A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 31
Suas palavras, não minha. Mais uma coisa dita, e eu desisto de você | A Elite


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal? Como estão? *sorrindo torto* Peço desculpas pela demora, a culpa foi exclusivamente minha... não sei lidar com algumas coisas, mas aqui está o capítulo, e se Deus quiser, no domingo eu posto o outro, e aí pelo menos uma vez em duas semanas, porque essa segunda eu já começo minhas aulas no meu último ano do Ensino Médio.
Dedico este capítulo a Lara, que recomendou lindamente, e me fez ficar completamente sentimental! Obrigada, querida! Você é um amor! E também a Clara, que enviou exatamente a mensagem que eu precisava ler, e que foi o xeque-mate para decidir se eu ia excluir ou não essa fic também. Mas quero que todos vocês que comentaram no capítulo anterior aproveitem este capítulo, e realmente me perdoem. Eu nem sei o que dizer, por estar tanto tempo sem atualizar. Perdão mesmo.
Boa leitura!



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Diga algo, estou desistindo de você
Eu serei o único, se você me quiser
Em qualquer lugar, eu teria te seguido
Diga algo, eu estou desistindo de você

E eu, estou me sentindo tão pequeno
Foi muito pra minha cabeça
Eu não sei absolutamente nada

E eu, vou tropeçar e cair
Eu ainda estou aprendendo a amar
Apenas começando a rastejar

Diga algo, estou desistindo de você
Me desculpe por não conseguir te ter
Em qualquer lugar, eu teria te seguido
Diga algo, eu estou desistindo de você

E eu vou engolir meu orgulho
Você é a única, que eu amo
E eu estou dizendo adeus
— Say Something, A Great Big World ft. Christina Aguilera

Subi as escadas para a casa na árvore, à meia-noite, em passos lentos, depois do que vi ainda pouco no corredor que dava para um elevador somente para funcionários, e eu vi Delly entrando rindo com Stefan, mas essa não é a questão, ambos estavam com roupas diferentes de trabalho, roupas de ficar em casa, e ele tinha o braço por cima dos ombros dela, e ela passava os braços pela cintura dele, possivelmente muito habituados a esta proximidade toda.

Isso me deixou tão, tão, mas tão irritado, tão incomodado, com tantos ciúmes, que eu por um momento pensei em ir até lá e discutir, mas com certeza não é a melhor alternativa. A começar pelo fato que eu quem a pedi para seguir com seus sentimentos, há algumas semanas, então, eu quem preciso seguir o que eu próprio falei.
Porém, continuei seguindo para a casa da árvore, suspirando, com as mãos no bolso, tentando decifrar o que é que estava acontecendo comigo.

Quase me arrastando, com uma verdadeira tempestade se formando dentro de mim lentamente, abri a porta, e me surpreendi em não encontrá-la ali, e quando saí novamente, sem descer as escadas, ela estava no outro lado do deck, inclinada para a árvore, com os cotovelos no parapeito, e o cabelo voando para trás, e eu sei que o meu seguia o mesmo movimento por causa do vento contra nós. Mesmo estando em Angeles, o clima de inverno estava forte, embora não neve nunca por aqui.

— E aí? — perguntei, em um suspiro, ficando ao lado dela, na mesma posição, exceto que uni minhas mãos e as deixei para fora do parapeito de madeira, enquanto meus cotovelos estavam apoiados ali.

— Você primeiro — pediu, com um aceno suave da cabeça, mantendo os olhos na árvore florida diante de nós. — Sei o quanto ficou aborrecido comigo por causa do que aconteceu. Pode começar a dizer o que sentiu... só te chamei aqui porque — olhou-me, finalmente, nos olhos, ficando de lado, com um braço recebendo o peso de seu corpo relaxado em calça e blusa de moletom cinzas. Parecia um pouco mais velha, talvez dois anos a mais, e um leve hematoma abaixo do olho esquerdo, que a pouca maquiagem não conseguiu apagar, assim como foi falho na hora de cobrir o azulado de cansaço em volta de seus olhos, porém, mesmo assim, estava linda.

