Hunter - A caçada começou escrita por Julia Prado


Capítulo 16
O Impriting


Notas iniciais do capítulo

Nos falamos lá embaixo ;*



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– Você parece um pouco verde. – ele analisou, mas continuou deitado.

Como ele achava que eu estaria?!

– Desculpe. – ele disse depois de um tempo, sentando na cama e ficando mais próximo de mim. – Eu deveria ter dito isso com flores e corações, não é?

– O que...? Não... Quero dizer... – bufei. – Não, não flores e corações... Talvez menos... Casual, não sei...

Jacob abriu um curto sorriso para mim, talvez pela minha reação tão desorientada. Se eu achava que isso não existia, então como estava tão abobalhada? Como estava com meu coração acelerado?

Aprumei meus ombros e coloquei o choque de lado, me focando em detalhes mais técnicos. Jane havia dito que meu pai teve um imprinting por ela, mas que nos lobos isso era mais forte. Então eu tinha um bom objeto de estudo para saber o que realmente é o imprinting.

– O que é o imprinting, Jacob?

Ele tombou sua cabeça de lado, avaliando a minha pergunta.

– Achei que tinha lido o livreto.

– Eu... Li. Quero dizer, ainda não acabei, mas já li sobre isso. – estreitei meus olhos para ele, tentando me lembrar do que o livro dizia. – “O imprinting é, na mais simples colocação, eterno”. É isso o que o livro fala. Não é muito revelador.

– Não é algo que você consiga descrever em palavras. – ele disse baixinho e intenso. Sua voz parecia acariciar cada palavra. – Nosso vocabulário não faz jus ao sentimento. Há palavras que conseguem dar uma pequena fração, o amor, por exemplo. Mas não posso te explicar em palavras.

Franzi o cenho.

– Parece algo muito unilateral. – falei.

Jacob riu.

– É assim que parece para você? –e riu novamente. – Você não se analisa com muita frequencia, não é mesmo? Não é unilateral, Gaele. Só não é algo fácil para uma pessoa como você lidar.

– Uma pessoa como eu? – ergui as sobrancelhas para ele.

– Uma pessoa essencialmente cética. – assinalou, mas com um sorriso charmoso no rosto. – Você tem problemas para lidar com o que sente em relação a mim. Não se ofenda, mas a sua falta de experiência amorosa também não ajuda muito. Assim, você não possui nada para referenciar. É completamente novo para você. Uma garota que nunca teve uma desilusão amorosa.

– Quem disse que eu nunca tive? – perguntei com minha voz mais petulante possível. Eu tinha tido... Na quinta série com o menino mais lindo da escola, mas ele tinha escolhido outra menina. Foi bem doloroso na época, lembro de chorar no meu quarto com um diário agarrado ao meu peito.

Jacob rolou os olhos para mim.

– Paixonites infantis não contam.

Como ele sabia?!

Mantive minha melhor expressão de paisagem. Eu não ia admitir que ele tinha acertado. Eu ainda possuía um pouco de dignidade, muito bem, obrigada.

Eu me ajeitei melhor na cama, minha vontade de ir embora passando como um foguete. Se eu ainda estava chocada? Com certeza. Ainda tentava assimilar a ideia do imprinting, essa coisa mítica cheia de magias. Para isso, eu precisava de todas as informações que Jacob pudesse me dar.

– E como isso acontece? – perguntei. – Jane comentou bem por cima sobre isso comigo hoje mais cedo. E, mesmo assim, é algo difícil de entender.

Jacob riu.

– A maioria entende com muita facilidade, sem ofensas. Quando Sam teve seu imprinting por Emily, por mais que não fosse a melhor das situações, Emily nunca duvidou do sentimento. Foi a mesma coisa com Jared e Kim, Paul e Rachel, Quil e Claire.

– Você está me dando referências de pessoas que já moravam aqui, que tinham uma noção sobre a cultura quileute. – assinalei. – Não se esqueça que não fui criada aqui.

Touché, anjo. – ela disse sorrindo. – Você não me parece... Feliz.

– Não sei o que pensar sobre isso, Jacob. – falei séria. – Nunca precisei lidar com nada disso. Para mim tudo ainda é muito novo. Até ontem tinha sido um problema lidar com o fato de que lobos... Quero dizer, não se ofenda, mas que essas coisas andam correndo por aí. E depois Brady me disse que vampiros... Ah, qual é! – rolei os olhos. – Ainda é muito surreal, então não, não estou feliz. Também não estou triste ou animada. Estou... assimilando.

