The Kiss Of Midnight escrita por Nárriman


Capítulo 39
Capitulo 39


Notas iniciais do capítulo

A única coisa que tenho a dizer sobre esse capítulo é que estive trabalhando nele durante quase duas semanas e creio que esse foi o meu maior tempo em um único capítulo,espero esclarecer nele algumas coisas,nem tudo será revelado nesse,mas boa parte sim.
Me desculpem se não gostarem de como as coisas ião caminhar desse capítulo em diante,mas desde o início isto estava planejado.
Boa leitura.



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Pov’s Ally

   Assim que despertei na manhã seguinte ainda com o vestido de gala a primeira coisa que tomei consciência foi do sol praticamente me queimando viva.

   Ainda um pouco desnorteada consegui me levantar sem cambalear até chegar as cortinas para logo fechá-las.

  Aquele anel ainda me faz muita falta.

  Do jeito que estava fui até o corredor ainda vazio. De onde estava podia conhecê-lo, porém agora estou em um dos primeiros quartos e não no último sendo o mais privilegiado, o melhor.

   Bati a porta do que suponho ser o quarto em que Cassidy esta com Dallas e logo fui recebida por uma loira descabelada, com a maquiagem borrada e ainda totalmente sonolenta.

—Cheguei em uma hora errada?Se quiser eu posso vir depois. -Falei já dando meia volta quando ela me puxou com tudo para dentro do seu quarto.

—Para com isso Ally. Eu já estava acordada, mas preferi não acordar o resto da turma. Estava na varanda observando o sol nascer. -Disse apontando com o queixo para o sol que se exibia para nós através da enorme varanda não tão distante assim de onde eu estava.

   Rapidamente cobri com minha mão meu rosto e fui para o canto da parede próxima a uma poltrona, porém esquivei e me sentei no chão, ele estava frio, perfeito para mim.

—Sinto saudade de poder ver o sol nascer. -Juntei todas as minhas forças para que minha voz não vacilasse. O dia mal havia começado e eu já não estava conseguindo controlar muito bem minha mente

—Depois de tanto tempo creio que já deve estar acostumada com a nova vida. -Disse vindo em minha direção enquanto se sentava ao meu lado no chão.

   Dei um sorriso triste.

—Na verdade não. Passei praticamente todo esse tempo em Louisiana, lá o que predomina é o clima frio, pensei que fosse perfeito para uma vampira que não pode mais sair no sol, mas confesso que sinto falta do calor, de sair de manhã nas ruas. -Soltei um longo suspiro e apoiei minha cabeça na parede.

—Você ainda não explicou como esta aqui de novo ou muito menos como foi parar em Louisiana. -Mais uma vez voltou a insistir, essa é a frase que me persegue a mais de doze horas.

—Eu poderia te contar aqui, mas não estou muito a fim de ter que repetir a mesma história milhares de vezes, quando formos tomar café da manhã prometo me esclarecer. -Lhe mandei uma piscadela.

—Ok. -Assim um silêncio desconfortável se instalou entre nós, parece que o tempo conseguiu acabar até com minhas amizades.

 —Alias o que você veio fazer aqui?Ver o sol sei que esta fora de questão. -Sorriu de forma meiga para mim.

   Era bom saber que pelo menos ela tentava.

—Vim para pedir alguma roupa emprestada, digamos que vim apenas com a roupa no couro. -Apontei para meu vestido dourado.

—Ah claro. Volto em um minuto. -A vi ir em direção ao que creio ser o banheiro e com isso pude observar seu quarto, tudo parecia estar intacto para quem esta aqui a pouco mais de um dia.

  A cama estava um pouco desforrada, mas nenhum sinal de Dallas o que é um pouco estranho visto à hora em questão.

—Toma, sei que vão servir. -Cassidy me jogou uma calça jeans preta e uma camiseta vermelha.

—Valeu.

—Posso saber onde esta seu marido?Ele deveria estar aqui há essa hora. -Franzi a testa.

—Dallas não dormiu aqui essa noite, foi caçar, deve voltar a qualquer instante. -Deu de ombros e apenas assenti.

—Como é a vida de casada?Deve ser um tédio não é?-Tentei prender o riso e Cassy apenas revirou os olhos.

—Estamos casados há dois anos e posso dizer que são os melhores de toda a minha vida. -Bateu palmas como uma criança sonhadora. —Em resumo posso dizer que somos um casal feliz.

