A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 20
Mapa (Bônus) | A Seleção


Notas iniciais do capítulo

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*eu entrando B) *
Olá... quitutes.
Eu gostaria de agradecer a todos vocês que comentam na fic, que favoritam, e espero que gostem desse capítulo, mas antes de lerem, peço para que abram vossos corações para ele, ok? Vão querer me matar, mas está tudo bem.
Um mês sem ASDH, mas como prometido, um capítulo ENORME de grande, com muitos gifs, e duas músicas que são lindas demais, demais. Com um sinal LOVE no meio, mas só lendo com atenção pra perceber o que tá acontecendo, e gostaria que vocês me contassem se acharam isso, por favor!
Any, dedico este capítulo a você, querida, de verdade, pela recomendação linda demais, que me deixou pulando loucamente aqui e chorar (tô meio emotiva demais ultimamente) ♥ ♥ ♥ ♥ Vou levar isso como presente de aniversário, com certeza. ♥ Tenho a sensação de que será o melhor aniversário esse ano!
Sem mais delongas, apresento a vocês o último capítulo bônus de A Seleção, que é um pouco comemorativo _ as intenções da autora aqui, porque o capítulo tá meio sad_ porque o mês de março é o melhor mês do ano! Mês do outono, mês do fim do verão, e o mais importante: MES DE ANIVERSARIO DAS PESSOAS MAIS LINDAS! *jogada de cabelo convencida* Sim, eu sou de março, é claro. * dando aquele sorrisinho convencido* Faço junto com a Lady Gaga, o que talvez explique um pouco os meus parafusos a menos.
Antes de lerem, só gostaria de deixar com vocês um gif, porque eu não vejo a Delly como a Diana Agron, e sim como a Ashley Benesqueci https://33.media.tumblr.com/b10610d4469ac23b707c786c04df0b01/tumblr_inline_n7j3bbVwR21r62r3w.gif
NOTA: LEIAM AS NOTAS FINAIS! CONTEM MUITOS SPOILERS!
Beijos! Beijos, e Any, mais uma vez MUITO obrigada! Esse capítulo é pra você, Chuchu! *D



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 Sinto falta do sabor de uma vida doce

Sinto falta das conversas

Estou procurando uma canção esta noite

Estou mudando todas as estações

 

Gosto de pensar que tínhamos tudo

Desenhamos um mapa para um lugar melhor

Mas na estrada sofri uma queda

Então, querida, por que você fugiu?

 

Eu estava lá por você

Nas suas horas mais difíceis

Eu estava lá por você

Nas suas noites mais escuras

 

Mas me pergunto onde você estava

Quando estava no meu pior momento

De joelhos

E você disse que me protegeria

Então eu me pergunto onde você estava

Todos os caminhos que pegou te trouxeram de volta pra mim

Então estou seguindo o mapa que me guia até você

 

O mapa que me guia até você

Não há nada que eu possa fazer

O mapa que me guia até você

Seguindo, seguindo, seguindo você

O mapa que me guia até você

Não há nada que eu possa fazer

O mapa que me guia até você

Seguindo, seguindo, seguindo

 

Ouço sua voz enquanto durmo

É difícil resistir a tentação

Pois todos esses estranhos vêm até mim

Agora não consigo te esquecer

Não, simplesmente não consigo te esquecer

— Maps, Maroon 5

— Esse é o seu cartão — uma senhora disse, depois que me encaminharam para o andar Box, abaixo do andar com aposentos para os empregados. — Não o perca. Nele tem um dispositivo, e você é monitorada por ele. Agora, sente-se aqui para tirarmos uma foto sua. É ótimo ver que cortaram seu cabelo, porque simplesmente odeio ter que fazer isso.

Assenti, e me sentei em uma cadeira macia, arrumei o cabelo, cortado até o ombro, perfeitamente alinhado, esperando que a cobertura de maquiagem tenha sido suficiente para tirar minhas olheiras e a sombra clara feito meus olhos diminuírem um pouco depois de quase dois meses de choro.

— Pronto, Delly Cart... — Ri, negando.

— Cartwright. Me chamo Delly Cartwright

— Bom, prazer, Cartwright. A localização da Princesa é... — Verificou em seu tablet — No quarto dela. É até bom que vá. — Franziu o cenho de preocupação. — Aqui indica que ela está tomando as medicações. Está no horário. — Assenti.

— Como posso chegar até lá? — Pegou um relógio na gaveta, onde tinha vários outros, e fiquei feliz por ter um com pulseira laranja. Eu amo o laranja. 

— Coloque isso, e basta dizer onde quer ir. Aposento da Princesa Katniss — disse próxima ao relógio, que se acendeu, e mostrou o meio mais rápido de chegar até lá. — Só há um lugar que não mostra, e não posso falar qual é, mas vai dar tudo certo, você vai sobreviver. Agora, xô! Xô! — Sinalizou para que eu rapidamente saísse dali, e foi o que fiz, me sentindo uma droga. 

Tudo pela chance de aprender com os melhores professores, pensei, suspirando fundo. E é claro, poder rever Peeta. Não sei se teríamos a chance de nos encontrar, mas tudo bem. Eu simplesmente preciso vê-lo, mesmo que de longe. Meu mapa e instintos sempre me levam até ele, e seus olhos azuis simplesmente não saem da minha cabeça.

**

— Posso entrar? — O relógio me guiou para o quarto, que tinha duas enormes portas, de madeira reforçada, um pouco metálicas. Tinha uma rosa esculpida em cada uma delas, mostrando suas pétalas, na cor branca. Nossa. Que perfeito esse trabalho. Pensava eu que meu quarto era bacana.

— Já vai! — Ouvi uma voz gentil, um pouco grave. Era o tipo de voz feminina que se pode ouvir o dia todo. Provavelmente, ela cantava. Se daria bem como uma Cinco. 

Abriu-se um pouco de uma das portas, e metade do rosto da princesa, com um olho cinza perfeito, redondo como uma bolinha, sem maquiagem alguma, apareceu.

— Quem é você? — perguntou calmamente, mas a mão que segurava a porta estava um pouco branca, e tinha alguma coisa em seu braço, impedindo a circulação do sangue. Ela parecia febril, mas a mão estava claramente gelada.

— Eu sou Delly, vossa alteza. — Fiz uma reverência. — Sua nova criada. — Na verdade, auxiliar pedagógica. Eu a ajudaria a estudar, e seria sua "dama de companhia". Meus pais queriam que eu ficasse, mas eu quero aprender mais, e estar mais próxima de Peeta. Ele foi o que me fez deixar para trás meus irmãos rechonchudos de seis e sete anos com meus pais que brigam a todo momento, mas sei que me amam com suas vidas. Peeta. Oh, droga. Ele sempre aparece em meus pensamentos e lembranças. Por que ser tão inesquecível?

— Oh... — disse, como se lembrasse de meu rosto. — Por favor, entre. — Assenti, sentindo-me envergonhada — coisa tão rara quanto sol forte em Summer, ou seja, uma frequência potencialmente baixa — e parei no meio do quarto, sem saber para onde ir.

— Ai meu Deus... — murmurei, cobrindo a boca com minhas duas mãos, ao ver que ela estava se automedicando.

— Não se escandalize! — pediu, sentando-se tranquilamente em uma cadeira, de frente para uma mesa redonda de mogno. — Eu faço isso todos os dias. — Voltou a limpar o braço, com um novo pedaço de algodão umedecido com álcool, mas eu logo corri até onde ela estava, e me sentei de frente para a mesma. 

Tirei o algodão de sua mão depois de ter colocado melhor a corda elástica que prendia sua circulação para colocar o remédio na veia. Fiz o procedimento como se fosse para tirar sangue, mas ao invés de puxar, eu apertei devagar.

— Não, por favor, de uma vez só. Dói demais, demais, como se fossem mil agulhas dentro de mim. E essa é excepcionalmente grande. — Com o outro braço livre, cobriu o rosto, claramente sofrendo. Deve ser a pior parte do dia fazer isso. A agulha é do tamanho de um palito de dente, sua espessura. — Esse é o que controla meus pensamentos, evitando que eu tenha um apagão. Não tenho há quatro anos. Quero por mais quatro. Sem nada. — Não sabia do que falava, mas fiz tudo certo, notando o quanto suas mãos estavam congelantes. Ela tremia um pouco, e parecia ser muito mais nova do que eu sem toda sua glória, como nos programas. 

Sua pele é parda, mais para o moreno, mas era parda, com as bochechas rosadas, porém agora estão pálidas. Seus lábios são do tamanho e formato certo, bem marcados sem nada, mas estavam um pouco ressecados, e os fios sempre brilhantes... Bom, continuavam brilhantes, cheios de vida, em um coque perfeito, uma mecha caía ao lado de seu rosto, mas não era o que seus olhos passavam. 