Jacob assentiu, por mais que minha reação não tenha sido a esperada por ele. Todavia, vamos combinar que Jacob não me deu essa notícia da forma mais cautelosa, não é mesmo? O que ele esperava? Que eu corresse animada pelo quarto?

– Eu só preciso de todas as informações que puder obter para poder assimilar de uma vez. – dei de ombros, mas o movimento machucou. – É assim que eu sou.

– Entendo isso. E admiro em certo momentos. Mas o que sinto por você não pode ser analisado em um laboratório científico. – havia, sim, certa repreensão em sua voz.

– O que você sente por mim ainda é muito nebuloso. Pelo menos para mim. Sinto muito por não estar tratando do assunto com a maior das sensibilidades, mas eu não entendo o imprinting. Não posso ter empatia por algo que ainda não entendo.

Jacob me avaliou por um momento, parecia refletir sobre minha resposta. Depois de um tempo ele pareceu aceitar meu argumento, abrindo um curto sorriso.

– Você não está correndo de mim, pelo menos. – assinalou.

– Acho meio desnecessário correr de você agora. – revelei e minhas bochechas coraram. Não tinha nada a ver com o imprinting e sim com o fato de eu realmente gostar de Jacob e de que eu estava, sim, começando a me acostumar com tudo isso... Desde que eu não o visse em sua forma... Animal?

– Isso é bom. Não quero que corra.

Dei-lhe meu sorriso mais suave que conseguia no momento.

– Como que o imprinting acontece? – perguntei.

– Não há segredo sobre isso. – ele deu de ombros. – Só basta uma troca de olhares. Então a magia está feita.

Franzi o cenho. Eu não gostava dessa explicação, parecia algo tão... Obrigatório.

– Assim? Em um estalar de dedos e você já está aos meus pés? – perguntei com um sorriso no rosto. Jacob piscou para mim.

– Não seja tão cheia de si. – falou sorrindo. – Não, não é assim. O amor vem aos poucos, crescendo a cada encontro, a cada pensamento. A única diferença é que eu já sei que é você. Não preciso mais procurar, não que eu tenha procurado – e riu.

Abri outro sorriso para ele.

– Aconteceu no primeiro dia em que a vi. – ele disse, seu rosto mais sério agora, a brincadeira passando. – Perdoe-me pela explicação barata, mas era como se você me puxasse em sua direção. Havia certo... Brilho em você. Era impossível não olhar. Eu me senti mais leve, como se finalmente um enorme peso tivesse sido tirado de meus ombros.

“No início isso me incomodou. Eu via através dos pensamentos de meus irmãos como o imprinting tinha sido com ele. O bem que os tinha feito. Era algo um pouco incompreensível para mim também. Eu sentia através de seus pensamentos todo o amor e devoção que eles tinham para suas parceiras, mas não imaginava que um dia isso fosse acontecer comigo. Na verdade, eu achava que nunca aconteceria. É como eu disse, não estava buscando por isso. Não queria ser obrigado a ficar com alguém por que uma magia antiga me manda ficar”.

Ele parou para me observar, talvez temendo que eu não entendesse completamente o que ele estava dizendo. Suas palavras ressoavam pelo quarto de forma baixa e gutural, trazendo a sensação de uma antiga magia desprender de cada palavra.

– Mas nunca me senti assim. Todavia nunca senti que poderia esquecer você. – ele retomou, olhando no fundo de meus olhos - Foi algo muito conflitante para mim no inicio. Eu procurava me manter longe de você, ainda mais com tudo o que estava acontecendo. Não queria meter você em nenhuma confusão. Mas era simplesmente impossível. Então eu me mantive fora de seu radar, observei você de longe, garantindo que você estaria segura e bem. Eu observei sua primeira semana aqui, o modo deprimente no qual você se encontrava. Isso só reforçava a minha opinião de que você não pertencia a este lugar, que você nunca ficaria aqui.

“No entanto, você começou a se adaptar. Você saia, ria, brincava... E eu me via querendo fazer parte disso. Queria que seus sorrisos fossem para mim, que as brincadeiras fossem minhas. Quando reparei já gostava de você e depois isso foi crescendo.

