Liars and Killers escrita por A Lovely Lonely Girl


Capítulo 22
Capítulo 20 - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo! Terminei de responder os reviews e agora venho alegremente postar o capítulo 20! Ou melhor dizendo, a primeira parte. Para não atrasar ainda mais, separei em partes esse capítulo. Espero que gostem ♥

Lembrando que: Não me responsabilizo por coraçõezinhos partidos ou esperanças desfeitas.

PS: Esse capítulo é dedicado à Bia HiddlesBarnes, muito obrigada pela recomendação! Fico muito feliz por ter gostado do meu Loki hahaha

PSS: Apenas lembrando que temos a page no Facebook e uma playlist das músicas da fanfic no YouTube.

Agora sim, espero que gostem do capítulo ^^



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《Katherine Adams Kohls》

Me sentia estranhamente leve, como não me sentia havia muito tempo.

Lembrava-me de ter começado com mais um pesadelo com Kitty, tão horrível que conseguia sentir as lágrimas secas em minha face. O que me confundiu completamente era o que aconteceu depois - Estava imersa no pesadelo, quando de repente tudo se transformou, toda a minha angústia se esvaíra e um sentimento diferente tomou seu lugar... Aquilo era paz? Sabia que ainda estava sonhando, então olhei em volta até que o encontrei, estava olhando de volta para mim. Seus cabelos negros estavam rebeldes como sempre, seu sorriso levemente zombeteiro em seu rosto, trajava algo parecido com um kimono verde com adornos em dourado e preto.

— Loki... - Murmurei, sentindo uma vontade repentina de tocá—lo. De ver sua pele se azular ao meu toque, quem sabe ele não me diria o motivo daquilo acontecer toda vez? Corri até ele sem pensar, rindo no caminho de puro alívio por não encontrar um olhar vazio como o Loki cruel de meus pesadelos sempre tinha - mas o Loki para o qual corria tinha um leve brilho de malícia por detrás de seu olhar, então aquilo com certeza era um sonho. Sorri amplamente e me joguei em seus braços, o abraçando o mais forte que conseguia. O deus não retribuiu o abraço, porém não o rejeitou, o que me deixou ainda mais feliz. Ri levemente enquanto o apertava cada vez mais.

— Vai amassar a minha túnica. - Disse com seu jeito de sempre. O soltei, não me deixando abalar por seu humor, e estava praticamente pulando de alegria.

— Isso aqui é um sonho! Um sonho! - O moreno ergueu uma sobrancelha:

— E?

— E... - Puxei as pontas da faixa de sua túnica, que estavam quase tocando o chão, e comecei a balançá—las alegremente. - Que eu consegui sair de um pesadelo direto para um sonho. Eu nunca consegui fazer isso antes! - Comecei a saltitar ao redor do deus ainda segurando as pontas da faixa, enrolando seu tronco. Logo ele as puxou de volta.

— Hey, pare com isso. - Ri levemente.

— Okay. - Soltei a faixa e ele se arrumou mais uma vez. O observei pensando em mil e uma coisas. Gostava de sua companhia, mesmo quando estava emburrado. Gostava de como prestava atenção nos mínimos detalhes. Gostava de como ele era curioso sobre aprender coisas novas. Gostava de mostrar a ele coisas sobre Midgard. Naquele sonho foi a primeira vez em que me dei conta disso.

Voltei à realidade depois de um tempo.

Estava em meu quarto, encarando fixamente o teto enquanto me recordava do sonho. Levantei-me da cama, abri o guarda-roupa, puxei a capa de violão que estava escondida atrás dos cabides, a coloquei sobre a cama, a abri, tirei o violão de dentro, sentei na cama e o ajeitei sobre meu colo. Chequei a afinação até que finalmente as notas começaram a fluir, preenchendo o espaço a minha volta.

I'm a phoenix in the water

A fish that's learnt to fly

And I've always been a daughter

But feathers are meant for the sky

So I'm wishing, wishing further

For the excitement to arrive

It's just I'd rather be causing the chaos

Than laying at the sharp end of this knife

With every small disaster

I'll let the waters still

Take me away to some place real

'Cause they say home is where your heart is set in stone

Is where you go when you're alone

Is where you go to rest your bones

It's not just where you lay your head

It's not just where you make your bed

As long as we're together, does it matter where we go?

Home, home

So when I'm ready to be bolder

And my cuts have healed with time

Comfort will rest on my shoulder

And I'll bury my future behind

And I'll always keep you with me

You'll be always on my mind

But there's a shining in the shadows

I'll never know unless I try

With every small disaster

I'll let the waters still

Take me away to some place real

'Cause they say home is where your heart is set in stone

Is where you go when you're alone

Is where you go to rest your bones

It's not just where you lay your head

It's not just where you make your bed

As long as we're together, does it matter where we go?

Home, home, home, home

'Cause they say home is where your heart is set in stone

Is where you go when you're alone

Is where you go to rest your bones

It's not just where you lay your head

It's not just where you make your bed

As long as we're together, does it matter where we go?

Home, home, home, home

Quando a canção terminou, deixei o violão de lado e pulei da minha cama, estava tão feliz! Abri a porta do meu quarto e fui saltitando até o banheiro, tranquei a porta, me despi e logo entrei debaixo do chuveiro. Ajustei a água para o mais quente possível, o vapor começou a cobrir o banheiro, peguei o chuveirinho e comecei a cantar Umbrella, da Rihanna enquanto a água caía da ducha. Quando a música terminou, me ensaboei, passei o xampu e coloquei um creme de hidratação no cabelo. Desliguei o chuveiro, corri até a gaveteira do banheiro, peguei a touca de oncinha, a coloquei na cabeça, me enrolei na toalha e saí do banheiro.