— A senhora não está bem — garanti, balançando a cabeça em negativa. — Acho melhor chamar um médico.

— Oh! - Riu. — Devo ter te assustado com todo esse ar sobrecarregado, mas é apenas eu sem maquiagem. Por isso não marco nada com nenhum Selecionado entre às 15:15 e 15:45, assim como nenhum outro compromisso realmente importante. É horrível usar esse remédio, mas ajuda eu a me controlar. — Se controlar?

— Tem como eu possa ajudá-la? — perguntei, realmente sincera. Ela é linda, sem maquiagem, mas passa uma fragilidade que chega a assustar. Como se fosse de cristal, e estivesse a um mísero toque de quebrar.

— Não, não, muito obrigada — disse balançando a cabeça em negativa. — Só preciso que me lembre que dia da semana é hoje. — Fez uma careta confusa, e eu ri.

— Hoje é sábado, alteza. — Suspirou, cansada. 

 

— Poderia por favor pegar um calendário na gaveta da minha cabeceira? — Assenti imediatamente, e fui até sua cama colossal em tons pastéis, entre o azul do céu aberto ao preto em mínimos detalhes. 

 

Abri a gaveta, onde o puxador é um retângulo pequeno, mas incrivelmente fácil de usar. Havia alguns remédios - de cores e modelos diferentes, uns sete deles - todos organizados em potinhos alaranjados ou marrons de vidro. Então, um calendário semanal, com horários rígidos, como se ela fosse do exército e estivesse indo para a guerra civil defender nosso país, e um minuto faria a diferença entre sua vida e a de todos nós. Talvez fosse realmente fazer. 

Reunião com os conselheiros • 18:47Sim, com certeza isso poderia salvar algumas vidas 

Entreguei a ela, que me agradeceu com um sorriso. Batucou alguma melodia na mesa, procurando o que deveria fazer. 

— Nada! — exclamou com um sorriso enorme. — Hm... Sol, você poderia por gentileza me ajudar com uma coisa? Não pode contar a ninguém o que vai fazer. — Olhou-me intensa, procurando algum vestígio de mentira dentro de mim, tentando enxergar os meus segredos. Eu deveria odiá-la. Eu poderia dar uma dose de medicamentos extra e matá–la, saindo totalmente ilesa. Mas não conseguiria. Seus olhos são tão gentis e medrosos, que posso compará–los com os olhos de um gatinho abandonado na rua, mas que precisa se defender para não morrer.

— Posso confiar em você? — perguntou, se levantando, e agora parecia mais forte, e poderia me atacar, se quisesse. Parecia mais velha do que eu, uns três anos a mais.

— Sim, Alteza. 

— Assim espero — falou, indo para sua penteadeira, sentando-se e pegando uma base para aplicar no rosto. Então se virou na cadeira, segurando as costas da mesma, girando o próprio tronco em 180º para me olhar. — Porque uma das razões que me levaram a lhe escolher, foi que te reconheci em uma das fotos da família do Peeta quando fui no quarto dele um tempo atrás. Bem, eu te escolhi antes, mas me parece ser uma boa pessoa. — Meu coração imediatamente pulsou freneticamente, podendo ouvir cada batimento meu em meus ouvidos. Senti minhas pernas bambearem. Peeta tem uma foto comigo em seu quarto? Ela entrou no quarto dele? Ai, meu Deus, vou desmaiar feito uma jaca na frente da futura soberana do país.

— De onde conhece o Peeta? — perguntou, curiosa, e seus olhos pareciam ainda melhores por ela estar sentada, e ter que erguê-los para me ver, já que eu eu estava de pé. 

Cuidado com o que diz, pensei, tendo esse o primeiro conselho que levei da moça que cortou meus cabelos. Você não vê nada, não ouve nada, não pode falar nada além do que é pedido.

— Nos conhecemos desde pequenos. Minha mãe ajudou a dele quando estava grávida dele, pois auxiliava em um dos restaurantes da minha avó na cozinha. — contei, com as palavras deslizando pela minha boca. — A tia Ali passou mal na presença da minha mãe com quatro meses de gravidez, e como tinha acabado de concluir a faculdade de medicina, ajudou-a imediatamente, e mesmo que não houvesse passado mal — Seus olhos brilhavam por ouvir a história. Sorri. — Então se tornaram amigas. Crescemos juntos, eu, ele e Amélia, então com seus irmãos. Nunca nos incomodamos com o número do Distrito. — Queria eu poder me jogar naquela cama, e começar a chorar de saudade desses tempos. — Hoje somos do mesmo Distrito. 

Mas nunca estivemos tão longe um do outro, pensei, mas não ousei nem mover os lábios.

— Ótimo! — Katniss abriu um sorriso radiante. — Vou chamá–la de Sol, porque seus cabelos me lembram o verão. Bem, Sol, eu preciso te contar uma coisa muito séria. — Rapidamente escondeu suas leves olheiras que somem com uma boa noite de sono, com a base, e foi para sua cama, sentando-se na cama. — Peeta confiou em você. Ele não tem muitos amigos aqui, mesmo com quase dois meses de Seleção, apenas os criados, Finnick, Gale e eu, mas!... — Bateu ao seu lado da cama, pedindo para que eu fosse me sentar ao seu lado, e foi o que eu fiz. — Você o conhece muito mais do que eu. — Sim, conheço. Com certeza conheço. Meus pensamentos são maliciosos demais às vezes. — E se ele confia em você, mantendo-a em seu círculo de amizade até pouco tempo, eu confio em você. — Quase me assustei com a sua naturalidade para falar comigo, e a facilidade de confiar em mim. É assim com todos? — Não é assim com todo mundo — falou, olhando-me divertida. Ri sincera.

— Como sabia no que eu estava pensando?! — Ri também. Ela tinha uma risada esquisita, que nos fazia rir também de tão esquisita. 

— Sua cara de susto. Bom, isso é um ponto muito positivo. — Uma garota ruiva entrou no quarto, cantando alto, e quando me viu, corou imediatamente.

Cê trouxe visita e nem me falou?! — sussurrou alto para a princesa, depois de me dar um sorriso envergonhado e puxar a mesma para o outro lado do quarto. 

— Annie, eu disse que ia chegar uma menina nova por causa da Johanna — Katniss debateu, com um sorriso. — Você só faz vergonha mesmo. — Segurei a risada, pela expressão de "O quê?!". 

A princesa segurou a ruiva pela mão, e se dirigiu a mim.

— Essa é Annie Cresta, minha amiga. Você, ela e Madge passarão mais tempo juntas do que comigo. 

— E quando passamos com este ser aqui, é só amores pelo Peeta — contou a ruiva, olhando maliciosamente para a princesa, que ficou como um pimentão. Eu não riria, mas a expressão de "X9" de Annie e a de "fui pega de surpresa" da Katniss foi tão engraçada, que eu caí na gargalhada, com uma mão na barriga e outra na boca. 

— Eu não sou tão assim — defendeu-se, empurrando um pouco a ruiva, que na mão carregava um par de sapatos novos. — Peeta é o meu melhor amigo, mais do que você, Madge e Johanna! — Era como levar uma facada no coração, mas sorri.

— Quais são as intenções da senhorita? — perguntei para a princesa. 

 

— Ela trava quando perguntam esse tipo de coisa referente ao Peeta. — segredou-me Annie, sentando-se ao meu lado. — Ela gosta dele pra valer. Mas não sei o que dá nessa criatura divina que não acaba com tudo isso e casa com ele. 

 

— Sabe que não é assim que a coisa funciona — Katniss disse, sentando-se ao meu lado. — Bom, deixa eu apresentar vocês corretamente. Delly, essa Annie, minha criada, mas mais pra minha amiga do que algo do tipo, e Annie essa é a Delly, mas vou chamá-la de Sol. — Então olhou para mim. — Me chame apenas de Katniss, nada de senhora, senhorita, alteza. Por favor. Odeio tais formalidades. — Assenti, sabendo que não seria tão difícil. Ela é agradável demais pra ser chamada assim.

— ANNIE, SUA RIDÍCULA! — Uma moça de estatura normal, com cabelos perfeitamente ondulados e loiros até os ombros e olhos claros entrou no quarto, batendo a porta com cuidado, mas estava vermelha de raiva, com um vestido coberto por uma capa cinza em mãos. — Eu falei que era para me esperar! Passei a maior vergonha, e o Sebastian veio me ajudar! O Sebastian! Tanta ajuda por aí, tantos milhares de guardas, e você, sua vaca malhada, sabia que justo o Sebastian estaria lá! — Katniss escondeu o rosto nas mãos, e se jogou pra trás na cama, balançando a cabeça em negativa. — Opa — disse, envergonhada. — Me perdoe — pediu, colocando o vestido na arara para eles que tinha no quarto. — Quem é você?

