplo, precisará ganhar alguns quilos. Na Capital, Angeles, é quase um esqueleto!”

— Hey! — Fiquei ofendido. — Estou apenas dois quilos abaixo do desejado no meu Distrito! — Negou.

— Você está 10 quilos abaixo do saudável. É preciso trabalhar mais nisso.

“Por ser um Selecionado, automaticamente é um Três. Distritos que não sejam o Dois, tornam-se Três para a facilidade de encontrar um emprego no caso de serem eliminados. Não importa o Distrito. Será um Três, a menos que a princesa que você faça algo que a princesa não queria, como por exemplo, tentar beijá-la. A única que pode dizer se você vai continuar ou não na Seleção é apenas a Princesa Katniss. Nem mesmo o rei ou a rainha podem interferir nisso.”

“Traição é punível com punições extremamente severas e públicas ou até mesmo a morte, e no caso de ser punido, uma delas será ser rebaixado a distrito oito, perdendo todos seus direitos como cidadão, ou seja, seus pensamentos, atitudes, palavras, cartas, que falem sobre amor e devoção, precisa ser destinada apenas para a Princesa Everdeen, e no caso de uma descoberta, digamos assim, onde, suponhamos, que você escreveu uma carta para uma pessoa do palácio, contando seus sentimentos, será encaminhado diretamente para a corte real.”

“Todos os seus momentos com a princesa, a menos que ela peça para que não, serão gravados. Não são todos os dias, mas na primeira semana, uma equipe estará trabalhando dia e noite para gravar os principais momentos.” — Eu apenas assentia, sem muito interesse. Delly e seu olhar estão na minha cabeça. — Como o senhor é um Sete, creio que sua alimentação não seja as melhores, com todo respeito. — Eu e meus pais assentimos. — Por isso, assim como está sendo feito com os Distritos cinco e seis, é para o senhor tomar a cada seis horas, até amanhã. No palácio, os criados se responsabilizarão de lembrá-lo de tomá-las, está bem? — Assenti, passando para meu pai o pote de vitaminas. — O que ficar pode ser tomado por sua família.

“Enquanto ficar no palácio, todo mês será enviada uma quantia para ajudar a família, pois sabemos que a maioria dos selecionados trabalham para ajudar na renda, então, para não ficar nada desfalcado, aqui está. O primeiro cheque é dado logo no primeiro dia”. — A estendeu para mim um papel. Com esse dinheiro, podemos sobreviver muito bem até o natal! Só com esse primeiro cheque! Ignorei meus sentimentos por um momento, para sorrir, e mostrar para os meus pais, que ficaram mais felizes do que já estavam. — É suficiente? — perguntou preocupado.

— Isso é o bastante para o final do outono até o natal! — meu pai disse sorrindo. — Como podemos agradecer? — O cara sorriu.

— Seu filho ir é um bom começo. — Eu e meu pai trocamos olhares. Ambos sabíamos que aquele dinheiro seria destinado para comprar todos os remédios da minha mãe. Fiquei feliz com isso. Finalmente alguma coisa positiva. — Bom, você já é um Três, sabe disso, mas é apenas você, senhor Mellark. Sua família continua como Sete, a menos que se torne Um, ou seja, se case com a princesa. — Assenti — Se for um dos seis, e passar para A Elite, você será um Dois, não importa o que aconteça, a menos que a princesa peça para que seja rebaixado como um Oito. Se você se tornar um Dois, sua família terá a “mesada”. — Indicou com os dedos — Duplicada. — E explicou mais algumas coisas, como por exemplo, que um casal seria responsável por mim e mais três rapazes, e esse casal nos ensinará bons modos, nos preparará para sermos o futuro Rei de Panem. — Effie e Haymitch serão seus mentores, assim como do senhor Hawthorne, Mason e Kutcher. Eles os ensinarão tudo o que precisarem, e os acompanharão a partir do momento que entrarem no trem para Angeles, a Capital. — E blá-blá-blá.

Meus pais ouviam tudo por mim, e estavam bem entretidos, enquanto eu pensava e vi os cabelos de Delly se movendo, junto com os de Amanda, por estarem rodando na sala, misturando-se as gargalhadas de todos meus irmãos — Gila mais! Gila mais! — pediu Ben, e elas giraram mais, gritando em meio a risadas.