Big black boots, long brown hair...— Comecei a cantar, quando um ser endemoniado brotou do inferno na minha frente. - AAAAHH!— Por reflexo segurei a toalha e chutei a criatura.

AIÊ!— O cara cambaleou para trás. - Que merda é essa? Ficou louca, Kitty?

HENRY, SEU PERVERTIDO!— Corri para o meu quarto e comecei a gritar. - VOCÊ ME PAGA, SEU DESGRAÇADO! EU VOU TE MATAR!— Bati a porta com força. Segui furiosamente até as gavetas e comecei a separar a minha roupa, quando bateram na porta. - O QUÊ?!— Gritei, em seguida ouvi a voz de Henry por trás da porta:

— Só quero te lembrar que aqui no vidro está dizendo que a sua hidratação requer enxágue. - Toquei a minha cabeça, me sentindo bem idiota por ter esquecido da touca, e consequentemente da hidratação. Respirei fundo e saí do quarto novamente, o moreno estava com o vidro do produto na mão. - Bom dia, Kitty. - Puxei o objeto de sua mão e mostrei a língua para ele.

— Me deixa em paz, Wright. - Ele ergueu as mãos e as balançou no ar.

— Ui ui, ela é perigosa ela. - E riu. O chutei novamente. - Aw! Hey, não precisa descontar sua TPM em mim logo de manhã. Tem mais dois caras na mesa do café, porque você não vai lá bater neles?

 

— Porque eles não ficam espreitando pelo apartamento esperando pra me ver nua! - Gritei, e ele franziu tanto o rosto em uma expressão de desgosto e confusão que tinha certeza que ele iria ficar com rugas.

CREDO, KITTY! NUNCA! QUEM DIABOS VOCÊ PENSA QUE EU SOU?— Ele estava indignado. Ergui uma sobrancelha. Henry Richard Wright era o típico playboy, além de ser metido a rockstar, e ele nunca dormia sozinho.

— Um maluco pervertido satiríaco, talvez? - Henry me encarou por um segundo, depois deu de ombros.

— É, sou mesmo. Mas com todo o respeito, eu simplesmente não ligo para... - Ele apontou com o indicador para mim da cabeça aos pés. -... Isso. Conheço garotas mais interessantes nesse quesito. Você está definitivamente fora de cogitação.

— Ainda bem, né? - Suspirei. - Não preciso de mais complicação no momento, muito obrigada.

— Refere-se ao primeiro encontro com o Pietro? - Henry ergueu uma sobrancelha, e já sabia quem havia lhe contado.

— Acho que vou matar a Sage. - Ele riu.

— Hey, não implique com a Moranguinho. Ela só está feliz por você estar gostando de alguém... Já que rejeitou os sentimentos de outros caras que gostaram de você. - Dei de ombros.

— Sinto muito, mas não sou do tipo de pessoa que aceita viver uma mentira. E também... Como eu poderia ser feliz com alguém por quem não sinto nada? - O moreno assentiu.

— Certo, certo. Mesmo assim, se cuide. E se precisar de reforço, me manda um sinal que eu desço do palco e vou te resgatar, entendeu?

— Com certeza. Obrigada, Henry. Agora - Apontei para a touca de oncinha - tenho que tirar esse produto da cabeça. Me dê alguns minutos, okay? - Sorri e entrei no banheiro. Lavei o cabelo com o chuveirinho, o que levou algum tempo. Quando desliguei, observei que o espelho e os vidros estavam embaçados. Me aproximei do box e desenhei as runas que vieram à minha mente, em seguida saí, me enrolei novamente nas toalhas e segui até o meu quarto. Olhei para a minha cama: Henry havia separado uma roupa para mim, e respirei fundo. Dei de ombros, coloquei as peças que ali estavam - um conjunto de lingerie preta rendada, meia-calça escura fosca, uma minissaia de couro, botas de couro pretas até o joelho com saltos e uma blusa curta cropped escrito "Kitten".

Coloquei todas as peças exceto a minissaia, que troquei por um shorts jeans preto. Sequei o cabelo com a toalha, depois passei o protetor térmico e sequei com o secador, àquela altura do campeonato o meu estômago já estava disputando com o secador para ver quem fazia o barulho mais alto. Impacientemente terminei de secar o cabelo, acabei deixando-o úmido devido à minha pressa e finalmente saí do quarto. Fui até a mesa do café e encontrei Lucas comendo como um porco, Henry revirando os armários em busca de bebida e Sigyn fazendo mais waffles na cozinha. Nem sinal do Loki. Olhei para o Henry:

— Você disse que tinha mais dois caras na mesa do café da manhã, Henry. Só estou enxergando um.

— O Thomas disse que vai passar o dia fora. - Disse Luke, após comer um cookie. Franzi o cenho. Loki estava se escondendo, não podia dar-se ao luxo de ser visto por ninguém.

— Sage, você está sabendo disso? - Olhei para a ruiva, que estava concentrada no aparelho de waffles. Ela anuíu.

— Sim, estou. - Seu olhar se dirigiu ao meu. - Ele estava meio estressado, então sugeri que fosse dar uma volta para esfriar a cabeça. E qual o melhor lugar para se esfriar a cabeça senão New York? - Ela me dirigiu um sorriso doce, implicitamente me dizendo para não me preocupar.

