Liars and Killers escrita por A Lovely Lonely Girl


Capítulo 30
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Muito obrigada por acompanharem a história, espero que estejam gostando. Espero que gostem desse capítulo, é diferente, mas ficou bom. Muito obrigada por lerem a história, por comentarem também! Se gostarem deste capítulo, por favor, votem e comentem. ♥



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{Katherine Adams Kohls}

— De todas as terras que conheci, de todos os amores que já tive, eu jamais amei alguém como eu te amo, minha querida Grace. - O homem segurou minha mão e a beijou. Respirei fundo enquanto me recordava de tudo o que faria. Me levantei da cadeira, concentrada em manter minhas expressões faciais de desdém.

— Meu caro Theodore, não se apresse em suas insignificantes suposições. - Me sentei ao lado do homem no divã de veludo preto com um sorriso cretino no rosto. Tudo meticulosamente ensaiado durante as noites de insônia que pareciam não ter fim. Eu havia aprendido a tirar vantagem de meu inferno pessoal; Kitty controlava meu subconsciente, mas não permitiria que ela controlasse a minha vida mais uma vez. Coloquei minha mão em seu rosto, sentia sua barba por fazer espetar de leve a minha palma. - Já não significa mais nada para mim. - Inclinei minha cabeça para mais perto dele, meus olhos se fixaram nos dele. - Espero que se recorde disso. - Me levantei, tentando andar da forma mais fluida e delicada possível.

Eu entendia as angústias da personagem, minha interpretação dela era a de uma mulher traída, que resolvera se vingar lentamente, a seus próprios termos. Grace, a meu ponto de vista, era uma mulher poderosa. Ela não era manipuladora ou articulada, apenas fazia o que queria, sem segundas intenções. Ela era honesta quanto aos seus sentimentos e desejos. Era essa leveza que queria mostrar ao público, que contrastava com o desejo de vingança e o rancor intrínseco em seu ser.

— Senhorita Beverlock, eu atravessei o oceano apenas para lhe transmitir meus sentimentos. - O diálogo continuou. Em uma súbita onda de desespero, minha mente ficou em branco por alguns segundos. Leonard entendeu a minha deixa, e tentou me ajudar a improvisar. Ele se levantou furiosamente, seu olhar raivoso me fitava sem piedade. Não era à toa que ele era considerado um dos atores mais promissores dos últimos anos. - Eu esperava um mínimo de reconhecimento ou consideração de sua parte. Sua recusa à minha pessoa me parece, no mínimo, questionável.

Sorri para ele. Um inocente e doce sorriso se tornou carregado de ódio e desprezo.

— Não pretendo confundir sua cabecinha limitada, senhor Pontgard. - Sorri ironicamente para Leo.

— A mesma frase de maneira pomposa, Katherine! - gritou Michael.

— Não tenho nenhuma pretenção de embaralhar os escassos conhecimentos que guarda em sua cabeça, senhor Pontgard. - Repeti o sorriso irônico, sem me abalar.

— Boa, Kate! Continuem nesse ritmo, quero ver onde isso vai parar! - Gritou Michael, um pouco mais baixo. Ele era um diretor e tanto, seus métodos eram adaptáveis. Um dos caras mais loucos e inteligentes que já conhecera. Uma de suas principais técnicas era deixar a cena contracenando mesmo caso alguém tenha esquecido as falas; ele gostava de ver como resolveríamos o problema. Ele acreditava que, ao nos fazer improvisar, nos faria encorporar ainda mais o personagem. Claro, ele também gostava de nos “ajudar” durante improvisos, gritando instruções. E, para colaborar com o seu método, durante algum comentário do diretor, os atores “pausavam” a cena, para então voltar alguns segundos seguindo as instruções de Michael.

— Então não receberei uma resposta, afinal? - Leonard prosseguiu com as falas, sem se abalar. Absolutamente tudo tinha que parecer estar saindo como o planejado para o público. Ergui as sobrancelhas e franzi os lábios, reproduzindo uma feição de preocupação. Beijei sua bochecha, em seguida acariciei-a com a mão, de forma terna. Inclinei levemente a cabeça para o lado.