— Eu estou tontaaaaaaaaaa! — Delly disse rindo, e ouvi um corpo cair no chão, em meio a muitas risadas. Nós quatro na cozinha levamos um susto

— Está tudo bem? — perguntei ficando de pé, olhando para Delly sentada no chão da sala, esfregando a cabeça, enquanto meus irmãos estavam sem fôlego de tanto rir.

— Sim, está sim. Ela quem caiu, e muito feio no chão — Amanda disse ofegante, jogada no sofá. — Valeu, Pãozinho. — Voltei a me sentar, e o cara voltou a falar.

— O senhor poderia me acompanhar até a porta? — Assenti, dispensando meus pais educadamente, e o levei até o lugar que me pediu. — Um instante — pediu, indo até o carro, e voltou com uma sacola muito bonita. — Essas roupas são para você usar amanhã, e precisa estar pronto às 7h10m da manhã. Guardas virão buscá-lo em um carro semelhante a este, e o levarão para a estação, aonde tirará algumas fotos, e depois entrará no trem, partindo para o Distrito Cinco. Do seis não temos nenhum selecionado, então irá logo buscar o senhor Hawthorne, depois o Kutcher, enfim o Mason, no Dois. Nenhuma briga é permitida, e caso aconteça, cabe apenas a princesa definir o que acontecerá. Seja uma leve punição, ou sua exclusão da Seleção. — Assenti, e ele se aproximou, fazendo um gesto para que eu fizesse o mesmo, e em um sussurro disse. — Seu trabalho, de toda a Seleção, é encontrar um marido para a princesa, certo? Então, se ela quiser abraço, beijo, mais que beijo, você não pode negar de maneira alguma, e em todas essas situações, por mais que você não queira, precisa fazer a princesa sentir-se desejada. — Não podia acreditar no que estava ouvindo! — E essa conversa não pode ser dita para os outros selecionados. — Afastou-se. — Faça suas malas, coloque apenas o essencial, que sentirá falta. Não é preciso roupas, pois estas estarão sob responsabilidade de seus criados. Bom, que a sorte esteja sempre ao seu favor. — Deu dois tapinhas nos meu ombro e se virou, deixando-me com raiva dessa coisa toda.

— E aí? Empolgado? — Stuart perguntou batendo palmas.

— É, muito. — levantei um pouco meus braços, com um cara totalmente o oposto de feliz, fazendo eles rirem. — Vou arrumar minhas coisas.

##

Eu tirei tudo do lugar. Absolutamente tudo! Camas, gavetas, minhas roupas, livros na estante... o que eu vou levar?!

Já estava na hora do almoço, e podia sentir o cheiro de carne moída com purê de batata invadir o ambiente, e minha boca se encheu d’água.

Ninguém me interrompeu, nem meu pai. A minha conversa com ele sei que vai acontecer de noite, apenas pelo olhar que ele me deu, e não posso deixar de acumular as minhas lágrimas por conta disso. Eu podia ouvir as lágrimas e soluços por parte de Stacy, Stuart, Amanda e Ben. De Amélia não, uma ou outra. Nós temos muitas coisas em comum, e uma delas é essa, não chorar na frente dos outros, e não demonstrar o quanto estamos abalados, mas sei que ela vai sentir minha falta. Muitas vezes, somos nós quem ficamos sem comer para nossos pais e irmãos não passarem fome. Muitas mesmo.

Os irmãos de Delly estavam aqui, assim como seus pais, e meus irmãos brincavam animadamente, dava para escutar suas risadas, e eu já sentia falta daquilo.

Saí do quarto, me dando de cara com uma loira de olhos cor de mel.

—se precisa de ajuda — disse colocando uma mecha atrás da orelha.

— É, eu preciso — respondi dando espaço para ela entrar, e quando o fez, caiu na risada.

— Quem estava aqui com você?! Um bando de cachorros?!

— Não gasta, Delly — eu disse bufando, pegando algumas fotos da família, e depois fotos individuais de cada um dos meus irmãos e pais.

