A Vida Secreta de Rachel escrita por L CHRIS


Capítulo 2
Estranhos




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Eu gostava de observar as pessoas.

Observar suas vidas, notar como cada um está perdido em seus pensamentos, suas vontades, desejos, ambições e culpa.

A forma como cada um andava, que vestiam, a forma como gesticulavam algo e às vezes até o modo que mastigavam.

Gostava de imaginar o que cada um costumava fazer quando deixara as ruas e a grande multidão.

Como eram suas vidas?

Será que tinha alguém os esperando para o jantar?

Uma família.

Ou seriam pessoas independentes, sem ninguém para dividir a cama, os sonhos, a vida.

Às vezes chegava ir além, perguntara como era suas vidas intimas. Será que fodiam? Faziam sexo, ou amor?

Tinham parceiro (a), ou múltiplos deles.

Bons ou ruins.

Quem seriam as pessoas que cruzavam comigo todos os dias, no farol, na calçada, entre minha casa e a escola dos meus filhos.

Estranhos no supermercado.

Estranhos na rua.

Estranhos próximos. Ou distantes.

Estranho que dividia minha vida, doze anos dela, estranho esse, que jurei amar e respeitar. Estranho que me jurou fidelidade, que me dera lindos filhos, uma família, e uma completa mentira.

Uma perfeita mentira.

Era essa a frase que definia minha vida.

Se não soubesse as coisas que sei hoje, provavelmente acharia Allan o marido exemplar, assim como, meus pais, meus amigos, familiares.

Um marido infiel, um casamento a ruínas, era o mais próximo da realidade e mais distante de tudo que as pessoas idealizavam sobre meu casamento fracassado.

Talvez, apenas eu saiba quem é Allan Sadie – Corrijo, eu e suas belas amantes – o bom moço que vai a missa com sua família aos domingos não passa de um adultero ausente. Que usa de sua fama de bom moço para benefícios próprios.

Um egocêntrico.

Eu não tinha orgulho dele, da nossa relação, ou de qualquer coisa que nos envolvesse, exceto, nossos filhos, Bath e Arthur, as únicas alegrias que tivera nesses anos de casada. Amo meus filhos, e talvez, por isso não tinha dado um ponto final naquele casamento.

Minha patética vida com minha família perfeita.

Perfeita mentira.

Lembro-me quando Megan – minha irmã mais velha – me dissera que o casamento é uma troca de sentimentos mútuos, aonde ambas das partes deviam se doar igual, apoiar-se.

Vocês formam um lindo casal.”

Lembro-me das palavras dela, e da forma como parecia orgulhosa pela minha união. Mas Megan estava errada, todos estavam.

– Senhora Sadie, você vai embrulhar para viagem?

A voz rouca soa em meus ouvidos, e como um choque me trás de volta para realidade.

Procuro rapidamente o dono daquela voz gentil e firme.

Tinha olhos castanhos, ombros largos – mesmo com a camisa larga do uniforme era notável que frequentara academia.

Ele sorriu.

Ele parecia gentil, mas esse ela seu trabalho, fazer as pessoas se sentirem bem para voltar.

Abaixo meu olhar e noto o nome em seu crachá, Joaquim.

Era um belo nome, para um belo rapaz.

– Ah, não. Eu já estou de saída.

Fito meu prato e percebo que mal toquei na comida.

Adorava a comida do Soul Mermaid – nunca entendi o significado daquele nome, o restaurante não tinha nada ali que lembrasse uma sereia, ou o fundo do mar. Talvez precisasse ir mais a fundo. De qualquer forma, aquele era meu lugar favorito.

Peço minha conta.

E enquanto espero, meu telefone toca. Olho no visor: Allan.

Suspiro, e naquele instante eu tenho a certeza, ele não voltaria para casa.

– Sim. – Começo em um tom ríspido.

Houve silencio – típico de Allan – mas depois sua respiração se torna presente e sua voz vem logo depois:

– Oi, Rachel. Eu fiquei enrolado no...

– Tudo bem. – O interrompo seca.

– Olha. Eu realmente queria jantar com vocês. Mas, prometo chegar antes do café amanhã. Manda um beijo para crianças. Amo vocês.

Desligo.

As pessoas a minha volta faziam suas refeições, cada um saboreando seu prato, alguns acompanhados, outros sozinhos, assim como eu.

