Meu Psicopata de Estimação escrita por Felipe Araújo


Capítulo 21
Capítulo Final - Parte dois: Meu destino.


Notas iniciais do capítulo

CHEGOU O FIM, CHEGOU!!!

Quero agradecer de coração todos os meus leitores fiéis que chegaram até aqui. Foi um caminho tortuoso cheio de dúvidas e desespero - sim, estou falando de mim- pois, o que fazer com os vilões?

Para quem não entendeu a essência da história que não foi escrita para os bonzinhos. Diferente de muitas histórias de terror onde os mocinhos sempre ganham, "Meu Psicopata de Estimação" é diferenciado, onde não tem como saber o que vai acontecer. Vilão ou mocinho, quem vai vencer no fim? Quero que descubram, e tomara que gostem do fim...

GOSTARIA DE QUE TODOS OS FANTASMINHAS QUE ADORO E QUE SEI QUE ACOMPANHAM, DEIXEM NO FINAL UM COMENTÁRIO PARA EU SABER O QUE ACHARAM.

Obrigado mais uma vez seus linjdosssssssssss!



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— O que foi isso? — Anne salta para a janela grande de vidro, Patrick e Lucas fazem o mesmo.

— Um carro explodiu e atingiu pessoas, daqui de cima não dá para ver que carro é.

— Mãe? E se foi o carro da mãe Lucas?

— Não pense isso, seu bobo a mãe já foi embora. — Patrick torce o lábio e dá de ombros segurando o soro ligado por uma mangueira em seu braço.

— Mas temos que descer e ver se é a mãe, não me diga que não. — Lucas olha fixamente para o pequeno e não consegue negar nada, tem receio de ver seu irmão chorar novamente.

— Tudo bem, nós vamos.

— Mas vocês dois ainda não estão recuperados. — A garota questiona, mas Lucas com um tom irônico termina a conversa.

— Estamos ótimos, se não morremos para dois irmãos psicopatas, não morreremos se tirarmos um soro do braço. Ele tira a agulha da veia e Patrick faz o mesmo.

 

Os três saem do quarto e encontram um corredor deserto e frio. Lucas anda na frente e Anne segura a mão de Patrick. Não sabem o que causou a explosão, porém uma intuição estranha percorre o corpo dos sobreviventes. A cada pisar Patrick sente dores, geme baixinho para que os outros não percebam, mesmo ainda não estando curado quer ver o que aconteceu, e assim, tirar a angustia de seu peito.

 

Antes de chegarem no fim do corredor, um policial passa correndo pelo que cruza onde estão. Lucas arregala os olhos e lembra no exato momento o que disseram naquela hora Ester deve estar no quarto a esquerda. O rapaz molha os lábios secos pela preocupação e para no fim do corredor. O policial acabara de descer de elevador para ajudar no acidente do lado de fora, e o último quarto a esquerda está vazio. Ele olha fixamente para o lado oposto, Anne e Patrick seguem para o elevador, mas Lucas não! Ele vira de costas para os dois.

 

— O que foi Lucas? — Patrick pergunta e Anne diz.

— Temos que ir antes que a enfermeira descubra que deixei vocês saírem do quarto.

— Não! Tenho que ver Ester, ela está naquele quarto.

 

Patrick sente seu corpo gelar, paralisa seus músculos e sua respiração para. Anne não sabe o que dizer e prefere ficar calada. Os olhos de Lucas já diziam tudo que ela queria saber, a garota sabe que nada que disser fara o garoto de alma ferida ceder. Balança a cabeça apoiando a decisão dele e puxa uma das mãos do menino ao seu lado. Patrick evita andar, mas como um singelo sorriso acolhedor da garota que salvou sua vida, o pequeno segue-os.

 

O corredor é curto e apenas uma porta branca fechada é avistada. A parede em gesso leva uma janela retangular de vidro tampada com cortinas, Lucas toca no vidro e tem calafrios, não consegue enxergar o que há no quarto. Olha para porta, mas congela por alguns instantes.

 

— Se quiser deixar isso para lá, vamos entender…

— Não Anne. — Sem pensar em mais nada, o rapaz abre a porta e o que encontra deixa assustado.

 

Uma garota deitada com o rosto quase todo enfaixado. Pensa se realmente é Ester. Apenas uma parte do lado esquerdo e os olhos da garota dá para ver. Pisa com um pé naquele lugar, tem vontade de voltar, mas não… Uma intenção assassina surge em sua mente, porém quando Anne toca em seu ombro com um olhar trêmulo, a intenção vai embora e a pena surge em seu lugar. Os três aproximam-se da cama onde Ester permanece inconsciente e Lucas não consegue segurar o choro. Lagrimas caem de seus olhos e não sabe o que acontece, Anne tenta confortá-lo.

 

A garota que conhecera há pouco tempo, que gostou logo de início, que sentiu uma forte atração. A menina doce e meiga, linda e simpática… A menina do cabelo vermelho fogo que tanto o encantou, sumira. O que resta naquela cama de hospital é uma sombra do que Ester já foi, apenas um corpo mutilado por ela mesmo. Os olhos, apenas o que Lucas consegue ver, entretanto é o suficiente para fazê-lo ter ansiá. O ódio aumenta e o rapaz murmura em lágrimas.

