Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 7
Arlindo - O Guereiro Renegado




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Arlindo caminhava tranquilamente pelas ruas apertadas da região norte da cidade. Estava tomando sua dose de sol matinal enquanto aproveitava e exercitava o belo corpo, o que o deixava revigorado e também fazia bem para sua pele impecável. Ele parou para observar seu reflexo no espelho que estava a venda na vitrine de uma loja quando ouviu uma voz familiar. Ele se virou e avistou Dorothy há alguns metros de si conversando com um sujeito mal encarado que gritou com ela, chamando-a de maluca, e saiu andando na direção oposta. 

O clérigo de Obad-Hai observou a jovem Leon e a admirou por alguns instantes. Ela carregava a espada no cinto e o escudo nas costas, estava usando os cabelos longos presos pela metade e seu traje de calça escura, botas até o joelho e a jaqueta fechada na cintura de cor avermelhada que vestia por cima da blusa clara destacavam as curvas de seu corpo. Ele ergueu as sobrancelhas finas, impressionado com a beleza da moça, e rapidamente passou a mão nos cabelos macios e bem cuidados jogando-os suavemente para trás. "É, estou lindo" confirmou olhando-se no espelho mais uma vez. Ele então estralou o pescoço e foi em direção a bela garota que conhecera no dia anterior.

— Bom dia! – disse ele se juntando a ela com um sorriso amigável no rosto.

— Arlindo? – Ela se virou levemente surpresa – Bom dia.Você está bem? – perguntou com um sorriso um pouco forçado. 

— Eu estou ótimo! –  afirmou ele sorrindo com os dentes alinhados e brilhantes  – Mas não parece que posso dizer o mesmo de você – comentou o clérigo. – Aconteceu alguma coisa?

— Ah... Não é nada – ela respondeu olhando para o homem que agora já estava longe dos dois.

— Hum... – Ele comprimiu os olhos desconfiado.  – Tem certeza? 

—  Eu apenas estou um tanto preocupada –  respondeu colocando atrás da orelha uma das mechas onduladas que caiam ao lado do rosto.

— Com aquele seu amigo? – perguntou olhando para o sujeito que ia se afastando, tentando descobrir quem era.

— Não – Ela negou com a cabeça – Nem conheço aquele homem direito. Estou preocupada com Steve. 

—  Ah... Achei que tinha um caso com ele e haviam brigado – Olhou para o lado e para baixo.

— O que? Não! – ela negou desgostosa da ideia. Arlindo sorriu. – Eu falei com aquele senhor apenas para saber se ele estava interessado em ir para Thorrun comigo ou se conhecia alguém disposto  – explicou.

— Está indo pra lá? – ele ergueu uma das sobrancelhas.

— Estou tentando. – Ajeitou a barra da jaqueta para baixo – Ontem eu conversei com o rei Hammel e ele me disse que Steve havia ido para Thorrun em missão. Eu pedi para que ele me permitisse ir atrás do meu tio e ele deixou, mas preciso arranjar uma equipe depressa, pois seria muito perigoso ir sem nenhuma ajuda extra para o reino ao norte.

— De fato – concordou o clérigo passando a mão no queixo fino – Mas muito curioso seu tio ter ido para Thorrun.

— Por que diz isso? – ela perguntou entornando levemente a cabeça para o lado. 

— Bom, primeiro que não há nada naquele lugar. Acredito que ninguém more lá para o seu tio ter ido salvar ou qualquer coisa do tipo... Segundo que poucos meses depois dele ter partido, aconteceu o incidente na taverna que investigamos. Claro que é um palpite que a carroça tenha vindo de Thorrun, mas ainda assim, por ela ter batido na taverna, chamou atenção de varias pessoas pro reino do norte, que acabaram viajando pra lá...

— Está dizendo que há uma conexão entre as duas coisas? – Ela franziu o cenho.

— Não sei, mas que é curioso, isso é...  – Olhou para movimentação das pessoas passando ao lado dos dois.