— Boa noite, Theodore. O verei novamente no café da manhã. - Sem hesitar, dei-lhe as costas. - Sugiro que esqueça completamente de nossos encontros anteriores a este momento, meu amante. - Caminhei sem olhar para trás, como se tivesse saído da cena para os bastidores.

Leonard arregalou os olhos enquanto seu olhar estava fixo em mim, no caminho que eu havia feito.

— Amante? — Chiou ele, como um animal ferido. De certa forma, o ego de Theodore Pontgard havia sido ferido ao ser rejeitado por Grace. Eu sorri ao ver a interpretação maravilhosa de Leonard.

— CORTA! - Disse Michael, no megafone, em seguida deixou o objeto de lado. Ele havia colocado óculos escuros estilo John Lennon e uma boina vermelha. Eu me divertia, já que o diretor da peça poderia facilmente ser uma personagem por si só. - Leo, apresentação impecável. Se continuar assim, logo terá uma estrela na calçada da fama. Quanto à você, coisinha... - Ele apontou para mim, não conseguia decifrar se levaria uma bronca ou se ele me puxaria para um abraço. O diretor se aproximou de mim, puxou os óculos para baixo e inclinou-se um pouco para baixo, já que ele era alto e magro como o Wally, de “Onde está Wally?”. - Você tem potencial. Não muito, mas tem. Então, da próxima vez, use esse potencial e decore as falas, okay? - Michael Wally sorriu para mim, apesar de usar seu tom de voz de críticas. - Apesar de sua falha, gostei da interação entre vocês dois. As impressões que vocês têm de seus personagens são bem nítidas, vocês conseguem transmitir bem as personalidades para o público. Mesmo sem se lembrarem das falas, conseguiram improvisar graças ao contato com os sentimentos dos personagens. Meus parabéns, Grace e Theodore.

 

{...}

 

— Obrigada de novo, Maddie. - Sorri para a mulher de cabelos grisalhos, um sorriso luminoso estava em seu rosto.

— Imagine, Kate. O ensaio de hoje foi puxado para você.

— Eu fiquei tão aliviada quando descobri que o Leo seria o Theodore! É muito tranquilo contracenar com ele! - Ela riu.

— Verdade! Eu não sei quantos livros ele leu, mas ele sabe nos deixar bem à vontade nas cenas! - Sorrimos. Madeline estava muito ansiosa para a apresentação. O teatro era o hobbie dela há anos. Ela sempre me dava uma carona até dois quarteirões do meu prédio, já que era o caminho dela, mesmo. Maddie estacionou o carro.

— Obrigada, Maddie. Nos vemos na semana que vem. - Sorri para ela.

— Não precisa me agradecer o tempo todo. - Ela riu. - Só pratique mais a sua parte, quero te ver bem no palco.

— Pode deixar. - Saí e bati a porta do carro, acenei enquanto ela ia embora. Me virei, segurando bem as alças da mochila, e comecei a andar.

Quando estava chegando ao meu prédio, notei uma multidão na rua, com câmeras, microfones e mais algumas parafernalhas. Respirei fundo e limpei o meu rosto de qualquer expressão. Poderia ser apenas uma coincidência. Atravessei a rua e me aproximei. Eles me viram. Antes que pudesse chegar à escadaria da entrada, me encontrei cercada de repórteres e câmeras apontadas para mim.

— Katherine, poderia responder àlgumas perguntas?

— Você e o Mercúrio estão namorando?

— Há quanto tempo vocês vêm se encontrando?

As perguntas pareciam rodar em minha cabeça. Respirei fundo e ergui as mãos, logo, todos aproximaram as câmeras de mim.

— A única coisa que quero dizer... - Comecei, meu tom era alto e claro. Os microfones se esticaram para mim. - É que prezo muito pela minha privacidade. Isso inclui as pessoas com as quais me relaciono.

