Cosmos escrita por Deusa Nariko


Capítulo 4
Capítulo IV: Madara


Notas iniciais do capítulo

Quarto capítulo de Cosmos.
Boa leitura e leiam as notas finais!



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Cosmos

 

Capítulo IV:

MADARA

⊱❖⊰

 

ANTES:

 

O despertar do Sharingan era um grande acontecimento para qualquer membro do meu clã, com um impacto tão profundo quanto. Não se limitava a refletir apenas nas habilidades de batalha porque, primeiramente, para que houvesse esse despertar era necessário que seu usuário experimentasse uma emoção tão forte ao ponto de mudá-lo para sempre.

O problema é que essas emoções, na maior parte das vezes, eram resultados de experiências negativas e traumáticas que acabavam por moldar os membros do meu clã de um modo irremediável.

E tal como aconteceu aos meus antecessores, aos meus familiares, também aconteceu comigo. O rompimento de minha amizade com Senju Hashirama, minha decisão de tratá-lo como meu inimigo, fez com que o meu Sharingan despertasse — para o orgulho de Otou-sama.

A partir daquele ponto, tratei de me desapegar daquele fio de esperança ao qual havia me agarrado tão obstinadamente; deixei-o ir e me tornei o que nasci para ser: uma arma, uma ferramenta, não nas mãos de outrem, mas nas do destino. Abracei minha natureza violenta Shinobi e sucumbi ante ela.

A fúria encarcerada em mim, enfim, emergiu e o meu descontentamento com o mundo, minha vontade de mudá-lo, deu lugar a uma cólera fria. O Outono se tornou Inverno e, então, uma Primavera que houvera sido semeada com sangue e suor.

O confronto territorial se intensificou naquele ano e tomou proporções assustadoras. E o clã Uchiha e o clã Senju tornaram a se enfrentar no campo de batalha. Por outro lado, meus encontros secretos com Koyo eram cada vez mais escassos até, de fato, se tornarem inexistentes por um longo período violento.

Com a guerra ainda em andamento, eu passava dias, às vezes até semanas, longe de casa. Minha única prioridade foi manter meu Otouto vivo por um longo período de conflitos, e quando meus pensamentos inconvenientes arrastavam-me de volta para Koyo, eu os dispersava com uma determinação férrea.

Foi só próximo do término do Verão que eu retornei para casa, durante uma trégua das disputas territoriais que, eu sabia, não duraria por muito tempo. Havia ficado afastado de casa durante quase metade de um ano e estava mudado em muitos aspectos.

A cada vez que enfrentei Hashirama no campo de batalha, senti que uma parte minha havia morrido e dado lugar a uma nova, inflexível e fria, a qual eu ainda me habituava. Meu Sharingan evoluíra a cada transição de estação, fortalecendo-me na mesma proporção e tornando-me conhecido tanto entre os meus aliados quanto entre os meus inimigos.

Aos quatorze anos, já era respeitado e igualmente temido como um prodígio mesmo entre os meus.

Tudo estava diferente quando eu voltei e a sensação de que as coisas jamais voltariam a ser como antes ainda conseguia abalar uma pequena parte minha que eu me recusava veementemente a reconhecer.

Entretanto, foi essa mesma pequena (e desprezível) parte de mim que me levou de volta àquele bosque que margeava a estrada de terra batida e que tão poucos conheciam. Levei comigo um bentō, apenas para aliviar aquela voz persistente na minha cabeça, e então me dirigi para a mesma árvore sob a qual a encontrava.

Não fiquei exatamente surpreso por descobri-la ali, dormitando a sombra, com a cabeça caída sob um ombro numa posição desconfortável e as costas apoiadas no tronco. Uma mecha do cabelo vermelho caía-lhe sobre o rosto. Suspirei devido à sua falta de cuidado e decidi que me aproximaria, deixaria o que lhe havia trazido e partiria em seguida.

Conforme me acerquei, notei que parecia bem e saudável. Provavelmente havia encontrado outra forma de sobreviver em minha ausência e não duvidava de que houvesse voltado a roubar.

Ajoelhei-me sobre o leito de folhas secas e deixei o bentō aos seus pés. Quando levantei os olhos para o seu rosto, entretanto, encontrei-a desperta e olhando diretamente para mim. Ouvi um soluço fraco irromper da sua garganta, o que pareceu surpreendê-la tanto quanto eu, já que encolheu os ombros e apertou os olhos marejados para mim.

No silêncio que se seguiu, ouvi o farfalhar do vento quente nos ramos e a respiração errática de Koyo.

— Pensei que nunca mais fosse vê-lo — ela sussurrou por fim, com o timbre quebrado e falho.

Quando intentou se aproximar mais, entretanto, levantei-me num rompante e me afastei até ter estabelecido uma distância segura entre nós dois. Ela também se levantou e me encarou, lívida. Seus olhos tracejaram meu rosto e meu corpo. É verdade que eu estava mais alto e robusto, assim como havia deixado meu cabelo crescer. Havia mudado em muitos aspectos e ela também, pelo que pude notar.

