P.O.V Emily

—Eu nem sei o que dizer – Rachel comentou atônica, surpresa e quase em choque – Ele esconderia isso de mim porque tem medo de eu estragar tudo? – pergunta a morena e lhe dou um abraço reconfortante.

—Ele sabe que você aprovaria a ideia, mas não quer arriscar, somente isso – explica Thor pegando em sua mão e concordo com ele – A culpa não é sua – ele afirma e Rachel concorda.

—Mas eles são tão jovens! Brianna vai ser adulta e ele ainda vai ter aparência de adolescente! – ela explica e olho confusa para Thor, que suspira cansado.

—Asgardianos crescem de maneira diferente dos humanos. Crescemos rapidamente quando crianças e amadurecemos tão rápido quanto, porém ao chegar aos dezesseis, esse crescimento desacelera e permanece assim por uns cem anos, até se tornar adulto – Thor explica e tento entender mais ou menos.

—Quando ela tiver trinta anos, ele ainda vai ter essa aparência de adolescente. Quando tiverem crianças, ele ainda vai ter essa aparência de adolescente. Até mesmo quando tiverem netos! Como alguém quer viver desse jeito? – ela pergunta e posso ver seus olhos acumulando lagrimas prontas para caírem.

Abraço Rachel e Thor também, e ela se põe a chorar ali mesmo, entre nós dois, tendo o seu coração de mãe massacrado por uma verdade dura e sofrida. Seu filho não teria uma vida normal.

—Mas pode ser que a metade midgardiana dele o faça amadurecer mais rápido – Thor argumentou e concordei com a cabeça – O amor deles é jovem, vai saber se moldar ao o que acontecer na vida deles – o loiro explicou e concordei com ele de novo.

—Eles vão ficar bem – digo e sei que isso não foi nada demais, mas era o máximo que eu podia dizer na hora.

—Mas e a Brianna? Você não acha que ela vai sofrer com isso também? – pergunta Rachel para mim com lágrimas nos olhos.

—Brianna é uma mulher já, sabe o que quer, bastante madura comparada a mim na mesma idade – e Rachel concorda e lhe dou um peteleco no braço – E é muito mais forte do que eu por dentro, ela vai saber lidar com isso – digo e ela concorda limpando as lágrimas e se levantando finalmente, sigo o seu exemplo e Thor também.

—Vamos voltar porque devem estar sentindo a nossa falta – ela avisa e concordo caminhando com ela de volta para o corredor.

Caminhamos com pressa de volta para o baile, entramos conseguindo não chamar muita atenção, entramos quase despercebidos, e bem a tempo para o discurso do Loki. E enquanto ele dizia o quanto estava orgulhoso por ser rei de um povo tão belo e leal, e o quanto Asgard estava forte e invejável para todos em volta, fiquei a beber ponche quietinha no meu canto. Até alguém se aproximar de mim.

—Preciso falar com você – sussurra Thor fingindo estar prestando atenção no discurso do irmão, que com certeza notou, nada passava despercebido pelo moreno.

—Rachel está bem? – pergunto preocupada e ele fica em pé lado a lado comigo tomando sua caneca de hidromel em paz.

—Sim, está, mas não é sobre ela que eu vim falar – ele responde e fico curiosa para saber de qual motivo ele está falando.

—Sobre o que então? - pergunto não escondendo a minha curiosidade, não preciso fazer isso com ele, afinal, o conheço desde que eu era adolescente.

—Você aprova mesmo esse casamento? - ele pergunta e dou de ombros, por enquanto não sabendo se aprovo de verdade ou não -Precisamos ter certeza, casamentos aqui não são como na Terra - ele explica e concordo com a cabeça sabendo disso.

—Ela teria que morar aqui, não é? - pergunto e ele afirma com a cabeça.

—Não podemos correr o risco de perder o próximo na linhagem. Erick será rei um dia, precisa estar aqui para aprender a exercer o papel de um - Thor sussurra para mim, disfarçando bem que estávamos falando um com o outro. Ele acena com a cabeça para alguém.

—Eu entendo. Mas a Brianna tem que saber disso, ao menos o seu filho sabe? - pergunto e Thor confirma.

—Ele sabe das obrigações desde que se entende por gente - ele completa e digo que entendo -Ele sabe de todas as obrigações que Brianna vai ter cumprir quando chegar a hora, e se ele acha que ela vai concordar, é ele e sua filha que sabem - ele responde enquanto maneio com a cabeça já imaginando Brianna morando aqui por anos e anos, e principalmente, longe de mim. Meu peito se peito se aperta só de pensar na possibilidade.

—Espero que até lá, ela fique menos rebelde -  sussurro para mim mesma, mas que era para ser somente um pensamento.

—O quê? - Thor pergunta não escutando o que eu disse, e provavelmente bem curioso.

—Nada não. Mas isso contando que eles durem mais que um mês - digo e Thor comprime os olhos não entendendo bem o que eu estava falando - Os dois são jovens, com responsabilidades na cabeça e bem novatos na área de relacionamentos.