Admitir para mim mesmo foi o mais complicado. Eu tenho feridas que ainda não cicatrizaram. E então lá estava você, parecia que conseguia curá-las aos poucos sem fazer muito esforço. Conversei com meus irmãos sobre isso. Não queria que todo mundo soubesse para a notícia não vazar, eu sabia que Farad já estava em seu rastro, não queria dar mais motivos para ele. Para meus irmãos era incompreensível o motivo por eu estar lutando tanto contra isso. Como eu disse, não houve muita resistência de seus imprintings para isso”.

Ele me abriu um leve sorriso. Havia certo peso em meu coração, talvez começando a assimilar a situação desse modo como Jacob me explicava, passo a passo. Sorri de volta para ele.

– Foi então que notei que eu não estava lutando contra, você estava. – isso me pegou de surpresa, acho que ele reparou, mas não se deteve - Eu te disse antes, em geral temos um sexto sentido sobre nossos imprintings. Isso nos mantém conectados, nos mantém seguros em tempos de perigos. Foi complicado saber até onde eram as minhas dúvidas e onde as suas começavam. Com a ajuda de Sam eu fui conseguindo separá-las.

“Então eu estava amando. Amava cada pequeno detalhe seu, suas imperfeições e suas virtudes. Era como nadar em um lago feito apenas de você. Aceitar você em minha vida foi a melhor decisão que tomei. No entanto, até então eu conseguia me manter longe, conseguia observar sua vida transcorrer com certa tranquilidade, tirando as partes ruins. Depois disso o sentimento cresceu, como cresce em todos. Amor já não era suficiente e ficar longe de você estava se tornando doloroso. Conseguia me contentar com apenas sentir o que você estava sentindo, ter um pouco de você em mim.

Eu sentia sua resistência, sua atração por mim, mas o seu medo. Sentia sua tristeza de vez em quando. E estava me matando não poder fazer nada a respeito”.

Eu não o interrompi, não só por não ter o que dizer em um momento desses, mas porque estava começando a entender como Jacob sempre parecia ter as respostas para as minhas perguntas, ou agir da forma como eu precisava dele naquele momento. Parecia que uma leve luz estava clareando toda a minha mente.

No entanto, eu ainda não conseguia buscar esse sentimento dentro de mim. A facilidade como ele falava em amor, em admiração. Isso não era comum no meu mundo, não era tão normal. Teria muita dificuldade depois para encontrar o imprinting dentro de mim, se é que havia um modo de fazer isso.

– As coisas começaram a ficar mais intensas entre nós, mas também mais perigosas na reserva. – seu rosto ficou mais sério, como se uma sombra caísse em seus olhos, estendendo pelo rosto inteiro. Senti o ar do quarto mudar, ficando mais carregado - As pessoas começaram a morrer com uma frequencia maior. Quando uma pessoa de nosso povo foi atacada, notamos que não poderíamos apenas esperar. Começamos a caçada e eu temia que você fosse a próxima. Eu tentava me manter mais perto, tentava arranjar desculpas para te ver. Foi então que Collin foi atacado.

“Eu senti a sua dor tão forte, que por um momento cai de joelhos na minha casa. Eu teria que caçar a fria que matou Collin por mais tempo, mas não conseguia. Eu sentia a sua urgência em conforto, a sua dor virando pânico. Corri o mais rápido que podia para sua casa. Encontrei você e... E foi simplesmente muito, muito difícil desconectar os seus sentimentos dos meus. Eu estava sempre tão energizado à você, não só por motivos de segurança, mas também por poder sentir você por perto, que foi quase impossível separar isso.

Na mesma noite você, por alguma razão que eu realmente não conheço, você estava na floresta. E estava apavorada. Eu nunca tinha sentindo você com tanto medo até então. E partiu meu coração ao saber que seu medo também era dirigido para mim, mas não havia muito o que eu pudesse fazer naquele momento. Eu sabia que você precisava de um tempo para assimilar tudo”.

É claro que o momento ficou pesado demais para ele continuar. Eu não queria falar sobre meus ataques de pânico. Também não era confortável ouvir que ele sabia disso, que ele sentiu isso. Porém, era como se eu já soubesse que o assunto surgiria. Como se meu subconsciente já estivesse me alertando sobre isso desde o momento em que Jacob revelou que possuía uma intuição pelos meus sentimentos.