— Essa é a Sol, Sol, essa é a Madge. Madge é a mais calma, eu a mais estressada, Johanna tem seus ataques perturbadores, quando a Katniss fica indecisa sobre qual roupa vai usar para se encontrar com alguém e briga comigo por eu ser tão explosiva — Annie falou, dando de ombros. — Sebastian é o cara que ela gosta desde sempre. — Sinalizou Madge por completo, como se a moldasse com as mãos. Ri de verdade. — Não sabemos se é recíproco, mas ele faz de tudo para agradá-la. Bom, é recíproco. Mas ficarem juntos que é bom! — Ficou de pé, indo até uma porta com um lírio desenhado. — Nada! — Entrou no que se revelou um closet.

— Olá — falei para a loira, com um sorriso torto. Eu estava um pouco desconfortável por não conhecer nenhuma delas de verdade. Pareciam pessoas incríveis, mas eu estou psicologicamente arrasada.

— Oi! — respondeu, então puxou Katniss pelas mãos. — Nada de dormir agora, pessoa. Hoje é sábado. Marcou de sair com o Peeta, não foi? — A princesa abriu os olhos imediatamente.

— É verdade! — Cobriu a boca com uma mão. — Nossa, eu sou uma péssima amiga! 

— Como assim péssima amiga? — perguntei, querendo saber qual era a relação que ela tinha com meu ex-namorado.

— Nós somos verdadeiramente amigos. Bem, pelo menos fazemos coisas de verdadeiros amigos. Tipo, mas eu tenho uma relação mais próxima a ele do que às vezes das garotas — segredou-me depois que que Madge foi para o Closet escolher uma roupa para a Katniss junto com Annie. — Ele escuta e não fala nada. E ama a família que tem. — Sim, ele ama. — Mas fico preocupada. Sabe o que a mãe dele tem, não sabe? 

Alzheimer, início da fase 3. — Ela entreabriu os lábios e os fechou novamente.

— Já? — perguntou, sobressaltada, e eu assenti totalmente infeliz.

 

— Eu dava aulas para os irmãos dele, e antes de vir pra cá, fui até White para me despedir. Amélia quase não tem dormido por causa dessa situação. — Ela cobriu a boca com uma mão, e seus olhos se encheram d'água. — Ben, o caçula, parece ser o que mais sente. A casa é total silêncio agora, preenchida com frequência agora pelos gritos de medo da tia Ali. Ela não reconhece mais as pessoas, às vezes parece ótima, faz comida, passa roupa, assiste TV com os filhos, mas a cada dia que passa é mais difícil disso acontecer. — É tão diferente o clima, que eu nem consigo chorar de tão surreal que é a coisa. — Não vejo o tio Sam sorrir há muito tempo. Todos parecem ser adultos agora. — Suspirei, sabendo que tudo estava no lugar, aparentemente, mas parecia tudo errado, um caos. 

  É difícil manter as raízes quando nosso solo é mudado. É como se as árvores fossem as mesmas, como se cada coisa e pessoa fosse uma árvore, porém, o ambiente, por mais igual que pareça para outras pessoas, é como se não ventasse mais para as árvores, como se o ar estivesse sobrecarregado. Talvez o mundo esteja sobrecarregado de si mesmo e nem notamos. Tudo está muito seco. No lugar, mas seco. Sinto-me prestes a morrer de dentro para fora, de tão esquisitas que as coisas estão. Todos se sentem assim. Alguns sabem lidar com isso. Peeta não. E honestamente, nem eu.

— Desculpa, mas eu acho que o que o Peeta está passando, é demais. Ele nunca quis participar da Seleção, preferia ficar trabalhando a vida toda a vir pra cá. — Tudo deslizou muito rápido da minha boca. — Mas ao vê-lo pela TV, sua opinião parece ter mudado. É o mesmo garoto intolerante a cacau, mas que se arrisca mesmo assim, que eu conheço, o mesmo que sustenta a família desde os 12 anos, mas acontece que talvez ele esteja ainda no processo de adaptação da situação. — Soltei o fôlego que nem havia sentido que eu tinha prendido.

— Delly? — chamou-me Katniss.

— Sim? — falei, caindo em mim mesma de novo.

— Há algo que eu deva saber? — perguntou, cruzando as pernas, inclinando-se um pouco por se debruçar sobre os joelhos.

Meu sangue congelou mais do que água quente em congelador. A água quente congela mais depressa que a fria, por causa do efeito Mpemba, que ninguém mais sabe explicar. Quando isso acontece com a gente, seres humanos, é porque ficamos com a pressão baixa e reconhecemos quando estamos prestes a sermos descobertos. 

— Não, Alteza. — Balancei a cabeça em negativa. — Não há nada que precise saber. 

— Bom, estou acreditando em você! — Puxou ar com força, levantando-se. — E espero que acredite em mim quando te digo que confio em você. — Levantei-me junto, colocando um sorriso no rosto antes que eu comece a chorar. É tão fácil quanto respirar depois de dois meses. 

— Acho que minha estadia será melhor do que eu esperava — falei sincera. Ela riu, pois eu sem querer suspirei aliviada. Posso estar triste, mas é ótimo que a princesa não faça discriminação de quem trabalha para ela.

— Eu preciso começar a assistir os programas onde apareço, porque a imagem que devem ter de mim é uma totalmente oposta ao que penso de mim mesma — falou, balançando a cabeça em negativa, decepcionada.

— Não é que pareça arrogante ou algo assim. Parece uma pessoa intocável, quase. Uma pessoa indiferente. — Ah, eu já estou no fogo mesmo.

— Intocável. — Bufou, com um sorriso. — Essa é nova! — Apontou para mim. — Acho que a sinceridade é algo próprio de vocês do estado de Sant Cloud. — Ri, assentindo.

As cidades em Panem em um geral são pequenas no meu estado, de onde Peeta também é, e aqui na California maiores, e Angeles a maior cidade do nosso país - o que explica a localização do palácio – e os bairros são separados por Distritos, assim como as cidades. Em todos os estados do País, cada um deles é dividido e organizado em oito partes, que representam os oito Distritos, com exceção de California. Só há os moradores do Dois e Três, e também é o estado com o metro quadrado mais caro do país, o terceiro mais valioso do mundo. Ou melhor, do que sobrou dele.

— Tem muitos de Sant Cloud por aqui? — perguntei, sem saber muito bem os estados dos outros Selecionados. Ela negou com um sorriso.

— Digamos que Peeta tenha me dito muitas coisas sem qualquer filtro quando nos conhecemos... — disse, jogando as palavras no ar. Fiquei intrigada.

— Às vezes, ele é assim — murmurei, mas com boas lembranças. Ele disse que me amava quando tinha 16 anos, quando o acompanhei até a janela, como de costume, porém dessa vez ele segurou minha cintura, nos aproximando mais, depositando um beijo em minha bochecha ao invés de um na boca. "Eu amo você", sussurrou, sem querer. 

— O que disse? — A morena perguntou, calçando seus sapatos, que eram um pouco diferentes. Ela pisa torto! Que fofinho!

 

— Vamos sair? — Sorri, caminhando até ela. 

— Sim, mas olha, eu vou precisar que me ajude. Tenho alguns planos para hoje à noite. — Assenti, mordendo os lábios, ansiosa. Às vezes eu sou tomada por uma felicidade inexplicável quando penso em coisas boas. Peeta é uma coisa ótima a que se pensar.

— Hm... — Fechei um dos olhos. — Como poderei ajudá-la?

— Estou pensando em ir para a Casa na Árvore. — Aqui tem uma casa na árvore? Uou...

— Com quem? — Segurei o bloco de notas e caneta que ela me entregou, depois de nos despedirmos de Annie e Madge que faziam reparos nos vestidos que ela usará para momentos importantes nas próximas semanas. São muitos, mas as duas pareciam bem relaxadas e alegres em suas funções, comentando sobre Sebastian e a comida servida para os empregados.

— Peeta Mellark. — Meu coração falhou, e sem querer deixei minha caneta cair. — Opa. — Ela pegou para mim, antes que eu pudesse pensar em outra coisa além de que tinha mais que amizade entre a relação deles dois. É uma facada nos meus sentimentos.

— Perdão. É que esse clima mais quente é diferente demais para mim. — Disfarcei com um sorriso e ela riu.

— Tudo bem. Acontece quando preciso infelizmente acompanhar meu pai para a Alemanha, Itália. São lugares frios comparados com Angeles. — Apenas limitei-me a concordar com a cabeça, e um sorriso no rosto. 

 

— Quais os planos para a noite? Digo... — Tossi, para mudar a minha voz embargada. — Para decoração?

— Nada demais. Só alguns lençóis novos na cama, vinho e champanhe. Madge me indicou isso, e meus pais gostam de tomar às vezes. — As batidas do meu coração estavam baixas. Meus ouvidos mais atentos que nunca. Minha alma estava largada no chão a muito tempo, mas um sorriso se fazia em meu rosto. 

