O Máscara escrita por MileFer


Capítulo 11
Chá Amargo


Notas iniciais do capítulo

Capitulo novooo!!!

Espero que gostem deste aqui, pois eu estou adoraaaando os momentos de Rafael e Adélia ♥



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Adélia estava apreensiva com a flor que tinha nas mãos. A rosa que ganhara na noite passada parecia ter ganhado mais vida - ou eram simplesmente os olhos de Adélia, que agora via coisas surreais.

Ela tivera um pesadelo na noite passada. No sonho, ela estava em um salão escuro, sem janelas e completamente vazio. Ela quase não conseguia enxergar; sentia um sopro estranho em sua nuca, causando arrepios em sua pele. De algum modo, ela sabia que estava no chão, na mesma posição a qual caíra. Mas desta vez, ela estava mais assustada. Mais trêmula.

Tens medo de monstros?

Aquela voz lhe dava calafrios no estômago. Era um sussurro feroz, seguido de brisas geladas na nuca de Adélia. Ela sabia de quem se tratava.

Ela viu uma luz dourada ao longe, acima de sua cabeça. À medida que o som de passos se tornava mais próximo dela, ela podia ver a luz aumentando e se transformando em algo parecido com um rosto.

Você sabe quem eu sou?

Adélia quis gritar quando aquela figura agarrou-lhe o ombro com força, ferindo sua pele com o que lhe pareceu serem garras. As feridas ardiam tanto que, quando acordou, Adélia correu para o banheiro para se certificar de que estava bem. Não era muito tarde da manhã; por volta das oito ou dez. Ela não sabia.

Assim que terminou seu café, ela até que tentara ler um livro ou terminar a costura que iniciara, mas ainda estava atordoada demais para qualquer outra tarefa, se não a de sentar-se e olhar para os pingos de água que escorriam do vidro da janela.

Depois do almoço, Jeniffer a arrumara delicadamente.

—Por que está me arrumando? - Ela perguntou, receosa. Será que ela teria… outro encontro? Com ele?

Jeniffer, sempre tão discreta e silenciosa, apenas sorriu estranha e calorosamente para ela. Adélia tentou não ficar assustada, nem ansiosa ou exageradamente nervosa. Então ela avistou a rosa, que ainda estava linda e vermelha como sangue. Com dedos trêmulos, ela a segurou delicadamente entre os dedos e aproximou-a do nariz, sentindo sua fragrância inigualável e tranquilizadora. Aquela rosa parecia pulsar em sua mão, como um coração jovem e apaixonado.

—Está pronta? - Jeniffer a distraiu, tocando-lhe os ombros. Adélia piscou; pronta? Ela nem sabia o que estava prestes a fazer, como poderia estar pronta? - Ah, fique tranquila, querida.

Jeniffer a tranquilizou com um breve abraço - o que deixou Adélia ainda mais surpresa - quando ela respirou fundo, pronta para recuar.

Jeniffer segurou sua mão e a conduziu para fora do quarto e corredor afora. Adélia segurou-a mais firme quando elas chegaram ao salão onde o encontrara. Agora que era dia e ela não estava só, uma onda de excitação invadiu seu corpo. Ela até o desafiaria a lhe dizer seu nome naquele momento.

Jeniffer soltou sua mão e a conduziu escada abaixo com um gesto de cabeça e um sorriso.

—Por que está tão feliz? - Adélia perguntou, cutucando-a com os ombros.

—Por nada - Jeniffer deu de ombros.

Adélia lhe lançou um olhar desconfiado, mas sorriu para ela. Ela queria que Jeniffer também fosse sua amiga, mas a mulher não parecia olhar para a garota da mesma forma. Aquilo magoou Adélia, de certa forma.

—Chegamos - a mulher anunciara, abrindo o que outrora Adélia pensara ser uma janela que dava ao jardim.

Ela olhou para Jeniffer sem entender. O clima não parecia ser o ideal para passar um dia no jardim.