— Você é a única pessoa que me fala o que eu preciso ouvir, e não o que eu quero — brincou, com um sorriso tristinho, que me fez esboçar um dos mais simples sorrisos, um pouco torto, e pisquei duas vezes antes de começar a falar.

— Só queria que pudéssemos viver em um mundo diferente — falei, baixo. — Você tinha que tentar mudar as leis, e ir contra algumas coisas mais vezes. É muita coisa em jogo, Katniss. É a vida de milhões de pessoas em risco, milhões de pessoas que precisam de mudança.

Falei, mas não como uma sentença, e sim como um conselho.

— O seu governo tem tudo para ser o melhor que já tivemos, mas acho que você deveria se posicionar mais vezes — acrescentei, mantendo o tom baixo, assumindo o papel de amigo, e não de um de seus namorados, ou melhor, seu-talvez-noivo.

— Ah... — disse em um suspiro, ficando bem próxima de mim, pondo sua cabeça em meu braço, mas a deixei mais perto, e a trouxe para o meu peito, cercando seus ombros e cintura com cada um dos meus braços, e beijei o topo da sua cabeça. — São tantas coisas que eu fiz e senti as consequências para poder mudar aquilo, Peeta... você não tem a menor ideia da ponta do iceberg que é a minha vida.

Sua voz saiu bem baixa, mas escutei bem pela nossa proximidade, olhando para o seu rosto, de olhos fechados, e os mordendo os lábios, fazendo esforço para não chorar, sei disso porque é algo que ela sempre faz isso antes de começar a chorar.

— Eu fiquei com muita raiva de você, mas pode me contar o que te deixa tão triste desse jeito, Katniss. Sabe que eu não vou contar para ninguém, não sabe? Talvez eu possa te ajudar.

Começou a chorar, abraçando-me apertado pela cintura, escondendo o rosto na minha blusa.

— Não! Você não vai saber me ajudar! — saiu como se estivesse gritando, mas não, era apenas por causa do choro. — Nem o meu pai sabe, porque ele ama aquela idiota da minha mãe, e ele é cego por ela, por mais que me ame e saiba disso, aquela desgraçada engana ele todos os malditos e horríveis dias dessa droga da minha vida!

Fiquei sem saber o que dizer, apenas a abracei, fazendo carinho em seus braços, com cuidado, como se ela fosse se desmanchar em meus braços.

— Katniss, o que está acontecendo? — perguntei, sério, e em um movimento rápido, a sentei sobre o parapeito, sabendo que ela estava segura, ainda mais comigo segurando sua cintura e sua nuca, olhando para seu rosto avermelhado por causa das lágrimas pesadas e cheias de mágoas. — Ou melhor, o que aconteceu?

Toquei em sua bochecha esquerda, que carrega o hematoma azulado, que ficou ainda mais aparente, pois as lágrimas levaram embora a pouca maquiagem que tinha, e agora eu vi que parecia que ela apenas descansava por no máximo do máximo três horas, e depois fazia milhões de coisas pelas olheiras profundas, embora não assustadoras, eu sei que ela não estava assim há duas semanas. Uma semana antes da festa ela dormiu comigo, e foi me ver sem quaisquer maquiagem, sorrindo, dançante, feito uma criança, e estava bem livre dessas olheiras e cansaço.

— Você aconteceu, Peeta — ela disse, chorando muito, cobrindo o rosto com as mãos, abafando um pouco o choro, mas eu ainda não conseguia entender. — Eu tive consequências sérias por sua causa. Você não deveria ter feito aquilo, sabia? Você quase me matou ali na hora, porque eu pensei que o Templesmith ia te fuzilar, e depois as suas atitudes quase me mataram com os xingamentos dos meus pais, porque por mais que não queiramos que essas coisas aconteçam... Principalmente com o Finn e Ann... — deu uma pausa, suspirando, fungando, passando as mãos no rosto, prendendo de forma ágil o cabelo em um simples mover das mãos os deixou em um coque, e eu estava sem acreditar, com os lábios um pouco entreabertos, tentando achar palavras e formular alguma frase.