 

— Você tentou acabar com as nossas vidas, você Ester… É a culpada pela morte dos nossos amigos. É a real psicopata, aquela que engana, aquela que sente prazer em machucar. Se aproxima como inocente, porém é a pior das piores. Minha vontade era de matar essa desgraçada aqui.

— Não irmão, Ester vai ter o que merece, chega de mortes.

— Vamos embora Lucas, você já a viu! Agora temos certeza que Ester pagará por tudo que fez. Vamos. — Lucas observa a menina queimada e cheia de ataduras por mais uns segundos, Patrick vai até o corredor.

— Ela… Acabou com tudo!

— Vamos Lucas, não consigo ficar mais aqui, estou passando mal. — Anne diz e os dois vão em direção a porta, quando Patrick entra assustado.

— Tem alguém subindo o elevador. Se fosse alguma enfermeira viria pelo elevador de serviço, vamos nos esconder no quarto deve ser o policial. — Lucas e Anne confirmam o que o pequeno diz, o elevador está subindo e não dará tempo de sair do quarto. Os três se escondem atrás da cortina que separa uma cama da outra.

 

Estavam enganados, não é o policial por inteiro, e sim, os pedaços e o sangue dele por todo o elevador. A porta do mesmo abre no andar que todos estão, de dentro sai Edgar segurando uma faca enorme deixando no elevador o corpo do policial esfaqueado. O assassino treme de raiva e segue o corredor pisando no chão e deixando suas pegadas de sangue. Edgar para quando encontra o corredor que cruza o de Ester, ele olha para o lado fica parado por alguns segundos, mas continua andando. Sabe que o quarto da frente é de sua irmão, pois fez o fardado cuspir a verdade enquanto gravava a faca — que roubara da cozinha do hospital — em seu corpo.

 

Em poucos segundos o maníaco entra no quarto de Ester. Na cortina grossa que esconde os jovens uma fresta revela que não era o oficial que estava vigiando a garota. Anne tampa a boca de Patrick e não consegue parar de tremer. O medo explode no lugar, nem mesmo tem coragem de olhar para cima. O pânico é tanto que seu corpo paralisa. Lucas não acredita no que vê. Não tinha escapatória.

 

Edgar caminha segurando sua arma branca suja do sangue do homem que matou instantes antes. Respira alto demonstrando sua raiva. Observa atento sua irmã esticada naquela cama, toda ferida e queimada. Coloca uma mão sobre o corpo de Ester e desliza os dedos suavemente, fazendo carícias até o pouco do cabelo vermelho que sai das faixas que cobrem as queimaduras. Lucas observa tudo em choque, quase não respira para não chamar atenção do demônio. Entretanto o silêncio é quebrado com a voz voraz de Edgar.

 

— Acho que o jogo virou Ester — ela continua desacordada, Edgar chega mais perto e sussurra no ouvido da moribunda. — Eu voltei na fábrica e me arrisquei, pois haviam policiais e bombeiros lá. Mas tinha que te resgatar e te trazer para cá, sabe por que? Não quero que morra, e sim, viva presa e sozinha em uma cela, do mesmo jeito que eu vivi. Da mesma forma que você me manteve esses anos todos. Pode ser que não estive acorrentado naquele quarto, porém suas mentiras me mantinham encarcerado. Vou continuar o que eu comecei, não por você. Quero ver aquele garoto morto, se ele não tivesse entrado no meu caminho eu ainda teria você, mesmo na mentira… Eu te amava. Até nunca mais Ester Castrinni. — Os três atrás da cortina assistem a cena perplexos.

 

Edgar sai de perto de Ester e vira de costas em direção a porta. E neste momento Patrick se mexe, a cama desliza fazendo um barulho. Edgar olha para trás como um raio em dia chuvoso. Anne aperta ainda mais a boca do garotinho e Lucas prende o folego e temê que tenha visto eles. O psicopata fita o quarto com os olhos por algum tempo, mas desiste e segue seu caminho.

 

Lucas espera até que tenha certeza que ele foi embora, e relaxa. Leva uma de suas mãos até a cortina branca e olha apreensivo. Nenhum sinal de Edgar. Tinham que sair dali, sair daquele prédio o quanto antes.

 

— Escutem, eu vou sair até o corredor e quando o caminho estiver livre, vamos fugir.

— Lucas…

— Anne eu conto com você para proteger meu irmão. — A garota não contem as lágrimas, o rapaz pega no rosto da garota e beija seus lábios. Fixa o olhar para o irmão e sai em disparada até o corredor.

 

**

 

No primeiro andar a correria é intensa, os feridos da explosão são cuidados por médicos e enfermeiras. A polícia é acionada para o local, e Clara só pensa em chegar até os filhos. A mulher desesperada e um tanto atordoada pelo acidente para em frente ao elevador, percebendo que o mesmo está parado no andar que os filhos estão. Aperta o botão para ele descer, porém a luz de aviso “portas abertas no andar” pisca. O elevador não desce, Clara corre até um médico que esbarra nela e questiona nervosa:

 

— Algo está errado, o elevador está parado há um tempo no andar que os meus filhos estão.

 

— Senhora não posso ajudar agora, sinto muito! — O homem corre para fora do hospital. A mãe desolada anda em disparada até o elevador de serviços sem saber se estava funcionando pressiona diversas vezes o botão para o elevador abrir. E sem delongas a porta automática abre.