Seu corpo antes de menina, aos poucos, dava lugar ao corpo de uma jovem mulher com curvas suaves, e os contornos do rosto despiam-se do arredondado infantil para se tornarem mais afilados e elegantes. O cabelo vermelho crescera no último ano, mas era o dourado flamejante dos olhos que mais me intrigava.

— Não tem nada a dizer? — Seus lábios se partiram num sussurro torturado.

O que poderia dizer a ela? Não era mais o mesmo garoto de um ano atrás e ela tampouco se parecia com a menina que costumava ajudar. Em silêncio, dei-lhe as costas e tentei partir.

— Madara-kun! — seu chamado, entretanto, me deteve.

Ouvi outro soluço sofrido antes de ela me contornar, postando-se diante para mim para tornar a me confrontar. Aproximou-se até notar que meus ombros haviam enrijecido, então se deteve e engoliu a seco.

— Você está diferente — disse-me, voltando a me perscrutar com os olhos. — Desapareceu durante metade de um ano, e eu... — impediu-se de concluir a frase com um cerrar do punho, que descansava ao lado do corpo. — Por quê? O que houve?

— Não ouviu a notícia? — manifestei-me pela primeira vez com um tom irônico que a fez estreitar os olhos. — Não ouviu a respeito das batalhas entre o clã Senju e Uchiha? Entre o meu clã e o clã de Hashirama?

Ela recuou um passo com uma expressão assustada entalhada no rosto.

— Você e Hashirama... — murmurou e minha expressão deve ter bastado para respondê-la. — Mas por quê? — persistiu, atrevendo-se a se aproximar o passo que houvera recuado antes para me confrontar.

— Porque é o meu destino e o de Hashirama — concluí, não com tristeza, mas com a convicção indubitável de que não havia escapatória. — Somos o que somos: Shinobis e inimigos.

— Vocês eram amigos — ela lembrou, evocando em mim lembranças que não mais me diziam respeito, embora eu sentisse a tristeza de havê-las perdido, elas sempre vinham acompanhadas de um senso de fatalidade.

Koyo, entretanto, parecia não estar disposta a deixar esse passado morrer.

— Vocês compartilhavam um sonho de mudar o mundo, de mudar o destino de milhares de crianças — persistiu e as lembranças me invadiram com mais força desta vez, mas atreladas à raiva que me alimentava. — O que houve com vocês?! Eu não entendo!

Senti ondas de calor espalhando-se pelo meu peito e cerrei os dentes com força, tal qual fiz com os meus olhos.

— Basta! — urrei para silenciá-la (ou para silenciar as únicas memórias felizes das quais podia me recordar).

O Sharingan queimou minhas pupilas quando reabri os olhos, naquela tão conhecida sensação a qual me habituei ao longo daquele último ano. Koyo recuou novamente, desta vez mortificada pela visão do meu dōjutsu: a prova mais concreta de que já não era mais o mesmo garoto que ela e Hashirama conheceram.

Seus olhos tornaram a marejar, mas agora vertiam lágrimas silenciosas pelo seu rosto fino, molhando suas bochechas. Mas passado o choque inicial, ela não demorou a tentar me alcançar outra vez, tanto física quanto emocionalmente, estendendo uma mão pálida até o meu rosto.

— Não posso lutar contra o meu destino — murmurei antes que seu toque se concretizasse e ela recuou a mão, magoada. — Pensei que pudesse, mas estava enganado.

— O que aconteceu para que mudasse tanto assim? — perguntou-me e eu fechei os olhos para desativar o Sharingan.

— Eu percebi que só estava adiando o inevitável — respondi-a sem remorso.

— Isso não é verdade, não pode acreditar que o seu destino seja...

Ela balançou a cabeça como se apenas a possibilidade de vocalizar aquelas palavras fosse dolorosa demais. A verdade é que nenhum de nós podia voltar àqueles dias, revivê-los estava fora de cogitação, porque nenhum de nós era mais o mesmo.

Koyo pareceu se dar conta disso também e abaixou a cabeça.

— Aquele dia em que você me salvou... — disse entre soluços. — Eu pensei que nada pudesse me machucar mais depois daquilo. Mas eu percebi que comecei a te perder desde então. Não é verdade? — levantou os olhos lacrimosos para me fitar; suspirei.

Sem ter o que lhe responder, voltei a lhe dar as costas. Não havia nada que eu pudesse dizer que fosse amenizar o que ela estava sentindo — ou o que eu estava sentindo, por mais que tentasse inutilmente rejeitar aquele sentimento.

— Isso é uma despedida, não é? Não vou voltar a te ver — ela concluía com pesar, sua tristeza era palpável em cada sílaba que proferia.

— Temos que seguir caminhos diferentes — disse a ela, se para convencê-la ou me convencer eu não sabia.