Às vezes imaginava levantando e me ajuntando aquelas pessoas. Talvez houvesse um bom papo, um vinho e um bom sexo?

Por que não?

Um riso distraído escapa dos meus lábios, aquilo não aconteceria. Não naquele restaurante, ou em lugar nenhum.

– Senhora Rachel. Sua conta. – Aproximou-se de volta Joaquim.

Deixo o restaurante dando uma boa gorjeta ao jovem rapaz.

Tinha meus 32 anos, certamente, não era mais a jovem e bela moça de 12 anos atrás. Vez ou outra me pegara olhando para o espelho, passara horas me perguntando o que havia mudado. Talvez fossem os pequenos traços que nascera perto dos olhos. Ou a amargura que eu trago em cada vez que sorrio. Meu corpo ainda se mantivera em forma, mas, deixara de me preocupar já alguns anos. O que mais me agradava até os dias de hoje era meu cabelo, adorava sua cor ruivo acobreado natural. Tinha olhos de um verde mel, que assim como os meus cabelos havia herdado de minha mãe.

Não me considerava uma mulher de muita vaidade, mesmo indo ao salão todos os sábados me privava de muitos caprichos, como compras ao shopping, ou algo assim. O caminho de volta para casa fora silencioso, gostara de guiar meu carro sempre ouvindo algo bom, Beatles, por exemplo.

Mas naquela tarde, queria o silencio. O silencio que era a minha vida. Minha rotina era como de qualquer dona de casa; levar as crianças na escola, colocar a roupa na maquina, estender, preparar o jantar, ajeitar a casa, tédio, tédio e tédio.

Vez ou outra me permitia em algumas noites de sexta, beber um vinho com Vivian, minha melhor amiga dos tempos de escola.

Residia confortavelmente em uma casa de classe media, tínhamos um belo jardim, uma linda pintura em cor pêssego, uma bela piscina para reunir os amigos para um churrasco aos domingos – algo que não acontece com frequência – uma bela decoração vintage, planejada por minha sogra também arquiteta Soia.

Ligo meu laptop enquanto procuro algo mais confortável para vestir, uma camisa de algodão surrada e um short foram às peças escolhidas.

Meu quarto era amplo, com uma confortável cama de casal, dois criados mudos, fotografias dar crianças e do meu casamento penduradas na parede, dois closets e uma bela cômoda colonial em marfim.

Deito-me na cama e trago o laptop para mais perto.Não era muito ligada no mundo de tecnologia, mas vez ou outra, em dias como esse, gostava de olhar algumas colunas, blogs, coisas banais que me distraiam.

Começo a rolar o “home” de noticias, receitas, dicas de moda, como ser atraente na cama, dicas de cortes de cabelo.

Nada interessante.

Meus olhos perseguem tediosos pela tela, quando algo me chamara atenção ali.

Encontros a escuras, uma aventura ou um erro?

Era o titulo de uma matéria.

Por um instante achei besteira clicar para ler, mas minha curiosidade certamente falou mais alta.

Cliquei.

A matéria falava sobre pessoas que conheciam outras virtualmente. Estranhos, que nunca se viram antes e resolvem se encontrar.

Aquilo não era perigoso? Perguntei-me.

Era completamente insano pensar na possibilidade de se encontrar com alguém que nunca vira, e que não imaginara como seja.

Era maluco.

Talvez fosse assim que Allan conhecesse suas amantes. Um sorriso amargo me tomou face com a especulação infeliz.

Em alguns casos, segundo a matéria, as pessoas chegaram até se apaixonar, construírem uma família. Já outros, faziam aquilo apenas para o sexo.

Para foderam. A frase ecoa na minha cabeça.

A quanto tempo não fazia sexo, amor, foda, ou qualquer termo sugestível ao ato. A quanto tempo não era tocada. Pensei.

Um estranho.

Sexo com um estranho.

Um arrepio percorre meu corpo, uma quentura toma conta de mim com o pensamento indevido.

Era loucura.

Fecho meu laptop quando ouço passos no andar de baixo, logo ouço a voz de Arthur vindo ao final do corredor.

Meus filhos haviam chegado.


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Notas finais do capítulo

Eai. Gostaram? Espero que sim. Me falam o que acharam. Até o próximo capitulo!



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