Adélia, ao passar pelas enormes portas de vidros, dera de cara com uma mesa cheia de doces e um conjunto de porcelana (mais bonito que as de sua mãe). O cheiro de bolo a fez sentir saudades de casa.

—Senhorita Adélia - uma voz educada e muito provavelmente masculina a cumprimentou por trás, dando um leve susto nela. Se a voz não fosse tão mais receptiva e livre… - É um prazer revê-la. Sente-se comigo para um chá.

Adélia nunca fora muito fã de chá, mas não podia recusar aquele pedido. Ela sentou-se em uma das cadeiras confortáveis e brancas de frente para o velho que aprontava duas xícaras lindamente decoradas.

—Temos chá de hortelã, maçã, canela e… - Ele pausou, encarando uma jarra diferente do conjunto de porcelana. - Café, eu acho. O que você prefere?

Adélia deu de ombros. Nunca havia experimentado nenhum daqueles sabores de chá, e tomar café às três da tarde não parecia ser tão bom quanto seu pai dizia. No final das contas, ela optou pelo de canela - já que gostava do cheiro.

—É uma boa opção - ele elogiou, enchendo sua xícara com o liquido fumegante. - Leite? Que tal um pouco de açúcar?

—Eu não sei - ela admitiu, entre risos. - Sinceramente, não entendo nada de chá. Não sei o que ficaria bom.

O velho riu e a ajudou com os ingredientes. Ele estava sendo simpático demais em relação ao primeiro encontro deles, quando Adélia quebrara aquele vaso.  A princípio, sua primeira impressão dele fora como um cara mal humorado e sem graça. Mas agora, servindo uma fatia de bolo e ajeitando a própria xícara de chá no pires, Adélia poderia dizer, mesmo insegura, que ele era um cara simpático e receptivo.

—Diga-me, Adélia, como foi o seu dia? - Ele estava distraído, olhando alguma coisa além do jardim.

Adélia pensou na resposta. Poderia dizer que havia sido meio frio e solitário, além de entediante e mórbido. Ou poderia mentir.

—Foi… hum… Legal - respondeu, embaraçada.

Ela esperou que ele falasse mais alguma coisa, mas o velho calou-se de repente. O silêncio que se seguiu fora desconfortável para Adélia, que não fazia a menor ideia do que dizer ou fazer.

Adélia suspirou e passou a observar o jardim, que agora lhe parecia ser maior do o que via através de sua janela.

O gramado verde estava ensopado de lama, com algumas poças se formando em intervalos curtos. Havia um caminho de pedras em forma quadrada que levava até um quiosque - ou o que parecia ser um - perto de uma pequena colina. O local parecia ter sido bonito há tempos atrás, mas agora não passava de um amontoado de madeira quebrada e plantas que serpenteavam pelas últimas pilastras que segurava metade do teto que sobrara. Ao seu redor, havia somente um punhado de mato alto e algumas flores mortas ou encolhidas graças à violência da chuva. A elevação a poucos metros de distância do quiosque tinha uma árvore muito bonita em seu topo, que parecia dançar com o vento e ao som da chuva. Adélia sorriu, se perguntando que árvore seria aquela.

Ao longe, uma enorme quantidade de árvores lhe chamou atenção. Era uma floresta? Ela não saberia dizer ao certo, mas se a perguntassem, ela diria que sim. As árvores lhe lembravam pinheiros; todas juntas e quietas, com um véu cinza-chumbo pesando sobre elas. Adélia sentiu arrepio só de se imaginar perdida lá, sem chances de socorro.

—E como foi sua noite? - Ela fora distraída pelo velho, que bebericava seu chá, enquanto que Adélia mal tocara no seu.

Adélia o encarou de soslaio e pôde captar um sorriso cínico sendo escondido pela xícara. Naquele momento, ela ficara tão nervosa que teve de deixar a xícara de chá sobre a mesa, para não derramar sobre seu vestido cor de creme e muito bonito.