— O Alasca? - Sugeriu Lucas, e a ruiva revirou os olhos, o que o fez rir. Sorri olhando de um para o outro. Certo, eles não se suportavam, mas não chegavam a ser totalmente opostos um ao outro.

— Certo, vamos ao que interessa. - Henry sentou ao meu lado, jogou seu cabelo para trás e me encarou seriamente. - Você precisa de um plano.

— Preciso, é? - Ergui uma sobrancelha enquanto enchia meu copo com suco de laranja.

— Sim. E eu vou te ajudar com isso.

— Como exatamente você pretende me ajudar? - Bebi um gole de suco enquanto Henry me entretinha.

— Te ensinando a conquistar o cara, óbvio. - O encarei, depois de alguns segundos de silêncio.

— Oi?

— Lição número um: contato visual. Entendo que sua timidez faz parte do seu charme, mas dessa vez deixe o cara ter uma boa visão desses seus lindos olhinhos verdes e brilhantes, entendeu?

— Não me lembro de ter pedido a sua ajuda. - Retruquei, mas ele me ignorou totalmente.

— Lição número dois: sorriso. Mas não aquele seu sorriso de Chucky, nem o tipo de sorriso falso que te deixa parecendo uma psicopata. Acho que seu sorriso natural já é o suficiente. - Eu estava me segurando para não rir da seriedade com que Henry falava sobre aquilo.

— Entendi. - Peguei um cookie e o mordi.

— Lição número três: toques. "Toques", no plural. Nem que sejam sutis, mas você tem que demonstrar que está interessada.

— Não, isso não. - Neguei com a cabeça, e comecei a rir.

— Katherine. - Para a minha surpresa, quem estava me chamando era Sigyn. Parei de rir de imediato e direcionei meu olhar a ela. - Acho que você deveria escutar o Henry.

— Eu não vou seduzi-lo. - Discordei automaticamente.

— Ele não é como Tyler. - Disse Luke. - Vocês não vão ficar juntos se não se esforçarem para que isso aconteça; não vai ser algo automático ou natural como foi com Jackson. - Bufei e olhei para Henry.

— Certo, vamos tentar do seu jeito. Toques. - Fiz uma careta, pensando no quão vermelha eu ficaria quando/se eu segurasse a mão do Vingador de cabelos brancos. - E depois?

— Lição número quatro: atenção. Essa provavelmente é a mais importante de todas. Você tem que estar atenta às situações que virão, mas acho que se sairá bem nisso. Pelo menos o ambiente é favorável. É muito difícil ter suas intenções mal interpretadas quando se está em um local mais sociável. - Por um momento eu, Luke e Sage ficamos encarando o Henry sem dizer uma palavra. - O quê? Eu faço minhas pesquisas também, além da minha experiência pessoal. O homem tem que evoluir, certo?

— Continue, Henry. - O tom na voz de Sage era de reclamação.

— Bom, você também tem que se esforçar para que ele mantenha os olhos em você. Lição número cinco: movimento. Não tem a ver com dança, mas algo mais suave. Uma mexida no cabelo, um cruzar de pernas; movimentos leves para que ele perceba o porquê de você estar lá.

— Acho que esse é o mais fácil. - Comentei, refletindo sobre tudo o que Henry havia dito até o momento.

— Sim, mas não exagere. - Alertou ele. - Se exagerar em qualquer uma das lições, vai parecer uma maluca.

— Então por que me ensinou isso, se você sabe que exagero quando fico nervosa?! - Questionei em pânico.

— Fique calma, vou te ajudar a praticar depois. - Ele deu um tapinha incentivador/tranquilizador em meu ombro. - Depois da última lição, e essa será a mais difícil, principalmente para você.

— Fala logo, Henry! - Já conseguia sentir a ansiedade me corroendo por dentro.

— Lição número seis: flerte. - Suspirei:

— E lá se vai a pouca esperança que eu tinha...

— Na verdade, é bem simples. Mas como você quer algo que vá além de uma noite de loucura e sexo, vou te dar a versão light. Converse normalmente, demonstrando que está interessada nele. Faça perguntas, sempre lembrando de atrair a atenção dele de maneira sutil. - Henry segurou a minha mão e sorriu. - Tenho certeza de que vai se sair muito bem, Katherine. - Não consegui me conter e praticamente pulei para seus braços, abraçando-o.

— Muito obrigada, Henry. Fico feliz em saber que você estará lá para me socorrer. - O moreno riu.

— Pode contar comigo, Little Kohls. - O celular de Henry vibrou, ele checou do que se tratava e o sorriso desapareceu de seu rosto. - Essa não.

{...}

Quando cheguei às instalações da SHIELD, todos estavam agitados. Uma pequena multidão havia se formado perto da entrada, e franzi o cenho. O que estava acontecendo?

— Aposto cinquenta pratas na Feiticeira Escarlate. - Comentou um cara.

— Fechado. E eu aposto cem na Viúva Negra. - Respondeu o outro.

— Vou tentar descobrir o que está acontecendo. - Disse Luke, e eu assenti.

Me apressei em seguir até a sala de treinamento, para ver se o Steve não estava lá e avisá-lo de que teria que ajudar um amigo em apuros (Henry recebeu uma mensagem de última hora de Scar, Kyle havia batido o carro com alguns instrumentos, que foram arruinados. Eu iria com Luke escolher novos enquanto Henry iria até o hospital para verificar a gravidade do estado de Kyle). Eu nem sequer havia levado minha roupa para o treino; apenas explicaria pessoalmente e iria embora. Steve havia acabado de sair do elevador.