— Eu gosto dessa foto, e gostaria ainda mais se a levasse — disse tirando uma do bolso da calça.

Era uma foto nossa. Só nossa. Tínhamos 16 anos, e era seu aniversário. Nossos olhos brilhavam, seu braço estava sobre meus ombros, e um meu envolta de sua cintura. Sorríamos felizes para a foto, e estávamos em nossos melhores dias. Namorávamos escondido... — Era nosso aniversário secreto de um ano e cinco meses. — Sorri torto, recordando daquele dia. — Sobre hoje cedo... — Suspirou, fechando os olhos. — Você precisa ficar livre para se interessar pela princesa. Não quero que, ao estar perto dela, fique pensando que está me traindo. É errado.

— Você terminando ou não comigo, não deixaria menos estranha a minha relação com a Katniss. — Ela não está aqui, então posso chamá-la pelo primeiro nome. — Eu amo você, Delly, e pensei que me amasse também.

— Mas eu gosto de você! E me importo! — falou um pouco alto demais, e nós dois olhamos nervosos para a porta. — Eu te amo, seu idiota! — falou em um sussurro alto. — E é por isso que estou oficializando o nosso término. Isso é o melhor para você! Compreenda!

— Não! Compreenda você! — Me aproximei dela. — Eu não quero ir! Eu não quero! Eu quero você! Eu amo você! — E a puxei pela cintura, colidindo seu corpo contra o meu, e segurei seu rosto, beijando-a com delicadeza e urgência. Sinto que poderia beijar esses lábios o dia todo, sentir sua língua com a minha o dia todo, e nunca me cansar, nem enjoar.

Ela suspirou na minha boca, e colocou os braços ao redor do meu pescoço, aprofundando o beijo, e a minha mão que estava sem seu rosto, desceu para sua cintura, aproximando ainda mais nossos corpos, quando o ar preciso ser reposto, nos separamos lentamente, ofegantes, necessitando de ar, mas queríamos aproveitar o momento.

—de você... — sussurrei, abraçando ela. — Não quero ir para A Seleção. — Ela se separou um pouco, tocando meu rosto, com suas mãos finas e pequenas.

— Mas você precisa ir. E mais do que isso, precisa e vai tentar ficar. Te conheço muitíssimo bem para saber disso, Pepe. Com o dinheiro, em três meses, sua mãe pode pagar todo o tratamento necessário, com todos os remédios inclusos. Não quer ver ela saudável? Então você vai tentar! E não quero que me tenha como uma âncora, impedindo-o de tentar, fora que eu ouvi que é crime. Você vai dar o seu melhor! E se você voltar na primeira remessa pode acreditar que, se a sua mãe tiver a memória drasticamente afetada será você, assim como a piora do seu pai com relação ao problema nas costas e no pulmão! — Meus olhos se encheram d’água. — Não quero te fazer chorar, não quero. Eu sei o quanto é difícil para você. O que você passa, é o que eu nunca vou passar. Mas precisa entender que sua família precisa sim de você, mas lá no palácio, e não aqui. — Apontava para mim, indicando que aquilo era uma briga, e nós já estávamos separados a uma boa distância. Ela estava perto da porta. — E quer saber? Eu não te amo mais! Eu amo o Peeta que procura fazer o melhor para a família, não pensando apenas em si mesmo! E você só está pensando em você, neste momento!

— Você o quê

— Eu não te amo mais, Peeta. Acabou tudo. Acabou o nosso namoro, noivado, casamento imaginário, e amor. Acabou! — Ela começou a ficar embaçada, assim como tudo. Meus olhos estão ficando marejados.

— Você não me ama mais? — Assentiu, e seus olhos também estavam cheios d’água. — Como eu gostaria de dizer o mesmo. — Devolvi a nossa foto para ela, fechando a porta do meu guarda-roupa, que já estava todo arrumado, assim como todo o meu quarto, de forma bem mais organizada que antes.

Fechei a mala, em silêncio, enquanto ela colocava mais algumas coisas no lugar, das quais eu não me importo mais.

— Peeta... — disse baixo, tocando a minha mão, que puxei da dela.