   Voltou a se sentar no chão agora a minha frente.

—E quanto a ter filhos?-Perguntei abrindo um sorriso de orelha a orelha. Minha amiga estava feliz e isso era o que mais importava para mim no momento.

—Eu sou uma vampira enquanto que Dallas um lobisomem, digamos que não seria a coisa certa se fazer, mas sim pretendemos ter filhos. -Um sorriso acendeu seu rosto de forma que seus olhos brilhavam a cada palavra referente ao seu casamento e planos futuros.

—Saiba que não é fácil cuidar de um filho. -Ri comigo mesma.

—Nem você. -Deu um leve empurrão em minha perna e assim caímos na gargalhada.

   Neguei com a cabeça e assim continuamos a jogar conversa fora até ela tocar em um assunto que não me agrada nem um pouco.

—Eu vou ser madrinha do casamento do Austin e da Lucy. -Pelo seu tom de voz parecia mais que estava me pedindo desculpas.

—Que ótimo e qual vai ser a cor do seu vestido?Preto?-Tentei disfarçar a ironia Np tom de voz.

—Preto?Por quê?-Sorriu para mim inocentemente.

—Não sei, Austin é um vampiro e ela uma bruxa, estou imaginando um casamento super gótico. -Tentei prender o riso.

—Não seja tão má Ally. -Ela me deu um leve empurrão. —Lucy é muito doce, acho que irá preferir o tradicional mesmo.

   Revirei os olhos.

—Que clichê.

—Eu gosto disso nela, é como se nada a abalasse. Esta pronta para enfrentar qualquer coisa ao lado de Austin. -Desde quando minha Cassy se tornou esse monstro sensível?

—Não acho que ela seja isso tudo. -Desdenhei.

—Ally ela é um amor de pessoa, se há conhecesse um pouco mais veria que só quer o melhor para todos nós. Ela ama o Austin e é uma ótima amiga. -Cassidy pronunciava as palavras como se estivesse se referindo a um anjo.

—Não sei por que confia tanto assim nela. Pode estar apenas querendo dar um golpe em todos vocês. -Falei o óbvio.

—Sei que é difícil pra você ver o Austin seguindo a vida sem você estar inclusa nela, mas ele esta feliz.

  Depois dessa frase foi impossível disfarçar a vontade de querer vomitar.

—Eu não estou falando do Austin, pelo amor de Deus eu não preciso de um homem para ser feliz. -Bufei de raiva já começando a me levantar. —Só quero que saiba que não estaria aqui para quando ela te apunhalar pelas costas e você procurar consolo em meu ombro.

—Desculpa, é que o que eu apenas estou tentando dizer é que se você tentar ter uma conversa com Lucy tenho certeza que irá perceber como ela é uma boa pessoa. -Pelo tom de voz eu podia notar que ela estava cansada de colocar na minha cabeça como a outra é legal.

—Ok Cassy agora vou tomar um banho. Te vejo no café.-A cortei de uma só vez enquanto ia em direção ao corredor sem esperar respostas por sua parte.

                                                      ***

   Desci a enorme escada de que tanto senti falta e quando dei por mim estava na cozinha onde aparentemente todos já encontravam.

   Quando notaram minha presença trataram de parar o assunto que antes estava em questão. Não preciso perguntar para saber que se refere a mim.

  Fingi que não percebi isto e continuei com um sorriso no rosto.

—Bom dia família. -Falei um pouco alto demais enquanto me sentava em uma das cadeiras entre Elliot e outra que ainda estava vazia.

—Bom dia. -A maioria deles respondeu com exceção de Lucy e Austin.

   Peguei um copo e logo despejei suco nele enquanto ainda sentia o olhar de todos sobre mim.

—Sei que vocês merecem explicações. -Ignorei o olhar de todos eles. — Queria pedir desculpas por a história não ser tão emocionante quando pensavam, porém a verdade é que eu perdi a memória depois que acordei em Louisiana na casa de uma curandeira. Não me perguntei como cheguei lá, pois nem eu mesma sei e ao que pareça a bondosa senhora também não sabe. Ela deixou que eu continuasse morando com ela, afinal eu não tinha nada, não sabia nem meu nome.