— Steve! - Fui até ele, que parecia bem irrequieto.

— Pois não, Kate?

— Não vou conseguir ficar aqui hoje, um dos membros da banda do meu amigo sofreu um acidente e está no hospital.

— Ele está bem? - Perguntou Steve, preocupado.

— Eu não sei. Mas eles perderam alguns instrumentos e tenho que comprar novos. O Luke também...

— Hey, Steve, apostei cinquenta pratas em você. - Um homem nos interrompeu e deu um tapinha no ombro de Rogers. - Não me decepciona, cara. - Franzi o cenho, o agente apenas me dirigiu um sorriso e se afastou.

— O que está acontecendo? - Perguntei ao Capitão, e ele respirou fundo.

— Hoje é o treino prático dos Vingadores. Organizamos pequenas lutas para fortalecermos nossas habilidades. - Explicou, ergui as sobrancelhas levemente surpresa. Isso explicava todo o alvoroço e as apostas. - Katherine, eu queria mesmo falar com você, é sobre o treinamento. - Assenti e cruzei os braços.

— Prometo que vou compensar o dia de hoje, é só que realmente houve um imprevisto... - Rogers segurou o meu braço.

— Não, não é isso. - O loiro parecia procurar as palavras certas. - É que... O seu treinamento e o de Lucas se tornarão mais intensos. E os colocaremos em campo em algumas semanas. - Paralisei.

— Em... Campo? - Murmurei, chocada. Luke e eu mal havíamos começado. Se não fizéssemos tudo direito, o que aconteceria? Poderíamos acabar mortos. De repente me recordei de meu pesadelo com Kitty, quando ela trajava o uniforme da SHIELD e a forma como prontamente atendeu as ordens de Loki... Não. Eu não permitiria me tornar nada além de uma assassina fria, assim como não permitiria me tornar uma mera marionete nas mãos de alguém, Loki ou qualquer outro.

— Não estarão sozinhos, é claro. - Continuou o Vingador. - A equipe também estará com vocês.

A NOSSA PRIMEIRA MISSÃO SERÁ COM OS VINGADORES?!— Me sobressaltei ao ouvir o grito de Luke, que logo apareceu ao nosso lado. De onde raios ele havia surgido? Ele tinha um brilho infantil nos olhos, e sua expressão era de ansiedade e esperança. Como uma criança prestes a abrir o presente na manhã de Natal. Steve lhe dirigiu um breve sorriso.

— Sim, e também estava explicando à Katherine que o treinamento será um pouco mais puxado para que vocês consigam acompanhar o ritmo. - Lucas se virou para mim com um grande sorriso:

— OUVIU ISSO, KATE?! - Sorri pela empolgação dele. Aquele era um dos motivos pelo qual Luke era meu melhor amigo; ele podia até ser todo responsável e me repreender de vez em quando, mas no fundo sabia que ele era tão infantil quanto eu. O brilho em seus olhos deixava isso cristalino.

— Sim, ouvi. Vai ser demais! - Ele esticou a mão com a palma virada para mim, bati nela no mesmo instante e gritamos, preenchidos pela empolgação:

High five!— E rimos por um tempo pela expressão perdida de Steve Rogers. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. A última vez em que fizemos esse cumprimento, fora antes de tudo acontecer - antes da SHIELD, dos Vingadores, do Loki -, quando éramos apenas eu e o Luke, meu melhor amigo que nunca me abandonara, não importando o quanto as coisas ficassem difíceis. Quando olhei em seus olhos naquele momento, não pude deixar de me emocionar ao perceber que ele continuava exatamente o mesmo, e que sempre estaria comigo quando eu precisasse. Estávamos naquilo juntos.

— Temos que ir, Kate. - Alertou Lucas, em seguida nos despedimos de Steve e seguimos até a nossa tarefa.

{...}

Concordo com você sobre a Fender. De que cor ela é?

— Passou no meu teste, Henry. - Informei-o apoiando o celular entre meu ombro e minha orelha enquanto carregava algumas sacolas. Lucas estava abarrotado de coisas, incluindo o estojo da guitarra, pratos e tons novos para a bateria, além da pedaleira nova que compramos para substituir a que fora arruinada. As compras ficam bem mais práticas quando se tem um amigo viciado em musculação para carregá-las para você.

Hm. Certo. Obrigado por fazer isso por mim, Kate, realmente significa muito.— O britânico parecia agitado.

— Imagina, Henry. Era o mínimo que eu poderia fazer numa situação dessas. Como está o Kyle?

Respirando e com o coração batendo. Está dormindo agora, os médicos disseram que a pancada foi forte, mas surpreendentemente não causou nada grave. Sem sequelas, eu acho.— Soltei um suspiro de alívio.

— Ainda bem. Mande um beijo para ele por mim.

Pode deixar. E Kate?

— Sim? - Lucas abriu o porta-malas do carro, deixei as sacolas no chão e comecei a ajudá-lo a organizar as compras.

Preciso de outro favor seu. E não me mate pelo que pedirei.— Respirei fundo, já sabendo do que se tratava. Pelo que havia acontecido, não daria para cancelar o show em cima da hora porque todos eles precisavam do dinheiro, mas Kyle não poderia tocar naquela noite. O interrompi antes que Henry prosseguisse:

— Conheço a pessoa perfeita para substituir Kyle enquanto ele não se recupera. Vou enviar uma mensagem. Não se preocupe, vai dar tudo certo esta noite. - Tentei tranquilizá-lo, pois sabia que ele já ficara bem estressado pelo ocorrido.

