GUILTY

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Aquilo era errado. Por Merlin, aquilo era muito errado! Ela sabia disso. Ele também. Angelina Johnson sempre se orgulhou de ser uma boa pessoa. Podia ser teimosa, irônica e um pouco imprudente, mas ao menos tentava fazer o que era certo. Aquilo, no entanto, estava longe de ser certo. Fred, o seu Fred, estava morto e ela estava beijando o seu irmão gêmeo.

Uma parte de si queria culpar o Whisky de Fogo, que estavam há horas bebendo, contudo, sabia, embora não quisesse admitir, que desejava fazer aquilo. Havia mais de um ano que Fred morrera e pensar no assunto ainda doía, era como se um buraco houvesse se aberto em seu peito e sua vida se tornara incrivelmente vazia. Não fosse Jorge, a garota não saberia o que teria feito. Amara Fred como nunca havia amado ninguém, ele era seu melhor amigo, seu namorado, o homem com quem imaginava dividir a vida.

Ainda assim, Angelina entendia que era ainda pior para o Weasley. Ele havia perdido o irmão, seu gêmeo, companheiro de todas as horas, a pessoa com quem compartilhara tudo desde que era apenas um embrião. Imaginar aquela dor lhe era insuportável, mas a dela era tão grande quanto. Ambos estavam completamente perdidos e desolados, era como se o sol entorno do qual giravam houvesse desaparecido, deixando sua existência sem sentido e os condenando às trevas.

Aquele era o pior período de suas vidas, então, buscaram apoio um no outro. Dividiam a mesma dor, o mesmo luto, o mesmo pesar. Além disso, foram amigos durante anos e amigos se apoiam nos momentos difíceis. É verdade, no entanto, que nos primeiros dias Angelina sequer conseguia olhar para Jorge, ali estava uma cópia quase perfeita de seu amado, um fantasma a perseguindo por toda a eternidade. Observar aquele rosto abria novas feridas, mas a moça acabou entendendo que não podia ser egoísta e pensar apenas em si mesma. O rapaz também estava sofrendo e Fred, onde quer que estivesse, jamais a perdoaria se ela abandonasse seu irmão no momento em que ele mais precisava.

A grande questão era que a Johnson conhecera os gêmeos muito bem, era capaz de diferenciá-los de olhos fechados e não foi difícil entender que o homem a sua frente não era, e nunca seria, Fred. Então, eles simplesmente estiveram ali um pelo outro, se lembrando de fazer coisas básicas como comer, trabalhar e dormir, garantindo que repetiriam cada um dos atos até que um dia não soasse insuportável. Angelina ajudara Jorge com a loja e se assegurara que ele continuasse com ela, mesmo quando isso era a última coisa que queria. As Gemialidades Weasley era o legado de Fred, seu grande feito e orgulho, enquanto ela vivesse uma parte do ruivo também viveria. Era a isso que eles precisavam se agarrar.

Em algum ponto disso tudo, no entanto, a moça começara a nutrir sentimentos perigosos pelo antigo cunhado. Eles se viam todo dia, se conheciam como ninguém e apreciavam a companhia um do outro. Jorge era a melhor parte de seus dias, aquele que conseguia lhe arrancar sorrisos, mesmo quando o mundo parecia desmoronar, que a escutava pacientemente e secava suas lágrimas. Jorge fizera seu coração voltar a bater, quando ela achou que aquilo era impossível, fizera com que o sangue voltasse a correr quente por suas veias, fizera com que se sentisse viva novamente.

Aquilo, contudo, era incrivelmente errado, então, dia após dias, ela tentava sufocar suas emoções, ignorar o que sentia e fingir que nada estava acontecendo. Que espécie de pessoa se apaixona pelo gêmeo do namorado morto? Não queria trair Fred daquela forma. Não podia! Ela tentara fugir, tentara evitar, tentara lutar contra o que sentia, Merlin era testemunha disso, mas fora fraca demais. O fato de estar seminua, no tapete de sua sala, com o corpo de Jorge junto ao seu era prova disso. Ainda assim, Angelina queria aquilo, ansiava por ele, o desejava dentro dela. Ele. Jorge. Não Fred.

Os dois seriam condenados ao inferno por aquilo. Iriam queimar por toda a eternidade por uma traição tão grotesca. Estava prestes a tirar a cueca do rapaz, suas mãos agindo por completo instinto, quando ele parou, a encarou no fundo dos olhos, como se enxergasse sua alma, e sussurrou:

“Não posso fazer isso”

Sua voz fraquejava pela dor, seus olhos eram puro remoço. Angelina assentiu muda, sentindo-se a pior pessoa do universo. O ruivo se vestiu de qualquer forma e saiu de seu apartamento o mais rápido que conseguiu. A deixou sozinha sem dizer mais nenhuma palavra. Não precisava, mais uma vez eles compartilhavam um sentimento incrivelmente amargo e doloroso.

A garota, então, se encolheu junto ao pé do sofá, vestindo apenas a calcinha e sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto. Sentia-se péssima, sentia-se suja, sentia-se um ser humano terrível. As lágrimas continuaram a cair por seus olhos, enquanto ela se afogava em culpa. A pior parte era que a culpa fora tudo o que lhe restara.