— Ele vai gostar de coisas mais simples — falei, calma, escondendo a tempestade que se fazia dentro de mim. — E aroma de frutas cítricas. Especialmente a laranja.

Laranja... — murmurou, com o cenho franzido. Parecia ter gostado da informação. — Você poderia ir à cozinha buscar algumas coisas para eu levar? Madge disse que é melhor comer queijo antes do vinho e...

— Posso decorar a casa para você — ofereci-me, sem querer ser uma boa samaritana, e sim porque ela parecia querer o melhor para Peeta, e se ela quer o melhor, o farei de boa vontade. E também porque gostei dela, de verdade. Parece ser uma boa amiga. 

— Prometo usar tudo o que conheço dele ao seu favor. — Sorriu, um pouco emocionada.

— Muito obrigada, Delly. — Segurou minhas mãos. — Muito obrigada mesmo. 

Cá estava eu! Sob o mesmo teto do amor da minha vida, ao que tudo indica, criando uma amizade com a sua quem sabe futura esposa, onde nós nem terminamos nosso relacionamento de três anos, e não faço ideia de qual pode ser a minha reação quando vê-lo novamente. Isso se eu ver.

Para piorar, eu quem vou arrumar uma casa na árvore para eles dois ficarem uma noite. O que podem fazer nessa noite? Muitas coisas.

Muitas mesmo.

— Só preciso saber como chegar lá, e de coisas laranjas, avermelhadas e azuladas. Peeta ama verde e amarelo — falei, balançando a cabeça. — Não precisa me agradecer, Alteza. É o meu dever.

 Ela sorriu, e me abraçou apertado.

 — Muito obrigada — agradeceu-me assim mesmo, mais uma vez, olhando nos meus olhos. — E eu prometo não deixar o Peeta magoado, mas preciso que me ajude a não fazer isso.

Mordi o lábio inferior, minhas pernas bambearam. Katniss está apaixonada pelo Peeta. Se eu não tenho mais chances, todas estão reduzidas à zero agora. No negativo, na verdade. 

 — Só não conte mentiras. Ele sempre sabe quando mentimos, de alguma forma. — Sorriu.

 

— Obrigada. — Maneei suavemente a cabeça, pegando o bloco de notas, e anotei o que me lembro que Peeta gosta.

 — Oh, não! — Ela pegou o papel da minha mão e riscou algumas coisas. — Ele prefere morango com leite condensado. 

 Seu tom de voz e convicção acerca do gosto dele, que eu me constrangi interiormente. 

 — Quando soube disso? — perguntei curiosa, afinal, não era todo dia que isso acontecia, e alguém sabia algo que Peeta realmente gostava de comer, embora nunca tenha discriminado algum alimento, com uma exceção para Jiló e tangerina. Ele odeia tangerina. Mas ama laranja.

 — Quando fomos em um lugar — disse, dando ombros, com as bochechas ficando vermelhas. 

— E o que fizeram... — questionei, meio curiosa, meio receosa. Ela sorriu gentil.

— Não posso te contar, porque não é adequado, mas mesmo que acontecesse um milhão de vezes, todos os segundos que passamos juntos naquele dia, naquele lugar, eu nunca sentiria vergonha e nem pediria para ele mudar alguma coisa. 

Mil coisas obscenas com relação ao que eles poderiam ter feito nesse tal lugar. 

— Hm...vou logo providenciar as coisas, está bem? 

— Muito obrigada. Vou ir escolhendo uma roupa! — Seu sorriso me fez sorrir, mas depois que em passos corridos sumiu do meu campo de visão, senti minhas pernas ficarem trêmulas, e eu cairia no chão se não fosse um rapaz. 

— Hey, o que houve? — Ele me sentou com cuidado em uma das poltronas que tinha em pontos estratégicos do palácio.

Ergui meus olhos, enxergando uma imensidão castanha perfeita, um castanho escuro, e o cabelo liso corretamente cortado lembrava-me o chocolate. Ele era muito bonito, com uma pele parda que lhe caia muito bem, assim como tudo nele. Mesmo com a calça de linho cinza e a blusa branca de criado pessoal, era alto, com traços marcantes. 

— Nada demais...coisa de garota — Ele sorriu, mas seus olhos eram preocupados.

— Eu tenho mais duas irmãs, e quando essas coisas começam a acontecer, mandam eu me afastar. Devo fazer o mesmo com a senhorita? — Ri, balançando a cabeça em negativa. 

— Não, não. O que eu desejo ultimamente é que alguém evite que eu caia... — Senti as lágrimas molharem meus olhos.

— Oh, não chore... — falou, ajoelhando-se na minha frente, passando os polegares por debaixo dos meus olhos. — Nem perguntei qual o seu nome para já chorar! 

Sua voz era indignada e ao mesmo tempo tremendamente preocupada. Isso me fez rir sinceramente, mesmo que com algumas lágrimas insistentes escorressem sem piedade por meus olhos.

— Ok, sim, nós começamos errado. — Colocou instintivamente uma mecha atrás da minha orelha, com olho meio fechado, concentrado. Era nobre de sua parte fazer isso. 

— Você tem um cabelo loiro da raiz perfeito. A princesa Glimmer lhe invejaria um pouco, já sua irmã adoraria você, a senhorita Clove, e vocês conversariam por horas e horas apenas sobre cabelos. 

— São as princesas da França, não são? — perguntei, lembrando-me de algumas aulas de história. Elas são famosas por suas festas de arromba, e ao mesmo tempo pela competência com o trabalho comunitário e voluntário. São sempre muito bem comentadas, como muito criticadas.

— Sim, elas são. Vêm aqui no palácio pelo menos uma vez a cada três meses. A princesa gosta delas, só não é muito agradável servi-las... — Fez uma careta mal–humorada, que me fez rir mais uma vez. 

 — Meu nome é Delly. Sou a nova auxiliar pedagógica da princesa, e você? — O correto seria chamá-lo de senhor, mas era bem novo diante meus olhos, aparentando ter uns 19, 18 anos. Tinha uma cicatriz próxima as clavículas, e era pequena, mas funda, o que significa que provavelmente já passou por maus bocados aqui ou antes. 

— Stefan. Stefan Lewis, mas pode me chamar de Stefan mesmo, ou de Thomas, que é o meu segundo nome, ou de qualquer coisa que não seja referente a doces, porque eu não gosto de doces. — Ri, indicando que tudo estava bem agora.  

— Para quem você serve? — perguntei, me pondo de pé, e ele fez o mesmo, sendo exatamente da mesma altura que eu, o que indicava que ele era mais baixo do que eu pensei, tendo 1,67 de altura. Era ótimo conversar com um garoto dessa altura. Força-o a olhar em nossos olhos.

— Para o Peeta — disse tranquilamente, segurando alguns livros. Meu coração desacelerou imediatamente.

— Acho melhor a senhorita ir para o seu quarto. — Segurou-me novamente, franzindo o cenho de preocupação, e algo me dizia que ele vivia preocupado demais com outras coisas, e eu não posso ser mais um empecilho em sua vida. 

— Não, eu vou ficar bem — garanti, dando dois toques em seu ombro, na intenção de tranquiliza-lo, dando-me acesso para ver o quanto ele é forte. — Muito obrigada pela ajuda e atenção. Não esperava que alguém fosse me ajudar.

Balançou gentilmente a cabeça.

— A maioria de nós que trabalhamos aqui no palácio temos algo em mente: devemos ajudar uns aos outros. Sempre — falou sereno.  

— E você tem olhos que parecem doce de leite. — Acrescentou e eu ri, colocando uma mão na testa.

— Essa comparação com o doce de leite foi a melhor que já ouvi. Muito obrigada, e eu amo doce de leite. 

— Não é melhor que pasta de avelã com chocolate?! — perguntou, como se finalmente tivesse encontrado alguém para poder conversar sobre comida. Com certeza ele achou, pois um dos meus maiores prazeres na vida é comer. Doces nem se fala. 

— Muito melhor! — exclamei, boquiaberta. Ele merece minha atenção. — Onde esteve toda a minha vida?! — brinquei e ele riu, divertido. 

— Infelizmente eu preciso ir, Delly, mas seria um prazer encontrá-la por aí novamente. — Sorri, encantada. Não sei por qual razão, mas sinto que quando mais inferior o Distrito, melhor as pessoas tratam umas às outras. Peeta sempre me tratou como se eu fosse a futura rainha de Panem, mesmo que não pudesse me oferecer uma coroa. 

— Igualmente — respondi, apertando sua mão, com um sorriso torto. Ele sorriu torto também, envergonhado, sem saber o que fazer. 

Ri de sua timidez e me virei, balançando a cabeça, sem saber onde estava a tristeza de minutos atrás. 

## 

O aroma das flores inundaram todo o meu ser, alegrando-me imensamente. 