O que ela diria sobre a noite passada? Que havia sido uma das mais assustadoras de sua vida?

—Bem… - ela piscava várias vezes, tentando pensar em outras palavras que não fossem “assustadora” ou “aterrorizante”. - Foi, hã… - Não diga legal!, ela repetiu para si mesma. Não diga…

—Adélia, não tenha medo de falar. - Ele a tranquilizou, surpreendendo-a. - Me conte como foi o seu jantar. Você se divertiu?

Adélia ergueu as sobrancelhas, surpresa por estar surpresa com o fato de ele saber sobre o jantar. Afinal, ele trabalhava lá, deveria saber sobre esse tipo de coisa. Mas, no final, o que mais a surpreendeu fora o fato de que ele estava perguntando diretamente para ela, ao contrário de Jeniffer, que simplesmente assentia para ela e sorria de vez em quando, aguardando atrás de si.

—Foi estranhamente interessante. - Sua voz saiu como um fiapo.

—Estranhamente interessante! - Ele repetiu, rindo. - Era de se esperar que achasse estranho. Mas interessante é novidade. O que achou interessante?

Adélia não achou muita graça, por isso preferiu forçar um sorriso amarelo.

—Você o conhece, não é? - A pergunta veio de surpresa para ambos. Não era para ter soado em voz alta. Mas Adélia estava tão curiosa que não se conteve.

—Digamos que sim. - Ele rebateu, desta vez em um tom intenso, como que para deixar claro. - Por que isso lhe interessa?

Adélia corou, sentindo-se muito insegura de repente.

—Bom… - gaguejou. Ela respirou fundo, tentando acalmar seus pensamentos nervosos. - Ele é sempre assustador daquele jeito ou o quê?

O velho passou alguns segundos em silêncio, como se estivesse refletindo sobre a resposta. Ele bebericou um pouco mais de chá, ignorando a pergunta dela. Adélia ainda pensou em insistir, talvez conseguisse algumas respostas vindas dele do que…

—Imagino que tenham tido uma noite… Simpática. - Ele continuou, distraidamente. - Como foi o jantar?

Adélia mal conseguia se concertar em seu chá agora. Então ele o conhecia… E, obviamente, não queria falar nada a respeito.

Ele não quis me dizer seu nome. - Ela murmurou, tensa com a reação do homem.

—Imaginemos que ele tido seus motivos…

—Porque não posso sequer saber o nome dele? - Insistiu. - Espere, foi ele quem me chamou para jantar, não foi? Ele poderia ser um pouco mais… Educado com seus convidados, não é? Não me parece justo que ele me chame para jantar e nem se dê ao trabalho de…

Naquele momento, o pensamento de Adélia fora interrompido por um vulto negro atrás de si. Em um olhar de direita, ela achara que fosse Jeniffer, mas a mulher estava ao seu lado esquerdo, parada feito uma estátua, prendendo a respiração.

Ela nem precisou olhar para a figura vestida de negro ali atrás para que suas pernas começassem a tremer. Até sua respiração ficou presa em sua garganta, e seu corpo paralisado.

—Imagino que estejam tendo uma tarde… Agradável.

Adélia não esperava vê-lo tão cedo, tão repentinamente. Quando ele se aproximou, tudo nela chegou ao estágio do desconforto. Sua postura estava exageradamente ereta, suas bochechas doíam por causa de suas dentadas e seu estômago parecia estar se contorcendo.

Rafael estava mais lento naquela manhã. Ele não conseguira pregar os olhos na noite passada, graças a seus pesadelos. Quando sentiu que não aguentaria mais, levantou-se da cama num pulo e foi direto para o seu único ponto de conforto. O sol mal havia nascido quando uma dor excruciante em sua perna o obrigara a parar. Ele passara horas ali, deitado na beirada da piscina enquanto deixava que a dor lhe tomasse toda a alma. Ele sabia o que aquilo significava - estava ficando cada vez mais fraco. Nem mesmo algumas horas de nado livre pareciam ajudá-lo mais. Graças a isso, agora era obrigado a usar uma bengala ridícula e patética para não tropeçar escada abaixo.