Obrigado, Katherine. De verdade. Não sei o que faria sem você.

— É uma honra poder ajudar, Henry. Tenho que desligar, ainda temos mais algumas lojas para ir.

Até breve, Kate. Sejam cautelosos.— Franzi o cenho pelo seu tom de voz. Fora apenas um acidente no trânsito, poderia ocorrer com qualquer um; porque ele estaria falando daquela maneira? Era quase como se ele soubesse que algo assim pudesse ocorrer a qualquer momento.

— Tchau, Henry. - Encerrei a chamada, fechei o porta-malas e entrei no lugar do passageiro. - Estou preocupada com o Henry. - Disse enquanto colocava o cinto de segurança. Engoli em seco, refletindo sobre as viagens que Henry sempre fazia, todas de curta duração, ele ficava em um lugar por três dias, no máximo. E se ele estivesse envolvido em algo perigoso? Conhecia-o o suficiente para saber que ele seria bem capaz de lidar com algo desse tipo, por trás da fachada de rockstar playboy havia uma mente brilhante.

— Achei que fosse Kyle quem sofreu o acidente.

— E foi. Mas mesmo assim... Henry estava estranho.

— O amigo dele quase morreu em um acidente de carro, Kate. Não espera que ele fique indiferente em relação a isso, certo? - Lucas deu a partida no carro e saiu da vaga.

— Não é o que estou querendo dizer. - Luke olhou rapidamente para mim e suas mãos seguraram o volante com mais força.

— O que você acha que é?

— Acredito que ele estava nos alertando. Como se algo pudesse de fato acontecer com a gente. Como se o acidente... Não tivesse sido um acidente. - O loiro arregalou os olhos.

Que merda!— Amaldiçoou entredentes. Ele estava irritado, enquanto eu conseguia sentir o pânico se enrolando em mim, como uma maldita serpente peçonhenta. Ele respirou fundo. - Certo, não quero que fique nervosa... Mas acho que você pode ter razão.

O quê?— O encarei, pasma. - Eu precisava que você refutasse minhas paranoias, Lucas, não que as confirmasse! - Olhei nervosamente pela janela do carro, porém o loiro estacionou na primeira esquina e deixou o carro ligado. - Por que paramos? - Me virei para encará-lo. A expressão em seu rosto era de seriedade, com um leve toque de irritação.

— Katherine, acalme-se. Não pode se dar ao luxo de se acobardar e dar meia volta ao primeiro sinal de perigo iminente. Seremos agentes da SHIELD. Devemos agir como tais. - O garoto colocou sua mão sobre a minha, coisa que ele sempre fazia para me acalmar. - Enquanto estivermos juntos, ninguém irá nos ferir. Lembre-se disso. - Sorriu brevemente, e me agarrei àquele momento com todas as minhas forças, para guardar suas palavras em minha memória para sempre. No instante seguinte, Singer retornou à sua máscara de seriedade, retirou sua mão da minha e me olhou profundamente. - Até o mundo acabar, nós vamos continuar agindo como se ele estivesse girando. Ouvi a conversa. Você tem uma mensagem a enviar e eu tenho que entregar tudo isso para Scarlett.

Assenti lentamente e o loiro logo voltou a dirigir. Peguei meu celular e enviei a mensagem, esclarecendo o que havia acontecido e o que precisaria ser feito. Quando terminei de combinar os detalhes, enviei uma mensagem ao Henry.

O substituto chegará no palco às 17:30.

{...}

Cabelo, maquiagem, unhas, roupa, sapato, acessórios (com "s" no final, Sigyn fez questão de ressaltar), celular, e antes de tudo, o instrumento de tortura criado por Lúcifer pessoalmente: depilação. Mas claro que isso não é nada comparado ao famigerado instrumento de tortura demoníaco conhecido como "cólica sem remédio". Porém, isso é outra história que não se encaixa no contexto "preparação para o encontro com seu crush Vingador". Em minha defesa, foi a deusa nórdica da fidelidade (vulgo Sigyn, ou Sage, para os humanos que conhecem a ruiva somente por esse nome falso) que escolheu essa definição para a minha situação.

Agradeci aos céus por Sonny, meu vizinho, ter viajado e pela nossa outra vizinha, senhora Murray, ser surda; caso contrário já teriam chamado a polícia para invadir o apartamento devido aos meus gritos de tortura. O motivo deles? Sage estava depilando as minhas pernas na sala de estar.

— Katherine, se você ficar parada, vai doer menos!

DOER MENOS?!— Minha voz estava ficando rouca devido aos gritos e meu corpo já estava seco e desidratado de tantas lágrimas que já havia derramado. Ela puxou outra tira de papel lambuzado com cera, mais um grito escapou. - SIGYN, VOCÊ VAI APODRECER NAS PROFUNDEZAS DE HELL, E ESPERO QUE HELA TE TORTURE EXATAMENTE ASSIM! - Esfreguei uma mão em minha perna para aliviar o formigamento enquanto a ruiva seguiu para a a área da cozinha.

— Hela provavelmente seria mais impiedosa. - Uma voz masculina se fez presente. Olhei para trás e encontrei as familiares orbes do deus da mentira me encarando. Ele vestia roupas midgardianas, fiquei surpresa com como elas caíam bem nele. Extremamente bem. Limpei minhas lágrimas nas mangas da camisa rapidamente.

