POV Ally

Hoje o dia não começou bem. Assim que acordei, lembrei da conversa que tive como Austin e a pouca alegria que restava em mim se foi. Sei que não é o mais correto para ele, mas eu preciso de tempo e espaço para pensar. Não quero tomar decisões precipitadas nem criar falsas esperanças.

Pode parecer que não, mas também está a ser difícil para mim. Por alguma razão sinto a sua falta. De tudo. Da sua presença, do seu sorriso, da sua companhia, do seu ego, das suas tolices e teimosias.

Talvez seja por isso que não sei o que fazer. Talvez por pensar tanto nele não consiga tomar uma decisão, nem consiga esclarecer tudo na minha cabeça. Continua tudo muito confuso e nem sei o que fazer. Não vou dizer que não gosto dele, porque é uma completa mentira.

O bom é que o médico veio aqui e disse que muito em breve, talvez amanhã ou depois, poderei sair daqui. Vai ser tão bom sair deste hospital. Apesar do que já descobri sobre a minha mãe, vou ficar com ela. É a única pessoa que me recordo completamente e não acho correto continuar na casa do Austin. Muito menos depois da situação de ontem.

—Posso? - Ouvi e olhei para a porta, assentindo por fim.

—Jake certo?

—Sim. Bom saber que lembra do meu nome.

—Já tem sorte em lembrar do seu nome.

—Também só vim aqui uma vez quando acordou e não voltei mais. É razoável não lembrar!

—Não veio porque não quis! Nunca disse que não era bem vindo.

—Não disse, mas também não achei que me devia intrometer entre você e o Austin.

—Já não precisa se preocupar mais com isso! Mas agora não quero falar sobre esse assunto. Posso saber o porquê da sua visita?

—Vim ver uma amiga e saber se ela já lembrou das coisas. Talvez até a ajudar a lembrar.

—Nada sobre você se era isso que queria saber.

—Acredito que não. A única coisa que poderia se lembrar era do fora que me deu.

—A sério?

—Sim. Acho que nessa altura o Austin já estava interessado em você. Era bem visível o ciúme dele. - É incrível como tudo vai dar ao Austin. Será que conseguirei passar um dia sem pensar ou ouvir falar do loiro? - Vou contar para ver se você lembra.

—Você sofreu muito?

—Não. Nós tínhamos acabado de nos conhecer.

—Devia saber que não sou uma pessoa fácil!

—Obrigado por só me avisar agora! - Rimos e ele começou a contar.

—Eu até diria que nos conhecemos de uma maneira bem cliché! Esbarrámos um no outro na escola e acho que fiquei logo interessado em você. Mas como estávamos na escola tínhamos aula, então no intervalo decidi aproveitar para perguntar se queria sair comigo e você me deu um grande fora.

—Não acredito! - Falei um pouco envergonhada.

—Pois, mas acredite que é verdade. Eu morri de vergonha naquele momento. Só queria uma pá para cavar um buraco bem fundo e me colocar lá dentro. - Comecei a rir e ele riu junto. Coitado. Até eu sentiria vergonha se algo assim acontecesse comigo. Acho que nunca mais seria capaz de encarar a pessoa que me deu o fora.
 

—Hey Ally. - Diz o Jake me interrompendo aparecendo ao meu lado.

—Hey... Jake certo?

—Esse sou eu. - Responde e depois olhou para o Austin. - Oi Austin, como tem estado? - O Austin não disse nada. Ele olhou para mim e depois saiu com as mãos nos bolsos. Fiquei a observá-lo até que me lembrei do Jake.

—Então, Como vais?

—Bem. Eu estava pensando... Você quer... Não sei... Sair algum dia?

—Obrigada Jake, mas não.

—Porque não?

—Problemas de família... Eu... Eu tenho que ir. Tchau. - Digo afastando-me dele.

—Hum, okay. Tchau.
 

—Ally? Está tudo bem?

—Sim. Eu... Eu lembrei desse dia. Desse momento.

—A sério? - Assenti. - Ótimo. Já é bom ter lembrado de alguma coisa. Só falta se lembrar de tudo o resto.

—Eu também quero muito lembrar de tudo. As poucas coisas que me lembro só me deixam confusa e com mais perguntas e dúvidas.