 

— Graças a Deus! — Vociferou para ela mesma, a loira desnorteada e perplexa entra no elevador. Vai até o painel de andares e seleciona o último, — meus filhos logo a mãe estará com vocês.

 

A sensação de que está subindo começa, o corpo de Clara pesa, a sua preocupação faz ela não pensar no que acabara de acontecer. Sua cabeça dói, seus braços se contraem pelos hematomas da batida, entretanto só quer saber se seus filhos estão a salvo. Pois tudo indica que aquele acidente foi proposital.

 

Depois de alguns segundos subindo, repentinamente o elevador para. Ao frear brutalmente Clara vai ao chão, as luzes se apagam e seu ar vai junto. Não entende o que acontece e na mesma hora levanta sem exitar. Aperta várias vezes o botão de subir, mas não adianta está tudo apagado, a energia some. Pega o interfone pendurado ao lado da saída, todavia ele está mudo. A mulher desesperada leva as duas mãos para os fios de seus cabelos e os joga para trás dá alguns passos em círculos no apertado lugar e sabe que algo está errado. Presa Clara não pode fazer nada, a não ser, gritar com todas as suas forças para alguém ajudá-la.

 

***

 

As luzes se apagam no corredor do andar que Lucas encontra-se. Seu corpo fica imóvel quando mergulha na escuridão, seu medo se torna ainda mais evidente. O rapaz em choque olha para os lados sem parar, apreensivo sabe que Edgar pode estar perto ou até mesmo o observando. Com as mãos vazias como sua coragem, anda no breu sem pensar no que pudera acontecer. Quer apenas abrir caminho para que Anne e seu irmão saíam daquele inferno. Lucas arfa de alívio quando chega até o cruzamento dos corredores e não encontra o assassino. Porém seu pânico volta ainda mais devastador ao ver o corpo do policial esfaqueado e coberto por sangue no elevador aberto. Seus olhos tremem como sua carne que não para de ondular de pavor.

 

— Que porra é essa? — Lucas volta para o corredor e corre para avisar os outros, grita intensamente — não dá para sair por aqui, o maldito cortou a energia do hospital. Vamos fugir pelas escadas, rápido…

— Lucas! — Uma voz amarga e penetrante encontra o garoto. Edgar surge atrás de Lucas no escuro esperando um movimento para atingi-lo com sua faca. Anne e Patrick não sabem o que fazer ao ver o maníaco aproximando-se.

— Não irmão, ele vai te matar, corre! — Lucas não se intimida com a voz de seu inimigo ao ver as duas pessoas que importam para ele, todo o seu medo some e desta vez os psicopatas de Santa Monica não irão destruí-lo.

 

Lucas salta para trás em direção a Edgar, segura com as duas mãos o braço do maldito impossibilitando dele usar a faca. O maníaco mesmo ferido tem uma força desumana, não se sabe de onde vem tamanha brutalidade. Já que o assassino tem o mesmo corpo de Lucas, que por sua vez, sente terríveis dores no pulso.

 

— Corre Anne, salve o Patrick, vai! — Anne grita de desespero, mas obedece o que o amado esbraveja.

— Não vão conseguir fugir de mim! — Edgar murmura abafando sua voz por estar de máscara.

— Dessa vez não vai conseguir seu filho da puta!

 

O Castrinni pega sua outra mão e aperta com toda força o pescoço do rapaz, jogando-o contra a parede. Mesmo com uma escuridão entre eles os olhos de ambos entram em confronto. De um lado um olhar de puro ódio e do outro de puro medo misturado com raiva. Lucas mesmo sendo sufocado não fraqueja, continua pressionando a faca de Edgar para longe dele. Com dificuldades o garoto ferido olha para o lado e não consegue mais ver Anne e Patrick. Cria forças da onde não existe e com uma joelhada nas partes íntimas de Edgar, joga o assassino para longe dele.

 

Edgar cambaleia para o lado, enquanto Lucas cai sentado com dores em seu corpo, alguns ferimentos abrem devidos os pontos estourarem, seu roupão branco do hospital agora é tingido com seu sangue. Com fortes dores ele coloca uma de suas mãos na ferida aberta e levanta tentando correr para longe do demônio. Sem saber que o assassino apenas está jogando com eles.

 

— Primeiro vou esquartejar o menor e depois abrir o estômago de Anne na sua frente seu desgraçado. — O psicopata anda lentamente atrás dos desesperados.

 

Anne bate na porta que dá acesso as escadas dos andares inferiores com violência, elas não abrem, alguma coisa foi posta para eles não descerem. Lembra que deixou os celulares no quarto e não tem como pedir ajuda. Patrick chora, e Lucas surge ofegante diante deles. A garota sente alívio, mas sabe que Edgar chegará a qualquer momento.

 

— A porta não abre, temos que subir. — Anne arfa palavras tortuosas, Patrick segura o braço do irmão e os três sobem para o teto do hospital.