— Há quanto tempo está aí? - Questionei, tentando ignorar o formigamento em minhas pernas.

— Pouco tempo. - Loki respondeu, em seguida ouvi um miado e virei um pouco mais a cabeça. Loki estava se esfregando na perna do deus da mentira e ronronando. O moreno pareceu surpreso e levemente intrigado pelo comportamento do animal. Ele dirigiu ao gato o mesmo olhar que geralmente dirigia a mim, como se estivesse tentando desvendar o que se passava na cabeça do bichano. Um riso baixo escapou dos meus lábios e o deus nórdico ergueu a cabeça abruptamente e franziu o cenho para mim.

— Ele gostou de você. - Ele ergueu as sobrancelhas e voltou a encarar o gato, com um olhar mais suave e... Espera, aquilo era um sorriso? O encarei por um momento, embasbacada. Loki estava sorrindo? Pisquei duramente algumas vezes para ter certeza de que não estava imaginando coisas, e para a minha surpresa, eu não estava. Um pequeno sorriso adornava os lábios de Loki enquanto ele olhava para o meu gatinho. - Pegue-o. - Orientei, e o deus fez exatamente como eu disse. Me levantei e caminhei até ele, acariciei a cabeça do gato com um pequeno sorriso. - Viu? Eu disse que ele gostou de você. - Loki estava entretido com a bola de pelos preta que estava estirada em seus braços, porém logo o vi erguer suas orbes verdes e fixá-las em mim. Observei-o, esperando que sua expressão revelasse seu humor, mas ele se manteve impassível por muito tempo.

— Por que está fazendo isso? - Ele perguntou, e não consegui identificar ao certo o que ele sentia pelo seu tom de voz. Franzi o cenho acariciando a cabeça do animal:

— Isso o quê?

— Por que não está me afastando, ou me tratando como um estranho? Por que está se aproximando de mim? - Parei por um instante para considerar suas palavras. Ele era um assassino frio, um deus que não devia estar em Midgard e que era perseguido e odiado por muitos. O correto seria que eu o entregasse aos Vingadores, ao Thor, para que ele pagasse por tudo o que havia feito. Desde que o conhecera, sabia que deveria fazer isso. Porém, não era o que eu queria. Primeiro eu acreditava que não o entregaria apenas para me vingar dele em meus próprios termos, sem que ninguém me impedisse. Mais tarde compreendi que não era mais a vingança que me impedia de dizer a verdade, mas sim a minha curiosidade. Eu queria saber mais sobre Loki, além dos livros que havia lido e das histórias que conhecia. Queria conhecer o homem por trás da lenda.

— Para ser honesta... Acho que você é uma das pessoas mais interessantes que já conheci. - O moreno parou de acariciar o gato e desviou o olhar do meu, e podia jurar que ele estava com as bochechas coradas. Certo, eu o havia pego de surpresa mais uma vez.

— Não me surpreende. Seu círculo social deve ser minúsculo. - Respondeu com certa arrogância. Revirei os olhos.

— Para a sua informação, eu já conheci muitas pessoas interessantes, dentre elas, bailarinos, coreógrafos e até mesmo patinadores do gelo. - Cruzei os braços, me gabando.

— Eu deveria estar impressionado? Isso não significa nada para mim.

— Do que vocês estão falando? - Sigyn perguntou, se aproximando de nós dois.

— Estava contando a ele que Nikolai fazia parte do balé Bolshoi e que o filho dele é um patinador do gelo. - Loki ergueu uma sobrancelha, ao passo que Sage sorriu:

— Sim, isso é verdade. Mikhail Duskin, o vi competindo nos Jogos Olímpicos de Inverno, ele patinou Paint It Black, dos Stones. - A ruiva ergueu uma sobrancelha para mim. - Por um acaso não teria um dedinho seu nisso, teria, Kate?

— Se eu assisti uma apresentação do Stéphane Lambiel e disse ao Mik que dá para fazer uma coreografia boa pra caramba com essa música? - Abri um amplo sorriso. - Mas é claro que sim.

Loki encarou Sigyn por um tempo, em seguida se virou para mim.

— Você o considera como sua família, então? - Franzi o cenho. O deus nem sequer conhecia Mikhail, como ele poderia saber de uma coisa dessas?

— Como sabe disso? - Perguntei, levemente assustada.

— Ele leu a minha mente. - Sigyn esclareceu. - Mais especificamente, as minhas memórias com o Mikhail. - Ergui uma sobrancelha e ela deu de ombros. - Eu meio que já me acostumei com isso. E também entro na mente dele de vez em quando.

— Nos conhecemos desde crianças. Minha mãe fez alguns amigos na companhia de balé, Nikolai é um deles. E também Eloise. Até hoje os três são praticamente inseparáveis, e, por causa disso, acabei conhecendo o Mik e a Cece. - Expliquei com um sorriso. Aquela com certeza era a minha família, sentia isso em meu coração.

— Tens muito apreço por eles, creio eu. - Loki disse em um tom analítico. Assenti.

— Sim, eles são importantes para mim. - Olhei para Sigyn. - Então, estou liberada?

— Mas é claro que não. Ainda temos que te arranjar um vestido bonito, tenho que pensar em um penteado, sem contar a maquiagem! - Respirei fundo e o deus nórdico franziu o cenho:

— Por que a está aprontando, Sigyn? - A ruiva abriu um amplo sorriso:

— Loki, não vais acreditar! Katherine tem um encontro! - O moreno franziu o cenho.