Arlindo não era um especialista em Thorrun, na verdade sabia tanto quanto qualquer um sobre o lugar. Ele nunca havia pesquisado a respeito já que não havia pensado em ir para lá. A ideia de explorar um reino abandonado há mais de uma Era pelo povo anão que morreu em meio à guerras para manter seu território e seu tesouro não lhe soava das melhores, além disso, todo o local tinha fama de ser amaldiçoado. E apesar dele suspeitar que boa parte das lendas e rumores de Thorrun eram apenas boatos inventados e exageros, poucas pessoas se atreviam a ir para aquele reino e isso era o suficiente para fazer o clérigo acreditar que realmente havia algo de errado naquele local.

— Mas então você realmente vai pra lá. Que coragem. – Ele continuou o assunto. – Já tem ideia de quem vai levar com você?

— Não... O rei disse que irá disponibilizar alguém para cuidar de meus ferimentos e um pajem, mas apenas isso. Estou à procura de mais pessoas, mas depois do que aquele taverneiro nos disse sobre Thorrun, duvido qualquer um vá querer ir também e já estou vendo que vai ser difícil conseguir apoio. – Ela baixou o olhar entortando a boca.

— Realmente há histórias terríveis daquele lugar, mas... – ele se aproximou e colocou a mão sobre o ombro dela – É um reino cheio de tesouros, talvez alguém se interesse por eles se mencioná-los. E se quiser, posso te ajudar a encontrar alguém pra ir com você – disse piscando.

— Você realmente me ajudaria? – perguntou Dorothy com um sorriso discreto.

— Mas é claro que sim - respondeu, já considerando que talvez o rei lhe escolhesse para acompanhá-la como o curandeiro que ela mencionara.

— Ah, obrigada Arlindo. Isso é muito importante pra mim – disse ela sorrindo para ele.

— Não se preocupe com isso. O prazer é meu de ficar mais tempo ao seu lado. – Sorriu de volta.

Os dois então caminharam por algum tempo até chegarem à Cidade Baixa. O bairro onde eles já haviam ido, para investigar o incidente da taverna, carregava esse nome pela sua posição geográfica relativamente mais baixa que o resto da cidade, além de ser um local para as massas mais pobres e humildes de Theolen, fazendo com que o nome lhe caísse muito bem. O fluxo de pessoas era grande por ali, as ruas eram estreitas e um tanto sujas, havia muito comércio e as casas formavam aglomerados de madeira, pedra e concreto de cerca de três andares deixando as ruas mais escuras já que o sol só as iluminava quando estava a pino.

Arlindo sabia que se fossem encontrar alguém para ir à Thorrun, essa pessoa estaria na Cidade Baixa, além de muitos aventureiros e mercenários que poderiam ter seus serviços comprados, pessoas pobres e desesperadas também viviam no bairro e possivelmente poderiam achar alguém que estaria disposto a ir atrás das riquezas prometidas do Norte.O clérigo começou a guiá-la pera área mostrando no caminho alguns estabelecimentos interessantes, como uma loja que vendia roupas de qualidade, porém baratas; um clube com as melhores festas da região e claro, suas tavernas favoritas. 

— Hum... Eu não sei – disse Dorothy entortando a boca – "A Caverna da Medusa" não parece um lugar que eu frequentaria.

— Por que não? É um ótimo clube e a música deles é sensacional... – "...Assim como as dançarinas" completou Arlindo em sua cabeça.

— Eu não sou muito de dançar, para ser sincera eu nem sei muitos passos – Ela olhou para ele.

— Isso não é problema, eu posso te ensinar se quiser.

Dorothy abriu a boca para responder o clérigo mas então um homem passou com pressa e a empurrou para o lado dando espaço para mais um monte de crianças correrem entre os dois. Arlindo olhou para a garota e os dois observaram o final da descida em que estavam. A rua era estreita e estava completamente cheia de pessoas, todas fazendo um círculo barulhento e assistindo que ocorria no meio.

— O que está acontecendo ali? – perguntou Dorothy curiosa erguendo-se na ponta dos pés para tentar ver.

— Ahn... É só uma briga–  respondeu o clérigo ao notar algumas pessoas gritando isso –Melhor irmos embora – sugeriu, afinal brigas de rua na Cidade Baixa não era exatamente uma novidade e ele sabia que não era bom se envolver, pois pessoas perigosas passavam por ali.