—Ela então me levou a uma vidente, não sei o que tinha haver com minha perda de memória, mas comecei a ir com freqüência a essa moça e aos poucos fui recuperando a memória. Pode parecer simples, no entanto isso levou anos e só agora consegui relembrar absolutamente tudo. -Dei uma rápida olhada em Austin. —Tomei coragem e decidi voltar, fim da história.

   Um silêncio se instalou no local. Eles não acreditaram nenhum pouco no que eu disse, alias nem eu acreditaria, mas é o que temos pra hoje.

   Continuei a comer, com todos ainda analisando minhas mentiras de seu próprio modo.

   O olhar de todos eles ainda estavam sobre mim.

—Vocês me olham como se eu fosse capaz de assassinar cada um de você a qualquer momento. -Forcei uma risada.

   Vi Austin engolir em seco, mas não disse nada.

—Eu sou a mesma Ally de antes pessoal, não mudei. —Continuaram calados.

—Apenas pensei que voltar seria o melhor, mas pelo visto não faço mais falta com antigamente. -Consegui fazer com que meus olhos marejassem de propósito.

—Não é nada disso Ally. -Trish se apressou em dizer enquanto os outros ainda me analisavam.

—É que aprendemos a viver sem você e agora meio que ainda não sabemos lidar com tudo isso, nenhum de nós duvidamos de quem você é. -Ela me deu um sorriso terno.

—Nós te amamos Ally. -Foi à vez de Kira dizer essas palavras que todos repetiram para mim, até mesmo Alex me deu uma piscadela. Os únicos que ainda não haviam dito nenhuma palavra eram Lucy e Austin.

   Dez conseguiu manter a atenção de todos presa em suas piadas, devo uma a ele.

    Já não agüentava mais todos aqueles olhos me encarando de forma que a única coisa que esperavam era ver alguma falha no que eu fizesse, ma não dei o braço a torcer.

—Admito que tenho que tirar o chapéu para você Lucy.-Os burburinhos cessaram por toda a mesa.Era a primeira vez que eu tinha uma conversa com a noivinha feiticeira.

   Lucy pela primeira vez me encarou nos olhos, um ar determinado tomava conta deles. Ela não tinha medo, não de mim.

—Para uma mulher ser capaz de domar Austin Moon ao ponto de fazê-lo se casar, nossa essa ai deve ser especial mesmo. -Reconheci enquanto mandava uma piscadela para ela.

   Elliot ao meu lado engasgou com o suco. Virei em sua direção.

—Algum problema Elliot?-Tentei soar o mais inocente possível.

—Não. -Tossiu mais uma vez. -Nenhum.

—Ótimo. Então como eu estava dizendo, estou muito feliz por Austin finalmente ter encontrado alguém que valha a pena passar toda a eternidade ao seu lado. -Forcei um sorriso em sua direção.

—Espero de verdade que nos tornemos grandes amigas. -Acrescentei.

    Lucy parecia estar atônica. Não esperava que eu tomasse uma iniciativa quanto a nós duas termos uma conversa.

    —Ouvi muito falar de você Ally. As pessoas lhe mencionavam como se fosse uma soberana, rainha para ser mais exata. Todos lhe admiram muito e ao ver você aqui percebo que estão certos. -Talvez nenhum deles notasse, mas eu sabia que suas palavras estavam saindo quase que como um sacrifício.

—Não tive o prazer de conhecer você antes, mas ao que parece é surpreendentemente adorável. -Por um segundo alternei meus olhos dela para Cassy que saboreava seu bolo calada.

  E assim continuamos com um belo café da manhã.

                                                                                ***

—Iremos voltar para Craisville amanhã Austin, tem certeza de que não quer sair e aproveitar um pouco?-Dallas mais uma vez insistiu para que o loiro viesse com todos nós, ao que parece estão amando Hill Valley.

  Austin estava a poucos metros de mim sentado no sofá. Seus braços apoiados nos cotovelos enquanto que sua cabeça estava baixa, ele passou o dia inteiro calado.

—Preciso resolver algumas coisas na cidade antes de irmos embora então acho que vou ficar por aqui mesmo. -Ele disse quase aos sussurros.

  Eu podia ver que essas palavras eram apenas um código para não tive tempo de terminar minha conversa com Ally ontem e agora preciso que todos vocês saiam para esclarecermos as coisas.

   Mas eu não iria me explicar agora, quero primeiro analisar o terreno.

  —Tudo bem. -Disse devagar. —Mais algum louco que prefere ficar em um domingo de noite em uma mansão macabra do que na rua se divertindo?-Questionou olhando para cada um de nós.