— Um... encontro? - Ele parecia estar processando a ideia, de fato, não parecia compreender do que se tratava. - Poderia me explicar isso, por gentileza? - Pediu a mim, foi então que me recordei que ele não era da Terra.

— Um encontro é... Quando duas pessoas se encontram em um lugar agradável em uma data marcada e... Elas conversam sobre o que gostam, o que não gostam e analisam o que têm em comum e o que não têm. - Dei de ombros, enquanto ele permanecera com o cenho franzido. A julgar pela sua expressão, eu não havia esclarecido suas dúvidas.

— Ela se encontrará com um pretendente, Loki. - Indagou a deusa. O asgardiano me encarou atônito por um momento.

— Oh. - Murmurou, em seguida piscou e ajeitou sua postura, desviando o olhar de mim. - Obrigado pelo esclarecimento. Com licença. - Entregou o gato à minha amiga e caminhou a passos largos até seus aposentos. O assisti ir, não compreendendo o motivo. Aquilo o incomodava? Balancei a cabeça com tal pensamento. Bobagem. Ele devia apenas estar concentrado em algum projeto e não tinha tempo a perder.

— Muito bem, vamos continuar. - Sage nem sequer me deu tempo para respirar, me guiou até o banheiro, separou todos os produtos que queria que eu usasse e me explicou como utilizar alguns, em seguida me deixou sozinha e segui suas orientações. Mal me enrolei em um roupão e saí do banheiro, a deusa da fidelidade já me puxou pelo braço até seu quarto, exibindo com orgulho a roupa que havia designado para mim. Era um vestido branco com flores amarelas e vermelhas. Sorri, sentindo-me aliviada por não ser algo vulgar ou extravagante. Sigyn tinha um bom gosto notável, e me senti infinitamente grata por tê-la como amiga.

— Comprei-o assim que soube de seu encontro. - Anunciou com orgulho. - Juntamente com as sandálias de salto e com uma nova base para o seu tom de pele. - Estava verdadeiramente emocionada. Sempre que me sentia desnorteada, a ruiva me auxiliava, me guiando com seus conselhos sábios. Virei-me para ela e a abracei.

— Muito obrigada, Sage! Não imagina o quanto isso significa para mim! Estaria perdida sem você! - Despejei as palavras em cima dela abraçando-a fortemente, logo ouvi o tilintar de sua risada perfeita e seus braços também me rodearam, retribuindo meu abraço.

— É sempre uma honra, Kate. Agora vamos logo, eu tenho que te deixar, no mínimo, magnífica.

{...}

Observei ansiosamente pela janela, o pôr do sol parecia se estender sobre as fachadas dos prédios da colossal cidade de New York, a Torre dos Vingadores era visível ao longe, como um aviso iminente a todos os bandidos que remanesciam à espreita. Era como um símbolo de esperança, coragem e proteção. Mais que isso - representava a união daqueles designados como super heróis. Passaram a inspirar as pessoas mais ordinárias a fazer o que é certo.

— Katherine? O que está fazendo? - Virei-me e o observei em silêncio por alguns momentos. O deus não pareceu se importar, apenas aguardou pacientemente minha resposta.

— Por que sempre se ausenta? - Questionei sem pensar.

— O quê? - Ao que parecia, o havia pego desprevenido. Logicamente, me aproveitaria desse fato.

— Você me odeia? Me acha repugnante a ponto de nem sequer tolerar a minha presença? Minha existência o insulta tanto assim? - As perguntas pareciam jorrar de minha boca, revelando minha insegurança interior. Havia mantido minhas dúvidas por muito tempo, principalmente aquelas sobre Loki, porque não queria pressioná-lo; porém, não suportaria mais não saber como ele se sentia em relação a mim.

Para a minha angústia, o homem permaneceu calado, com o olhar fixo no meu, uma expressão de surpresa cobria seu rosto. O deus nórdico da mentira gostava de estar sempre no controle, em todos os aspectos. Espontaneidade não era de seu perfil, apesar de sua criatividade para artimanhas. Sabia que o havia pego com a guarda baixa, mas mesmo assim, não esperava que sua reação fosse tão espontânea, não quando ele era uma pessoa omissa de sentimentos e calculista em seus atos. Loki se aproximou e segurou minhas mãos em um gesto apressado como que para fazer minhas dúvidas cessarem. A expressão em seu rosto era de seriedade, contudo um brilho desesperado reluzia em suas orbes verdes.

— Não a odeio. - Começou, quando percebeu que havia capturado minha atenção completamente. - Sua existência não me ofende de maneira alguma. Não a repugno. Como poderia, se és a luz para a minha escuridão? - O homem sorriu. Naquele instante senti como se o tempo houvesse parado diante de tal frase. A luz para sua escuridão? Era como ele me via? Loki me enxergava como uma salvadora, então? Alguém que o guiaria para o caminho certo?

Soltei minhas mãos das suas rapidamente. Aquela não era eu. Apesar deste ser o meu destino, não conseguiria desempenhar tal papel, era exigir muito de mim. Com Kitty à espreita, não poderia me comprometer a ajudá-lo de corpo e alma; temia pelo que ela seria capaz de fazer contra ele. Queria protegê-lo de mim mesma.

— Acredito que esteja me confundindo com outra pessoa, Loki. - Doeu. Fisicamente, aquelas palavras doeram. Sabia que não seria o suficiente para que ele desistisse, então prossegui. - Eu não sou uma luz ou uma salvadora, sou apenas um ser humano. E... - Respirei fundo, juntando toda a minha coragem. Como ele poderia entender? Queria protegê-lo, mas não poderia porque era perigosa. Ele estava quebrado demais para que eu permitisse me arriscar a machucá-lo. - Humanos e deuses não devem ficar juntos.