— Sua atitude quase custou a minha vida. Aquilo foi um inferno para o Finnick e a Annie, mas acredite, o meu inferno é muito mais quente que o deles hoje — completou, olhando para o lado, evitando me olhar nos olhos. — Me desculpa. Eu só precisava falar isso com você, Peeta. Por favor.. — olhou bem dentro dos meus olhos, e a parte branca de seus olhos estava um pouco avermelhadas por causa do choro. — Nunca mais faça o que você fez. Eu me importo tanto com você, que... eu não sei o que eu faria se algo te acontecesse, não sei o que aconteceria comigo. Você quase me matou de pavor quando foi lá na frente sozinho.

Curvou-se um pouco, com os cotovelos nas coxas, escondeu o rosto mais uma vez nas mãos, enquanto eu não conseguia encontrar nem um pingo de arrependimento dentro de mim, mesmo que meu coração estivesse descompassado.

— E o que eu poderia ter feito? Deixado que deixassem Finnick paraplégico e a Annie sem as mãos? — perguntei, em um tom baixo, realmente fraco, abandonando a pose ereta da coluna. Agora eu entendi as consequências maiores dos meus atos. Eu não pensei nenhum segundo o que Katniss escutaria e passaria por minha causa. — Sinto muito por você, pelo caos que é a sua vida, mas a culpa não foi minha. A culpa foi das leis.
Respondi, sem compreender ela, ao dizer que o problema sou eu.

— A minha mãe te odeia. Você não tem noção do quanto — falou, em um tom baixo. — E ela fez questão de esfregar na minha cara que é justo você, o Sete, sem estudos, sem ordem, o louco, quem interrompeu uma punição que deveria ser para a morte, e ia ser se fosse por ela. — Olhou em meus olhos mais uma vez, e eu estava começando a sentir o furacão dentro de mim aumentar mais rápido, e o meu sangue esquentar. — O cara que eu escolhi.

Não tinha orgulho em sua voz, não tinha amor, não tinha arrependimento. Era simplesmente, nesse momento, o informante de algo simples.

— Meu pai contou tudo pra ela, que fez questão de me humilhar por sua causa quando ele se virou — com as mãos nos meus ombros, trouxe-me para mais perto, fazendo-me sentir seu perfume doce, que pela primeira vez, me incomodou – e muito –, mas segurei a língua para não falar algo idiota. — Eu choro porque eu queria que todos vissem em você o que eu vejo. Choro porque você é a minha escolha, a melhor escolha para mim, e eu sou apaixonada por você, mas não posso dizer isso. Preciso que me ajude a achar uma solução, Peeta. Mas tente de outra forma.

Seu tom de voz e as palavras quebraram a raiva que eu tinha acabado de construir, erguendo em milésimos uma parede de carinho, porque é isso o que ela faz. Me desarma e depois me arma, mas com coisas que sabe que eu não vou poder usar, e caso eu use, eu vou sair tão machucado quanto ela, quase impossibilitando-me de atacar.

— Eu sinto exatamente o mesmo por você, mas Katniss, precisa entender que não preciso que me defenda se você for aparecer assim — eu falei, pouco tempo depois que ela falou, e toquei em sua bochecha machucada, fazendo-a se afastar por reflexo, ainda com dores. — Não quero te ver sofrendo, principalmente desse jeito, por dentro — falei, olhando dentro dos seus olhos tempestade. — Precisa entender isso.

— E você também precisa entender que eu preciso de você como meu amigo, que eu preciso de você vivo, Peeta — disse, suspirando, parando de chorar um pouco. — Entender que aqui no palácio as coisas não são como parecem ser. Há um buraco negro no meio disso tudo, que envolve muitas maldades, e qualquer pessoa que queira mexer no sistema, é eliminada. Isso aqui é um jogo, e nós somos peões. Temos que seguir as ordens do rei e da rainha. Você não pode mais fazer aquilo o que fez, mesmo que eu não concorde com as leis e...

Senti meu rosto ficar quente, de pura raiva.