Dorothy sem seguir o conselho do clérigo começou a ir para o meio da multidão para ver melhor o conflito. Arlindo revirou os olhos verdes e se espremeu entre algumas pessoas indo atrás dela, não ia deixar a garota sozinha logo agora que ela parecia estar mais receptiva a ele. Os dois pararam bem perto do centro da briga e foi ai que eles avistaram um garoto adolescente. O menino era magro, caucasiano e o cabelo castanho escuro, meio comprido. Sua cara de traços arredondados estava ligeiramente suja, os olhos vermelhos e molhados. Ele usava uma roupa surrada e estava segurando uma espada quebrada que apontava na direção de um sujeito bem alto do outro lado da roda. 

Com aproximadamente dois metros de altura, o homem em frente ao garoto tinha os braços bem fortes e segurava um martelo massudo de cabeça retangular, com uma das laterais modelada numa ponta afiada. Sua pele era parda e o rosto angulado com traços fortes. O nariz era grande, mas não comprido, o queixo quadrado, os olhos castanhos e pequenos e sobrancelhas escuras e grossas. Ele aparentava ter por volta de trinta anos de idade, era careca e tinha uma expressão intimidadora na face. Usava uma armadura escamada que protegia todo o seu tronco e braços, com uma proteção especial nos ombros e braçadeiras. Ao ver o sujeito, Arlindo o reconheceu.

— Quem é aquele? – perguntou Dorothy.

— Ele é Solomon, O Guerreiro Renegado – respondeu o clérigo um tanto nervoso.

Os dois observaram Solomon inquietos, como o resto das pessoas ali presentes. Ele era um homem muito grande e assustador, ainda mais quando erguia seu martelo.

— Bom, agora vamos continuar o passeio, está bem? – disse Arlindo pondo as mãos nas costas de Dorothy, pronto para sair de lá.  Definitivamente não queria entrar no caminho daquele homem.

Solomon com seu martelo erguido, virou um golpe com a parte lateral da arma, fazendo uma meia-lua e acertando o braço do menino à sua frente. Apesar do guerreiro pouco parecer estar fazendo esforço, o garoto caiu para trás e rolou pelo chão devido ao impacto. Sua roupa estava agora mais rasgada e ele mais machucado.

— Hey! O que ele está fazendo?! – disse Dorothy indignada soltando-se de Arlindo. – Temos que chamar alguém pra impedi-lo!– Olhou para o clérigo com os olhos azuis.

— Nós até poderíamos, mas não ia adiantar nada – respondeu ele.

O garoto levantou do chão com dificuldade e mancou gritando na direção do guerreiro, tentando acertá-lo com sua espada quebrada.

— Você não vai me impedir! – gritava ele, mas sua lâmina sem fio não conseguiu atingir Solomon, na verdade mal riscou sua armadura.

— Como assim não vai adiantar nada? – perguntou Dorothy à Arlindo.

— Nós poderíamos chamar algum guarda ou qualquer outra pessoa, mas não importa quem seja, não pode ganhar dele numa luta. Ninguém pode! Eu já ouvi falar que esse cara explodiu a porta do escritório do rei e sua única consequência foi ser expulso do trabalho!

Solomon então acertou um tapa com as costas da mão no garoto e em seguida puxou seu martelo para trás para atingi-lo novamente.

— Cala a boca e vai pra casa moleque – disse o Guerreiro Renegado com sua voz grossa e ríspida.

Dorothy olhou preocupada para Arlindo, mas por mais trágica que a situação fosse, o clérigo sabia que eles nada podiam fazer ali.Não que Arlindo não se importasse com a criança ou fosse covarde, mas Solomon era um guerreiro lendário e não havia nada que ele ou Dorothy poderiam fazer. Ou pelo menos era isso que ele pensava.

— Olha, vamos só seguir nosso caminho e não nos meter nisso, tá bom? – disse ele virando de costas e se preparando para dar um passo na direção oposta a da briga.

— Desculpa, mas não posso ficar aqui sem fazer nada... – disse Dorothy para o clérigo já se afastando dele.

—  Dorothy, não! – exclamou esticando o braço, tentando segura-la sem sucesso.

— Hey grandalhão! – gritou a paladina saindo da multidão e entrando no espaço da briga.