  Todos permaneceram calados inclusive Lucy, eu podia ver em seu semblante que ela queria gritar aos quatro ventos que preferiria ficar, que não deixaria Austin sozinho, mas sabia que isso não lhe causaria uma boa impressão. Lucy não quer perder os últimos momentos da vida dele mesmo nem sabendo sobre isso, ai como o amor é lindo.

—Ok. Vamos embora. -Alex empurrou todos nós porta a fora.

—Calma ai que a noite não vai embora tão cedo Moon. -Falei enquanto atravessávamos o portão.

—Faço qualquer coisa para sair daquela casa. -Colocou as mãos no bolso e desacelerou um pouco os passos para que eu o acompanhasse, os outros estavam há apenas alguns metros a frente mais preocupados em admirar as casas históricas da cidade.

—Queria entender porque ninguém gosta dela, é tão aconchegante. -Dei de ombros.

—As aparências enganam. Se eu pudesse já tinha me livrado dela há anos. -Disse dando uma última olhada por cima dos ombros para a mansão já distante do nosso campo de visão.

—Se depender da noivinha feiticeira tenho certeza que se livrará antes que você. -Com o queixo apontei para Lucy que brincava com Dez. Todos parecem amar mesmo essa sonsinha.

—Ela é mais inofensiva do que você pensa Ally. -Sua risada sarcástica fez um sorriso brotar em meus lábios.

—Você que pensa. -Deixei o assunto morrer no ar.

—Você acha mesmo que eu iria a deixar ficar tão próxima de tudo o que vivemos se fosse uma farsa?-Arqueou a sobrancelha em minha direção.

—Não estou te questionando, mas como você mesmo disse as aparências podem enganar, não vá apenas por um rostinho bonito e palavras doces, procure ir além.

—Vou muito além Ally, consigo enxergar nas pessoas coisas que nem elas mesmas são capazes de ver. Lucy não é uma ameaça. -Disse convicto.

—Que profundo Alex e o que você pode ver sobre mim?-O assunto estava caminhando para um lugar mais calmo, tudo o que eu precisava depois de uma manhã sobre olhares me queimando.

—Você é mais forte do que pensa Ally, talvez o seu problema seja sempre levar as coisas a ferro e a fogo, se ao menos uma vez tentasse agir por si mesma e não para querer provar algo ao mundo se desse melhor em sua vida. -Disse de uma vez.

—Então o que você quer dizer é que...

—Você deveria parar de querer vingança dos outros quando na verdade deveria vingar a si mesma. -Por um momento esqueci-me de como caminhar e ele me acompanhou.

—Não sei do que esta falando. -Gaguejei e ele apenas sorriu com isso.

—Te conheço tão bem quanto conheci Agnes Ally, você duas podem ser iguais em muitos aspectos físicos, mas psicológico nem um pouco. Enquanto que Agnes mentia, você omite. Pode parecer coisas simples e parecidas, no entanto tem significados totalmente diferentes.

—Não estou entendendo aonde você quer chegar. -Era verdade, pela primeira vez em anos eu não sabia como reagir a alguma coisa.

—Sabe que eu não engoli nenhum pouco aquela história da sua volta, não sabe?-Mudou totalmente de assunto.

—Você não engoliu porque ao contrário dos outros sabe quando alguém mente porque é um mentiroso.

—Valeu pelo elogio. -Ele parecia mesmo estar orgulhoso do adjetivo que lhe dei.

   Voltamos a caminhar.

—Só quero que saiba que se precisar de ajuda é só avisar. -Disse enquanto mordia os lábios.

   Demorei um pouco para processar a informação e ao que ela se referia.

—Como sabe?-Perguntei olhando para meus amigos um pouco mais a frente, eles não estavam escutando.

—Sou um Moon Ally, isso já basta. -Deu de ombros.

—Então esta me dizendo que esta disposto a matar seu ‘’irmãozinho’’?-Fiz aspas com os dedos.

—Austin não serve de nada para mim, na verdade a única pessoa que valia a pena já não esta mais comigo. -Seus olhos rapidamente escurecerão lhe dando um ar sombrio, mas ele não perdeu a postura.

—Ouvi dizer que você nem chorou no enterro dela. -Deixei escapar tentando o distrair do assunto principal.

