Meu coração batia descompensado no peito, seja lá qual fosse à ironia do destino, certamente não tivera graça nenhuma.

Respiro fundo.

Frankie estava em minha frente, seu corpo estava relaxado enquanto bebia o seu drinque, sorria para os outros convidados parecendo atenciosa, mas seu olhar sobre mim é constante.

A situação já não constrangedora o bastante quando Nina resolveu flertar comigo, o que parecia apenas uma olhadela se transformara em sussurros quentes no ouvido.

– Estive te olhando desde a entrada – posso sentir o cheiro de sua bebida roçar contra minha pele – estou muito a fim de você.

Engulo a seco.

Frankie mantinha seu olhar firme sobre mim, tento me afastar de Nina, mas ela parece não perceber e segura minha cintura.

Olho par Frankie.

Ela desvia o olhar e passa fixar seu olhar em uma loira de cabelo longo que acabara de chegar.

O som alto estremecia o camarote, as pessoas ao meu redor pareciam empolgadas com ritmo da musica eletrônica que começara.

Gavin divertia-se com mais dois rapazes sem camisa, Nina continuara ao meu lado, esperando a mínima oportunidade de se aproximar. Mas eu estava ocupada demais concentrada na Frankie enquanto ela dançava quase que sexualmente com a loira de cabelo longo.

Babaca. Penso.

Por um instante sinto que posso chorar a qualquer momento, aquela situação era ridícula, o destino era ridículo comigo.

Por Cristo! Quando resolvo sair, Frankie estava lá para atrapalhar minha diversão.

Minha vida. Meus sentimentos.

Aquela situação era tão colegial, logo eu, Rachel Sadie mãe de dois filhos com meus 32 anos passando por algo tão clichê quanto isso? Penso.

Respiro fundo e sinto um cala frio correr o meu corpo, uma sensação ruim, um desconforto constante que tinha nome e sobrenome, Frankie percorria o corpo da mulher de uma forma quase que depravada.

A loira estava adorando se esfregar nela. Penso emburrada.

A minha noite de sábado estava certamente acabada, o que seria uma noite de diversão se tornou uma tortura ao vivo com direito a plateia.

– Você quer dançar?

Nina voltara trazendo nossas bebidas, a observo por um tempo enquanto faz o convite, eu não queria dançar com Nina, por mais que sua companhia fosse à única coisa que tinha aquela noite, requebrar meu corpo junto com ela não estava em meus planos.

Não estava até eu ver Frankie beijando a loira.

– Sim. Eu quero.

Meus olhos encheram-se de lagrimas, eu sabia se ficasse ali provavelmente eu choraria por Frankie. E realmente, não era isso que eu queria. Eu não seria tão patética assim.

Não mesmo.

Levanto e sigo com Nina para pista de dança, lá embaixo o fluxo de pessoas era bem maior, a quentura do lugar me fez suar, as pessoas mexiam seus corpos freneticamente ao ritmo da música, todos ali se divertiam, aproveitavam sua noite, e eu seria mais uma entre aquelas pessoas.

Mexia meu corpo freneticamente, enquanto Nina me acompanhara- talvez meu ritmo acelerado de dançar fosse para esquecer que Frankie estava se atracando com aquela garota lá em cima.

Aquilo era tão patético.

Mas o que Frankie iria querer comigo? Uma mulher mais velha com dois filhos e ainda de bônus casada. Ela esta certa em me dispensar, mas do que isso, ela esta certa em fazer o que quiser. Suas escolhas, sua vida. E essa era a minha vida. Penso.

Essa noite eu não seria Rachel Sadie, essa noite eu seria apenas mais uma largada na noite.

Puxo Nina para perto e grito próximo ao seu ouvido:

– Quero mais bebida. – O som abafa minha voz.

Nina sorri para mim e beija meu pescoço.

Naquele instante penso em Frankie e em quando beijou meu pescoço pela primeira vez, o tremor que sentira pelo seu tome. Já com Nina, eu não sentira nada.

Ela se afastou e eu continuei dançando.

Não era uma grande bailarina, mas me surpreendi com a forma solta que desenvolvia meu corpo. Algumas pessoas se aproximaram – em sua grande maioria mulheres – algumas mais atiradas queriam me roubar um beijo, já outras apenas dançavam e saiam.

Aquele era um mundo estranho, as pessoas te beijaram sem ao menos saber seu nome. Acho que sou a moda antiga. Pensei sorrindo.
Sinto alguém segurar em meu braço, viro esperando ser mais uma jovenzinha atirada a fim de me beijar.