 As pessoas encararam a jovem e começaram a tentar entender quem era ela e o que ela estava fazendo ali. Arlindo passou a mão no rosto e fechou os olhos por um instante. "Isso não vai dar coisa boa" pensou consigo se virando para o conflito novamente.

— Qual é o seu problema, hein? Deixa o garoto em paz! – exclamou a garota para o homem alto enquanto se aproximava do menino ferido.

Solomon olhou na direção dela, mas a ignorou completamente. Ele então desceu seu martelo mirando o garoto, que agora estava ajoelhado em sua frente chorando, mas antes que pudesse acertá-lo um escudo aparou o ataque. Dorothy defendeu o garoto.

As pessoas em volta arregalaram os olhos e, chocadas, começaram um murmurinho. Arlindo ficou boquiaberto com a velocidade que ela puxou o escudo das costas e Solomon olhou na direção dela com os olhos vermelhos de raiva.

— Eu disse pra deixar ele em paz! – ela o encarou de baixo, sem hesitar ou sentir medo.

Arlindo levou as mãos à cabeça enquanto assistia assustado ao conflito. "Por Obad-Hai, ela está maluca! Ele vai matá-la!", pensava preocupado enquanto gritava para ela sair de lá, mesmo ela não o fazendo.

— Saia da minha frente – falou Solomon apontando sua arma para a paladina.

— Por que você tá fazendo isso? Ele é só um menino! – disse ela para o brutamontes.

— Isso não é da sua conta! – esbravejou Solomon.

Em seguida o guerreiro levantou o martelo novamente, dessa vez, tentando acertá-la com um golpe lateral. Arlindo fechou os olhos e virou o rosto, não queria ver a cena, mas os abriu novamente quando ouviu os gritos eufóricos da multidão e o barulho do martelo batendo em algo metálico. Dorothy segurou o escudo com força e aparou o golpe, e então, mais rápido do que qualquer um podia imaginar, ela puxou sua espada da bainha e o acertou nas costelas com a parte chata e sem corte da lâmina, tentando nocautear seu oponente.

Solomon urrou e revidou o ataque com seu martelo. Dorothy se defendeu com o escudo novamente, mas agora com mais dificuldade. Podia sentir a enorme força de seu oponente a empurrando levemente para trás. Arlindo reparou que os golpes do guerreiro eram extremamente pesados e que ele não estava pegando leve com ela. Seus ataques, diferentes dos da paladina, eram letais.

Todos estavam impressionados ao ver quantas pancadas daquele martelo Dorothy havia conseguido defender até então, mas logo o clérigo notou o escudo sendo amassado em alguns pontos, tamanha a força do guerreiro que continuava atacando e se irritava cada vez mais. Até o momento em que ele concentrou sua força em um golpe tão poderoso que a garota não pôde segurar. Seu escudo foi para o lado e o guerreiro acertou seu ombro fazendo-a perder o equilíbrio e ir para trás. Ela gritou de dor.

Arlindo desesperado continuava gritando para ela sair da luta. Era o que podia fazer, pois sabia que não conseguiria ajudá-la com seu limitado treinamentos em combate, além disso, não havia preparado nenhuma magia para uma situação daquelas naquele dia. A multidão começou a gritar ainda mais com o combate, estavam todos indo à loucura. Depois de ver o ultimo golpe de Solomon, todos tinham certeza que se ele a acertasse apenas mais uma vez, como tinha acabado de fazer, a jovem estaria fora da luta. O clérigo então puxou do bolso seu símbolo sagrado e começou a rezar.

"Obad-Hai, Senhor da Natureza, me deixe ajudá-la..." – começou a sussurrar algumas palavras e um brilho azulado começou a surgir em sua mão. Olhou para a luta, preocupado, e continuou sua reza.

Solomon aproveitou o momento de fraqueza de sua oponente e acertou outra martelada na garota, dessa vez nas costas, fazendo com que ela caísse de joelhos no chão. Dorothy gritou de dor e um pouco de sangue saiu de sua boca. O guerreiro se aproximou, era tão alto que sua sombra cobriu o sol sobre ela. Ofegante, a jovem Leon o olhou nos olhos e depois de respirar fundo subiu com um golpe certeiro em sua direção.

— E-eu... Ainda não terminei! – gritou a paladina enquanto seu escudo atingia o queixo do oponente.