 

No quarto de Ester o silêncio reina junto à escuridão devastadora. A única coisa que ilumina o quarto é a luz da lua cheia que brilha sobre a face deformada da menina. Seus olhos permanecem fechados, e os aparelhos desligados fazem a garota soar frio, seu corpo treme demasiadamente. Ester parece mexer os dedos e o que não poderia acontecer é feito — Ester abre os olhos, com fúria aperta o lençol com as mãos enfaixadas. — Em um salto fica sentada na cama, levando uma expressão de sufocamento. Abre a boca puxando o ar para seus pulmões, desorientada Ester observa seu quarto, sente seu rosto dormente, olha trêmula para todos os lados e concluí falando para si mesma.

 

— Então fui trazida para o hospital? Não era esse o lugar que queria estar, achei que Ed fugiria comigo. — Ester passa um dos dedos no braço esquerdo e parece sorrir. — Aqueles idiotas acharam que eu estava a beira da morte, o líquido contido na seringa que tinha comigo para dormecer Edgar me serviu, quando vi a polícia injetei em mim mesma. Mas o filho da puta do Edgar me traiu, me trouxe para me prenderem. Meu irmão, você só me decepcio… — Ester passa a mão sobre seu rosto e percebe que está enfeixado, com rapidez e atordoada levanta da cama, tira os aparelhos em seu corpo e corre para o banheiro do quarto.

 

Assustada se olha no espelho e percebe que a dormência ia além de apenas feridas. O seu rosto adormecido denuncia que algo está errado, mas achou que era pela anestesia que deu em si mesma. Não! Há algo de pior, treme como nunca tremeu ao ver seu rosto quase enfaixado por completo. A Castrinni engole seu rancor e transborda o medo preso em seu coração, não acredita que seu rosto foi ferido ao ponto de estar tampado. Leva os seus dedos finos até as faixas de esparadrapos e começa a desenfaixar o rosto. Está ofegante, seu coração disparado, suas pernas quase não a sustenta. Lágrimas caem de seus olhos ao ver o que a faixa escondia. Seu rosto irreconhecível. A pele não existe e apenas emaranhados de carne viva, veias saltadas, seu lábio superior destruído fazendo sua gengiva aparecer mesmo com sua boca fechada. Não sente dor por ainda estar sobre o efeito da droga e dos anestésicos que os médicos aplicaram, entretanto sua dor não vem das queimaduras terríveis, e sim, de sua alma, vem de dentro dela. O maldito do Edgar não havia salvado sua vida, e se dependesse de Lucas ela teria morrido queimada. Tudo que pensava estar sobre controle desaparece, e a única dor que sente é a dor do desespero.

 

— Não! Estou destruída, estou feia! Não, não, não… — Ester pega em seu cabelo e apenas de passar os dedos volumosas madeixas caem no chão, ela estava perdendo os fios e várias partes de seu coro cabeludo dava para ver. O pavor foi maior, fazendo a garota cair no chão desolada. Chora como nunca havia chorado, se esperneia no chão em estado de choque.

 

Quando cansou de rebater seu corpo, avistou roupas no armário do quarto. Provavelmente da enfermeira. Ester levanta, olha no espelho e retorna sua consciência maligna. Em um segundo sua expressão desaparecera, Ester está equilibrada de novo. Caminha até as roupas enroladas em um plástico, e percebe que são novas. No plástico um bilhete “meu amor use hoje quando sair do seu expediente, em nosso jantar de noivado”. Ela retira da embalagem um vestido preto curto até os joelhos, coloca em frente ao seu corpo e sabe que é seu número. Olha para o chão e não acredita no que vê: sapatos vermelhos de salto alto. Ester balança a cabeça e vocifera olhando para o espelho.

 

— A roupa perfeita para uma dama matar todos inclusive seu irmãozinho!

 

No elevador de serviços, Clara cansa de tanto gritar, sua voz quase não sai mais. Soando em pânico deita no chão quente do lugar e desiste de continuar pedindo ajuda. Não consegue tirar os filhos da cabeça e tem certeza que há algo de errado naquele lugar. Sem esperanças abraça os joelhos e chora, entretanto em um instante leva um terrível susto. As portas do elevador são batidas diversas vezes até um machado adentrar o lugar, a mulher assustada pula para trás encostando o corpo no pano escuro que cobria as paredes, observa quatro mãos aparecerem entre o vão que o machado criou, e sabe quem é!

 

— Mathias?

— Clara se afaste da porta. — Ela mantêm o corpo longe. Junto com um homem Mathias abre a porta do elevador que parou entre andares. — Consegue subir? — Fala o delegado dando a mão para ela, que salta segurando a mão dele e se espremendo para sair. Depois de alguns minutos ela sai do elevador, entre a escuridão e o desespero a mulher vocifera.

— O que realmente está acontecendo aqui Mathias?

— Já acionei todos os meus homens, vai ser difícil dizer isso para você… — Clara levanta do chão em gritos.

— Meus filhos, tenho que salvá-los! É ele não é?

— Sim, Edgar sobreviveu aos tiros que dei, ele matou os que levavam ele até o necrotério, assassinou duas mulheres que trabalhavam na cozinha do hospital, e provavelmente é o responsável pelo incidente lá fora, até mesmo este apagão.

— E o que espera? Vamos subir lá para cima, vamos salvar meus filhos, por favor. — Mathias olha para Clara e diz com firmeza.

— Salvarei eles, entretanto você prometerá que ficará aqui.