— Só porque eu sou um Sete, não significa que eu não tenha conhecimento disso, Katniss! — explodi, assustando-a um pouco. — Você acha que eu não sabia o que estava fazendo quando fui defender o Finnick e a Annie?! Você acha que eu não consegui o ouvir o estalo da arma daquele homem entrar no automático para acertar a minha cabeça na frente de toda a minha família?! Eu vi! Eu sei o que eu fiz, e se você quer saber, faria de novo, e outra vez ainda!

Ela também ficou com raiva, saindo do parapeito em um pulo, apontando o dedo na minha cara.

— Você acha que isso daqui é brincadeira?! — perguntou, em um tom alto, que não me intimidou, tão pouco assustou. — Isso daqui é a vida real, Peeta! Isso não é a pracinha do seu Distrito, você não fez isso para uma ou dez pessoas, você fez isso para a nação inteira! Você quase morreu na frente de mais de cinquenta milhões de pessoas ao vivo! E mal sabe as malditas consequências que trouxe com a sua atitude!

— Você mesma disse que foi uma boa ideia! Você mesma disse! Eu tenho as suas palavras na carta que me enviou, e Katniss! Olhe ao seu redor! A sua coroazinha é de vidro, e todo o seu futuro reino também, com essas leis horríveis! — exclamei, sentindo minhas mãos formigarem, e o coração bater disparado no peito. — Você quer que isso quebre?!

— Se o meu futuro reinado e a minha coroa é de vidro, Peeta, você quem está sendo o responsável principal por ameaçar tudo se estilhaçar — ela rebateu, em um tom mais baixo, dando um passo para trás, e os olhos tristes mais uma vez.

Suspirei profundamente e me virei, à caminho das escadas.

— Para onde você vai?! — ela perguntou, vindo atrás de mim, antes que eu descesse as escadas.

— Voltar para o quarto, mandar uma carta para os meus pais, não quero conversar mais — falei, irritado.

— E por que você não quer mais conversar? — perguntou, baixo, prestes a chorar. — Peeta... é por que eu disse que a minha mãe não gosta de você?

Virei o rosto para ela, e abri um sorriso completamente cínico.

— Claro! Claro! Fiquei muito ofendido por ter ouvido da sua boca que a sua mãe me odeia! Ótimo! Mas eu acho que eu já sei disso desde que ela tentou me matar me oferecendo um biscoito de chocolate sem eu saber! E ainda por cima, ameaçou a me matar! Claro! Claro! — Bati palmas completamente sarcástico.

— Ela o que...? — Katniss ficou branca. Até pensei eu dar um passo pra trás e perguntar como ela está, mas apenas cruzei os braços, aborrecido. — Peeta, eu não sabia... eu não sabia mesmo.

Suspirei profundamente mais uma vez.

— Sei disso. Eu quem escolhi não te contar. Estou irritado, porque uma hora você elogia o que eu fiz, e outrora você diz que eu deveria ter me contido. Não entendo mais você, na verdade, nunca te entendi.

Aquilo pareceu tê-la magoado profundamente, e eu não sabia qual reação tomar.

— E você acha que só você tem o direito de ficar irritado? Peeta, você sabe muito bem o que eu sinto por você, e mantenho cada uma das palavras que eu falei para você na festa, com todo o meu coração. E você quem é a pessoa mais difícil aqui de entender, porque uma hora você diz estar compartilhando comigo dos mesmos sentimentos, mas na verdade não está. Está só aproveitando circunstâncias, percebendo que não sente nem metade do que eu.

Bufei, dando um passo na direção dela, com um furacão gigante dentro de mim, a um passo de sair em forma de palavras duras.

— Eu não sei o que eu sinto mesmo! E esse é o meu maior defeito! Mas quando eu digo que não estou arrependido, é a mais pura verdade, sendo exatamente o que sinto sobre o que eu fiz pela Annie e pelo o Finnick!