— Cala a boca. — Não foi um pedido. Foi uma ordem. Não falei alto, mas ela soube que era bem sério. — Você não me ama mais? — Virei-me para ela. — Ótimo. Vou aprender a não te amar também. — E saí do meu quarto, batendo a porta com força, indo para a cozinha, agindo como se nada tivesse acontecido.

Stacy me lançou um olhar “Quer conversar?”, perguntou com os olhos, e eu apenas balancei a cabeça em negativa, sabendo que, em situações como essas, só chorar alivia a minha alma. Quando eu falo, é como se os problemas fossem triplicados. Apenas digo para meus irmãos e pais que eu preciso de um tempo, para pensar, para refletir, pois são muitas coisas na minha cabeça, e eles entendem.

— Dellyyyyyyyyyyyyyyyyy! — Ben disse animado, com a boca cheia e meu pai prendeu o ar.

— Menino! Não pode falar quando está comendo! — corrigiu, e meu irmão apenas deu de ombros, batendo palmas, para ela se sentar ao lado dele, a mesma foi, rindo.

Droga. Ela se sentou bem ao meu lado.

O almoço correu muito bem, com Jason e James, irmãos de Delly, respectivamente com seis e oito anos, brincando com meus irmãos, gerando altas risadas. Eu sentirei falta disso, mesmo que fique por um dia longe.

Eu e Delly não nos olhamos, mas realmente queria. Eu juro que queria.

— uma foto! — Amélia disse animada, colocando uma câmera digital que nossos pais ganharam quando nós dois nascemos, em cima da mesa, e correu para o meu lado. Bem, eu pensei que era, pois a criatura pulou no meu colo.

— AAAAAAAAAAAEEEEEEEEEEEEEEEEEE! — gemi, quase caindo, e todos riram. — Avisa que vai pular, cara! — Estava em meu colo como noiva, e riu.

— Somos gêmeos. Você deveria saber que eu iria pular em você. — Bufei, mal humorado. — Desculpa — disse sentida, e eu logo balancei a cabeça.

— Está tudo bem. Mas eu poderia ter caído no chão! Sua doida! — Ela riu, e eu a acompanhei. Sua risada é ridícula.

— Amorteceria minha queda, então tudo bem, meu bem... — Piscou para mim. — Junta todo mundo aí! — A acomodei em meus braços, com um sorriso torto, mas na hora da foto, a mão de Amanda atacou minha cintura, me fazendo dar um pulo assustado.

— Que isso?! — perguntei olhando para ela, que ria.

— Aviso para isso! TODO MUNDO FAZENDO CÓCEGAS NO PEETAAAAAAAAAAAAAAAAA! — *Pensamento censurado*.

Meus pais começaram a fazer cócegas em mim, assim como todos meus irmãos e os de Delly. Virou uma bagunça, todos fazíamos cócegas um no outro, Amélia quase caindo, assim como eu, e gargalhávamos extremamente alto, bêbados de felicidade, mesmo que momentânea. Então, sentimos o flash sobre nós, mas não nos importávamos. Queríamos ser gravados em nosso melhor ângulo, e ele é enquanto rimos.

...

— Você deveria se animar mais... — meu pai disse me cutucando, sentando-se ao meu lado no telhado da nossa casa, admirando as estrelas. — O que foi, Pequeno? — Eu era mais alto que ele, mas o apelido de menino permaneceu.

— Eu não quero ir, pai. — Olhei em seus olhos, e meus olhos estavam cheios d’água. — Mas eu sei que preciso. Mamãe precisa dos remédios.

— Por que você não quer ir? — Os olhos dele estavam presos no horizonte agora, então abracei meus joelhos, com o queixo sobre os mesmos.

— Porque eu não amo a princesa. Eu amo vocês. — Ele riu, mas não entendi. — Por que está rindo?