— Por favor, a cama ali — pedi com calma para dois guardas que me acompanharam com duas criadas para organizarem a casa na árvore para mais tarde, como Katniss havia me pedido.  

— Muito obrigada — agradeci a Angelica, uma das criadas que Katniss tem em dias grandiosos, e tem grande simpatia uma pela outra, e por alguma razão, se ela tem simpatia por ela, eu também tenho.

Non ti preoccupare, grazie! Voi e la principessa meriti del mio meglio! — Eu não entendi porcaria nenhuma que ela disse, mas pela forma que segurou as minhas mãos, com gentileza e carinho, a mesma coisa que seus olhos pretos passam, eu sorri. 

— Infelizmente não sei o que a senhora disse. — Ela tem 38 anos e é casada com um doutor que trabalha no Palácio. — Mas mesmo assim, muito obrigada. 

Tocou meu rosto com carinho e sorriu, descendo as escadas de volta para o palácio, pois os últimos detalhes eu daria sozinha. 

Peguei a essência de laranja, e borrifei generosamente pela casa porque levaria um tempo até eles virem até aqui, mas como sei que Peeta ama esse aroma, apliquei nos travesseiros e edredons.  

Pensei no seu sorriso, na sua risada, e no quão vermelho ele ficava quando dávamos um passo a mais, exclusivamente na primeira vez que quase aconteceu algo a mais. Eu sabia o que fazer, mas mesmo perdido e fazendo tudo certo, seu jeito puro e verdadeiro me fazia derreter totalmente, almejando os meus 18 anos ansiosamente. Faltam duas semanas para eles chegarem, e tudo o que eu sonhava estava a mais de um sonho de distância. Estavam em outra galáxia, outro planeta. 

Eram totalmente inalcançáveis para mim. Parecem impossíveis. 

Suspirei, mordendo os lábios para não chorar, como se fosse adiantar alguma cosia, e todos os meus problemas fossem ser resolvidos. 

Organizei as coisas corretamente e com sincero carinho, por ambas pessoas. Peeta e Katniss. Até o nome deles soam bem juntos. Outro suspiro

— Por que ela tinha que ser tão legal e sincera quanto aos seus sentimentos com ela, Deus? — perguntei para mim mesma em voz alta. Não tinha ninguém em um raio de um quilômetro.  

Eu sou altamente apaixonada por Peeta, e realmente gostei de Katniss, com seu jeito tranquilo de ser, e mesmo que eu quisesse, eu não odeio ninguém, nunca odiei. E não ia começar com a princesa. Peeta é adorável. 

Dei mais uma olhada no lustre no centro da casa na árvore. Quanto luxo. Olhei para as janelas com vidros transparentes de dentro pra fora, mas de fora não permitia ver nada além de poucas sombras. Tudo estava em seu lugar, tudo estava perfeito para um beijo, ou uma noite. Sem mim. 

Sempre foi eu e Peeta, Peeta e eu, em todos os planos que fazíamos para o futuro, ouvindo sempre que de acordo com as aparências e gostos, éramos o par ideal, se ele fosse de um Distrito superior, no mínimo um Três. Nunca me importei com isso. Quando a gente ama, ama tudo, não é? Agora éramos do mesmo Distrito, mas nunca o tive tão alcançável. Vê-lo pela televisão, eu vi o meu Peeta, tímido, mesmo que curioso, com olhos mais expressivos que suas palavras, e um sorriso envergonhado sempre, assim como as suas bochechas vermelhas. Mas esse era o lugar do qual ele pertence. 

Suspirei novamente, com os olhos marejados. Isso tudo não está me fazendo bem. 

Desci as escadas, e começou a chover. 

 — Droga! Droga! — exclamei, esfregando os olhos. Comecei a correr de volta para o palácio, pois minha imunidade estava baixa devido uma coisa que peguei, da qual nem sei o nome. É tanta doença, que não faço ideia do que isso possa ser, apenas sei que posso ficar doente facilmente agora. 

Tudo estava tão bonito, que desacelerei meus passos... Olhei ao meu redor, as margaridas sorriam, assim como as rosas brancas e vermelhas. Peeta amará ver isso aqui.  

Ninguém reparou na rua, ninguém reparou nas flores. Nem eu havia reparado, e só agora notei o ipê-roxo.  

— É tudo tão lindo... — murmurei, encantada. A chuva caia em meu rosto sem incomodar. Amo quando garoa.  

— Hey! Delly! — Virei meu rosto na direção da voz, e era Stefan com um guarda-chuva. Ele veio até mim em passos largos. 

— O que ‘cê tá fazendo aqui na chuva, moça! — Ri, deixando que seu braço no aproximasse debaixo da sombrinha. — Sério, o que aconteceu pra pegar essa chuva? Você parece que está nas nuvens.  

Ri mais uma vez, e nos afastamos um pouco, ao notar tal proximidade.

— Estava pensando — respondi simplesmente, sorrindo torto. Ele sorriu de volta, com um sorriso bonito, que lhe moldava o rosto. 

— Posso tentar adivinhar? — Fiz uma careta pensativa.

 — Tentar você pode.  

Ele murmurou um "hmmmmm...", pensativo, e fechou um olho, como se para focalizar ainda mais no que diria. 

— Já sei! Já sei! — exclamou, afastando-se um pouco mais, ainda segurando o guarda-chuva, para proteger apenas eu. — Você está pensando no bolo de cenoura com cobertura de brigadeiro que a tia Grease vai fazer como boas vindas hoje à noite!  

Comecei a rir, sinceramente, assim como ele. 

— Você é doido... — falei, balançando a cabeça em negativa, com um sorriso. — Um doido engraçado. 

— Obrigado — disse, todo vermelho, por sua pele ser parda. 

— Oh! Você fica vermelho! — então ficou ainda mais vermelho. — Como é bonitinho!

— Ah, não! Não diga isso! — pediu, balançando as a cabeça, fingindo indignação. — Minhas irmãs falam isso o tempo todinho! 

Ri, divertida. 

— Qual o nome delas? — perguntei, caminhando ao seu lado, com uma distância tranquila entre nós dois. 

— Júlia e Layla. Sou o mais velho. Somos gêmeos.  

— Trigêmeos?! — ele riu, assentindo. 

— É tão esquisito quanto é pra você — garantiu, pondo uma mão no peito. Sorri. 

— Eu adoraria conhecê-las — falei sincera — porque os únicos gêmeos que conheço são.... 

— Peeta e a Amélia, certo? — Meu coração disparou, então me lembrei que ele é um dos criados do Peeta.

— Sim, eles mesmo — concordei, balançando a cabeça em concordância.  

— Eles terminam as frases, e quando um está triste, estranhamente o outro também fica, assim como doentes. Aos 13 anos, eles dois ficaram com catapora, os dois, no mesmo dia. — Stefan riu, assentindo.

— Eu graças a Deus não sou assim com relação as minhas irmãs, mas elas são assustadoramente semelhantes com o que sentem e tudo mais. A Layla sente tudo o que a Júlia sente, mas não é muito recíproco, mas ainda sim. Dá medo. 

 Ele era totalmente diferente do que eu esperava de criados do palácio. Sorri. 

 — Qual o quarto delas? — perguntei, reconhecendo que se não tem quartos, tem casas nas redondezas do palácio. Mas eu tenho vergonha de pedir para ir na casa deles, é claro.

 — A212 — respondeu, balançando a cabeça. — Eu não sei se deveria ter feito isso, digo, contado onde elas moram, pois você pode ser uma serial killer, mas sei lá. Não vai fazer nada de ruim com elas não, certo? — Gargalhei, cobrindo o rosto com as mãos, ainda caminhando ao lado dele. 

— Claro que não! — falei, rindo. — Dude, eu sou tão maneira! Eu sou tão legal! 

Ele riu, divertido.  

— Dá pra ver. Só deveria rir mais, e ser menos pensativa. Parece que está sofrendo. — É porque eu estou, mas você é tão gentil, que não merece saber disso. 

— Obrigada. É algo extremamente gentil. — Suas bochechas ficaram mais uma vez vermelhas, e isso me fez rir alto, batendo palmas, então logo estávamos no jardim do palácio. 

— Como sabia que eu estava lá? — perguntei, observando-o fechar o guarda-chuva, por ter parado de chover. 

— Eu estava indo para o quarto do Peeta, mas me pararam, dizendo que uma pessoa estava sem sombrinha. Eu tenho que obedecer aos guardas, Peeta e a Realeza — contou-me. Essa era o que eu ouvi, exceto pelo fato de que nenhum Selecionado tinha poderes sobre mim. 

— Obrigada.  

Agradecimento é a única coisa que tenho em mente. Ele evitou que eu caísse, e que eu adquirisse uma virose.

— Não precisa me agradecer... — disse tranquilo. — Eu não fiz obrigado, e sim por querer. E também porque aqui no palácio não podemos ficar doentes, porque não temos médicos.  