— Ótimo! — exclamou, ficando vermelha, mesmo sendo dona de uma pele parda. — Isso era o que eu sabia que ia escutar de você, e estava feliz por isso! Mas você não entendeu o que eu quis dizer, seu idiota! O que eu queria dizer é que você faz as coisas para acabar com as coisas erradas, e isso coloca as nossas vidas em risco! Você não se importa com as pessoas ao seu redor não?! Que amor é esse que você sente pela Amélia ou pelo Ben? Que amor é esse pela sua mãe que um dia nem vai se lembrar de você?! Pense um pouco mais nas outras pessoas, Peeta!

Suas palavras vieram como golpes mortais sobre mim, porque ela tinha dito verdades que ninguém antes havia me dito nesse tom que eu precisava escutar, nem mesmo Delly. O que o Palácio fez comigo? Antes eu só conseguia pensar nas pessoas que eu mais amava, e hoje eu só penso em mim, no que eu posso fazer para mudar o mundo que vivo.

— Você precisa pensar que a minha mãe ia caçar toda a sua família, e não só ela, mas também o meu pai, e todos os conselheiros, porque se você fez isso, o que seus irmãos não fariam para talvez se vingar ou algo assim?

— Meus irmãos não fariam nada — falei, cortando-a. As palavras estavam acabando comigo, porque cada uma delas é friamente verdade. — Eu entendi. Mas eu amo eles demais para poder deixar que continuem crescendo em um mundo assim, Katniss. Você também quer um mundo melhor para Prim, não quer?

Dessa vez, eu pareço ter mudado um pouco o jogo, e feito perceber que estávamos nós dois entre a cruz e a espada, prestes a morrermos juntos com nossas próprias palavras.

— Mas é claro que eu quero, Peeta. Um dia eu também quero ter filhos... — disse, baixo. Dava para ver o quão afetada ela estava com essa nossa conversa, assim como eu também estou. — Quero que eles vivam em um mundo mais justo, quero que os seus irmãos vivam em um mundo muito melhor do que nasceram, mesmo as irmãzinhas de Calvin e os irmãos pequenos de Gale. Nós merecemos um mundo melhor, Peeta, todos nós. Não é justo que o mundo seja assim, e eu estou fazendo de tudo o que posso para mudar essa situação, mas eu preciso que você, como a minha principal escolha para dividir tudo isso comigo, divida os mesmos pensamentos que eu. Não é impossível mudar, mas vai se tornar mais difícil se você não me ajudar e ficar quieto até o anúncio do casamento.

E quanto tempo levaria para isso? Dois anos? Três? É preciso que tenhamos 21 anos para a coroa ser passada para nós publicamente, e eu vou ter que ficar de soslaio por três anos? Porque em três anos vai ser quando eu vou ter essa idade, e ela também.

— Não vou poder ficar todo esse tempo, Katniss, só ficando com medo do que o governo pode fazer, correndo risco de vida, ao que você me diz, e tendo que aguentar você machucada desse jeito! Você sabe o quanto isso também me machuca, Katniss? Por que agora a gente não pode tentar fazer alguma coisa?!

— Porque o mundo não roda ao nosso redor, Peeta! Roda ao redor do dinheiro, do poder! E a gente precisa seguir milhares de leis e normas poder mudar alguma coisa! Achou que o mundo girava ao redor do Sol?! Não é bem assim! Não mesmo! Ainda mais depois de quatro guerras mundiais, você acha que o mundo não tem um dono?! Até mesmo para mim, é meu pai mandar sentar que a gente tem que sentar!

Bufei, batendo um pé no chão, ficando furioso.

— Então a gente tem que fazer o mundo voltar a girar certo, Princesinha! Já chega de mais de cem anos as pessoas vivendo nessa miséria, a maior parte, e meia dúzia no poder! Chega, Katniss! Chega!

— Essas suas palavras só mostram que eu só podia estar louca sobre a minha escolha... — disse, abaixando o tom de forma estrondosa, mas eu a podia escutar muitíssimo bem. — É loucura, insano.

— Com certeza! É insano você estar cercada de pessoas que podem mudar a vida de milhões de pessoas e ficar calada com medo de enfrentar alguém! Responda por si mesma, Katniss! Responsa! Pare de ficar sendo uma grande idiota e ficar com medo dos seus pais! Viva para fazer algo que vá mudar alguma coisa! Encontre algo pelo o qual morrer!