Solomon deu dois passos para trás e colocou a mão no rosto dolorido. Bufando, rodou seu martelo algumas vezes e então o arremessou com toda força que conseguia. Dorothy levantou seu escudo rapidamente desviando o trajeto da arma e então correu para acertar seu inimigo. Usando o escudo, deu um golpe forte no braço direito dele enquanto passava para trás do mesmo e chutava a parte de trás de sua perna, fazendo-o se ajoelhar. Solomon  acertou uma cotovelada pouco abaixo do peito de Dorothy, mas não foi suficiente para impedi-la de usar o escudo mais uma vez para o ataque. Ela o atingiu entre o ombro e o pescoço, ponto que ela sabia que poderia acertar um nervo e fazê-lo cair. E foi exatamente isso que aconteceu.

Arlindo e todos os outros que estavam ali mal podiam acreditar no que estavam vendo. Aquela garota que havia aparecido do nada acabara de derrubar um dos mais fortes combatentes de toda a cidade de Theolen.

Dorothy limpou o sangue da boca arfando e olhou em volta. Todos a estavam encarando, alguns gritando extasiados com tanta ação e outros em completo silencio, assustados. Até mesmo o menino que ela fora defender a observava do chão.

Arlindo a fitou boquiaberto enquanto ela se aproximava do garoto e perguntava se estava tudo bem estendendo a mão para ajuda-lo a levantar. Abalado, o jovem theolino não conseguiu responder. E não pela dor que sentia no braço direito, que havia tomado a martelada, mas por ele estar completamente abismado com aquela figura cuja luz do sol iluminava de cima, dando uma aura angelical. 

— Está tudo bem agora – disse ela com um sorriso doce no rosto ajudando-o a se reerguer. – Qual o seu nome?

— Charly... Charles - ele gaguejou maravilhado com sua heroína.

— Eu sou Dorothy. Você está bem? Pode andar? - ela perguntou preocupada.

Ele respondeu que sim com a cabeça e ela sorriu para ele. Arlindo se espremeu mais um pouco e saiu do meio da multidão entrando no espaço em que ocorrera a briga. Passou por Solomon caído e deu uma breve olhada assustada na direção guerreiro, seguiu em frente e foi até a paladina.

— Você está bem? – perguntou ele.

— Não se preocupe comigo – respondeu ela.

— Você está bem machucada... Deixa eu te ajudar com isso. – disse o clérigo se aproximando mais.

Dorothy olhou para ele e então viu sua mão com um brilho azul, ela já havia visto aquilo antes, era uma magia de cura, ajudava a fechar ferimentos. Arlindo tocou em suas costas e logo ela sentiu a dor sumir.

— Bem melhor, han? – perguntou ele com um sorriso um tanto forçado, ainda estava muito impressionado com o feito da garota.

— Sim, obrigada Arlindo – disse agradecida, mas logo se voltou para o menino novamente – Hey... Charly, por que ele estava brigando com você afinal? – perguntou.

— Porque-e eu...

Arlindo notou a hesitação na voz do garoto. Podia ver que ele estava abalado, mas ao checar com os olhos seus ferimentos viu que não eram tão graves quanto os de Dorothy.

— Tudo bem, pode falar – disse ela. – Ele te provocou ou algo do tipo?

Charly fez que não com a cabeça.

— O que foi então? Por que estava nessa luta? – perguntou confusa.

— Porque ele é uma criança idiota! – disse Solomon retomando a consciência.

Dorothy se virou rapidamente e se postou em frente à Charly, pronta para protege-lo. Arlindo foi para trás dos dois e colocou a mão sobre sua maça que estava pendurada na cintura.

— Eu não sou idiota! – gritou Charly agressivo.

— É sim, uma criança idiota, que não sabe o que tá fazendo. Eu só estava ensinando uma lição ao moleque – disse Solomon levantando-se do chão.

— E-eu não sou mais criança! – disse Charly saindo de trás de Dorothy – E eu vou te derrotar!

Dorothy olhou para ele confusa.

— Tá vendo só?! Ele ainda não aprendeu – falou o guerreiro balançando a cabeça negativamente.

— É melhor você não se aproximar – disse Dorothy para o homem, mas ele deu de ombros – E você, por que quer lutar com ele? – perguntou ela para Charly.