Entreabri os lábios, e mais uma vez eu lhe proferiria uma palavra de agradecimento, puramente sincera, mas não o fiz. Olhei para frente, e continuei caminhando ao seu lado, tranquila. 

##

As lágrimas são salgadas ou doces. Depende da razão do choro.  

Dos meus olhos caem as mais salgadas que poderia imaginar. Peeta e Katniss rindo no jardim, tão próximos como se fossem noivos, quase. 

Sim, eu sabia que Katniss nutre sentimentos fortes por ele, como pelo Logan, Bartolomeu, Blane, Cato, talvez pelo Gale, mas não muito... Só que eu, Madge e Annie entramos em consenso que! Ela está apaixonada pelo Peeta, e esse sentimento está se tornando recíproco. 

Muito recíproco. 

E ele nem me olhou direito.  

Olhei para frente, e observei eles irem lado a lado, conversando tranquilamente, embora ela falasse mais do que ele. É sempre assim. Ele não é uma pessoa de muitas palavras. Mas seus olhos falavam mais, o jeito que movia nervosamente as mãos e batia sem querer diversas vezes o pé no chão, ou o balança quando está com medo e ansioso, como nas entrevistas. Passa despercebido por tudo e todos, mas eu o conhecia. 

E sabia que eu não deveria ter vindo. 

Seus cabelos estavam como o trigo, seus olhos como um oceano — como sempre —, mas mais intensos. Não sou a causadora desse brilho, não mais.  

Cobri o rosto com as mãos, chorando silenciosamente, orando internamente para que ninguém me veja chorar, então, cobri a boca com uma mão e sai dali do Jardim Real, onde eu gostaria de passar o maior tempo distante possível.  

Não tinha mais tantas obrigações, além de ficar 101% disponível para a princesa. Fui para o meu quarto, desviando-me das pessoas que trafegavam pelo corredor e nem se importavam com uma mera nova criada chorando.  

— Saudades de casa, você supera. 

Foi o que ouvi de quase todos os outros empregados do governo e me conheceram, como os outros novos que entraram. São pessoas bem calorosas, mas eu me sentia fria por dentro, no estômago, e isso penetrava meus pulmões e causavam soluços, com meu rosto vermelho, com certeza, de tanto que ardia. 

O elevador estava vazio, e quase não consegui apertar o botão da letra B, que significava Block. O andar dos quartos. 

A "viagem" de elevador não durava um minuto, mas parece que chegou mais cedo para mim.

Controlei as lágrimas, apertando com força a barra de segurança no confortável desse elator* e me recompus rapidamente, mas reconhecia que seria complicado parar de sofrer.

Era algo interno.

Era algo que fazia a minha alma doer, juntamente com o lado direto do peito. É horrível. A sensação é de uma mão de ferro me comprimindo.

Bom, e eu também sou claustrofóbica.

Ouvi o estalar suave do elevador, interrompendo meus pensamentos, talvez, e as portas de ferro de abriram de forma hostil, como quase tudo que envolve para os de classe pobre, principalmente dentro do palácio. 

Nessa parte, tudo era cinza, verde escuro, preto e branco. Possui diversos níveis, dentro de um andar. Por sorte, ou talvez nem tanta, meu quarto ficava no nível F, e eu não precisava dividir com ninguém por ser uma mulher livre. Vim para cá por "livre e espontânea vontade", porque a vida de Três ou Quatro é linda e perfeita demais comparada a todos os luxos que ser uma criada da princesa pode oferecer, não é verdade?

Na verdade, para mim foi exatamente assim. Eu apenas quis vir pois me oferece enormes oportunidades, como por exemplo de ir para outros países, conhecer novas pessoas, aprender muito mais do que sei, e... rever Peeta.

Fui para as escadas, passando meu crachá por debaixo de uma máquina que imediatamente mostrou minha foto animada — não era em um formato pesado para ser vídeo, mas não era parado como uma foto —, e logo me mostrou o número do meu quarto, corredor e nível.

 

Tremendamente organizado.

É o que define esse andar para os empregados do palácio, que ocupava um espaço tremendo, mas era merecido. Talvez.

O inferno é o formato de um corpo humano deitado, repleto de divisões, por qual razão aqui seria diferente?

Suspirei, conhecendo o caminho até meu quarto, e caminhei em passos sem nenhum tipo de pressa. 

Fechei os olhos, sentindo meu corpo ser levado pelas escadas que nunca paravam, em um círculo vicioso. Eu era como elas, sendo idiota e apaixonada.

**

Uma cama de solteiro com lençóis floridos, quatro travesseiros decorados para parecerem pétalas e o aroma das flores se fazia presente em meu quarto. Tudo o que eu havia dito que gostaria estava presente, e isso me fez sorrir ao analisar tudo depois de sair com apenas uma toalha enrolada no meu corpo e outra no cabelo.

Todos os quartos possuem um quarto, um banheiro pequeno, com uma ducha perfeita, separada em quatro níveis, um frigobar com comidas congeladas e água, e um microondas sobre o memo, para aquecermos algo. Era confortável. Pelo menos para mim.

Vesti a roupa que tirei da mala, meu pijama favorito, e me sentei na cama macia, olhando meu reflexo no espelho oval que coloquei lá. Não quero esse cabelo. O loiro natural me incomoda. Eu sou toda virgem, da cabeça aos pés, e isso me deixa confortável, mas e se eu fizesse uma maluquice impulsiva?

Peguei a tinta que tinha no banheiro e passei no cabelo úmido, sabendo que era a cor preta, mas ficaria castanho claro. Tenho que mudar.

Segui todos os passos, olhando-me decidida naquele espelho, aplicando com cautela no corpo dos meus fios. Passei bastante, para garantir que a cor ficaria difícil de sair, e também nas pontas, quando meu relógio começou a brilhar, vibrando com um som diferente, estampando o rosto de Katniss. 

— Como isso funciona? — murmurei, tocando na tela com meu cotovelo, por minhas mãos estarem cobertas com luvas sujas de tinta para cabelo.

 

— Delly... — a voz dela era chorosa. — Você pode vir até o meu quarto por favor? 

— O que aconteceu, Katniss? — perguntei, preocupada, tirando minhas luvas, lançando-as sobre a penteadeira. Não tem nada que possa manchar mesmo.

— Eu não sei... — sussurrou, soluçando. — Preciso que venha até aqui. 

— Agora. Em vinte minutos estarei aí. — Então seu rosto sumiu, e logo eu corri para o banheiro, enxaguando o cabelo que não estava totalmente pintado ainda.

Ainda de pijamas, abri a porta do meu compartimento correndo, passando apressada por poucas pessoas devido ao horário. Mas eu não estava nem aí.

Não sei explicar. Ela é um dos principais empecilhos que podem implicar que eu recupere meu relacionamento com Peeta, mas não é para isso que estou aqui. Vim para aprender, ensinar e rever Peeta. 

Mas ela é diferente. Ela é legal. Ela me considera sua amiga. Ser considerado amigo de alguém é algo muito forte. 

E também temos a parte que eu a sirvo.

— Cuidado! — Um rapaz exclamou, me segurando, pois eu quase cai na escada. Finnick Odair.

— Me desculpa. É uma emergência, senhor. — Não sabia qual era a forma certa de tratá-lo, mesmo que tivesse a minha idade, mas vamos deixar que seja senhor mesmo. — Me perdoe, foi sem querer! — Completei, quase no topo da escada já, e ele riu, balançando a cabeça em negativa, demonstrando que estava tudo bem.

— Katniss! Katniss! — Empurrei as grandes portas de seu quarto, que estava com as luzes todas acesas, mas nem notei em sua beleza, procurando-a. 

Eu não tinha mais fôlego, e as lágrimas estavam em meus olhos por essa razão. Meus joelhos latejavam, imploravam urgentemente por descanso, e minhas juntas pinicavam.

— Onde você está? — perguntei, puxando ar com força pela boca, fechando as portas. Os guardas olhavam aflitos para mim. E eu para eles.

— Aqui. 

Sua voz era baixa, cansada, sofrida, fazendo eu levar uma das minhas mãos para o coração e outra a boca, gelando por completo, reparando nas coisas quebradas, manchas de sangue e vômito, assim como algumas caixas vazias de medicamentos. Uma lágrima escorreu involuntariamente, enquanto ela sussurrava desculpas.

Caminhei até o banheiro, e me espantei totalmente ao ver tudo sujo de sangue e vômito, encontrando-a dentro da banheira, encolhida, tremendo muito, tendo espasmos, e chorando. 

— E-e-eu não queria fazer tanta bagunça — disse, soluçando, com os cabelos totalmente bagunçados, grudados em seu rosto, pescoço e costas nuas. Na verdade, ela estava nua da cintura para cima.

O que você fez? — Queria perguntar mais alto, mas não conseguia, e saiu em um sussurro.