— Mas…

— Clara, eles precisam de você viva. Eu e o Fagundes subiremos até o andar que estão os garotos e vamos salvar seus filhos e a Anne, temos armas, temos o preparamento que você não tem. Aguarde aqui. — Clara entra em lágrimas e Mathias abraça a mulher, mas não tem tempo de confortá-la.

— Delegado, tento entrar em contato com o Germano, porém ele não responde. Ele estava fazendo a ronda no quarto da Castrinni, enquanto eu jantava.

— Vamos subir e encontrar o policial Germano e os outros.

— Entendido! — Mathias da de ombros para Clara e dá alguns passos rápidos sem olhar para trás, todavia para ao escutar a voz rasgada da mãe em prantos.

— Salve meus filhos! — Ele sorri para ela e some na escuridão.

 

Mathias chega até as escadas para subir, mas encontra travado por alguma coisa. Dá alguns chutes e nada de abrir, fica apreensivo. Olha para seu companheiro e ele entende na hora. Juntos se chocam contra a porta de aço que afrouxa um pouco, agora sabe o que faz ela estar presa. Uma barra de ferro entre a alça da porta.

 

O oficial estica o braço soa em êxtase com dificuldade de pegar a barra de ferro, depois de algumas tentativas abre a porta. A escuridão das escadarias é emitida, segurando sua arma com as duas mãos ele e seu policial sobem em disparado até o último andar. Exatamente cinco andares. Depois de muitos degraus chegam até a porta do andar que Lucas está.

 

— Ele trancou com uma barra de ferro essa porta também. Provavelmente lacrou, voltou para o quarto andar e subiu de elevador. Assim ninguém conseguiria descer. O desgraçado é esperto.

 

— O que devo fazer delegado?

— Fagundes, suba as escadas seguintes e com cautela vasculhe por qualquer pessoa, vou entrar no andar e fazer uma varredura, vou te seguir depois.

— Entendido. — Fagundes sobe ainda mais as escadas e Mathias entra no andar do hospital onde tudo ocorreu.

 

O escuro dificulta o andar do cauteloso oficial da polícia. Sabe que se der brechas Edgar pode surpreender. Olha para os lados, tentando observar tudo o que pode segurando firme a arma na altura de seu rosto. Passa pelo quarto de Ester, quase caindo ao chão quando percebe a ausência da detida. Arregala os olhos e acelera os passos em direção ao quarto de Lucas já se preparando para uma tragédia, que é adiantada. Mathias encontra o corpo de seu amigo policial, esfaqueado até a morte, jogado dentro do elevador e banhado ao seu sangue. Não acredita na cena, balança a cabeça várias vezes, checa o corpo e percebe que a arma do policial foi levada.

— Meu Deus do céu, — pega o rádio da policial e grita apertando um botão — atenção todas as unidades, chamada de emergência. Todas as unidades…

— Não queira mais pessoas na nossa festinha delegado! — Mathias é surpreendido com um bisturi cravado na altura de seu pescoço. Ester fere com violência o homem que cabalei para o lado, sangrando e sem forças deixa o rádio cair.

— Quem é? Meu pescoço não consigo tirar.

— Cravei fundo atrás de seu pescoço policial, se tirar o bisturi vai sangrar até a morte. Sabe, gosto da anatomia humana, tive que estudar sobre isso para ensinar o Edgar os pontos vitais das suas vítimas.

— Ester Castrinni? — Mathias sangra muito e cai no chão deixando a arma rolar para longe.

 

Ester surge das trevas em um salto alto vermelho, e em seu corpo o vestido preto curto que a enfermeira deixou no banheiro. Mathias se assusta com a face deformada da garota, tenta pegar a arma, porém Ester pega primeiro.

 

— Delegado, delegado. — Ester atira na perna de Mathias, e o homem rola de dor e tenta levantar, perdendo sangue pelo bisturi em seu pescoço. — Você quase me pegou, talvez se tivessem feito o trabalho de vocês na época que matamos meus pais nada disso teria acontecido.

 

— Não faça isso Ester. Não… — Tudo passou como um filme na cabeça de Mathias, a morte de sua esposa e filho, sua profissão que dedicou-se a vida inteira. Clara… Ele queria ter tido tempo de conversar melhor com a mulher que abriu seu coração adormecido, porém sabe que deveria estar ali, naquele lugar. Está em paz. Ester aperta os olhos em uma expressão de ódio e sem esperar mais atira na cabeça de Mathias matando o delegado na hora.

 

O sangue joga de baixo da cabeça do homem, por causa do buraco que a bala fizera. Ali acaba a bravura de um justiceiro, e começa a vingança de uma assassina. Ester tira o bisturi do pescoço do cadáver e vira o corpo de Mathias para cima, observa os traços do rosto dele e completa.

 

— Você era bonito, assim como eu era. Vou tirar a pele de seu rosto e jogar na cara do Lucas, para ele ver quem ele despertou. — A Castrinni ajoelhada, começa trabalhar. Corta delicadamente a pele do rosto de Mathias e prepara-se para encontrar os que fizeram ela sofrer. — Edgar, mate todos, mas deixe "ele" para mim.

 

**

 

Os três em estado de atenção e medo escondem-se atrás de uma grande caixa d'água, no teto do hospital. Tubulações, saídas de ar e geradores dificultam a visão da porta de aço que separa a escadaria. Patrick fica estremido e chora baixo, tem medo do que pode acontecer com ele depois do que viveu naquela cabana do inferno. Passa o dedo delicadamente em suas feridas costuradas e olha para Lucas que desolado fala sussurrando:

 

— Vai dar tudo certo maninho, vou conseguir tirar a gente daqui.