Fiquei em silêncio, olhando agora para o edredom da cama. Não queria que ele visse no meu rosto o desconforto que eu estava sentindo, por que pela primeira vez Jacob estava sendo completamente verdadeiro comigo, estava compartilhando o que eu buscava há tanto tempo nele.

Não podia parar agora. Mas também não daria mais corda, não comentei o assunto, por mais que seu silêncio abrisse espaço para isso.

– Achei que seria mais fácil com o tempo, que você aceitaria com mais facilidade – sua voz estava mais reflexiva agora, eu sentia seus olhos buscando os meus - Não foi assim. O seu medo crescia todas as noites. Tinha noites que eu passava em claro, sentindo o seu pânico crescer e crescer. E tinha outras noites que você conseguia, de alguma forma, me bloquear. Eu não conseguia chegar até você.

“Noite passada você me chamou. Foi a primeira depois de muitas noites na qual você me bloqueou. Você me chamava bem suavemente, cheguei até a pensar que estava dentro da minha casa, ao meu lado. Havia medo em seu chamado, então corri para sua casa, imaginando que alguém teria entrado. Mas a casa estava silenciosa, eu só conseguia escutar o seu choro no primeiro andar. Dei a volta e atravesse o rio, tentando achar algum traço de alguma coisa que a tenha deixado tão apavorada. Mas estava tudo bem, e você abriu a janela”.

– Era você. Do outro lado do rio. – eu disse me lembrando. Minha voz estava rouca pela quantidade de emoções que passaram por mim enquanto Jacob falava. Eu não consegui entender a maioria delas, não tive tempo para assimilar nenhuma, pois elas passavam com muita velocidade ao meu redor. Eu ia me lembrando de alguns momentos com ele.

– Sim. E você não ficou com tanto medo quanto achei que ficaria. – ele disse sorrindo. – Na verdade, você fechou a cara para mim. Então eu soube que, de certa forma, você já estava aceitando tudo.

– Brady tinha conversado comigo mais cedo. – eu falei. – Acho que ele me ajudou de certa forma a entender melhor. Não completamente, mas me tranquilizou em certas partes.

– Do que você tem tanto medo? – ele perguntou. – Eu os sentia quase todas as noites. Era sufocante.

Olhei para minhas mãos, torcendo os dedos uns nos outros enquanto falava.

– Tenho medo do que não consigo controlar. – admiti. – Antes de vir para cá, eu tinha minha vida nos eixos, sabe. Tudo estava muito bem organizado e programado. Ter vindo para La Push foi só um desvio de percurso, mas não achei que mudaria tanto. Eu comecei a perder a mão de quase tudo o que acontecia ao meu redor. De repente eu não estava mais tão bem controlada, pelo menos não quando você estava por perto.

– Ter uma vida controlada não é bom.

– Mas é mais seguro. – sorri triste. – Eu gosto de me sentir segura. Essa é a maravilha na biologia, tudo tem um começo, meio e fim. Na maioria das vezes muito bem determinado todo esse ciclo, sem grandes surpresas. Saber que há algo que aconteceu por pura... Magia... É muito assustador para mim. O animal que você se transforma... Eu não sabia até onde você tinha o controle disso. Não sabia até onde era o seu envolvimento com as mortes. Isso tudo me assustava. Ser perseguida também não foi fácil de aceitar.

Jacob assentiu, entendendo o meu ponto de vista.

– Mas você aceitou. – ele disse – É o que parece agora.

– Sim, a parte... Animal, acho que sim. Agora, essas outras partes é um pouco mais complicado. – respondi. – Não sinto isso o que você sente, pelo menos acho que não. Então como posso acreditar em imprinting se tudo o que você descreveu até agora é muito obtuso para mim?

Jacob sorriu.

– Você não sente por que nunca se permitiu. O imprinting não é algo imposto, Gaele. Ele cresce dentro de você, só que com uma força muito maior. Ele ultrapassa o amor comum que as pessoas sentem pelos seus parceiros. Você ainda não sente isso, por que não deu espaço para crescer dentro de você.

Olhei novamente para as minhas mãos. Era muito fácil falar, mas para mim, uma pessoa que nunca se permitiu “perder as estribeiras” no quesito amor era muito mais complicado.