Mas sua perna era algo meramente insignificante naquele momento em relação à Adélia. Ela estava bonita naquela tarde. Usava um vestido claro e curto, com um decote em formato de coração e um suéter cobrindo-lhe os ombros.

Ela sequer virou-se para encará-lo, mas Rafael podia sentir o nervosismo emanar de seu corpo, por causa de sua postura.  Ela estava tão tensa que ele quase riu.

Ele mal conseguia tirar os olhos dela - aquilo deixou Fordy meio emocionado.  Mesmo sobre a máscara, o velho podia decifrar o olhar que Rafael lhe lançava. Não parecia ser um olhar caloroso e receptivo - não era do feitio do garoto. Era algo mais receoso. Mas ainda assim interessante de se ver.

Igualmente a Jennifer, que tentava esconder sua surpresa desviando os olhos dele a todo o momento. Era a primeira vez que o via com aquela coisa monstruosa em sua face, e sentia-se estranhamente ofendida por ele tentar se esconder com aquilo.

—Uma tarde maravilhosa, senhor. - Fordy respondera, virando-se para encará-lo. Adélia tentou não surpreender-se com o fato do velho não se importar em encará-lo, ou muito menos em ficar igualmente nervoso como ela. Ela lançou um olhar a Jeniffer, que retribuiu apenas com um sorriso, mas continuava aparentemente tranquila.

Adélia parecia ser a única a estar tensa no ambiente.  Como toda a atenção estava nele, ela aproveitou o momento para enxugar as palmas das mãos com o guardanapo que se esquecera de pôr sobre o colo.

—É sempre bom tê-lo por perto, Fordy.  - O mascarado aproximou-se deles, mancando com a ajuda de uma bengala. Ele parou suspeitosamente atrás de Adélia.

Ela tentou não virar para trás, para não encará-lo; como ele conseguia ser tão assustador sem nem mesmo fazer nada?

—É uma honra, senhor — o velho Fordy respondera devagar, cauteloso. - Veio para o chá?

Rafael fez uma careta, por hábito. Fordy sabia dos gostos do garoto, e sabia que chá era uma das coisas que Rafael não apreciava. Principalmente o chá da tarde. Fordy o estava testando, ele sabia. Estava testando-o só por causa dela.  Rafael pensou em não entrar no seu jogo; poderia mancar de volta até o seu quarto e tirar aquela coisa horrível do seu rosto. Ou poderia desafiá-lo também.

—Na verdade, não sabia que teríamos um chá hoje à tarde - ele respondeu, batendo a bengala no chão. - Muito menos que teríamos uma convidada especial conosco.

Adélia engoliu em seco.

—Nós sempre recepcionamos muito bem nossos convidados, não é mesmo Fordy?

Ela lhe lançou um olhar de esguelha, sem acreditar. Então ele havia ouvido suas queixas?

Adélia pensou em uma resposta boa para retrucar.

Primeiramente…

O quê? Ela estava ficando louca? Não podia simplesmente discutir com os proprietários do lugar onde estava hospedada - isso por que não gostava da palavra prisioneira. Adélia respirou fundo e fechou os olhos, afastando a vontade de chorar. Ela se sentia sozinha, cercada de gente que não conhecia olhando-a e avaliando-a totalmente de perto.

— Admira-me que não esteja se sentindo especial.— Ele ralhou atrás dela, com um tom cínico de humor. Adélia estava cada vez mais pressionada e irritada com eles; Fordy, por estar com um sorriso no rosto e o mascarado, por estar zombando dela. - Diga-me, Adélia, o que poderíamos fazer para agradá-la?