— Porque eu odiava a sua mãe quando tinha 18 anos. — Minha boca fez um perfeito “o”. — Os maiores e melhores amores começam com as piores demonstrações de afeto. Sei que não a odeia, mas não é simpático a ela. Vejo no seu rosto isso, mas eu realmente odiava sua mãe. Ela sempre foi perfeita em tudo demais para eu amá-la, mas aconteceu. Participei uma aposta, onde precisava beijá-la para provar que eu era capaz de trabalhar, aceitando o que eu não gostava, e quando fiz isso, passei a amá-la desde aquele instante. Não demorou muito para nos casarmos. Éramos e somos até hoje apaixonados. Cada dia mais. — Eu sinto vontade de chorar, sério, quando os vejo juntos. É tão linda a áurea sobre eles, onde é possível sentir o amor.

— Dois raios não caem no mesmo lugar, pai. — Sorriu.

— Sim, mas não é impossível. — Desviou seu olhar das estrelas para mim. — Peeta, veja isso como uma viagem, não como um trabalho.

— Não permitir que a Princesa me elimine é um trabalho, não brincadeira, pai. — Eu disse debochado, e sua expressão carinhosa sumiu.

— Eu não estou brincando, Peeta, e tenha mais respeito. — Baixei a cabeça. — Deixe de ser tão orgulhoso, deixe de ser tão a sua mãe por um segundo, e comece a ver o lado bom nas coisas.

— O quê? Papai! — Endireitei a postura. — Pelo amor! O que eu posso ver de bom nisso, além da mesada para pagar os remédios da mamãe?! — Suspirou, fechando os olhos, e virou seu rosto novamente para as estrelas.

— Uma forma de aliviar os pensamentos, se esquecer que tem cinco irmãos e dois pais doentes em casa, e se lembrar que é um adolescente de 18 anos, e, principalmente, se lembrar de sonhar.

— Eu sonho... — falei baixo.

— Sério? Com o quê Em se casar? Ter filhos? Um cachorro? — perguntou sério, e eu deixei algumas poucas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. — Pequeno, estou me referindo a mudar de vida. Não precisar trabalhar todos os dias, ter dinheiro suficiente para viajar, ser mais do que um mero jardineiro, pensar em ser um médico, um juiz, um guarda, ou até mesmo um rei. — Tocou meu ombro com uma mão, fazendo um suave carinho. — Uma pessoa sem sonhos é o mesmo que um saco plástico vazio. É como apenas ter o corpo vivo e a alma morta. — Suspirou. — Você ainda não quer ir, não é?

— E se ela se esquecer de mim, papai? — meu tom de voz era frágil, como o de Ben à noite, e pela primeira vez em anos, não me importei em permitir que ele visse meu lado humano. — E se ela se esquecer que eu existo?

— A gente nunca se esquece do rosto daqueles que amamos, não importa o que aconteça. — Beijou minha testa, e eu fechei os olhos, apreciando seu carinho. — Não se preocupe, e permita-se sonhar. Permita-se... viver.

— Do que vale a pena, afinal? Viver ou saber que se está vivendo? — perguntei com a cabeça em seu ombro, e ele riu.

— Isso vai muito além dos meus conhecimentos, Pequeno. — Assenti. — Agora, pode por favor me dizer se o rei tem ou não rugas? Cara, como ele consegue?! — Ri, vendo que o momento filosofia havia sido totalmente destruído.

— O senhor não tem rugas.

— Mas alguns pés de galinha que me estressam... — disse em um tom chateado. — Nem quero me ver com rugas. — Ri mais.

— Pai, a idade chega a todos. Seja para você ou para o rei. Não se pode ir contra o ciclo da vida. Nascemos nada, e morremos sendo nada. — Assentiu.

— Belas palavras... mas duvido que vai pensar assim quando tiver a minha idade! — Bagunçou meus cabelos, cobrindo minha visão, e sorri de seu ar espontânea — Agora, falando sério, bem que você poderia ser apenas você, e ganhar essa coisa toda. Tem potencial para mandar nisso tudo. — Sinalizou todo nosso Distrito, iluminado, e podíamos ver também o Distrito Seis. — Ninguém melhor para governar tudo, do que alguém que já teve nada.

— Obrigado, pai. — Olhei para ele, sorrindo torto. — Eu não prometo ganhar, mas vou pensar no senhor e na mãe antes de fazer algo para sacanear a princesa. — Coloquei uma mão no peito, como se fosse um juramento, e ele riu, cobrindo o rosto com as mãos.