— Mas você nunca deixou de aparecer nas redes sociais com o Henry Wright ou com o Mikhail Duskin. - Olhei para a mulher que havia dito isso. Ela parecia uma adolescente, o que significava que ela poderia ter um blog ou algo assim. - Além do mais, você sempre esteve na mídia, já que sua mãe é a famosa bailarina Elise Bradford. - Ela definitivamente havia feito uma pesquisa detalhada para usar o nome de solteira da minha mãe, já que Elise o odiava. Ela era Elise Adams Bradford, mas preferia ser reconhecida só como Elise Adams. Ela nunca me disse o porquê, só me contara que era doloroso demais para ela usar o último nome. Ergui uma sobrancelha para a blogueira:

— Não tenho nenhum interesse em revelar a natureza de minha relação com Mercúrio a vocês. Tenham um bom dia. Com licença. - Comecei a andar, porém os repórteres não se moviam, mesmo quando eu pedia para que me deixassem ir para casa. Foi demorado, porém consegui entrar no prédio sem me exaltar ou ser rude com ninguém. Quando eles viram que não conseguiriam nenhuma espécie de reação de minha parte, mesmo com muitas provocações, pararam de forçar para que eu ficasse no lugar e eu eventualmente consegui subir as escadas e entrar. Dei um tchauzinho pela porta de vidro, em seguida me virei de costas e fui até o elevador.

Entrei, sentido alívio quando o barulho foi deixado para trás. Não estava me sentindo bem. Eu havia percebido que minha privacidade havia sido violada e que as coisas não voltariam ao que eram antes; pelo menos não tão cedo. Eu só queria que as coisas ficassem bem, que me deixassem em paz. Onde raios eu havia me metido?

Quando abri a porta do apartamento, congelei ao ver uma figura alta e esbelta com longos cabelos castanhos olhando seriamente para o deus da mentira.

Senti começar a suar frio, meu coração acelerou e eu não conseguia disfarçar os olhos arregalados. Podiam vir monstros, deuses, espiões, hordas inteiras de inimigos e até mesmo a Kitty para me enfrentar - ninguém conseguiria me aterrorizar tanto quanto a mulher que estava sentada na mesa de jantar.

— O-Oi, mãe. - Um falsete escapou da minha boca, minha voz estava falhando.

— Katherine, temos que conversar. - Seu olhar era frio quando se virou para mim.

— Elise, por favor, não seja tão dura com ela. - Pediu Sigyn, que estava mansa demais. Minha mãe amava a ruiva, nunca deixara de respeitá-la e a tratava como um membro da família, então, o que havia acontecido?

— Agradeço a preocupação, senhorita Hollister. - Minha mãe dirigiu à deusa um olhar cortante. - Mas Katherine é minha filha.

— Mãe, o que aconteceu? - Perguntei, sentindo um pânico repentino. Ela arremessou um objeto na mesa, como se estivesse chicoteando algo furiosamente.

Isso aconteceu. - Falou entredentes, ela estava extremamente brava. Antes que pudesse me aproximar para ver o que ela tinha jogado, ela pegou novamente o objeto e jogou em mim. Atingiu o meu braço, caiu no chão e então o peguei. Era um jornal. Abri, na primeira página havia uma foto do beijo e mais fotos ao redor, todas minhas com minha família, Elise, John, Mikhail, Henry, Lucas, Cécile... Senti um nó na garganta. Eles haviam pesquisado bastante.

— E-Eu... - Não conseguia pensar em nada para dizer.

— Então era para isso que você queria vir morar com a sua amiguinha? - Eu nunca havia visto Elise tão brava, e isso me deixava temerosa pelo que ela seria capaz de fazer. Olhei para os dois deuses, ambos se entreolhavam, sem dizer nada. Eles não me ajudariam a sair dessa. Abaixei a cabeça enquanto minha mãe continuava. - Eu devo ser a pessoa mais idiota do mundo! Ou a mãe mais trouxa, com certeza! - Ela soltou uma risada de incredulidade. - Eu estava lá, toda orgulhosa, pensando que a minha filha estava sendo responsável, estudando, fazendo o curso de teatro, pensando no futuro... E olhe só que surpresa! Ela quis morar com a amiguinha para ir atrás de homem!