—Talvez não seja porque não choro que eu não sinta. -Sua voz soou como uma tempestade em meus ouvidos e isso pôs fim a qualquer continuidade que eu tivesse pensado sobre o assunto.

                                                                           ***

   Consegui distrair eles enquanto ainda estávamos em um restaurante, falei que não estava me sentindo muito bem e escapei de toda aquela cenazinha.

    Quando pus os pés na sala principal notei que Austin ainda estava ali, parecia estar a minha espera.

   Um silêncio voltou a tomar conta de todo o ambiente.

   Nem mesmo os criados se atreveriam a pisar no mesmo cômodo que nós dois agora.

  Com um rápido olhar entendi o que Austin queria dizer então apenas subi escada acima deixando que ele me guiasse.

    A sala que há anos eu não entrava me atingiu como um soco na cara. Tudo estava igual, exatamente como na última vez em que estive aqui.

—Parece que nada mudou desde que eu fui embora. -Falei enquanto contornava a poeira em meio a todas aquelas estantes.

—Desde que você morreu. -Ele me corrigiu. Seu tom de voz frio fez um sorriso brotar em meu rosto, o primeiro sincero desde ontem à noite.

—Eu não morri Austin, porque quando isso acontecer tenha certeza de eu não volto. -Lhe olhei dos pés a cabeça, ele estava tenso e isso era uma vantagem para mim.

—Pode ter mais de cinco anos desde que não venho aqui, mas alguma coisa me diz que fui eu quem tirou esse pano do quadro. -Apontei para um lençol velho que ainda estava jogando de qualquer jeito no chão em frete ao quadro. —Esta onde deixei. -Minha voz saiu quase que como um sussurro.

—Não entrei mais aqui desde aquele dia. -Suas palavras denunciavam que ele ouviu a última parte.

—Não permiti que nem os criados limpassem o lugar. Esta tudo como você deixou. -Ele veio em minha direção a passos lentos.

—Mas Você me deve explicações Ally, muitas explicações e hoje não vai deixar escapar nenhuma. -Estávamos cara a cara.

   Com o queixo ele apontou para as duas poltronas que tanto me fizeram falta.

   Seu olhar denunciava que não estávamos ali para relembrar nossos momentos.

   Mantendo meus olhos ainda nele me sentei em uma delas. Austin, porém foi em direção as enormes janelas da biblioteca e abriu as cortinas, revelando assim uma lua cheia totalmente ao meu dispor.

   Caminhou até a poltrona a minha frente e assim ficamos nos encarando por exatos dois minutos.

—Estou esperando. -Disse com toda a calma do mundo.

—Não sei o que você quer saber exatamente. -Revirei os olhos.

—Não seja sínica Ally. -Ele me analisava com um olhar de desprezo.

—Vamos, fale a verdade. -Ele soletrou silaba por sílaba.

—A verdade é que todo mundo vai te machucar. Você só tem que escolher por quem vale à pena sofrer. -O desafiei enquanto tentava prender o riso. Por mais que eu estivesse sendo sarcástica no fundo ele sabia que era verdade.

—Ally não me teste. -Seu peito se movia para cima e para baixo com total lentidão, estava reunindo todas as suas forças para não avançar até mim.

—Ou o que?Vai me matar outra vez?Cuidado, pois posso voltar quando você menos esperar. -Gargalhei em alto e bom som. Ver ele estressado é a melhor distração do mundo.

   Mas antes que pudesse ver em seus olhos a ira que emanam fui pega desprevenida e antes que reagisse Austin já tinha me jogado contra uma das estantes da biblioteca fazendo assim com que alguns livros caíssem atrás de mim.

   Uma de suas mãos prendia meu pescoço, dificultando minha respiração.

—Vai em frente Austin, mas se lembre que ainda estou sobe vantagem. -Levei uma das minhas mãos às costas onde peguei o primeiro livro que senti em minhas mãos para logo em seguida acertar em seu estômago o fazendo desequilibrar e me soltar por impulso.

—Pare de ser infantil e tentar fazer esse joguinho Ally, seja mulher e me diga a verdade de uma vez. -Sua voz preencheu todo o salão e se duvidar até do outro lado da rua. Ele não estava mais pálido, sua cor agora era o vermelho, estava ardendo em chamas.

   Mais uma vez ele me agarrou agora pelos ombros me levando até a parede mais próxima.

   O choque contra a parede me fez gemer baixinho, mas de satisfação. Ele estava caindo na própria armadilha.