Não houve resposta, pois ela sabia que eu sabia. Tudo se encaixava como dois mais dois igual a quatro: ela havia tentado se matar.

— Quase tive um apagão. Mas eu senti a dor, então... — Fungou, sem se importar, aparentemente, com o vômito por seu corpo, misturando-se ao sangue. O cheiro era horrível, mas a minha vontade de querer ajudá-la foi maior — muito maior — do que qualquer coisa naquele momento. 

Segurei-a por debaixo dos braços, erguendo-a sem muitas dificuldades, embora fosse fácil com a ajuda de um guarda. 

— Vou dar um banho em você, então levá–la para a enfermaria — avisei, sem ter uma outra expressão para a situação.

— Não! NÃO! — gritou, chorando, quando a coloquei debaixo do chuveiro, quase entrando junto, pois a segurava, com medo que fosse cair. Ela só usava o short do pijama, fora isso, estava nua, mas eu não ligava. Era preocupante e arrasadora a situação que ela se encontra.

— Você não me entende, Delly — falou, depois de cinco minutos, enquanto eu passava sabonete por suas costas.

— Como sabe? — Ela riu, ainda chorando.

— Você ainda cogita a ideia de me levar para a enfermaria — disse, oscilando a respiração. — Ou um manicômio. Mas eu não sou louca. Eu sofro de Bipolaridade e Depressão. 

Prendi o ar, quase deixando o sabonete cair.

— O que eu posso fazer para te ajudar? — perguntei, sem acreditar que uma pessoa tão cheia de riso e felicidade poderia sofrer algo assim. 

— Só me ajuda a me vestir — pediu, e eu a segurei mais uma vez, pois seu corpo tremia.

Desliguei o chuveiro, acabando de lavá–la, e a fiz calçar suas pantufas, para não pisar e sujar os pés, enrolando-a em um roupão.

Sentei-a na cama, e fui até seu closet, sem reparar em muitos detalhes, procurando logo onde colocava suas roupas íntimas e pijamas. 

Peguei uma calcinha de algodão, que não a apertasse e um vestido de dormir curto solto, que a oferecesse sustentação, mas que não precisasse de sutiã. Depois de uma situação dessas, a última coisa que ela precisa é que algo a aperte de alguma forma.

Corri até ela, que tinha o olhar preso no vazio, preso nas árvores que tinha no jardim, e ela tinha visão privilegiada em seu quarto, pelas vastas janelas de vidro temperado, com uma visão panorâmica do mundo a fora. Mas ela estava presa em si mesma, e isso de alguma forma me machuca, por vê-la machucada. Os outros sabem disso? 

Ela deixou o corpo mole, para que eu a vestisse, e ela tinha um corpo bonito, mas carregava algumas cicatrizes estranhas pela barriga, nas costas e principalmente coxas. Não havia feito aquilo sozinha, com certeza.

— Eu e a minha mãe não nos damos muito bem — sussurrou, vendo que eu havia notado aquelas marcas. 

— Nós vivemos em constante conflito. Um dia quase que um guarda precisa vir intervir a nossa briga, pois papà não sabe, nem Prim. — Ao terminar de vestir a calcinha nela, sem reparar muito nessas coisas, passei o vestido por sua cabeça, e ela suspirou cansada. 

 

— Eu te imploro: não conte a ninguém. Os empregados do palácio sabem da minha doença, mas lhes fora proibido compartilhar essa informação com outras pessoas. Estou confiando em você para não contar a ninguém do que aconteceu aqui.

 

— Foi a rainha que fez isso? — Referi-me as cicatrizes, e ela assentiu. Algumas sangravam um pouco, por isso cobri com gases e esparadrapos, para ela não se sujar.

 

— Foi. E ela também deixou essas marcas de agora. — Sua voz era um tom baixo, que chegava a preocupar. 

 

A rainha era um monstro. Como pode fazer isso com a própria filha?! 

 

— Então você tomou remédios para se matar. — Assentiu mais uma vez. — Katniss... 

 

Suspirei profundamente, sem nem ter o que dizer. 

 

— Mas eu me dei conta do que estava fazendo, como na maioria das vezes. Só coloquei o dedo na garganta, e esperei vomitar, mas não consegui. A dose foi grande dessa vez. Eu estava sem ar, e meu corpo ardia por causa do chinelo dela, então eu só coloquei tudo pra fora. Não consegui chegar no vaso a tempo, e meu corpo não conseguiu se manter de pé, por isso as marcas de sangue em todo o lugar. 

 

— Você estava sem blusa... — murmurei, prendendo o ar. A rainha fez...aquilo com ela?

 

— É, a minha mãe rasgou quando começou a me bater. — Olhou em meus olhos, e suas pupilas estavam enormes, cheias de pavor.

 

— Não pode contar a ninguém sobre isso. Apenas você, Annie, Madge e Johanna sabem. Minha mãe não gosta de mim, podendo arriscar a minha vida, mas eu... — Mordeu os lábios, segurando o choro. — Não quero viver. Só há duas pessoas que me impulsionam a levantar da cama. Arrasto-me todos os dias de sonhos ou pesadelos, descobrindo que não há nenhum alívio em estar viva. 

Suas palavras fizeram meus olhos se encherem d'água, e meu coração quase parar de bater. 

Meus problemas são insignificantes.

Ela se deitou na cama depois que me ajoelhei sobre sua cama, fazendo uma trança em seu cabelo formoso, mesmo que simples, apenas para não os embaraçar, pois vi que são bem densos, e dão bastante trabalho.

Cobri seu corpo com o edredom, depois de fechar as cortinas e limpar as marcas de sangue e o vômito, deixando um aroma de limão pelo quarto, não muito forte. 

Passei perto de sua cama, para ver se já dormia, mas não. Brilhava sob a luz da luminária, e eu podia sentir sua febre, e que ela ainda chorava, tremendo. 

 

— Katniss — chamei, balançando-a um pouco, fazendo um carinho que meus irmãos faziam em mim quando eu ainda morava com eles. 

— Sim? — perguntou, abrindo os olhos, e seus olhos eram apenas o cinza, as pupilas minúsculas.

— Toma uma dipirona — aconselhei, tocando sua testa. — Não vai te fazer mal.

Ela tomou, com pouca água, e voltou a se deitar. 

— Delly? — Chamou-me baixinho.

— Estou aqui. 

— Poderia cantar alguma coisa? — pedi, segurando meu pulso. — Eu estou com medo de perder uma pessoa.

Aconcheguei-me na cama, e a trouxe para meu colo, fazendo carinho em suas costas e cabelo, para acalma-la. Fiquei pensativa.

O que eu poderia cantar? 

— Peeta sabe cantar melhor do que eu — falei, mas foi um pensamento alto. Eu adorava quando ele cantava Deep In The Meadow para mim, quando eu estava passando mal. Tínhamos sempre que sermos silenciosos, cuidadosos, mas eu dificilmente conseguia tirar algo melodioso de sua boca.

Peeta — murmurou. — Eu sonhei que tinha perdido ele — confessou baixo — você poderia manter segredo sobre isso também? 

Apenas continuei com meus dedos mergulhados em seu cabelo, sem prometer nada. Isso era difícil para mim, tanto quanto era para ela. 

— Não vou contar para ele — garanti, suspirando. Por qual razão eu contaria?

— Obrigada. 

Passados uns 15 minutos em silêncio, ouvi novamente a sua voz.

— Eu ainda estou esperando que você cante. — Ri, balançando a cabeça em negativa, e ela riu também.

— Ok, mas depois peça para Peeta cantar, que é muito melhor do que eu — pedi, desejando que Peeta mostre um de seus maiores talentos, que é acalmar as outras pessoas com um simples abraço e uma gentil melodia que sua mãe cantava para nós quando trabalhava na casa dos meus pais mais não dava para voltar com a Mel e o Pepe por causa de uma chuva forte ou porque estava muito tarde. Eu adorava quando isso acontecia.

Deep in the meadow, under the willow

A bed of grass, a soft green pillow

Lay down your head, and close your sleepy eyes

And when again they open, the sun will rise

 

Here it's safe, here it's warm

Here the daisies guard you from every harm

Here your dreams are sweet and tomorrow brings them true

Here is the place where I love you

Era gentil e suave, a letra, e senti as lágrimas de Katniss no meu colo, depois ela esfregou os olhos.

— Eu sei, minha voz é péssima e... — Balançou a cabeça em negativa imediatamente.

— Por favor, continue. Quem te mostrou essa música? — Sorri, olhando para a copa das árvores, que me lembravam as que tinham ao lado da minha casa, onde guiavam para o sótão, e eu esperava ansiosamente pela subida de Peeta.

— A mãe do Peeta quem começou a cantar essa música, que veio da mãe dela, e da avó. A bisa do Peeta quem criou a música. E ele ama essa melodia. — Senti ela sorrir.