— Não, não, não! — Voltou a exclamar, com as mãos na cintura, depois de abrir o casaco. — Nós dois somos jovens! Olhe ao seu redor! Existe tanto pelo o que podemos e devemos viver depois que formos coroados, Peeta! Você é cego?!

— Não! Isso é você quem é, porque os Oito, os Sete, os Seis, não podem esperar mais nenhum momento! Os Sulistas estão matando todo mundo, inferno! Estão ameaçando tudo, e vão chegar até você, até Prim, até os seus pais, e vai ser isso o necessário para mudarem o rumo de leis e governo de Estado que vivemos?!

Não sei em que momento, mas essa frase a fez explodir em lágrimas, e urros, furiosa.

— ELES JÁ CHEGARAM ATÉ A GENTE, SEU FILHO DA MÃE! ELES TIRARAM A COISA MAIS PURA QUE MEUS PAIS E PRIM TINHAM DENTRO DE SI! Eu sei que o mundo não é bom! Eu sei! Eu quero mudar essa porcaria! Eu quero que pessoas como o Finnick e Annie se amem, independentemente do dinheiro, eu quero, Peeta, Deus sabe o quanto eu quero, e o quanto eu sofro arduamente todos os dias da minha vida em busca dessa mudança, o problema é que eu não posso fazer absolutamente nada agora. Preciso esperar, e se você quer ficar ao meu lado, precisa aprender isso também. Se não estiver com paciência, se não puder esperar, tenho outras quarto escolhas que dariam tudo para passarem a vida ao meu lado.

Eu sabia que seu coração estava acelerado, assim como o meu está, e suas palavras fizeram meus olhos lacrimejarem. Parecíamos dois adolescentes comuns nos filmes, com seus dramas e amores, com seus medos particulares, com o mundo nos ombros.

— Não quero ter que escolher outra pessoa — ela disse, chorando, mas mantendo a voz o mais estável que poderia. — Estou falando bem sério. A última coisa que quero precisar fazer é ter de escolher outro alguém. Você tem outra pessoa muito melhor, mas eu não. Só preciso que espere três anos. E depois que oficializarmos, já podemos planejar tudo para mudarmos as leis, e tudo o que quisermos. Muitas pessoas, incluindo meu pai, discordam do mundo hoje.

Suspirei bem fundo, e fechei meus olhos. Senti duas lágrimas caírem sem qualquer permissão minha, e elas estavam bem pesadas, magoadas.

— Pode pensar que eu tenho outra escolha, mas eu não tenho mais. Katniss, as pessoas não podem esperar. Sou a única coisa que as faz acreditar que pode ter mudanças. Você sabe muito bem disso. Não quero a sua coroa, não quero seu trono, não quero, nunca quis. Você sabe. Mas passei dezoito anos vendo pessoas morrem de fome ao meu lado, literalmente, em extrema pobreza. Como acha que eu conseguiria passar mais três anos assim?

— Por minha causa — disse, baixinho, tendo a voz carregada pelo vento, e não conseguia parar de chorar. — Só por mim. Você sabe melhor que qualquer pessoa dentro daquele escritório como é a vida de um Seis, Sete, Oito. Vai poder esperar só um pouco?

Queria dizer que sim, por ela. Minha mente e coração gritava disparados por ela, por seu amor, pelo quanto me faz sentir bem, feliz, como se não houvessem problemas.

— Em três anos, se minha mãe não tiver morrido, não vai nem saber respirar. Em três anos, Amanda vai ter dezoito anos. Em três anos, meu pai vai estar de cadeira de rodas por causa dos esforços dos trabalhos. Em três anos, milhares de pessoas vão ter perdido mães, pais, filhos, por causa da fome, da falta de segurança, por doenças simples e difíceis. Milhões de coisas não vão poder voltar atrás — falei, com meu estômago gelado. — O que eu sinto por você, Katniss, poderia resolver essas coisas, mas não vai. Pode me mandar pra casa, e eu vou, com meu coração na mão, mas chega.