—É o que dá não ter aceite a minha proposta. Não sei como resistiu. Eu não resistiria. Sou incrível!

—Que convencido! - Rimos e então lembrei de ontem com o Austin e do seu ego gigante.

Por alguma razão o meu olhar foi até a porta e percebi que o loiro estava ali, a olhar para mim. Logo de seguida desvia o olhar e desaparece.

—Oh não! - O Jake se levanta.

—Onde vai?

—Falar com o Austin!

—Não!

—Como não? Ele vai pensar tudo errado.

—Deixe pensar! - Segurei o seu braço o tentando impedir.

—Não sei o que há de errado com vocês dois, mas o Austin é meu amigo. Não quero que pense que estou a aproveitar que não se lembra das coisas para me aproximar.

—Por favor Jake. Será melhor assim.

—Só será melhor para você. Pode parecer certo, mas não é. Ele vai ficar magoado com um mal entendido. - Ele soltou o braço e saiu do quarto. Tenho um pressentimento que as coisas não vão correr bem.

Só queria que o Austin acreditasse no que estava a pensar que viu porque assim de certeza que já não iria querer nada comigo e assim não teria de se preocupar mais comigo. Não teria de se preocupar mais em ter de me ajudar, nem iria sofrer mais.

Pelo menos não como está a sofrer agora. Ficaria apenas desapontado e não triste, desanimado e em baixo como está. Parece que os problemas não param de aparecer. Primeiro não me lembro de coisas importantes. Segundo vem a minha situação com o Austin e agora isto. Já não sei o que fazer, como agir, o que pensar. Não sei nada.

Quanto mais tento e quero me lembrar das coisas, mais tempo levo para isso acontecer. Mais tempo leve para que toda esta tensão passe. Para que todas as dúvidas acabem. Sinto que me escondem muitas coisas e só quero saber a verdade.

Deixei os pensamentos de lado e sem pensar duas vezes, me levantei e segui o Jake até o quarto onde o Austin estava. Não sei bem se cheguei na hora certa ou se já era tarde. O Austin segurava o Jake contra a parede, que tentava explicar o que tinha acontecido.

—Você sabe bem o que estou a passar!

—Eu e a Ally só estávamos a conversar.

—Não é o que parece. Só estavam a conversar. O quê mais? Estão juntos e eu não devia saber?

—Eu só estava a tentar com que a Ally lembrasse de alguma coisa. Só estava a tentar ajudar!

—A tentar ajudar?

—Sim a tentar ajudar! Devia agradecer e estar feliz por eu o fazer! Não me quero intrometer e nem vou. Mas também não vou deixar de falar com a Ally só porque tem ciúmes! - E então o inesperado aconteceu. O Austin levantou o punho e acertou bem no rosto do Jake o fazendo cair pelo impacto.

O Jake apenas se levanta e logo depois é lhe acertado outro soco. Não perdi tempo e me coloquei entre os dois. Não podia deixar que isto continuasse. Ambos pararam e olharam para mim. Não me atrevi a mover em caso de voltar a acontecer o mesmo desastre e aí não os conseguirei separar.

—Você está a ser muito injusto.

—Talvez até esteja, mas não me arrependo! - Os dois olhavam perigosamente um do outro, e isso não me estava a agradava.

—Austin eu sei o quanto ama a Ally e o quanto toda esta situação dela não se lembrar piora tudo, mas não é descartando nas outras pessoas que vai melhorar. Muito menos nas pessoas que só querem ajudar!

—Sabe bem que o meu problema não é ter ciúmes e ver a Ally com outra pessoa, mas sim medo de a perder... O que a impede de se interessar por você e me deixar? Nada Jake!

—O que se passou aqui? - Me viro para a porta e vejo o Ashton e a Mia.

—Nada. Eu quero ficar sozinho.

—Austin...

—Por favor! Saiam! - Ele se virou e apoiou na cama. Apenas o observei e decidi que seria melhor o deixar sozinho.

Não saberia o que dizer se ficasse. Não saberia o que fazer para o acalmar. Acho que ele percebeu que errou, mesmo no fundo tendo as suas razões para agir como agiu. Até percebo que esteja chateado. Ontem o afastei de mim e hoje já estava a falar com o Jake como se nada tivesse acontecido.