—Eu disse pra falar. -No momento em que disse isso pude ver um dos seus punhos vindo em direção ao meu rosto. Até poderia tentar esquivar, mas queria saber se ele realmente seria capaz de me machucar.

   O soco, porém foi cravado a centímetros da minha bochecha na parede lhe deixando um belo buraco.

    Eu podia sentir a raiva tomar conta de todo o meu corpo, não por talvez nesse momento minha bochecha estar enfeitada com um lindo corte ou muito menos por ele estar noivo,mas sim por não confiar em minhas palavras.

—Fui embora porque eu estava grávida. -Gritei para todo o mundo ouvir.

   Era como se eu tivesse sido presa por anos com correntes de aço e que enfim havia encontrado a chave para libertar minhas mãos.

    Austin parou, não conseguia mexer um músculo sequer e cheguei a duvidar se ainda respirava.

   O mundo ao nosso redor havia parado junto com seus movimentos.

   Aos poucos seus olhos foram se fechando à medida que seus punhos se fechavam ao redor do seu corpo.

  Quando voltou a abri-los uma expressão de confusão se apoderou em seus olhos.

—Sempre nos prevenimos Ally. -Ele mal conseguiu dizer com coerência todas essas palavras. Tive que juntá-las em minha cabeça.

—Nem todas às vezes. -Meus olhos então se focaram no canto da biblioteca, no vazio que ela preenchia.

—Nova Iorque. -Disse para ele mesmo e mais uma vez caímos em um mar de lembranças que silenciavam qualquer ruído presente.

—Porque não me contou?-Sua voz saiu tão baixo que creio que ele mal ouviu.

   Meus olhos já estavam um pouco marejados e dessa vez não era por fingimento e sim pela dor que eu sentia no meu coração e eu odiava ter que admitir isso.

—Não tive escolha. -Tomei coragem e o olhei nos olhos, me vendo com lágrimas nos olhos ele pareceu cair na realidade e por fim baixou a guarda.

—Podemos sentar para conversar melhor?-Ele perguntou e eu continuei calada, não era capaz de me mover, não agora.

   Vendo que eu não conseguiria fazer muita coisa sozinha Austin tentou me ajudar, mas com um único movimento com minha mão eu pedi que parasse.

—Quando você descobriu isso?-Tentou ser o mais delicado possível comigo.

   Consegui cor fim me sentar novamente.

—No dia do pacto. -Minha voz saiu mais firme do que pensei e isso por algum motivo me motivou a endireitar a postura.

—Foi por isso que...

—Eu parecia estar bêbada naquele dia porque de fato eu tinha bebido. Não importava a gravidez eu queria fazer o pacto, queria me livrar de todo esse inferno que nos atormentava, mas ai. -Lembrei dela. —Eu estaria cometendo um erro. O bebê morreria e no final o pacto não adiantaria de nada porque todo o sangue estaria acumulado nele. -Eu não precisava de um espelho para saber que meus olhos estavam sem vida outra vez.

—Agnes nos avisou que você não poderia engravidar. -Ele disse o óbvio.

—Um bebê com nossos sangues seria o maior pecado que podíamos cometer e assim fizemos. - Dei um longo suspiro.

—Francis sabia de tudo não era?-Não havia raiva em seu tom de voz.

—De boa parte. Eu o encontrei no bar logo depois do desastre naquela noite. -As lembranças me atingiam como um flash.

—Desde então você ficou desaparecida por dois meses. -Ele prosseguiu seguindo o próprio raciocínio. —Uma gravidez é descoberta em no mínimo um mês e quando te encontrei dois meses depois você ainda não aparentava ter barriga.

—Lembro até hoje que naquele dia eu estava com um vestidinho branco, ele escondia a minha barriga que ainda era muito pequena Austin. -Arrisquei um meio sorriso.

—Porque você fugiu para a floresta?-Voltou a perguntar.

—Eu sabia que com a gravidez Agnes me forçaria a escolher entre abortar e terminar o pacto ou uma vida escondida de Sarah, não preciso responder qual escolhi.

—Eu... Eu matei você. Eu ouvi seu último suspiro... Eu vi você sendo enterrada. -Sua testa franzia a cada palavra.