— Então você vai embora? — perguntou, porque eu voltei a caminhar na direção da escada.

— Se você me mandar para casa, eu vou — falei, dando de ombros. — Posso voltar para morrer lá, por mais que seja para morrer trabalhando ou por algum assassino, posso viver por mais três anos, quem sabe, e você e sua outra escolha vão mudar o mundinho de Panem.

Dei meia volta, com um tom sarcástico, vendo-a com o rosto marcado pelas lágrimas, pela marca de algo que acertou a sua bochecha, e as unhas cravadas na palma de suas mãos.

Acho que ela está prestes a ter um ataque, fazendo eu por um pé pra trás, para ajudá-la se fosse preciso, mas as suas palavras seguintes vieram como golpes em uma pessoa que dorme e não pode se proteger.

— Vai! Vai mesmo! Pode ir embora! Volta para a pobreza do seu Distrito, volte para aquela vida de miséria! Volte para aquela porcaria de vida que você levava, sem futuro ou perspectiva!

Como se enfiasse uma faca em mim, ela realmente disse essas palavras, que acabaram comigo de vez.

— Eu volto mesmo, porque lá é muito melhor do que ter esse luxo todo e eu não ter nem o direito de tentar mudar alguma coisa, por menor que seja! Vou ir pra lá onde eu tenho uma família que eu amo e eles me amam também! — gritei, no mesmo tom que ela, que voltou a ficar vermelha de raiva. — EU ESTOU DE SACO CHEIO!

— Boa sorte também em tentar achar uma cura do Alzheimer para a sua mãe, que nem sabe quem é você! E boa sorte em encontrar algum lugar decente para os seus irmãos estudarem também, seu idiota! Idiota! — gritou, com os punhos fechados, batendo um pé no chão. Essa sua frase foi como quando alguém pega um martelo e acerta certo em um vaso de porcelana.

— Boa sorte em tentar mudar o seu mundinho imaginário!

Ela me quebrou em milhões de pedaços, magoando tão fundo que nem lágrimas me vieram aos olhos.

— Obrigado pelo seu desejo de sorte. Você também vai precisar para achar alguém, já que não deu comigo, não é mesmo? Não obedeço as ordens — foi o que eu disse, com meu coração queimando, como se tivessem me cravado uma faca, gelando todo meu corpo. — Obrigado pela sua consideração. Boa sorte.

E desci, depois de uma reverência adequada e cínica, cravando suas palavras em minha memória, sua expressão ainda furiosa no meu coração. Aos pedaços, nem sei como cheguei ao meu quarto, não sei se alguém procurou falar comigo, apenas sei que ela entrou na casa da árvore e começou a quebrar tudo, sem que dissesse uma palavra. Mas eu não olhei para trás. Magoei-a, ela me magoou.

Fui para o banheiro, ligando a banheira que nunca uso, e enquanto olhava para a água preencher, meus olhos ficaram refletidos na água em movimento, e logo estavam cheios também.

Chorei por Delly e Stefan juntos, por Katniss e sua marca horrível na bochecha e seu cansaço, por minha família que sentiu na pele o que é quase me perder, por Finnick e Annie, por perceber o quão difícil é tentar fazer a coisa certa, e também chorei pelas palavras que ela me disse.

Ainda com roupas, depois de apenas tirar os chinelos, entrei na banheira, abraçando meu corpo, chorando alto, sem o qualquer tipo de consolo, desejando que Amélia abrisse a porta do banheiro e me abraçasse, contando-me que está tudo bem, mesmo sabendo que não está.

Mesmo sem querer, descobri uma coisa ruim sobre viver: é uma caminhada árdua, cansativa, solitária, se você quer que aconteça algo bom. As coisas são bem longe do pensamos que são.