— E-eu... — ela balbuciou num tom ainda mais alquebrado do que antes. — Eu não quero te perder.

Balancei a cabeça e dei um passo adiante, na intenção de partir, mas as próximas palavras de Koyo me detiveram:

— Eu gosto de você! Gosto tanto que chega a doer! — atirou sua confissão para mim com uma fúria apaixonada, como se houvesse reprimido o que sentia por tempo demais e libertar seus sentimentos lhe trouxesse alívio.

Ouvi-a fungar e podia ouvi-la até mesmo amassar suas vestimentas entre os dedos fortemente cerrados, seus batimentos estavam acelerados em conjunto com os meus.

— Madara-kun, você me perguntou uma vez se eu detestava os Shinobis e, antes de te conhecer, eu realmente os odiava por lutarem essa guerra e por haverem, de certa forma, causado a miséria da minha família. Mas você me mostrou que Shinobis também são humanos, e que também sentem e sofrem, por mais que precisem rejeitar isso. E eu entendo! Eu realmente entendo! Mas, por favor, não dê as costas para mim, não me abandone também, eu... — Houve uma pausa para uma profunda inspiração e um suspiro pesaroso. — Eu não vou suportar.

Koyo. Minha ingênua Koyo. Quão pouco ela sabia sobre mim, sobre o que havia me tornado, e ainda assim o quanto suas palavras me afetavam, de uma forma que eu não queria reconhecer, não mais.

— Eu sei que você perdeu muitas pessoas queridas, eu sei que você não quer se tornar essa pessoa. Isso vai te fazer infeliz. Então, por favor, não faça isso, não vá por esse caminho — suplicou com um último soluço entrecortado e sofrido.

Suspirei e não consegui evitar o sorriso presunçoso que se formou nos meus lábios. Virei para encará-la, seu rosto molhado pelas lágrimas, seus olhos flamejantes cuja intensidade e familiaridade ainda me intrigavam.

— Você é mesmo inconveniente — murmurei para o seu espanto, ecoando as palavras que lhe disse na primeira vez em que nos encontramos, neste mesmo lugar.

Mas eu sabia que tinha um caminho a seguir, um destino a cumprir, e nem mesmo Koyo poderia me salvar disso. Nem ela e nem Hashirama. Infelizmente, era aqui que nos separávamos.

Minha expressão zombeteira se tornou sombria quando lhe dei as costas pela última vez.

— Madara-kun! — ela gritou por mim e tentou me alcançar, mas eu desapareci, deixando-a para trás.

Aquela foi a última vez em que a vi durante muito tempo.

O som de seu choro me perseguiu pelos anos conseguintes e a certeza de que ela estaria melhor longe de mim não aplacou o vazio deixado no meu peito. Tentei preenchê-lo com os horrores e a violência crua da guerra, mas só fiz aumentá-lo até o ponto em que ele, por pouco, não me consumiu.

Lutei batalhas e as venci. Derrotei tantos adversários quanto triunfei numa era que ficou marcada para sempre como uma das mais sanguinárias naquele continente. Fiz meu nome e meu clã ficarem conhecidos por todo o mundo e, quando chegou a hora, liderei-os no lugar do meu Otou-sama.

Com Izuna ao meu lado, marchei de encontro a uma das minhas últimas batalhas contra o clã Senju e contra o seu líder atual, Hashirama, uma vez meu único e melhor amigo. Estava a um passo de cumprir o meu destino.

Não vi Koyo pelos próximos anos e muito menos procurei saber do seu paradeiro ou do seu bem-estar. Alegava para mim mesmo que era melhor assim — e mentia de novo e de novo.

Não tornei a encontrá-la até o ano em que finalmente me fartei de tanta violência, ódio e solidão. Estava sem esperanças depois da morte de Izuna pelas mãos de Tobirama Senju.

Então, quando Hashirama me estendeu a mão e me ofereceu uma oportunidade de redenção, eu a aceitei. E me rendi.

Estava, mais uma vez, tentando lutar contra o meu destino. Só não sabia o quanto me equivocaria em fazê-lo.


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Notas finais do capítulo

Até não demorei tanto dessa vez, mas gostaria de avisar a todos os meus leitores que as atualizações de todas as minhas Fanfics terão intervalos maiores agora. O motivo é que consegui um emprego (depois de muito tempo desempregada), e somado à faculdade e ao curso que estou fazendo, está me deixando sem tempo e disposição para muita coisa, inclusive escrever.
...
Depois de semanas sem escrever, eu consegui digitar esse capítulo quase todinho hoje. Então, peço que tenham paciência. As Fanfics não serão abandonadas, mas eu vou demorar um pouco mais pra atualizá-las agora.
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Sobre a Fanfic, os paralelos com SasuSaku continuam e no próximo capítulo teremos romance de verdade! :D
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Nos vemos nos reviews e até o próximo!