—Você não me matou Austin, na verdade quando você me encontrou na cabana digamos que eu estava sobre o efeito de uma hipnose, não importava como, eu não morreria não naquele momento. De fato o combinado era eu aparentar estar morta o que até certo ponto deu certo e fui enterrada, mas Agnes sabia de tudo, ela sabia da minha fuga, da gravidez, de como eu não suportaria viver em um mundo onde poderiam me matar e matar meu bebê com um deslize. Horas depois do meu enterro Kile me desenterrou, eu ainda estava sobre o efeito da hipnose que não demorou muito para Belinda reverter. Agnes foi dada como morta assim como no planejado. Ela forjou a própria morte para fugir comigo, para eu criar a minha filha. -Eu sentia os olhos dele sobre mim. - Fomos para Louisiana e por mais estranho que pareça nos aliamos a Sarah, ela quer um de nós dentro de um caixão e eu a prometi que em troca da minha vida e da minha filha, mataria você. Ela mais do que ninguém sabe o quão perigoso é o envolvimento entre nossas famílias e elas me ajudaram a cuidar da minha filha, me ensinaram tudo o que eu precisava saber e no final me fizeram abrir os olhos mais uma vez para a realidade, uma realidade onde um de nós dois não sobreviverá Austin.

—Por quê?O combinado seria que se não fizéssemos o pacto um de nós morreríamos e olha onde estamos. -Apontou para nós dois. —A profecia nunca se cumpriu Ally.

—Muito pelo contrario Austin, sempre nos alertaram que se o pacto não se cumprisse um de nós não estaria aqui para contar história, embora nunca tenham dito quando isso ia acontecer.

—Não quero minha filha envolvida a tudo isso. -Minha voz soou pura determinação.

—O que ela tem haver?

—Ela meio que é uma maldição, tem nosso sangue Austin, é mais poderosa do que eu e você juntos. Tem muita gente que adoraria usá-la como arma. –Mesmo não a conhecendo ele temia a resposta tanto quando temi a primeira vez que a escutei da boca de Sarah.

—Você sabe por que Agnes não contou a Alex sobre a gravidez?

   Ele negou com a cabeça.

—Se Sarah descobrisse sobre isso tentaria matar o bebê, ele teria sangue tanto da minha família quanto da sua e isso como eu já disse meio que é um pecado. -Ele ouvia atentamente cada palavra. —Você sabe que nenhum de nós somos os mocinhos de toda essa merda. -Dei uma risada que mais parecia um suspiro.

—Ainda não entendi. -Franziu a testa mais uma vez.

—Você faz alguma idéia do nome da mulher que dançou ontem?-Tentei refrescar sua memória.

—Era a Agnes?-Ele arregalou os olhos.

—Muito pelo contrário, era Sarah. -Nossa ele esta mais lento do que pensei.

—Ela poderia ter me matado ontem à noite. -Disse para si mesmo.

—Não se preocupe, ela não fará nada com você, não se eu não quiser. Na cabeça de Sarah eu que irei te matar.

—Obrigada melhorou muito meu dia. -Sua ironia me fez rolar os olhos mais uma vez.

—Existe muito mais gente envolvida nisso Austin e todas elas esperam por um fim da sua família. -Tentei explicar.

—Por favor. -Revirou os olhos fazendo pouco caso.

—Acha que estou mentindo?Olhe ao seu redor Austin. -Aumentei um pouco o tom de voz.

—Quantos deles são seus amigos de verdade?Você já parou pra pensar?-Me levantei indo em direção as suas costas ainda recostadas na poltrona. Seu corpo ainda estava tenso e parecia que cada músculo seu iria se quebrar à medida que eu me aproximava.

—O que você quer dizer?-Ele estremeceu ao toque das minhas mãos em seus ombros.

—O que eu quero dizer é que já parou pra pensar nas cobras com que convive?Alex fala o tempo inteiro na sua cara que não teria pena em te matar, Francis e você mesmo depois de tudo ainda trocam farpas, Brady te pediu para matar Alex por algum motivo ainda desconhecido, Sarah esta atrás de você a muito mais tempo do que imagina Kile e você quase acabaram em um terno de madeira, eu mal posso esperar à hora de me livrar de você e uma filha que odeia o próprio pai ao ponto de assassiná-lo. -Sussurrei em seu ouvido.

—Quer adicionar mais alguém a lista?-Perguntei me sentando no braço de sua poltrona.

—Porque ela me odeia?-Ignorou completamente minha ultima frase.