– Então... Vamos ficar juntos? – perguntei, só para checar.

Jacob abriu um sorriso divertido e malicioso.

– Tente me parar. – brincou.

Eu consegui rir disso, um breve momento de descontração borbulhando em meu peito. No entanto, outro assunto, me atingiu de surpresa, quando parei para pensar em tudo o que Jacob havia me dito e finalmente explicado o meu envolvimento na história toda.

– Qual a probabilidade de eu ser uma... Loba? – franzi o cenho e Jacob riu.

– Aparentemente nenhuma. A transformação ocorre quando há frios por perto ou perigos sobrenaturais. Você enfrentou tudo isso ainda humana.

Era nítido o alívio em meu rosto? Acho que sim, pois Jacob caiu na risada mais uma vez. Ele parecia muito feliz. Eu gostaria de estar tão feliz quanto ele, mas tinha muita coisa para pensar. Tinha a loja do meu pai, tinha o ataque de Farad, tinha o imprinting para analisar.

– O que faremos agora? – perguntei.

– Vamos continuar a caçá-lo. Já me desculpo antecipadamente, pois estarei intragável enquanto não encontrarmos Farad.

– Isso quer dizer...?

– Quer dizer que manterei mais olhos em você. – ele disse sorrindo como quem se desculpa. – Não vou deixá-lo tocar em mais um fio de cabelo seu.

Estreitei meus olhos para ele.

– Isso é completamente fora de ordem. Você não deveria me chamar para um encontro primeiro e depois ser um tirano? – assinalei.

Jacob arregalou os olhos. A ideia parecia ter lhe ocorrido agora.

– Acho que você tem razão. – ele disse depois de um tempo.

Eu ri

– Tudo bem, não se preocupe. Não estou procurando por mocinhos – garati a ele.

Jacob se aproximou um pouco mais de mim, suas longas pernas dobradas na cama. Ele inclinou seu corpo e eu prendi minha respiração em antecipação. Fazia tempo que ele não me beijava, fazia tempo que eu estava querendo isso no meu íntimo.

Ele não me beijou, no entanto. Sua mão quente tocou meu rosto e ele afastou um cacho da minha têmpora, o prendendo atrás de minha orelha. Comecei a sentir um leve tremor nas mãos ao encará-lo por tanto tempo, assim como um sentimento começando a borbulhar. Era como se meus ombros automaticamente desfizessem qualquer nó de tensão, como respirar depois de muito tempo sem ar.

– Quando imaginei contar tudo isso a você, não pensei que ficaria tão feliz. – ele abriu um sorriso largo. – Estou muito mais do que isso, acho que não existe um homem mais realizado do que eu nesse momento.

Não há como não sorrir com palavras assim e ditas de uma forma tão próxima e intima. Jacob tinha esse poder sobre mim, um poder que eu já tinha aceitado e tomado como parte da minha vida. Não havia como resistir e nem parecia fazer sentido resistir a isso. Ele me tinha, simples assim.

O pensamento não me faria, contudo, largar em seus braços e esquecer qualquer problema da vida. Só me fazia mais segura em relação a ele. Eu tinha alguém para contar agora, depois de tantos anos sendo criada para tomar conta de mim mesma, eu sabia que tinha encontrado uma pessoa que me ajudaria nessa trajetória, não importasse o que viesse pela frente.

– Fico feliz que isso te faz feliz. – senti minhas bochechas arderem e mordi uma internamente, desviando meus olhos de Jacob abaixando para as minhas mãos. Admitir essas pieguices em voz alta era muito constrangedor e difícil de dizer.

Algo que eu precisava trabalhar, acho.

A nuvem de leveza foi quebrada quando Leah entrou no quarto, acho que ela esperava me encontrar dormindo ou algo parecido, pois parou na porta de forma sem graça. Meu rosto ficou ainda mais vermelho, como se eu tivesse sido pega fazendo algo muito embaraçoso. Jacob, no entanto, sorriu para ela.

– Tudo bem, Leah, só estávamos conversando. – ele a tranquilizou.

Leah era uma mulher muito linda. Tinha a pele morena e lisa, sem rugas e nem imperfeições. Os olhos amendoados eram castanhos, de uma tristeza antiga, mas uma luz muito brilhante. Os cabelos eram cortados em seu pescoço. Era alta, esbelta e cheia de curvas. Contudo, nada disso parecia fazer sentindo quando ela estava dessa forma, o rosto fechado em uma carranca e os olhos tristes e vazios.