Mas eu estou bem longe da linha de chegada, e nem sei se vale à pena. No exato momento, eu só penso em desistir, e eu vou, se alguma coisa não acontecer logo e me mostre o caminho que devo seguir. Urgentemente. Ou perderei o controle de mim mesmo e ficarei louco. Apenas desejei, antes de dormir, que Deus me desse o mínimo de entendimento para me explicar o porquê de eu sofrer tanto assim. Ontem de manhã chegou uma carta da Amélia que deixa bem claro que a nossa mãe está péssima, com picos de colapso, sem se lembrar de absolutamente nada, e que Ben precisa ficar na casa dos pais de Delly, por dois ou três dias, até ela melhorar um pouco.

— Será que Você realmente existe? — perguntei, chorando, com o travesseiro cobrindo meu rosto, sentindo um aperto no peito por absolutamente nada estar saindo direito. Se eu apenas conseguisse maneirar a minha língua para não descontar nos outros, isso seria uma prova e tanto de que ainda existe alguma chance para mim.

Uma mãe com Alzheimer, irmãos traumatizados, afastado da família... e agora ainda tem isso, da Delly e Katniss para arrebentar de uma vez por todas comigo. Eu estou definitivamente no fundo do poço.

— Me ajuda, por favor — pedi, entre lágrimas e soluços. E sem menos esperar, acabei dormindo em um sono tranquilo, por mais turbilhão que a minha mente esteja.

Faz tempo que não consigo dormir realmente bem dessa forma.

 


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Notas finais do capítulo

Bem, pessoal, espero verdadeiramente que vocês tenha gostado, escrevi com muito carinho e amor. Se tudo der certo, e for da vontade de Deus, volto no Domingo à tarde ou à noite, já que estou em jejum.
Ah, e vai um pequeno trecho do próximo capítulo!
Música: Milion Reasons, Lady Gaga
Trecho: Depois do episódio na casa da árvore, eu tive uma crise enorme, e precisei conter-me sozinha, o que foi extremamente difícil, onde eu cheguei a quase arrebentar uma veia, porque no meio de uma quase convulsão eu perco todos meus sentidos. E também foi uma outra tentativa de suicídio, um pouco mais impulsionada pelas agressões intensas da minha mãe, o declínio da saúde de Prim e todas as responsabilidades absurdas que o meu pai vem dando a mim, que são absurdamente grandes. Meus medicamentos dobraram de dosagem, e no final do dia eu fui conversar com a única pessoa que tem o poder para me trazer paz, Peeta.
E eu destruí com tudo.
Chorei ainda mais amargamente.
— Não sei porquê, Frank, mas senti que ela estaria aqui — Mesmo ouvindo a voz da tia Anastacia, não me virei, muito pelo contrário, cobri o rosto com as mãos, e apoiei meus braços pelo cotovelo nas coxas.
— Esses jovens só gostam de procurar Jesus quando estão sofrendo, coisa feia... tsc, tsc, tsc, tsc... — senti os dois se sentarem cada um de um lado, como um sanduíche. — E então, vai, começa a dizer o que sua mãe quebrou em você ou o que o amor da sua vida fez contra você.
— Não quero falar nada, tio Frank — falei, com a voz embargada, olhando para o altar. Não quero conversar com ninguém. — Eu só quero ficar sozinha.
Quis cruzar os braços, mas por eu quase ter estourado uma veia, Maggs enfaixou, tirando a possibilidade de eu poder cruzar meus braços.
— Ninguém te perguntou nada, Katniss. E você está em uma igreja, logo, você quer ajuda.
Chorei mais, tombando para o colo do meu tio, sem pensar muito para qual lado eu estava indo, mas entrelacei uma mão com a da minha tia.

Vai ser um capítulo bem legal, posso sentir! *sorrindo* Sei que é desanimador, gente, não postar há três meses, e por eu não responder todos os comentários, mas gente, eu leio absolutamente tudo, tudo, e isso me faz tão bem, que eu acho que já respondi, e aí acabo sem responder, mas respondi um monte nas últimas semanas, e até o final de fevereiro tudo estará respondido.
Obrigada por não terem desistido de mim.
Babatum para todos vocês que acompanham. ❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️ Que Deus abençoe a todos, e vocês tenham um fim de semana incrível!
02/02/2017