Um silêncio mortal decaiu sobre a sala. Nossos olhares se encontraram. Nada mais precisava ser dito, nada mais poderia ser feito. Sem dizer mais nenhuma palavra sequer, Loki deu as costas para mim e foi para o quarto de hóspedes.

Meu olhar estava fixo no corredor pelo qual ele havia ido, quando me dei conta, estava com as mãos fechadas apertadas em punhos e o lábio inferior trêmulo. Loki me afetava tanto assim? Ou era mais a ideia de tê-lo ferido? Por que ele havia dito tudo aquilo, afinal? Eu havia tido uma recaída, mas ele era um ser contido e inteligente. Mais do que isso, ele era um manipulador.

Foi então que percebi o que havia acontecido. Meu lábio parou de tremer e minhas mãos voltaram ao normal, estendidas ao lado do corpo. Eu estava totalmente atônita, pasma com o que tinha acabado de notar - Loki havia me manipulado. Ou, pelo menos, havia tentado me manipular. Sabia de meu instinto protetor e de minha boa vontade de ajudar, então se aproveitou disso, além de se aproveitar de minhas inseguranças. Aquilo foi baixo, porém era como ele fazia. Todos os livros que havia lido sobre ele não faziam jus à original mente manipuladora do trapaceiro - ele conseguia ser bem pior. Não poderia fraquejar em nenhum momento; caso contrário, Loki me teria como um fantoche em suas mãos.

— Kate? – A voz de Sigyn estava bem atrás de mim. Eu ainda estava desnorteada pela atitude do deus da mentira, principalmente por ter descoberto a naturalidade com a qual ele exercia seu papel; afinal, ele era um ator. A ruiva apareceu em meu campo de visão, em seguida tomou minha mão entre as suas com um suspiro exasperado. Ela era amiga dele, provavelmente a única. Como conseguia, sabendo que ele poderia manipulá-la a qualquer instante? – Na primeira vez, sempre é mais difícil, eu sei.

— Primeira... Vez? – Pisquei a encarando. Ela havia conseguido capturar a minha atenção.

— É, a primeira vez que você percebe que ele mentiu para você. – Soltou minha mão. – É como se você sentisse o seu elo de confiança se partindo. E dói. – A deusa cruzou os braços, o que significava que se sentia desconfortável abordando tal assunto. Aquilo instigou ainda mais a minha curiosidade.

— Ele tentou me manipular. Não era para eu ter percebido. – De certa forma, ainda estava em choque. Em minha mente, Loki e eu éramos parecidos, e ele estava só um pouco mais quebrado, como o Henry. Sua tentativa de manipulação mostrava que eu o havia julgado de maneira errada, havia esquecido que ele era um estrategista trapaceiro. Não sabia como agir com aquela informação. Olhei para a deusa, que parecia aguardar pacientemente as minhas reações. – Como consegue? – Ele já a havia traído alguma vez? Por que ela se mantinha ao lado dele? Sigyn apenas me dirigiu um pequeno sorriso.

— Se eu te dissesse, você provavelmente não acreditaria, mas... – Ela fixou o olhar no meu. – Ele não é tão mau quanto parece. – A ruiva começou a arrumar o meu cabelo com calma enquanto falava, seu tom de voz deixava claro que ela era uma anciã. – Loki é uma criatura curiosa. É habilidoso, inteligente e criativo. Não é apenas um mentiroso ou um traidor. Às vezes, você só tem que aprender a lidar com ele.

— Está sendo simplista demais, Sigyn. – Reclamei, o que a fez sorrir.

— Sim, estou. – Seu rosto se contorceu em uma expressão travessa. – Sou a deusa da fidelidade, Katherine. Não vou contar os segredos de meus amigos, jamais. Suponho que saiba disto. – Assenti lentamente, refletindo sobre suas palavras. Loki era uma incógnita, até mesmo para as pessoas que o conheciam há séculos. Sage me segurou delicadamente pelos ombros com um sorriso amável. - Não se preocupe com isso agora. Vai poder dançar a noite toda com o seu príncipe, não deixe que isto afete seu humor.

— Sabe muito bem que não sei dançar, ruiva. -  Afirmei, a sobrancelha erguida.

— Se ele for um cara legal, fará questão de não notar. - Me dirigiu uma piscadinha marota, o que me fez rir levemente. Ouvimos a buzina tocar em seguida, a deusa observou pela janela e assentiu.

— Certo. Obrigada... Por tudo. - Peguei minha bolsa e segui até a porta.

— Kate. - Virei meu rosto em sua direção. - Não dê ouvidos a nada que o Henry te ensinou. - Assenti, suprimindo um sorriso de gozação.

— Entendi. Boa noite. - Abri a porta e saí em seguida, sentindo o nervosismo se apoderar de mim. Não sabia o que esperar, e aquilo era amedrontador e excitante ao mesmo tempo. Quando me dei conta, já estava parada alguns metros em frente ao Vingador de cabelos platinados. Sendo bombardeada por mil e um sentimentos diferentes, pensamentos acelerados distintos e sentindo um frio na barriga repentino ao fitar os olhos azuis de Pietro, me aproximei para cumprimentá-lo com um sorriso em minha face.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Muito obrigada por lerem Liars and Killers!