—Talvez eu tenha mentido sobre você a ela. —Dei de ombros. —Nada fora do normal.

—Porque fez isso?

 —Porque se eu falasse a verdade sobre você tenho certeza que infernizaria a minha vida para lhe conhecer.

—Mas eu vou conhecê-la. -Sua Voz tornou a ser fria de novo. Ele estava certo disso.

—Não ,não vai,prefiro que minha filha tenha uma imagem ruim do pai que nunca conheceu do que uma boa de um que não terá muito tempo para aproveitar.

—Você esta se ouvindo?Quer me proibir de ver ela. -Elevou o tom de voz.

—Eu quero e vou, ela é minha filha. -Gritei.

—Também tenho parte nisso. -E assim éramos dois loucos gritando.

—Não iremos chegar a nenhuma conclusão desse jeito. -Tentei me acalmar me apoiando na cadeira.

—Claro!Você não quer propor nenhuma condição, a única coisa que fez até agora foi dizer que me quer morto e que tenho uma filha que nem ao menos posso ver.

   Continuei calada. Não tem como conversar sem haver uma briga no meio com este homem.

   Quando pareceu se acalmar um pouco voltou a perguntar.

—Então um de nós dois precisamos morrer?

—Sim. -Tentei ao máximo que minha voz não vacilasse.

—Não tem nenhum jeito de reverter isso?-Eu via o desespero em seus olhos.

—As chances são mínimas. -Dei de ombros.

—Mas existe?Ally de jeito nenhum quero que você faça essa loucura, mas também não quero arriscar perder tudo. Se existe algum jeito de evitarmos isso então porque não?-Um de suas mãos veio em direção ao meu joelho a qual eu afastei rapidamente.

—Teríamos que ser humanos. -Falei de uma vez. —Único jeito de tudo voltar ao normal e Sarah não ter como mudar isso.

—Então faremos.

—Eu não vou me tornar humana Austin. Preferiria morrer a isso. -Descartei na hora.

—Nem por ela?Nem por nossa filha?-Ele gritou a última parte o que me fez estremecer.

   Não agüento mais todo esse drama. Ele fala como se a conhecesse quando nem ao menos sabe seu nome.

—Você nasceu idiota ou esta aprendendo com Lucy?Acha mesmo que seria tudo tão simples assim?Como ela iria crescer?Como eu ia ajudá-la a suporta a droga dessa vida se nem eu seria mais uma como ela?-As lágrimas queimavam em meus olhos, mas eu não as deixaria cair, nenhuma gota.

   Eu não podia perder minha filha e nem ela me perderia.

—E se fizéssemos o pacto?-Ele pretendia esgotar todas as chances.

—Lamento te dizer, mas ela é o pacto.

   Ele suspirou.

—Meu casamento com Lucy, meus amigos, minha família, serei obrigado a perder tudo isso?Tudo por causa de um erro?-Se levantou em um pulo.

    O som seguinte foi o da minha mão em seu rosto.

—Esse é pela Audrey.

    Quando seus olhos encontraram os meus mais uma vez com um pouco de dificuldade, percebi o arrependimento neles, estava pronto para dizer algo, mas era tarde demais, ele já havia falado demais quando lhe atingi com outro tapa.

—Esse é por eu ter te conhecido.

  E por último lhe desferi um tapa o qual fez seu lábio sangrar.

—E esse por já ter te amado.

  Empurrei-o com toda a força que tive o fazendo cair no meio de uma das prateleiras enquanto sai da biblioteca o mais rápido possível, eu não iria correr, isso seria covardia por minha parte, mas ficar no mesmo lugar que ele depois disso seria impossível.

   Senti que ele estava correndo atrás de mim e assim acelerei meus passos enquanto descia as escadas.

  Com um movimento rápido ele já estava a minha frente atrapalhando minha passagem.

—Ally eu... -Com um olhar eu o calei.

—O maior erro da minha vida sem sombra de dúvida foi ter aceitado fazer aquele trabalho com você. -Não consegui disfarçar a repulsa em meu olhar.

  Ele continuou imóvel enquanto eu desviava de seu caminho e ia em direção ao portão principal. Agora tenho mais certeza do que nunca, sua morte valerá a de muitas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e caso não quero que comentem o que poderia ser melhorado ou algo que faltou ser esclarecido por hora.
E como já disse no capítulo passado leitores fantasmas se manifestem.
Amo vcs.



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