Eu não sei como reagiria se estivesse no lugar dele, mas também não sei como reagir no meu. É complicado para ambos e acho que agora sim ele se vai afastar de mim. Já o magoei bastante mesmo sem intenção.

—Ally? - Ouvi me chamarem, fazendo com que voltasse à realidade. - Está tudo bem? - Pergunta a Mia e olhei para todos, vendo que olhavam para mim.

—Sim. Porque estão a olhar assim para mim?

—Porque você ficou aí parada no meio do quarto, a olhar para nada e sem reagir. Nós te chamámos várias vezes.

—Oh. Estava só a pensar. Desculpem! - Sorri envergonhada e percebi o olhar do Austin para mim.

—Vem. Vamos deixar eles dois sozinhos! - Diz a Mia saindo do quarto com o Jake e eu saí atrás. Fomos para o quarto onde estou e me sentei na cama.

Não sei bem como vai ser quando sair daqui. Não terei o meu pai e apesar de me lembrar da minha mãe, sei que vai ser estranho. Não me sinto muito confiante, mas será o melhor.

—Será que me podem explicar o que aconteceu ali?

—Não foi nada de especial.

—Nada de especial? Você e o Austin estavam prestes a saltar para cima um do outro e o seu rosto está lastimável!

—Não está assim tão mau.

—Não me interessa como está. Só quero saber o que aconteceu.

—Eu também. - A Mia olhou para o Jake e ele olhou para mim.

—O que foi?

—Porque o Austin reagiu daquele jeito? Aconteceu alguma coisa entre você que devemos saber? Estão chateados?

—Sim... Quer dizer não... Eu pedi tempo e que se afastasse para pensar. Estou confusa com coisas que aconteceram ontem e não quero dar falsas esperanças.

—Não admira que esteja tão mal. Depois de tudo o que já passaram isto não ajuda em nada. Acho que já estaria louco se a minha vida fosse como a dele. Problemas atrás de problemas, complicações e mais obstáculos.

—É verdade. E por mais que queira que ele tenha um pouco de paz, não é possível. Há sempre alguém ou alguma coisa que aparece e estraga tudo.

—Eu vou lavar o rosto. - Assentimos e o Jake saiu do quarto.

—O que aconteceu ontem com o Austin?

—Mas eu já...

—Eu sei que já contou, mas eu quero essa história bem contada.

—O dia estava como todos os outros. O Austin veio ter comigo e conversámos, mas... por alguma razão acabámos por nos beijar e eu lembrei de algumas vezes em que isso já aconteceu.

—Então ele contou a verdade?

—Sobre sermos namorados? Sim. Só que eu fiquei confusa, preciso tempo para pensar. Isto também não é fácil para mim.

—Então pediu tempo e espaço?

—Sim e custou muito, mas por fim ele aceitou e percebeu que era o melhor. Hoje o Jake estava aqui comigo e o Austin por alguma razão viu e toda aquela confusão aconteceu.

—Ao menos já está a lembrar. Não é de tudo, mas aos poucos chegamos lá.

—É. Espero que sim, porque sinto que as coisas não são as mesmas e sim bem diferentes daquilo que me lembro. Ainda por mais já não tenho o meu pai e agora tenho um irmão e uma mãe que escondia coisas de mim. Já nada parece normal.

—Acho que nunca foram normais.

—Se calhar esse é o meu problema. Pensar que são normais e depois me surpreendo.

—Quando vai sair daqui?

—Provavelmente amanhã. Porquê?

—Porque vamos sair. Passar a tarde juntas e iremos falar de quando nos conhecemos. Tenho a certeza que se lembrará de algo, por mínimo que seja.

—E se eu não lembrar? Não posso deixar que fiquem desapontados!

—Ally... Nunca ficaremos desapontados. Não é culpa sua ter perdido a memória. Você não se pode massacrar por isso e não pode pensar assim. Eu acredito que vai lembrar de tudo. Eu sei que vai, até porque o médico disse que com o tempo isso irá acontecer.

—Se acredita tanto, acho que também posso acreditar.

—Pode não, deve! E só para descontrair um pouco, começarei por contar como nos conhecemos.