Querida cidade empoeirada escrita por Nanahoshi


Capítulo 8
Lágrimas de titânio


Notas iniciais do capítulo

Isso vai parecer um pouco confuso. Mas infelizmente era exatamente como eu estava me sentindo quando escrevi esse pequeno texto e esse poema. Os dois são complementares e tratam do mesmo assunto. Mas eu adoraria ver o que vocês tiram dos textos! Queria dedicar esse capítulo especialmente pras dois queridos que estão acompanhando meus poemas! Eu adoro o carinho de vocês e continuo postando (e melhorando a qualidade dos poemas por causa de vocês! É muito amor e realmente fico impressionada com isso tudo *u* Beijos mil pra vocês Rayel e Clarinhado7!!!



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Lágrimas de titânio

Era difícil.

Bem mais difícil do que eu imaginava que ia ser.

–Ai!

Tropecei num ladrilho solto e acabei pisando forte demais com a perna direita. Senti o pino da cirurgia sendo comprimido dentro do joelho, causando um incomodo chato. Parei de andar e estiquei a articulação, certificando-me se estava tudo bem. A única sequela da pisada foi uma dorzinha irritante bem em cima do lugar do corte, que dava pontadas como se dissesse:

–Ei sua idiota! Olha o que você fez com seu joelho! Agora vai sentir dor pro resto da vida em volta desse pino chato.

Voltei a caminhar, sentindo a dor dando mais cutucadas.

Fiquei tão irritada com o pensamento que respondi em voz alta:

–Não sua dor idiota! Sei que foi pura burrice minha ter rompido o ligamento, mas esse pino foi o que me salvou! Se eu não tivesse operado e colocado esses pinos, eu não poderia mais jogar futebol de jeito nenhum. Além disso, ele é um pino bem legal. É de titânio e tudo.

Parei novamente de andar e olhei para o chão.

Difícil.

Suspirei.

A irritação maior era na verdade uma outra dor, maior e mais complicada. Assim como a dor reclamona, era sequela de uma coisa boa, mas não tão simples assim. E era uma dor... que queria me fazer chorar.

[..]

Você sabe quando realmente nos tornamos fortes?

Tipos de amor.

Desenho . O D.

Um garoto e uma garota.

Mulher vestida de azul.

Fraqueza versus força

Mulher: delicadeza e força: ponto de apoio... Paradoxo?

Delicado não? A mãozinha dela? Como ele tem tanta confiança em apoiar todo o seu peso num ponto tão delicado?

[...]

–Se liga! Essa sua insistência inútil me dá nos nervos! Você é burra ou não percebeu que vai ter que enfrentar o mundo e o inferno por causa de uma coisa ridíc-

–DÁ PRA CALAR A BOCA SUA IMBECIL!?? SE EU ESTOU FELIZ, PORQUE É QUE EU VOU DESISTIR!?? SÓ POR QUE É DIFICIL?

Ela esmagou meu pulso com a mão direita, e eu fui forçada a soltar seu pescoço. Antes que meu pulso parasse de latejar, vi ela avançar na minha direção. Ela ergueu uma perna e...

CRASH!

Com um chute ela acertou em cheio meus dois joelhos, e eu despenquei no chão. Quando me toquei, havia milhares de cacos cintilantes ao meu redor.

–Fica aí falando merda e olha aí? Não aguenta tranco nenhum. Quê que adianta ter joelho, se o joelho é de vidro?

Ela se virou e ficou de costas pra mim, com a cabeça baixa.

–De que vai adiantar fazer essa pose de mulher de ferro se continua chorando quando ninguém está vendo? – perguntei com raiva.

–Quem te disse que quem chora é fraco? Chorar... nos faz lembrar que podemos sentir. E se eu estou sentindo algo assim tão forte... Por que eu não ficaria forte também?

Soltei um som de desprezo e cuspi no chão.

–Isso é coisa de gente imbecil.

–Eu já mandei você calar a boca... Ainda insiste em falar merda depois de espatifar esses joelhos?

–VOCÊ É TÃO FORTE ASSIM PRA FALAR ALGUMA COISA???

Ela soluçou, ainda de costas, e se virou devagar. Fiquei sem fala. Nem pude me mexer.

–D-desde quando... você chora titânio?

***

Queria ser boneca ou de titânio

O esgoto corre para boca-de-lobos

E tem brinquedos quebrados na calçada

Mas eram só os pedaços de alguma coisa que deixei cair.

Ainda bem que não sou do século XXII porque aí eu não teria só joelho de titânio.

Eu vou continuar nessa dormência

Esperando uma dose de ocitocina

Sem esperança de poder voltar a correr

Ah, desculpe.

Não estou sorrindo.

Fui hipócrita?

Espere, vou plantar bananeiras.

Melhorou?

Eu sou mais humana,

Ou talvez mais idiota

Esperando um tempo que só eu sonhei.

Não se importa, eu sou de plástico.

Nem chego a ser uma boneca.

Tem orvalho na aba do meu chapéu

Então vou conversar com as pedras.


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Notas finais do capítulo

Se se sentirem à vontade comentem a sua interpretação! E quem estiver curioso pra saber a interpretação por trás do texto e do poema, comentem ou enviem uma MP que eu responderei com todo o prazer!