Mas me surpreendo com a figura de Frankie em minha frente, em meio ao pisca-pisca de luzes e o som da aglomerada boate, Frankie me puxara para um canto da boate, ela me tirara do fluxo raivoso de pessoas eufóricas.

Frankie me encara séria.

– O que você pensa que está fazendo? – Começo enfurecida.

– Você não pode ficar com Nina!

Respiro fundo.

Qual era o problema de Frankie? Só ela tinha o direito de se divertir, alias? Penso.

– E quem é você para dizer com quem eu devo ficar?! – Exclamo nervosa.

– Francesca. Eu sou Francesca! E estou pedindo, fique longe dela!

– Ela é mais um dos seus casos, Francesca? – Arqueio a sobrancelha.

Frankie parece ficar ofendida.

– Claro que não! Ela só não é uma pessoa boa para você!

Solto um riso sarcástico.

– Quem seria boa o bastante para mim, Francesca? Você? – Cruzo os braços.

Frankie meneia a cabeça.

– Rachel...

– Eu não sei o que você quer. Mas eu só quero pedir uma coisa, fica longe de mim! – Exclamo a interrompendo.

Frankie tenta me impedir de voltar para pista. Mas eu esquivo do seu toque e sigo de encontro com Nina. Ela me procurara com o olhar, e quando me encontra abre um sorriso. Ela trazia as bebidas em sua mão.

– Onde estava? – Indagou em meu ouvido.

– Fui ao banheiro – menti – esse é meu? – Indago me referindo ao drinque.

Ela assentiu.

Apanho a bebida em um azul neon e viro em um gole só. Eu precisava apenas relaxar, e talvez bebendo fosse um bom começo.

– Vai devagar, mocinha! – Adverte Nina com um sorriso.

Nego.

– Não! Essa noite eu quero ultrapassar meus limites.

Puxo Nina e lhe roubo um beijo impulsivo, nossas línguas se chocam de uma maneira inesperada. Suas mãos tocam minha cintura e posso sentir descendo para o quadril e logo depois para minhas coxas. O beijo era quente, podia sentir o desejo em seu toque. Mas eu não conseguira sentir o mesmo.

Afasto nossos corpos e dou um meio sorriso.

O beijo não fora ruim, na verdade eu gostei. Mas não era a mesma coisa. Também, como ser, Nina não era Francesca.

Volto a dançar e dessa vez sinto que a bebida estava fazendo efeito, meu corpo parecia leve demais, eu gritava e balançava meu cabelo. Sentia meu corpo mexer-se automaticamente em passos nunca antes ensaiados.

Certamente aquela não era a Rachel que dançara nas festas em família.

– Toma isso. Vai te deixar ainda mais animada – Nina diz em meu ouvido referindo-se a comprimidos que trazia nas mãos – você vai gostar. – Ela me encoraja.

– Isso é droga?

Nina ri.

– Não! Isso é um doce. Toma!

Mesmo duvidosa com a procedência daqueles compridos eu resolvi não bancar a careta e pegar um deles.

Levo em direção à boca.

Nina me olha satisfeita e faz o mesmo.

Caralho! O que está acontecendo comigo? Pergunto-me levanto a mão em direção da cabeça.

Tudo paralisou em minha volta, de repente a musica ficara abafada, as pessoas pareciam quase paradas o ritmo da musica diminuiu, meu corpo parecia que estava flutuando. Algo de muito errado estava acontecendo comigo.

Eu não tinha controle sobre meu corpo.

Começo a rir, uma risada alta, eu posso perceber que as pessoas me olham, mas eu sou incapaz de ver seus rostos. Eles estavam todos com um capuz preto.

Coço meus olhos e agora minha visão muda, havia bolhas por todo canto da boate dos mais diferentes tamanhos.

“Ela só não é uma pessoa boa para você.”

“Toma. Ela vai te deixar mais animada.”

Sinto meu corpo cair contra a pista, posso ouvir pessoas a minha volta, passos, calor, pessoas. Mas eu não estava ali, eu estava flutuando em outro lugar, no espaço. Bem longe.

– O que você fez com ela? Rachel! Fala comigo.

– Frankie?

Minha visão é turva, mas sou capaz de vê-la em minha frente, mesmo que ela fosse verde com pintinhas vermelhas.

Ela me toma em seus braços.

Tudo se torna escuro e silencioso ao meu redor.