— Quais são seus planos para ela? — Sorri maliciosamente.

— Não pude elaborar algum, mas te garanto que eu vou sacanear ela. — Assentiu.

— Apenas seja discreto. Não vai querer ser rebaixado a Oito por uma vingança sem sentido, ok?

— Pai! Que isso! Era para mandar eu não pensar assim!

— Ah, fala sério! — Balançou a cabeça, fingindo raiva. — Você é mais orgulhoso que a Alicia! E sua mãe é fogo, sabe disso!

— Assim você me ofende. — Coloquei as duas mãos no peito, fingindo estar ofendido, e mantemos nossos olhares, até que nós dois caímos na risada. — Sério, na moral, vou ser eu mesmo. Satisfeito?

— Vai pelo menos tentar? — perguntou arqueando uma sobrancelha, e eu levantei as mãos em rendição.

— Eu pensei que sendo eu mesmo fosse suficiente! — Ele sorriu e eu devolvi o sorriso. — Sério, pai. Não quero tentar. — Suspirou.

— Está bom, mas saiba, do fundo do meu coração, que, para mim e sua mãe, você sempre foi e sempre será da realeza. Não é uma coroa que define um homem rei, ou uma coroa uma mulher rainha. — Tocou meu peito. — E sim o coração, e a forma da qual o usamos.

— E o senhor sempre será meu rei, papai. — O abracei bem apertado, com minha cabeça em seu ombro, e fechei os olhos, aproveitando aquele momento, do qual não sei quando vivenciarei de novo.

— Vamos descer, está ficando frio. — Disse quando nos separamos e eu assenti, acatando suas ordens. Ele foi para seu quarto, e eu entrei no meu, onde todos os meus irmãos dormiam, exceto Amélia, que levantou a cabeça para ver quem tinha entrado.

Não foi preciso palavras. Quando me viu, ela apenas abriu os braços e corri para abraçá-la, deixando que ela me abraça-se. — Me pede pra ficar, por favor. — Eu soluçava baixo em seu ombro — Eu não quero ir.

— E eu não quero que vá, mas acredite quando eu digo que será bom.

— Bom pra quem, Amélia? — Levantei a cabeça — Eu não quero ir! Eu não quero ser levado!

— Shhhhh... — Podia ver seus olhos se encherem de lágrimas, então me abraçou, deixando que eu repousasse a cabeça em seu ombro direito — Vai ficar tudo bem... você ainda está aqui, e eles não podem tirar você de nós. Não podem.

— Como assim? — Perguntei baixo, de olhos fechados, mas eu ainda chorava, e muito

— Você vai entender. A vida se encarrega de responder todas as nossas perguntas um dia. — beijou o topo de minha cabeça, e fez carinho em minhas costas, até eu dormir, porém, pouco antes que o cansaço me levasse, comigo ainda chorando por tudo o que aconteceu hoje e ontem, desde meu nome ser colhido, Delly terminando comigo e o início das despedidas, senti o corpo da minha irmã gêmea começar a oscilar, e eu sei que ela tinha começado a chorar, pois não há nada que possamos fazer para mudar o nosso destino.


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Notas finais do capítulo

O queeeeeeee achaaaaaaarammmmm? *olhos brilhando em expectativa*
Um trecho do próximo capítulo!
"Ficamos de mãos dadas até o momento onde não podíamos estamos juntos, e ele me levou para um área no alto, próximo ao Prefeito do Distrito, que disse algumas palavras, e as pessoas a engoliram, assim como meus pais. Eu não estava indo para a morte, mas era o que parecia. Era sufocante me afastar da minha família por um tempo indeterminado." Será apenas a despedida, e não tem mais de 3 mil palavras - eu acho e espero - Porque eu segui o máximo possível o livro, e tudo mais, então o "drama" vai estar no próximo por completo, mas vai ter um pouco de Jogos Vorazes também, principalmente na hora de ele entrar no trem. Quais suas expectativas? :) SÓ MAIS DOIS CAPÍTULOS PARA PEETA E KATNISS SE ENCONTRAREM! *-*