— Estou com medo de morrer, promete que não vai me deixar morrer? — Anne abraça Patrick e Lucas responde firme:

— Eu prometo! Agora vamos analisar o lugar. Acho que conseguiremos passar pela passagem de ar, aquele lugar pode nos levar para baixo.

— Não Lucas, teríamos que estourar ou desparafusar as lâminas que giram para entrar, assim o assassino nos pegaria. — Anne murmura, Lucas fica ainda mais nervoso. A conversa baixa é interrompida por uma voz alta e voraz.

— Tem alguém ai? Polícia. — Fagundes passa pela porta de aço e segue apontando sua arma para todos os cantos.

 

Lucas e Anne se olham animados, enfim, ajuda! Os dois levantam de onde estão e acenam discretamente para o fardado. Que faz um sinal com a mão para eles ficarem onde estão, pois um barulho fez o policial ficar em alerta. Vinha de um local escuro atrás da estrutura da porta de saída. Os jovens aflitos observam tudo, não sabem o que fazer Edgar pode estar em qualquer lugar. Fagundes anda sorrateiro até a parte escura, acende uma pequena lanterna alojada na arma e ilumina o lugar. Apenas caixas de tranqueiras ele avista. Vira de costas e completa olhando para Lucas.

 

— Ele não está aqui, vamos garotos descer agora, estão salv… — Uma mão surge sobre suas costelas, um apertão seguido de uma facada em seu pescoço. Um corte profundo degolando o fardado. Sangue é jorrado por todos os lados, seu corpo cai no chão. A luta para tentar respirar faz Fagundes se sufocar ainda mais com o sangue. O policial está morto.

 

— Lucas, você sabia que depois de anos vivendo isolado, ganhamos sentidos aguçados? Eu me identifico na escuridão então não tem como se esconder de mim. — Vendo a cena desesperadora Lucas puxa o irmão e Anne o segue. Os três estão encurralados, olhando para baixo o rapaz vê que não tem jeito, é muito alto para tentar qualquer coisa.

 

— Nos deixe em paz Edgar, você tá livre, não tem mais Ester para te prender, suma daqui. Vá viver! — Lucas esconde o irmão atrás dele. Anne arfa de medo, os três estão perante o pior dos pesadelos. O mascarado bufa de ódio e ofegante aponta sua faca para suas vítimas.

— Vocês, vocês…

— Por favor, não nos machuque mais! — Anne grita histérica. Edgar retira o que cobre seu rosto. E revela seu olhar tenebroso. Dá um passo para frente balançando a faca suja de sangue. Lucas afasta todos e chega na beira do prédio. A tensão é enérgica, o medo evidente. A cena de terror claustrofóbica, passa mil coisas na mente de Lucas, mas todas dão errado em seguida, se fosse apenas ele enfrentaria o demônio, porém se falhar o irmão vai morrer. Decide fazer algo…

 

— Seu… — Entretanto é interrompido por uma voz doce e fraca.

— Não fui convidada para a festinha? — Da escuridão uma coisa é jogada ao encontro de todos parados ali. Quando percebem o que é, Anne quase vomita, Patrick fecha os olhos e Lucas fica sem reação. O rosto de Mathias, — apenas a pele delicadamente retirada — é jogado ao chão.

 

Edgar arregala os olhos virando para trás. Da escuridão Ester surge surpreendendo todos com sua roupa ousada e seu rosto deformado. Ela desfila caminhando com passos modulados, suas mãos sujas de sangue segura um bisturi fino e afiado. O irmão não consegue entender. Ester chega perto dele, enquanto os sobreviventes estão congelados.

 

— Como consegue andar? — O psicopata fala, e a Castrinni responde com sua boca salivando.

— Animal, não sabe diferenciar uma morta viva de uma mulher anestesiada? Você me deixou para ser presa. — Lucas assustado com a aparência de Ester caminha devagar para fugir, todavia não conseguira. Ester em fúria berra. — Desta vez não vai escapar Lucas, não vai ser igual à fábrica. — Ela tira uma arma escondida em seu decote.

— Uma arma? Você me surpreende Ester. — Lucas muda o tom de voz.

— Virou homem? Parece que não tem medo de mim. — Edgar volta olhar para os três jovens e Ester fica ao seu lado. Anne balança a cabeça para Lucas dizendo, não!

— Olhando os dois um do lado do outro sei o que sinto.

— E o que sente? — Edgar pergunta.

— PENA! — Assim que ele fala uma voz estridente rasga o clima. Clara está parada atrás dos dois assassinos, pegando a arma de Fagundes caída no chão.

— Meus filhos não seus desgraçados. — A surpresa é grande, Ester salta para o lado e os tiros são disparados ao encontro de Edgar. Três tiros nas costas, o psicopata cai no chão.

— EDGAR! — Ester vocifera, o maníaco sangra pela boca, se retorcendo.

— Mais três tiros, duvido sobreviver. — Clara treme e chora ao mesmo tempo. Abre os braços para receber os filhos.