—Mas você e o Steve também não tinham experiências - Thor argumentou e concordo com ele, mas pergunto como ele sabia disso - Rachel me contou agora - explica fazendo tudo ter mais sentido.

—Então ela concorda comigo? – perguntei e ele afirma -Não me surpreende depois da reação dela no jardim – comento e o loiro concorda, afirmando que eu estava certa.

—Rachel é muito apegada a Erick, mas ela sabe que isso um dia teria que acontecer – Thor afirma e concordo com ele. Erick não seria para sempre bebê da Rachel, ele cresceu, mas uma pena que ela não pode aproveitar como eu aproveitem com as minhas filhas, crianças asgardianas crescem muito rápido.

—Mas seja sincero comigo, Thor – peço e ele afirma com a cabeça, mas não esquecemos de nos manter discretos – Você não preferia que ele se casasse com outra asgardiana? – pergunto esguichando o olho para ver o seu rosto, qual seria a reação dele.

—Não, não prefiro – ele nega com tranquilidade, como torci que ele levasse a pergunta – Prefiro que ele se case com alguém que o faça feliz e que o ame – afirma e eu sabia que seria daquele jeito. Por qual outra razão Thor iria contrariar as ordens do seu pai para se casar com Rachel? Mesmo que ele nunca aprovasse.

—Também prefiro – concordo com ele. Se Brianna quisesse se casar com Erick, mesmo ele sendo asgardiano que iria trazer tantas responsabilidades para ela, eu concordaria, eu me manteria ao lado da minha filha. Mas para isso, eu teria que convencer a minha melhor amiga a não ser contra. Rachel as vezes consegue ser uma estraga prazeres quando quer e esta com raiva.

—E qual a sua resposta? – ele pergunta se virando para mim, provavelmente não ligando mais para sermos discretos, mas mantendo o tom de voz baixo, para que não escutassem a nossa conversa.

—Por ora, vamos ver no que isso dá. E isso tem que ser planejado com calma, ou iria acontecer semana que vem? – pergunto e Thor nega com a cabeça – Tenho que conversar com ela antes, ver se ela tem a absoluta certeza ou se é apenas temporário – conto e ele concorda com a cabeça e se vai andando pela multidão de pessoas que assistiam ao discurso.

Foi aí que me toquei, eu estava perdendo. Me virei rapidamente e pegando uma taça de vinho da bandeja que passou com um dos empregados. Continuei a assistir o discurso até ele terminar, ser aplaudido por todos e por mim. Loki desceu do palco e o vi andando direto para mim. Já até sei o que ele vai perguntar.

—O que você e Thor tanto sussurravam? – ele perguntou enciumado, estava explicito nos olhos dele e na voz preocupada e interessada demais. Ri achando graça daquilo, e deixando a taça vazia na bandeja que passava com um dos empregados novamente.

—Credo, Loki, mesmo adulto você ainda sente ciúmes, isso é tão fofo – ironizo dando tapinhas em seu peito. Ele sorri enquanto vou para a mesa de comidas saborear alguma coisa nova.

—Claro que vou sentir ciúmes, o irmão é meu – o moreno lembra e sorrio achando graça daquilo. Foi quando percebi, ele se referiu a Thor como irmão, não como meio-irmão, um apenas uma pessoa qualquer. Loki finalmente percebeu que mesmo que não fosse filho de sangue dos pais do Thor, eles continuavam irmão.

E mesmo com a brincadeira de que ele sentia ciúmes por Thor, não por outra coisa que não ficou muito clara, eu apenas sorri feliz em perceber finalmente que Loki esqueceu o orgulho e tratará Thor da maneira como ele merecesse, por todos esses anos em que o loiro o defendeu. Ele merecia isso.

—Estávamos conversando sobre casamentos – conto esquecendo a mesa e me focando no moreno conversando comigo. Quero ver a cara de chocado dele.

Mas é claro que Loki não a deixou parecer, apenas levantou as sobrancelhas levemente com a notícia, como se aquilo fosse uma coisa pequena e simples. Mas aposto que Loki estava se coçando de curiosidade por dentro.

—Casamento de quem? – pergunta colocando as mãos para trás. Eu poderia saber o que estava passando pela cabeça, alguma coisa como “quem vai casar agora? ” com a voz mais entediada do mundo até “vou ter que abençoar mais alguém de novo?”.

—Seu sobrinho e a minha filha – sussurrei e agora sim ele mostrou surpresa estampada na cara. Sorri achando graça daquilo. Era muito raro eu ver Loki surpreso, mas uma surpresa boa, e agradecia Brianna por me proporcionar isso.

—Erick e Brianna? – pergunta chocado e assinto com a cabeça, mas agradecendo por ele ter um raciocínio rápido e sussurrar também, não queremos que o povo asgardiano crie problemas onde mal começou a ter problemas de verdade, não é mesmo?

—Mas ainda conversarei com ela antes, então não é nada oficial – aviso e ele assente com a cabeça ficando ao meu lado e raspando a cobertura de um dos bolos com o dedo e o colocando na boca – Ei! Isso não é legal! – apreendo-o, ou finjo que faço. Ele é o rei, ele pode pegar esse bolo e tacar na cara de qualquer pessoa aqui que ninguém pode reclamar, com exceção da mãe dele, é claro.

