Ela não era perfeita. Não importava o que as pessoas insistissem em pensar, não importava o que todos dissessem, Victoire Weasley não era perfeita. Ela tentara dizer isso a eles um milhão de vezes e de um milhão de formas diferentes, no entanto, recebera apenas sorrisos condescendentes e comentários orgulhosos sobre sua suposta humildade em resposta. Não estava sendo humilde, estava sendo sincera.

Costumavam olhar para ela e enxergar um anjo. Como poderia ser diferente? Com os cabelos loiros, os olhos tão azuis quanto o céu, a pele de porcelana e os lábios rosados, ela era linda sem ao menos tentar. Mas não era um anjo, era humana. Era apenas uma menina, uma garota adolescente tentando se encontrar e descobrir seu lugar no mundo. Tinha defeitos, problemas e medos como todos os outros. Medos que poderiam consumi-la com a mesma intensidade que o fogo consome tudo o que toca.

Havia noites em que se afundava embaixo dos cobertores e rezava para tudo aquilo desaparecer, as lágrimas escorriam por seus olhos, enquanto todas suas inseguranças surgiam como demônios, a enlouquecendo e tornando impossível adormecer. O mundo inteiro esperava algo dela, era a primeira Weasley da sua geração, filha e sobrinha de heróis de guerra, descendente direta de uma veela. As expectativas eram imensas e Victoire sempre teve medo de ser uma decepção. Tinha todo o legado dos Weasley em suas costas e a ideia de arruinar tudo o que sua família lutou por anos para conquistar lhe era assustadora. A garota ficava em pânico com a simples hipótese de cometer erros. O fracasso era seu bicho papão e a acompanhava constantemente.

A loira sempre fora uma boa menina, era calma por natureza e como a filha mais velha sabia que deveria ser responsável e ajudar os pais. Seguia as regras e fazia o que esperavam dela, afinal ninguém nunca lhe disse que havia outra forma de viver. Nunca haviam lhe contado que não precisava ser a pessoa que o mundo esperava que fosse. Tudo o que fizeram fora lhe jogar expectativas. Expectativas que apenas aumentavam cada vez que ela as atendia.

A única coisa que restara a garota era a tentativa de seguir o caminho que lhe fora apontado. Vivia em uma busca interminável pela perfeição que atribuíam a ela. Tentava, tentava e tentava, mas continuava a falhar miseravelmente, porque era humana e humanos são falhos por natureza.

Ainda assim, a perfeição a sondava, assombrava e asfixiava dia após dia. Era sufocante, desesperador e algum dia a levaria à loucura. Fora destinada a perseguir o inalcançável e viver com a certeza de que era uma grande farsa. Não era perfeita e nunca seria, mas fora acorrentada àquele ideal estúpido e utópico e já não conseguia se libertar. Era obrigada, então, a esconder seus medos, defeitos e problemas. Obrigada a ocultar cada uma de suas falhas e sofrer silenciosamente por seus pequenos fracassos. Se odiando diariamente por sua fraqueza.

Victoire Weasley podia ser muitas coisas. Um aglomerado de expectativas, medos e frustrações, uma mentirosa nata, uma rascunho mal feito e pretensioso do que fora destinada a ser. Mas ela definitivamente não era perfeita. Ao contrário do que todos pensavam, a perfeição lhe fora imposta como um castigo, jogada sobre ela como uma maldição, algo que a sufocava diariamente, lhe roubando o oxigênio e a vida.