— Tem mais? — perguntou, e notei que estava sonolenta, mas ergueu o corpo, se sentando ao meu lado, com os olhos molhados.

— Não... — lamentei. — Mas pode tentar dormir.

— Tá. — Vi uma lágrima começar a cair, então logo passei o polegar para seca-la, trazendo sua cabeça para meu ombro, vendo-a dar um sorriso bem triste.

— Não fiquei triste — pedi, baixo. Nunca vi alguém assim, além da minha mãe quando soube que foi traída pelo meu pai. O que fazer quando uma outra garota chora? Eu sou uma, e podem ser diversas razões.

— Por que está chorando? — perguntei curiosa, já que ela estava assim a muito tempo.

— Porque você está sendo muito paciente comigo. Nem mesmo a Annie e Madge são assim. Elas não sabem o que fazer quando eu tenho uma recaída, então logo me levam para a enfermaria, deixando que me furem e me façam dormir a força. — Me mostrou a parte de dentro de seu braço, que estava roxa, os dois. — É de tanta morfina. 

 

— E os seus pulsos? — Os cortes pareciam um pouco maiores, pois manchava as gases. — Foi você? 

Assentiu, infeliz.

— Para aliviar a tensão. Eles ardem, então todo o corpo para de doer. 

— Katniss... — Ela balançou a cabeça em negativa. 

— Por favor, só mantenha isso entre a gente. 

— Pode ter absoluta certeza que isso só vai ficar entre nós duas — garanti, olhando em seus olhos cinzas, que estavam foscos como nunca. 

— Muito obrigada — sussurrou, então se deitou de lado, fechando os olhos. Cobri o seu corpo mais uma vez, até sua cintura, e saí da cama, cobrindo a mesma com o dossel branco.

Caminhei até a imensa janela, e puxei a cortina silenciosamente para não a incomodar pela manhã, então me deitei no sofá que tinha de frente para a cama, e me cobri com um edredom que tinha lá. 

Virei-me para o lado oposto da cama, e fechei os olhos, sentindo uma solitária lágrima escorrer pelo meu rosto.

É muita coisa acontecendo para uma única pessoa, e eu não faço ideia de como lidar com tudo isso. Meu coração acelerado frenético por Peeta, e a garota que deveria ser a minha maior e pior inimiga, é a pessoa mais frágil e merecedora do que Peeta pode oferecer sendo ele mesmo. 

Eu só queria que alguém me dissesse o que fazer, porque eu não faço ideia.


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Notas finais do capítulo

SURPRESAAAAAAAAAAAAA! *sorrisão*
Hello
It's me you're looking for
O que acharam, gente? Sei que ninguém além da beta sabia que ia ser um pov Delly, nem eu havia contado até ter enviado, mas eu queria mesmo surpreendê-los, porque enquanto eu estava curtindo as férias na minha tia, eu fiquei na varanda ouvindo Maroon Five quando tocou Maps e eu logo pensei "Delly precisa contar o lado dela na história", porque é ela quem vai decidir o que acontece entre o Peeta e Katniss agora. Bom, não faço ideia de como vocês vão reagir a estre capítulo, que depois de um mês houve atualização ai vocês leem logo um narrado pela maior inimiga e melhor amiga da Katniss? Mas bem, foi um personagem complicado - mais que o Peeta -, porém espero que tenham gostado, de qualquer forma, e adoraria saber o que acharam!
Vamos aos spoilers? Este tem extras porque Março me deixa muito feliz, de verdade, e eu vou ter um bolo do percy jackson! Vai que a profecia de PJ e os Olimpianos se cumpram este ano?! Nunca se sabe! VIVA AO AZUL! *mesmo que minha cor favorita seja o verde*
"— Você não é uma boa pessoa. — sussurrou, ainda com os olhos fechados, fazendo-me sorrir sincero, trazendo-a para mais perto, beijando-a mais uma vez, só que dessa vez com uma mão em sua cintura, fazendo carinho.

— Nunca disse que eu era bom. — debati, no mesmo tom, beijando sua nuca depois de colocar seu cabelo para o outro lado. — Por que você tem que ir? — perguntei me afastando um pouco, olhando em seus olhos cinzas que brilhavam mais do que nunca.

— Reunião sobre a economia do país, e vai demorar. Já estou meia hora atrasada propositalmente. — Ri, balançando a cabeça em negativa.

— Nossa, mas que futura rainha compromissada nós temos aqui, hein? — ela riu, encolhendo-se um pouco quando tirei os seus cabelos do ombro direito, sorrindo para mim no final.

— Eu não gosto dessas reuniões, as pessoas são muito ridículas. — Ri mais uma vez. — Gostei. Você sorrindo mais. Fica ainda melhor assim. — falou, colocando meu cabelo para um lado com os seus dedos finos ágeis. Senti minhas bochechas esquentarem e o sorriso desaparecer. Ela gargalhou da minha cara.

— Tchauzinho. — disse, beijando minha bochecha enquanto me abraçava. A abracei excessivamente apertado, brincando, claro, e a sacudi um pouco, arrancando dela uma de suas risadas ridículas que fazem todo mundo rir.

— Peeta! Ai! Ai! — disse, tentando se afastar, mas também era brincando. — Seu bobo!

— Boba é você! — exclamei, rindo, soltando-a de repente, e ela quase caiu. — Eu ia rir mais se caísse. — falei, com um falso tom de superioridade.

Ela riu, dando três passos à caminho de seu destino, mas parou, voltando até mim, colocando os braços ao redor do meu pescoço, me beijando novamente.

— Espero que esteja bonito para as fotos. — brincou, arrumando a gola da minha blusa. Sorri, vendo seus lábios um pouco inchados e vermelhos por causa do beijo, entreabertos por estar sem fôlego, e eu sabia que estava da mesma maneira.

— Só se prometer que estará também. — Sorriu.

— Claro, amizade. — Ri, fechando os olhos. — Tchau."
"Eu sabia que Katniss detestava passar um tempo a sós com sua mãe, honestamente, enquanto era totalmente o oposto com seu pai, mas e agora? Pensei em toda essa nossa relação conturbada pelos meus olhos e no quão difícil é tudo isso, digo, me expressar.

— Com certeza, não estou em busca da coroa. Ela é autêntica e apaixonante demais para olhar para o topo de sua cabeça e não para seus olhos. — A rainha ficou um pouco séria, franzindo levemente o cenho.

— Ela não é saudável, nem mentalmente estável. — Eu não a enxergava mais como rainha, e sim como uma mãe que não ligava realmente para seus filhos. Meu coração acelerou com um pouco de raiva, mas mantive a expressão neutra no rosto, ouvindo tudo o que diria.

— Mas eu não me importo com isso. — balancei a cabeça em negativa, com os olhos fechados por alguns instantes.

— Sei que não. A começar pelo lugar de onde veio, preza mais o valor nas coisas que não se pode ver do que as que pode tocar. — Olhei em seus olhos, procurando deboche, e me senti estranho por talvez ver que ela entendia o que eu sentia por sua filha. Talvez mesmo, mais puxado para o não, pois exala soberba.

— Seu jeito de ser é bem mais atrevido do que eu tinha, claro, mas eu sei como é se sentir totalmente excluído pelas outras pessoas de Distritos superiores, que acham que são melhores. — Suspirou, fechando os olhos. Parecia que ela sofria. — E eu admiro você por não perder a cabeça.

Segurou minhas mãos com carinho, entre as dela, que eram gentis."
"Um bilhete.

"Espero que possa aguentar a saudade da família por mais umas semanas, quem sabe. A Elite começa amanhã. — K. "

Olhei na direção dela, movendo meu pescoço para vê-la e entender o que aquilo queria dizer, mas ela não me deu nada além de uma olhada um pouco tensa, mas carregava o riso nos lábios ao lado dos amigos de Gale, como Finnick, Marvel e Collin.

Agora, pensei, a coisa ficou séria de vez. E de algum modo, eu estou tremendamente envolvido, mesmo sem querer."

Sim, sim, sim! Isso tudo ai acima para o próximo capítulo!
Pessoal, eu quero pedir um favor para vocês. Quem vocês sugerem para ser o Stefan? Porque eu fico em sérias dúvidas. O ator maravilhoso que interpreta o Stefan Salvatore (de onde eu escolhi o nome) é velho para ser ele, e o Logan Lerman é lindo demais, demais, mas não é o Stefan ainda. Quem vocês sugerem?
AAAAAH! E POR FAVOR PRECISO QUE ME RESPONDAM ISSO: Qual o momento que mais esperam na fic toda? Se ele já aconteceu, qual foi? Como querem que aconteça? Isso vale para quem leu o livro, mas também para quem não o fez, ok? Quero saber em que devo frizar mais as coisas. Brijos! Espero que tenham gostado! :)
PS para quem acompanha as fics Simplesmente Acontece e A Proposta: No dia 28/03 tem atualização final ;)