— Não é nada disso, mãe! Eu estou estudando sim, eu acabei de voltar do curso, pode ver! E eu...

— CALA A SUA BOCA PORQUE AGORA QUEM FALA SOU EU. - Me calei imediatamente. Ela apontou para mim. Seus olhos estavam cheios de ódio, os meus, cheios de lágrimas. - Você traiu a minha confiança. - Ela apontou para Sage. - Vocês duas trairam a minha confiança. - Elise voltou a me olhar. - Você me decepcionou pela última vez, Katherine. - Engoli em seco, as lágrimas escorriam pelo meu rosto.

— M-Mãe, por favor... Eu prometo que não vai acontecer de novo.

— Chega. - A mulher respirou fundo, endireitou sua postura impecável e indicou o corredor que dava para o meu quarto. - Arrume suas coisas. Você vai voltar para casa. - A encarei com raiva e mágoa. Eu teria que pagar pela intromissão da mídia em minha vida pessoal? Não me parecia justo.

— Não vou. - Ela ergueu uma sobrancelha:

— Como é? - Ela fechou a mão esquerda em punho. Respirei fundo, me preparando para a tempestada que viria. Não estava nem aí se estávamos sendo observadas, eu queria ficar onde estava, fazendo o que fazia, progredindo com a minha vida. - Você anda se expondo na mídia, saindo para festas, mentindo e escondendo coisas de mim e ainda acha que está em posição de exigir alguma coisa? - Ela me olhou como uma leoa furiosa, parecia que ela queria me esfolar viva. Imitei sua expressão, disfarçando o fato de estar suando frio e de meu coração estar acelerado. A raiva estava tomando conta de mim, conseguia sentir minhas bochechas esquentando.

— Eu já disse que esse tipo de coisa não vai se repetir. - Cruzei os braços. - Eu não vou aparecer mais na mídia. É uma promessa.

— Isso não é o suficiente. Agora vá fazer suas malas e vamos embora. Pegamos o resto das suas coisas outro dia. - Ergui a cabeça e endireitei a postura, a encarando.

— Eu não vou embora agora. Estou no meio de uma coisa importante, estou trabalhando duro para dar certo e não vou ir embora só porque você quer. Eu não vou arriscar prejudicar o meu futuro voltando para casa.

— Devia ter pensado nisso antes de tudo isso ter acontecido. - Ela respirou fundo e apontou para Loki. - Você acha mesmo que vou te deixar aqui, com um homem desconhecido dividindo o apartamento com você? - Cerrei meus dentes. Eu havia esquecido de contar a ela sobre o novo morador do apartamento.

— Então é por causa dele que você está surtando desse jeito? - Olhei nos olhos de Loki e voltei a olhar Elise. - Acredite em mim, ele não é ninguém com que você tenha que se preocupar.

— Eu não acredito mais em você. - A mais velha respondeu. - Que parte de “vocês duas perderam a minha confiança” você não entendeu? - Franzi os lábios. Não tinha outro jeito, eu teria que contar a verdade para ela.

— Mãe, eu sei que você está uma fera comigo agora... A verdade é que eu estou trabalhando em uma coisa muito importante. - Ela fixou seu olhar no meu, analisando se eu estaria mentindo para ela. - Você vai se orgulhar de mim algum dia, prometo. Mas, se eu parar de me empenhar agora nesse... projeto... então tudo vai por água abaixo e eu nunca terei outra chance como essa na vida. - Ela soltou uma risada cínica.

— É incrível como você realmente acha que eu te darei ouvidos depois de tudo o que você fez. - Seu olhar era gélido. - A culpa disso é minha, eu deixei você fazer suas próprias escolhas por muito tempo e sempre dei o que você queria; eu que te transformei nessa criança mimada que você é.

Se ela tivesse me dado um tiro não teria doído tanto. Fiquei sem reação, totalmente desestabilizada. A ruiva se aproximou de nós duas.

— Elise, eu posso explicar? - Pediu Sage. - A Kate não foi responsável por isso, tudo isso é culpa minha. Eu achei que ela seria mais discreta, que você estava ciente dos interesses dela pelo Vingador e...