— Porque... Eu preciso ganhar dele pra ter minha honra de volta! – exclamou o garoto.

— Como assim?

Charly não respondeu, apenas olhou para ela e  abaixou a cabeça, envergonhado. Arlindo ficou encarando Solomon e notou que ele não tinha mais intenções de atacar, parecia mais preocupado em encontrar seu martelo caído. O clérigo achou então que seria uma ótima oportunidade para eles saírem dali.

— Bom, agora que você já resolveu o problema aqui, vamos embora? Você ainda tem que achar seus guerreiros pra ir para Thorrun com você e tudo mais... – disse ele para Dorothy.

— Eu vou! – se intrometeu Charly prontamente. – Eu vou com você! Eu posso lutar! E assim vou poder recuperar minha honra!

Arlindo olhou para Dorothy e fez um movimento com a cabeça esperando que ela o seguisse e eles saíssem do logo daquela confusão, enquanto isso garoto continuava a falar.

— Por favor! Eu preciso ir! Eu faço qualquer coisa! Posso carregar suas malas se quiser. – implorava Charly.

— Por que quer tanto ir pra lá? O Norte é um lugar muito perigoso – disse ela tentando entender.

— E-eu... Eu sei que é, mas eu preciso ir de qualquer jeito. Eu já queria ir antes, mas não consegui sair da cidade... – disse ele olhando para Solomon.

— Eu não sei se é uma boa ideia – respondeu ela preocupada.

— Olha, eu não sou tão bom guerreiro quanto você, mas eu recebi treinamento, eu consigo lutar! Meu pai me ensinou! – afirmava o garoto. – Mas se preferir eu posso carregar suas coisas... Ou--ou ser seu escudeiro! É, eu posso fazer isso!

— Charly você é muito novo para ir a um lugar como Thorrun... O que seus pais diriam se soubessem que você está indo pra lá?

Charly baixou a cabeça por alguns instantes e desviou o olhar.

— Eu não tenho pais. – murmurou o garoto.

Dorothy e Arlindo se entreolharam com expressões preocupadas.

— Eu sinto muito – disse ela colocando a mão sobre o ombro do adolescente. – Bem eu... - suspirou - Eu vou pro Norte em pouco tempo. Vai ser uma viagem longa e perigosa, eu ainda estou procurando uma equipe para ir comigo, então por que você não pensa bem se quer fazer isso mesmo?! Se ainda quiser, daqui a dois dias me encontre no portão norte da cidade três horas depois do sol nascer. Tudo bem?

Charly sorriu e assentiu com a cabeça e Dorothy sorriu de volta. Em seguida ela se voltou para Arlindo.

— Tem certeza disso? - ele sussurrou achando a decisão da garota um tanto imprudente, mas ela não o respondeu, apenas desviou o olhar, incerta.

Ele então observou em volta e viu que parte da multidão já havia ido embora, olhou para Solomon, que o encarou agora com seu martelo em mãos. O clérigo sorriu para ele, não queria que fosse o próximo alvo do guerreiro, mas Solomon pareceu não se importar com sua presença ali e apenas se virou, saindo por entre as pessoas empurrando algumas enquanto passava.

Arlindo suspirou mais aliviado pelo fim do conflito, então se virou para Dorothy. Ela estava fitando o guerreiro com os olhos azuis e o clérigo notou algo diferente no olhar da garota. Havia algo de especial nela, ele sabia disso. E não era apenas por ter um sobrenome importante e por dizerem que ela era a Escolhida, mas vendo como ela lutou com coragem para proteger um menino que nem conhecia e ainda o fez sem ferir seu inimigo... Ele tinha certeza que poderia esperar grandes coisas dela, pois esta se tornaria alguém muito importante.


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Notas finais do capítulo

Até que enfim postei esse capítulo, hahaha estava ansiosa para fazê-lo!

Agora a história começou pra valer! Demorou um pouquinho, mas foi hahaha
O que acharam? Estão gostando do Arlindo e da Dorothy?
E os novos personagens, gostaram? rsrsrs comentem aqui suas impressões, dúvidas e receios hahaha Até a próxima pessoal!

P.S. O martelo do Solomon parece bastante com o do Zudomon (digimon), joguem no google ;)