— Mãe…

— Sua vaca. — Antes de Patrick chegar até a mãe, Ester no chão aponta a arma e atira uma única vez, acertando o peito da loira.

— Não mãe, mãe… — Lucas grita e Patrick para no meio do caminho em choque de ver a mãe cambalear no alto e cair com um o peito estourado. Lucas tenta correr, porém Ester ameaça.

— Se se mexer atiro no garoto também. — Anne segura o braço de Lucas.

 

Ester corre ao encontro de Edgar quase sem vida, coloca uma de suas mãos no sangue que escorre sem parar de seus tiros e olha a face palidecida do homem que passou sua vida inteira ao seu lado. Observa os traços do rosto do assassino, passa a mão no cabelo dele e lembra de tudo que passou para chegar até aqui.

 

— Ester…

— Mesmo não entendendo o que eu sentia por você, fiz tudo para não tirarem você de mim.

— Se me amava por que mentiu? Ah... — Ele cospe mais sangue.

— Eu te amei muito, sabia que não era meu irmão e isso me motivou a fazer tudo que fiz, se não tivesse prendido você e te dopado para parecer doente, papai e mamãe devolveriam você para o orfanato, escutei as conversas deles e não suportaria.

— No fim Ester, você moldou um psicopata refletido a sua imagem, quem realmente é uma psicopata é você mesma. Você é a “Psicopata de Estimação”, sua outra personalidade que adestra seu verdadeiro eu, você é o bichinho não eu. — Ester sorri e fala seca e fria para o moribundo.

— Você tem razão, sou adestrada pelo meu lado mau, mas assim como você disse que se libertou de mim, eu te digo. Eu me liberto de você e deixo meu lado mau dominar a frente, adeus irmão. — Ester pega o bisturi e grava violentamente no olho de Edgar, o matando no mesmo instante, o fim de um monstro acaba de libertar uma fera ainda mais violenta. Ester levanta deixando o corpo do irmão esticado e apontando a arma para Patrick indaga com todas as letras.

 

— Lucas tudo isso é culpa sua, se não tivesse conhecido você nada disso aconteceria. Eu te amei e estava disposta a acabar com o teatro da minha vida por você, mas me feriu igual todos sempre fizeram, você acabou com tudo. Não vou te matar, sabe o que farei? — Lucas berra ao ver Ester agarrar Patrick.

 

— Não Ester, não o machuque — Lucas chora em desespero, e Anne fala:

— Ester escute, tudo pode mudar, vá embora e não te denunciamos.

— Ah Anne! Esqueci de você, queria ver suas tripas ao chão, mas acho que não farei. Por hoje chega de mortes.

— Então me solte Ester — Patrick luta para se soltar, mas ela vocifera.

— Chega de mortes, hoje! Você vem comigo Patrick, farei você ficar no lugar de Edgar, cuidarei de você e nunca mais verá seu irmão de novo. Era para ter sido assim desde o começo, se eu não tivesse me apaixonado por Lucas...

— Não, solte meu irmão.

— Me larga, não quero ir! Lucas me ajude, você prometeu. — Lucas sabe se for ao encontro deles Ester atira em Patrick, apenas chora. Vê o que restou do rosto de Mathias ao chão, observa sua mãe morrer aos poucos no chão, Anne chorando em desespero… Tudo passa como uma navalha cortando seu consciente.

 

— Lucas, vou descer com Patrick apontando a arma para ele a todo momento, se pensar em me seguir ou eu vê-lo atrás de mim atiro sem exitar. Sabe de uma coisa, sempre te invejei por ter um irmão de verdade. Patrick vai me fazer companhia, ele será o irmãozinho que nunca tive. — Ester vira de costas e puxa o garoto.

 

Lucas olha a expressão do pequeno sumir no ar. Sente que perderá o irmão e a mãe, sabe que Ester fala sério e que nunca mais o verá. Aquilo dói em seu peito. A maldita vizinha que amou, termina destruindo sua vida por completo, antes tivesse morrido, — é o que passa em sua cabeça — a cena parece acontecer em câmera lenta, Ester desaparece na escuridão das escadas levando seu irmão. Que grita com todas as forças.

 

— Lucas, mãe… Eu amo vocês! — Ao escutar isso Lucas não aguenta, tenta correr, porém Anne impede.

— Se for atrás o Patrick não terá chances, vamos cuidar da sua mãe e depois correremos pedir ajuda. Ester não vai conseguir fugir pela rodovia, tem polícia por todos os lados. — Lucas concorda em prantos, cai de joelhos vendo sua mãe sangrar.

— Mãe, não morre! — Clara segura a mão de Lucas e sussurra.

— Salv-e-e… Salve o seu irmão, cuide dele… — Ela afrouxa o apertar de mãos, Clara com um tiro em seu coração morre.

— MÃE! — Lucas soluça de chorar, Anne abraça o amado que não sabe o que fazer.

 

**

 

Do lado de fora do hospital a emergência tenta socorrer de todas as formas as vítimas e os feridos da explosão dos carros. A luz do hospital volta ao normal facilitando o trabalho. Enquanto policiais entram em disparado no prédio. Pela correria não percebem uma garota andar descalça com um sobretudo branco do hospital tampando sua face, levando em uma cadeira de rodas um garoto. Ester consegue sair do prédio sem problemas, todos estão mais preocupados com Edgar e não imaginam que Ester está andando e viva.