Adélia não pôde evitar que lágrimas quentes umedecessem seus olhos,provavelmente borrando a maquiagem que Jeniffer fizera com tanto cuidado. Ninguém parecia se importar com ela ali; parecia que ela era a atração principal daquele circo todo. Ela estava prestes a explodir, mas não queria parecer mal educada e dar mais motivos para zombarem dela. Com isso, ela respirou o mais fundo que podia e bebericou seu chá, tentando manter a calma. Se ele estava afim de lhe provocar, que o problema fosse dele. Não iria se acanhar. Seria o mais forte que pudesse, até não aguentar mais.

O silencio dela deixou Rafael intrigado. Mas o que ele esperava? Mesmo na noite anterior, enquanto a assustava, Adélia o surpreendeu; não que estivesse calma, era óbvio que não estava. Mas pelo menos não estava histérica nem nada do tipo. Rafael tentou pensar naquilo como sendo uma coisa boa, mesmo que aquilo o incomodasse de certa forma.

O silêncio que se instalou foi o mais desconcertante que Rafael se lembrara de ter passado. Fordy o encarava de vez em quando, e até mesmo a criada de Adélia o lançava olhares desconfortáveis, menos a própria Adélia. Ele não sabia ao certo o motivo, mas aquilo também o incomodava.

Ele mancou até o lugar vazio na mesa, arrastando uma cadeira consigo. Rafael sentou-se com dificuldade, ficando até um tanto envergonhado. Ainda assim, Adélia sequer o olhou.

Ela tinha o olhar perdido no jardim à sua frente, ignorando completamente a figura que a investigava avidamente com os olhos. A cada golada no chá, Adélia franzia a testa, como se também não gostasse daquilo. Ela parecia detestar tudo aquilo.

—Adélia - ele insistiu; Adélia apenas fez um gesto de cabeça suave, como que para indicar que o havia ouvido. - Diga-nos o que lhe incomoda.

Adélia tentou ignorá-lo, mas era impossível. Ele era tão insistente que chegava a ser irritante. Um segundo mais tarde, ela sentiu uma pontada de culpa por detestá-lo naquele curto período; talvez ele realmente estivesse tentando ajudá-la ou algo do tipo - embora ela não estivesse segura do seu tom de voz, que parecia cada vez menos amigável.

—Não sei por onde começar… - ela murmurou, o mais suavemente possível.

—Comece por onde quiser - ele retrucou.

Adélia não esperava por aquilo. Ela estava envergonhada demais para falar sobre o que a faria se sentir bem ali, pois tudo o que a faria se sentir bem era pode estar com seus pais, em segurança na sua casa. Ela não queria se expor, não queria deixar evidente a saudade que lhe partia o coração. Ao invés disso, ela optou por tocar em outra ferida.

—Poderia começar com o seu nome - ela murmurou, tímida. Estava um tanto receosa com a resposta dele, mas isso começou a ser menos importante quando ele não respondeu ou demonstrou interesse na pergunta. - Me incomoda estar presa na casa de um desconhecido…

Presa? - Rafael rebateu, intrigado. Não imaginava que aquela palavra fizesse parte do vocabulário dela. Ele sequer imaginava como ela podia ser sentir assim. Era ele o prisioneiro ali, e não ela. Era Rafael quem estava confinado naquele lugar para sempre, sem esperanças e nada do tipo. Estava sozinho, pagando por algo que não entendia e… - Por que se sente presa? - Sua voz derramava ironia.

Adélia respirou fundo. Não era para ter falado aquela palavra. Talvez ele não a entendesse e a estava julgando naquele exato momento.

—Sinto-me presa sempre que olho pela janela e não posso sair - rebateu, defendendo-se. - Sinto-me presa injustamente desde o dia em que cheguei aqui. E tudo isso por causa do seu pai e… - ela engoliu em seco - E você!

Ela não aguentou; nem sabia se estava acusando a pessoa certa por toda aquela confusão, mas a necessidade suprema de desabafar lhe invadiu como uma onda violenta, derrubando todos os limites lógicos e que provavelmente a manteria em segurança.