— Cale a boca, sua cobra ruiva. - Para minha surpresa, era a voz de Loki. O moreno se moveu bruscamente até Sigyn. - Não temos que interferir nessa discussão, mesmo que essa senhora esteja totalmente equivocada. - Loki fez uma breve reverência em frente à minha mãe. - Peço mil perdões, senhora Adams. - Quando ele se levantou, manteve sua postura impecável, que prendeu o interesse da minha mãe. Ele lançou a ela um breve sorriso com as sobrancelhas levemente franzidas, como se quisesse dizer que ele também tinha uma posição de respeito. - Tomarei conta para que a minha amiga não a interrompa mais uma vez. - Seu tom era cordial. O deus esticou sua mão, indicando a área da cozinha e olhou para Sigyn. - Vamos então, Sage?

Sigyn o encarou por um momento, em seguida suspirou e começou a caminhar.

— Espere um segundo. - Os deuses se viraram para a minha mãe; o olhar desconfiado dela se fixou em Loki. - Por que você acha que estou errada? O quanto você conhece a minha filha?

— Eu conheço a srt.ª Kohls relativamente pouco. - O deus sorriu. - E acredito que esteja equivocada porque está deixando que essa fúria cega interfira em suas decisões, madame. - O olhar que minha mãe dirigiu ao deus dizia que ela estava mais do que preparada para esculachá-lo. Loki não se abalou, apenas deu de ombros. - E, no entanto, compreendo que cabe à senhora decidir o destino de Katherine. - Ele me lançou um sorriso. - É realmente uma pena que tenha que interromper seus estudos, Kate. Principalmente agora que estava tão perto de conseguir aquela bolsa... Acho que o Tony Stark vai ficar meio desapontado, mas ele vai achar outra pessoa, com certeza. - Loki se afastou e voltou a sentar na mesa da sala de jantar, Sigyn o seguiu.

Elise franziu os lábios. Foi então que entendi o que estava acontecendo. Loki havia lançado a isca que poderia ser a salvação de todo esse problema. Obviamente, eu teria que me aproveitar disso.

— Você ganhou uma bolsa de estudos das Indústrias Stark? - O tom raivoso na voz da mulher havia desaparecido. Baixei o olhar, olhando para meus pés.

— Entende agora porque insisti tanto? - Sussurrei, em seguida voltei a olhar em seus olhos. - Eu estou concorrendo à essa bolsa, o Stark está procurando alguém que entenda mais da cultura asgardiana, alguém que esteja disposto a pesquisar e documentar informações sobre os deuses, já que eles são aliados dos Vingadores. - Minha boca cuspia a primeira teoria da conspiração que conseguia pensar ao me questionar “O que faria o Homem de Ferro me contratar como estagiária sendo que não sei quase nada de tecnologia?”. Para a minha sorte, minha mãe associou meu nervosismo ao meu medo de apanhar dela, não às mentiras descontroladas que saíam da minha boca.

— Por que não me falou sobre isso antes, querida? - Ergui uma sobrancelha. A bailarina tinha um humor volátil, com certeza.

— Era para ser uma surpresa. Além do mais, eu só contaria depois, se passasse, para não preocupar nem a senhora, nem o meu pai, mãe. - Elise colocou as mãos nos quadris enquanto pensava no que deveria fazer.

— Eu tive que ir a alguns lugares para conversar sobre o estágio, e Mercúrio e eu acabamos nos esbarrando por acaso... - Seu rosto começou a se franzir novamente. - E eu acho que ele gostou de mim, eu também gostei dele. - Olhei para a minha mãe. - Então comecei a sair com ele, mas não te contei porque não tinha certeza se a senhora aprovaria. Foi só isso. Isso não me distraiu dos estudos, nem das aulas de teatro.

Elise respirou fundo algumas vezes, em seguida seguiu até a cadeira da ponta da sala de jantar e se sentou, do lado oposto aos deuses, tomando certa distância. Loki se levantou.