 

Apontando a arma nas costas de Patrick na cadeira de rodas ela sai sem preocupação. Passa pelos médicos que levam os feridos para dentro ou cuidam deles do lado de fora mesmo. Ela sorri e fala baixinho.

 

— Edgar era um gênio mesmo, facilitou nossa fuga, não é irmão?

— Não sou seu irmão! — Patrick vocifera. Ester para a cadeira de rodas, retira do sobretudo uma seringa e aplica no garoto.

— Quando acordar será!

 

Um carro velho e antigo está ligado no estacionamento do hospital, afastado de toda muvuca. Parece esperar alguém, e este alguém é Ester. Que vai em direção do carro, abre a porta e joga o menino dentro. Ao fazer isso, ela entra no carro e senta ao lado do motorista diz, enfaixando o rosto deformado.

 

— Vovó, quanto tempo!

— Você está mal minha querida.

— Aconteceram desavenças. Mas o importante é que consegui o que queria. Troquei o Edgar.

— Se aproximou da família Oliveira apenas para trocar de irmão?

— Vovó a senhora como ninguém me conhece. Assim que vi que novos vizinhos mudaram, e que não conheciam minha história me aproximei. Desde o começo vi o pequeno Patrick como um substituto para Edgar. Por isso sequestrei ele para testá-lo, joguei ele de cabeça nas atrocidades, e ele reagiu bem. É perfeito para ser meu irmão.

— Muito bem querida, estou ansiosa para receber um novo Castrinni.

— Aprendi a ser assim com a melhor. — A mulher de cabelos grisalhos e pele enrugada, aparentando seus setenta anos sorri para a neta. Seus olhos são os mesmos de Ester, a velha completa dando partida no carro.

— Foi bom eu ter fingido minha morte igual Edgar não é filha? Assim você conseguiria os remédios que eu faço com a maior facilidade.

— Sem a senhora nunca teria conseguido controlar Edgar, fiz do jeito que me ensinou, assim como fez com o vovô, eu fiz com Ed. Nunca ninguém desconfiou que a senhora estava viva e que me dava as drogas que fazia Edgar pirara, nem mesmo Lusia e sua filha enxerida, no fim, você é um fantasma vovó.

— Podemos viver em paz agora, vamos para minha fazenda, onde todos acham que estou morta. Vou cuidar da minha pequena. A partir de hoje os Castrinni finalmente morreram. — Ester sorri e olha para trás, alisando os cabelos lisos de Patrick enquanto ele dorme. O carro sai do hospital, passa pelos policiais que olham uma doce senhora passar por eles. Desaparecem na estrada deserta.

 

Lucas corre para fora com Anne. Olha para todos os lados, mas não vê sinal de Ester com seu irmão. Desorientado pergunta para todos que estão no local, Anne o ajuda. Ninguém viu Ester Castrinni.

 

— Alguém viu uma mulher passar com uma criança? — Uma enfermeira grita.

— Vi uma pessoa passar com um menino em uma cadeira de rodas, mas desapareceram. Não vi quem era.

— Não Anne, meu irmão, minha mãe…

— Meu Deus Lucas! — Anne abraça forte o garoto que desesperado ajoelha no chão.

— Ester Castrinni destruiu tudo que eu amava, ela venceu…

 

****

 

Um ano depois.

 

O vento bate forte a janela da pequena casa de campo. O ar gélido e refrescante balança a cadeira da velha senhora que faz trico enquanto assiste o telejornal. Levanta seus óculos para enxergar melhor as letras embaixo da repórter que fala perante a reportagem.

 

— As buscas ainda não terminaram, Lucas Oliveira busca sem cansar seu irmão desaparecido, mas ainda sem nenhuma pista de seu paradeiro. Cartazes foram distribuídos por todo o estado. Para mais informações visite o site “Onde está Patrick”, a ONG criada por Anne Pacheco para encontrar crianças desaparecidas. É com você Roberta. — A televisão desliga.

 

— Vovó essas coisas não se devem assistir, eu vou ver como ele está.

— Sim querida, vou preparar biscoitos.

 

Ester com seu rosto coberto por uma máscara de porcelana branca, desce as escadas de um velho porão, segurando uma bandeja com uma seringa e alguns comprimidos. Chega ao fim da escada e passa uma mão na parede, revelando um quarto secreto. Continua por um corredor apertado até um quarto trancado a chave. Abre o quarto onde está Patrick, deitado em uma cama, amarrado a correntes. O garoto olha fixamente para o teto com os olhos fundos e sem cor. Parece um zumbi.

 

— Aqui está a dose de hoje! — Ela joga dois comprimidos na boca do pequeno e o faz engolir. Ele não reclama, mas ao injetar o líquido no braço, o garoto se rebate desesperadamente na cama, seus pés descalços com seus calcanhares na carne viva pelas correntes vão de um lado a outro, até ele se acalmar. — Vai ficar tudo bem.

— Obrigado. — Ele responde fraco, e sorri com os dentes amarelados para Ester.

— Eu te amo, Patrick Castrinni.

 

 

Fim.

 


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Notas finais do capítulo

MEUS AMORES, QUERO SABER O QUE ACHARAM DA HISTÓRIA!!!! OBRIGADO MAIS UMA VEZ