—Eu sou o rei – ele lembra convencido pegando mais um pouco de cobertura e saindo dali antes que alguém o visse fazendo isso, o acompanho andando lado a lado com ele.

—Tá bom, vossa majestade, quer dançar? – convido e ele para de andar surpreso, apenas empaca dois passos atrás de onde eu estava. Segunda surpresa suprema em tão poucos minutos. Hoje estou difícil!

—Uma dama convidando um cavalheiro não é comum – ele avisa andando lentamente até mim, com o olhar afiado e as mãos por trás do corpo, e disfarçando a expressão chocada que vi por dois segundos apenas.

—E quem disse que gosto de obedecer a regras sociais idiotas? – pergunto irônica. Ele sorri tomando a minha mão e puxando a minha cintura com delicadeza para mais perto. Sorrio e ele me conduz até o salão. Onde dançamos por tanto tempo que os meus pés doíam, mas permaneci.

A dança agora poderia trocar de pares num determinado ponto da música, geralmente quando os pratos batessem. Dancei com tanta gente, mas eu sempre voltava a dançar com Loki. E era muito melhor dançar com o meu amigo de anos do que com alguém que eu nem conhecia, e aposto que nem Loki conhecia.

Ao passar das horas, o salão foi esvaziando, as pessoas iam embora, afinal, não tinha nada além de comer, dançar e conversar ali. Brianna me avisou que estava indo para o quarto por meio de gestos. Rachel avisou que iria segui-la para saber se ela estava mesmo indo ao quarto dormir. E Thor, para completar a bagunça, avisou que iria impedir a esposa de fazer isso.

O relógio bateu duas da manhã, haviam tanta pouca gente aqui, a maioria bêbada a ponto de nem conseguir sair do lugar e ter que ser arrastada pelos amigos, como Volstagg, que Loki me mostrou risonho, sendo arrastado por Lady Sif e Fandral.

Foi naquele momento que eu percebi, havia só a gente no salão dançando. A música estava lenta e Loki respirava muito perto do meu pescoço, onde justamente é uma área proibida para qualquer pessoa, com exceção do Steve, respirar muito perto.

Parecia que eu havia sido congelada. Eu havia perdido a noção do tempo por completo, e só despertado ao rir de Volstagg murmurar que queria mais hidromel. Eu respondia tudo no automático, tomara que Loki não tenha percebido que eu estava distraída e falando comigo e eu nem escutando.

—Melhor nós irmos, né? – pergunto empurrando de leve os ombros de Loki, mas ele não arredou o pé. Me abraçou e me girou lentamente para me puxar e eu bater contra o seu peito novamente.

—Amanhã, ou hoje, eu viajo, ficarei quatro dias sem te ver, você não acha que mereço um pouco disso? – pergunta com os olhos implorando para mais alguns minutos comigo. Ele merecia um pequeno esforço meu em me manter de pé por mais um tempinho.

—Mas e os empregados? – pergunto vendo alguns deles reunindo e limpando bem discretamente, apenas para que Loki não percebesse – Eles precisam limpar tudo isso – lembro e o moreno beija a minha testa com um sorriso no rosto.

—A sua maneira de pensar me encanta, Emily – ele elogia mas o olho confusa, “maneira de pensar”? ­– Sempre se preocupando com os outros, colocando seu próprio lazer ou divertimento abaixo do que os empregados vão sentir, ou vão ter que fazer depois – Loki elogia, mas aquilo não era elogio, era apenas se preocupar com o próximo.

—É que eu imagino que eles estejam cansados depois de toda essa festa também – explico e Loki sorri, com os olhos e o sorriso doce. Apenas relaxo e me deixo levar pela música, o abraço encostando a cabeça no seu peito. Ele cerca o meu corpo beijando o topo da minha cabeça.

Não conversamos mais nada, apenas aproveitamos o silêncio e a doce música que tocava, e ocasionalmente os gemidos dos bêbados pedindo por mais bebida, mas sonolentos demais para reclamar por não estarem recebendo nada. Eu ria baixinho, achando graça naquilo, e Loki também, ou ria porque eu também estava rindo, eu não sei.

 Quando era duas e meia, Loki concordou comigo que era hora de ir dormir e avisou que eu poderia voltar ao meu quarto, agradeceu pela incrível noite que eu proporcionei a ele, mas se esqueceu que ele também me proporcionou uma noite divertida. O moreno me abraçou apertado. Estávamos nos despedindo, ele iria viajar três horas depois. Me beijou na bochecha e se foi, sem olhar para trás.

Suspirei sentindo saudade já, mas segui o meu caminho e fui ao quarto, abri a porta com cuidado, retirei os sapatos que me matavam aos poucos, o vestido que já não era tão confortável assim, desfiz o penteado que continuava perfeito, retirei a maquiagem e me joguei na cama dormindo cinco minutos depois de tão cansada que eu estava.