— Este é um assunto delicado e precisa ser resolvido o quanto antes, então prepararei um chá enquanto a senhora Adams reflete sobre sua decisão. - Ele sorriu brevemente. - Com licença. - O moreno seguiu até a cozinha e começou a preparar o chá. Sentei na cadeira ao lado de Elise, que fechara os olhos e passara a massagear as têmporas enquanto pensava no que deveria ser feito.

— Elise... - Sigyn começou, e minha mãe lançou um olhar frio a ela, mas a ruiva não se abalou. - Se preferir, a Kate pode passar a morar com o Luke e a Sarah. Conversei com ela há alguns dias no hospital, ela disse que cancelou o contrato com as agência de intercâmbio porque agora terá um aumento nos turnos dela, então o terceiro quarto não será mais usado. Acho apropriado para a atual situação, já que não quer que Kate fique aqui. - A bailarina se manteve calada por um tempo, apenas observando a deusa, então se virou para mim:

— Quantas vezes já te disse para ser discreta? Não sabe o que o monstro da mídia é capaz de fazer?! - Ela apoiou os braços na mesa. - Katherine, você pode acabar manchada para sempre! Sem contar que esses heróis lutam contra gente perigosa. O que vai fazer se eles vierem atrás de você, hein? - Ela colocou as mãos no rosto, enquanto eu apenas a encarei, impassível. - Ah, eu ainda terei um ataque de nervos! Exclamou Elise, sua voz fora abafada pelas palmas de suas mãos. A mulher tirou as mãos do rosto e fixou suas íris cor de oliva em mim. - Se quiser continuar em New York, terá que ser nos meus termos, entendeu?

Assenti, tentando não abrir um enorme sorriso. Minha mãe era impulsiva de primeira, mas ela também conseguia ser uma pessoa ponderada; quando queria ser, claro. Senti que devia agradecer ao Loki futuramente; se não fosse a intervenção dele, minha mãe jamais teria me deixado falar. O olhar de Elise mudou, ela me encarou de forma ameaçadora.

— Vai continuar estudando, fazendo o curso de teatro e vai conseguir a maldita bolsa. - Ela pronunciou as palavras devagar, como se quisesse que elas ficassem tatuadas permanentemente na minha cabeça. Assenti, sentindo a pressão nos ombros por ela não ter dito que eu deveria tentar, e sim conseguir a bolsa. Eu compreendi - para ficar em New York, falhar não era uma opção, e apenas tentar não seria suficiente. A castanha inclinou o rosto para mim, seu olhar perfurava o meu. - E vai dispensar aquele Vingador. Ou você cumpre o que eu quero, ou pode esquecer de continuar aqui.

A bailarina voltou a se encostar na cadeira.

Respirei fundo.

Eu contaria a ela sobre a SHIELD?

Observei seu rosto. O olhar atento aguardava uma reação minha. Aquele olhar era bem claro: se eu não andasse na linha desenhada por Elise, ela não hesitaria em me arrastar de volta para casa e me fazer trabalhar no velho estúdio de dança da senhora Harthwood.

Eu contaria a ela que estava sendo treinada para ser uma assassina desprezível?

Franzi os lábios e abaixei a cabeça, evitando seu olhar.

Senti um arrepio na espinha; o bizarro e velho alerta que me dizia que logo as coisas iriam mudar. Que havia encrenca chegando. Que os dados que usava para jogar com o destino ainda estavam rolando, e o resultado seria incerto, porém, decisivo.

Sabia o que faria; sabia o que tinha que fazer. Para manter minha mãe longe dos problemas que me afligiam - fossem eles deuses, heróis ou os monstros em minha cabeça -, disse:

— Eu concordo com os seus termos, mãe. - Sorri de lado. - E, mesmo que eu não concorde, vou obedecê-los. Porque sei que a senhora só quer o meu bem.

Minha mãe sorriu.

A campainha tocou no mesmo instante.

Loki se apressou em atender, o deus abriu uma fresta da porta.

O moreno empalideceu completamente.

— Você?!