Rafael não gostou do que ouviu. Não precisava de mais alguém lhe jogando na face o fardo que era, mas, tinha que admitir, a sinceridade de Adélia era algo que não esperava. Ele não fazia ideia do quanto ela poderia estar sofrendo, pois estava ocupado demais em sua zona de conforto, esquecendo-se sempre de tudo e de todos.

—Ora, - rebateu, defensivo - o que a faz pensar que tenho culpa?

Adélia o estava encarando fixamente, irritada e confusa. Como ele podia não perceber?

—Bom, olhe para você!  - ela levantou, tão exasperada que quase derrubara a cadeira consigo. - Conheço você há algumas horas e é a pessoa mais assustadora que já conheci na vida! E tem toda essa história de maldição… - Ela afastou-se da mesa sentindo-se completamente envergonhada, confusa e irritada. Adélia sempre se considerara uma pessoa calma e sincera; eram poucas às vezes em que perdia o controle de si mesma e falava algumas besteiras. Ela sentia-se tão patética que teve vontade de esconder-se para sempre.

Quando atravessou a entrada, desatou a chorar. Jeniffer até tentou acompanhar seus passos rápidos, mas a garota já estava correndo em direção ao seu quarto. Sentia-se desamparada e sozinha mais do que nunca, e só queria chorar e esconder-se.

  

Fordy não disse nada. Apenas lançou um olhar de esguelha ao garoto, que estava petrificado.

—Ela é um doce - comentou, distraidamente. - Pelo menos era, antes de você chegar. Diga-me, o que tinha na cabeça para provocá-la?

Rafael respirou fundo, sufocado. Ninguém era tão sincero assim com ele há algum tempo, exceto Fordy. Ele já havia se acostumado com o velho e até mesmo com o próprio pai. Adélia era completamente diferente de ambos. Não pelo fato de ser uma desconhecida; era como se ela tivesse medo dele, mas ao mesmo tempo coragem o suficiente para lhe jogar algumas verdades na cara. Não era como se ele a conhecesse há mais tempo, mas as horas que passara acordado admirando suas fotografias lhe rendiam alguns pontos, certo?

—Ela me odeia. - Ele pensou alto. - Não a culpo por isso.

—Tsc,tsc. Ela não o odeia. Como odiaria, se o conhece a algumas horas? - Fordy o respondera, mesmo sabendo que provavelmente seria ignorado. - Ela está assustada e com medo. Não sabe o que a espera. Mas quem pode julgá-la?

Rafael não o respondeu, mas estava atento ao que Fordy dizia.

—Com um pouco mais de paciência - o velho continuou - e quem sabe mais atenção, ela consiga se adaptar. Como todos nós.

—Sabe que não é a adaptação dela que me salvaria, Fordy - Rafael odiava aquela ideia; desprezava-a com todas as suas forças.  Mas não conseguia tirar sua verdade.

—Sei muito bem disso, meu senhor - Fordy respondeu, calmamente. - E é por isso que a adaptação é um processo importante.

Rafael ficou em silêncio por alguns segundos, pensando realmente se valia a pena insistir naquela loucura. Não lhe parecia justo, principalmente agora que tinha uma pequena noção de como ela se sentia em relação a ele. Como poderia insistir naquilo, depois de tudo o que ouvira vindo dela?

—Estou imaginando o que a faz pensar em você como sendo a pessoa mais assustadora que já conhecera na vida. - Fordy continuou, distraído. Rafael não teve a menor vontade de retrucar, pois sabia que o velho estava apenas começando uma série de provocações para fazê-lo se arrepender de ser tão grosseiro e assustador. - Penso que elas adoram flores. E elogios. Que tal passeios no fim da tarde?

—O que lhe faz pensar que irei continuar com isso?

Fordy pensou um pouco, terminando seu chá.

—Eu não sei - respondeu, finalmente. - Mas algo me diz que você sabe que essa garota é diferente.


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Notas finais do capítulo

E aí, curtiram?! O que acham de um comentário?!

Fiquem à vontade haha!

Até o próximo ♥



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