Uma forte ventania invadiu o apartamento, de maneira surreal. Pequenos furacões pareciam se formar em cima dos móveis encostados nos cantos do apartamento.

O gato Loki correu desesperado e se jogou em meus braços, eu o abracei enquanto ele observava tudo de olhos arregalados. A ventania parecia cada vez mais barulhenta e poderosa, assobiava alto em meus ouvidos. Segurei o gato apoiado em meu ombro em uma mão e puxei a mão de Elise com a outra. Não sabia o que esperar, poderia ser um inimigo feiticeiro dos deuses. Só sabia que tinha que manter minha mãe segura.

— O que está acontecendo?! - Elise gritou, em meio ao assobio ensurdecedor dos ventos.

— Vamos, por aqui! - Eu a puxei com todas as minhas forças, lutando com a ventania, que parecia querer nos estraçalhar. Quando olhei para Sigyn, ela já estava de pé, apenas esperava que eu levasse minha mãe dali para atacar quem quer que fosse.

— Vão para o quarto de hóspedes! - Ela gritou.

Barulhos de vidro sendo estilhaçado, as cortinas chicoteavam e batiam nas janelas, livros e papéis rodopiavam dentro dos pequenos furacões e eram atirados com violência por todo o lugar. Quando consegui levar a minha mãe até o corredor dos quartos, a televisão balançou e caiu próxima de nós, faíscas de eletricidade brilhavam aos nossos pés.

Coloquei minha mãe contra a parede enquanto ela atravessava o corredor, o centro da ventania com certeza era ali. Começamos a gritar com lágrimas escorrendo pela face, o assobio poderia estourar nossos tímpanos a qualquer momento. Quando chegamos perto o suficiente, procurei o impulso da parede e me joguei violentamente contra a porta do quarto de Loki. A porta se abriu e puxei Elise para dentro, pouco depois fechamos a porta juntas.

Silêncio. Nada de assobio, ventanias ou furacões. Apenas um quarto levemente bagunçado com cheiro de fragância masculina e pilhas e mais pilhas de livros por toda parte. Deixei o gato no chão e ajudei minha mãe a se levantar e a sentar na cama. Ela estava pálida, tão assustada quanto o bichano de pelos arrepiados.

— O que foi aquilo? O que aconteceu? - Suas mãos tremiam, até que as segurei. - Nós temos que fugir daqui, minha filha! - A bailarina olhou pera janela. - Temos que avisar o seu pai!

Eu me sentei ao lado dela e segurei fortemente suas mãos.

— O que a senhora tem que fazer é se acalmar. - Seu olhar aterrorizado se fixou em mim. - Respire fundo, Elise. - Ela arfou rapidamente. Eu apertei suas mãos. - Elise Adams Hennigham. Respire fundo e me diga três passos básicos do balé clássico. - A mulher respirou fundo.

Plié... En dehors... Tendu... — Assenti, a incentivando.

— Continue, mãe. Respire fundo. - Respirou fundo mais algumas vezes.

Frappé... Fondu... Jeté... - Ela sorriu, depois de respirar fundo mais algumas vezes. - Obrigada, querida. - Ela olhou temerosa para a porta.

— Sage vai chamar ajuda, mãe. Tenha certeza disso.

— Eu fui tão cruel com ela! - Elise balançou a cabeça, seus olhos começaram a se encher de lágrimas. - Ela está correndo perigo lá fora para nos ajudar, e eu fui tão cruel com ela!

— A Sage é durona, mãe. Vai sobreviver. - Eu a abracei, sem nenhuma ideia do que fazer.

Havia uma tormenta atrás daquela porta selvagem demais para ser controlada e perigosa demais para ser atravessada. Quem quer que fosse o responsável, era imensamente poderoso e isso tornava a situação arriscada demais. As guerras dos deuses não deveriam ter mortais em meio ao caos.

Fechei os olhos.

Respirei fundo.

Deixei minha mente vagar.

Do fundo de minha alma, surgiu um sussurro desesperado.

Por favor, alguém nos ajude.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam do capítulo? Muuito obrigada por lerem Liars and Killers!! Beijoss ♥



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