Fiquei imaginando que tipo de situação trazia um olhar assim.

– Desculpe, achei que ela estava dormindo. – falou, confirmando minhas teorias. – Podemos conversar lá fora?

Eu sabia quando estava sendo despejada – não que ela tenha tentado esconder isso, de qualquer forma.

– Tudo bem, podem conversar aqui. – falei me colocando cautelosamente de pé, a última coisa que eu queria agora era cair. – Preciso voltar para casa mesmo.

– Nada disso. Você vai ficar bem quietinha aqui. – Jacob disse me puxando de volta para a cama. Não tinha como resistir, ele era mil vezes mais forte do que eu. – Pode falar na frente da Gaele, Leah. Ela já sabe de tudo.

– Certo. – ela disse de forma rude, como quem não se importa – Seguimos o rastro de sangue dele pela floresta, mas ele entrou no rio e não conseguimos mais pegar. No entanto está muito ferido, isso é certeza. Coloquei uma ronda por toda a extensão do rio. Se ele sair pela margem, vamos pegá-lo. O punhal ainda estava com ele, não acho que o tenha retirado. – ela franziu o cenho, brava. – O cara é como fumaça, Jake. Não conseguimos nunca pegar ele.

Isso ficou na minha mente. Então Farad não tinha morrido. Então ele estava vivo, machucado, mas vivo. Ele ia sair dessa ileso, ia sair dessa com mais raiva do que nunca... Ele viria atrás de mim. Isso era tão certo como o sol que nasce toda manhã.

– Com que rapidez vocês se curam? – perguntei para Jacob, minha mente pulsando com as novas informações, com a vontade que eu tinha de entender o que estava acontecendo, mas também de não entrar em desespero.

Estava mais claro do que nunca que se eu fosse ficar com Jacob, então eu tinha que me controlar mais, que analisar as situações de outras perspectivas. Mesmo que essas perspectivas fossem completamente fora da minha antiga realidade.

– Depende do ferimento. – ele disse, seus olhos buscando por algum sinal de medo em meu rosto, mas me controlei bem. – Se ele arrancar o punhal, não vai demorar muito para curar. Um dia no máximo, por que enfiei até o cabo.

– Sei que isso pode soar ridiculo, mas qual a probabilidade dele procurar um hospital? – era tão óbvio assim que eu queria que encontrasse ele logo? Que queria parar de me sentir constantemente em perigo?

Jacob sorriu compreensivo.

– Nula. Não tem como explicar a temperatura alta e a rápida cicatrização em um hospital. Atrairia muita atenção. – respondeu.

Então quando isso teria fim?

– Vamos continuar as buscas, Jake. – Leah disse de forma firme. – Vamos encontrá-lo.

– Muito obrigado, Leah. – Jacob assentiu.

Ela saiu do quarto e deixou que o silêncio reinasse sobre ele. Minha cabeça estava começando a girar com as informações que vinham em ondas. Elas se dividiam pela conversa com Jacob e com as novidades de Farad. E, mesmo assim, parecia lotada demais para que novas ideias entrassem.

Eu estava me sentindo cheia.

– Não se preocupe. – ele disse beijando meu ombro bom – Vamos pegar ele.

– Sim, claro. – respondi automaticamente. No fim, acabei pensando em voz alta. – Sabemos que ele quer te atingir, a questão é: o que as outras mortes têm a ver com você?

Jacob não me respondeu. Talvez não quisesse me preocupar ainda mais, talvez o seu sexto sentido estivesse lhe dizendo para não me contar mais nada. Ou talvez ele não soubesse.

Isso para mim, no entanto, era o mais essencial. Essas mortes que não tinham um pingo de verdade em seus relatórios pareciam me assombrar. Era como se eu visse as famílias me olhando e julgando por saber realmente o que aconteceu, mas elas não.

E estava na hora de fazer algo a respeito.


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Notas finais do capítulo

E aeeee?? O que acharam? Qual será o próximo passo de Gaele??
Queria agradecer pelo alcance que a fanfic está tendo, e principalmente por quem continua conosco! Um beijo especial para Amando (vamos ter fé na Gaele, hahaha); Lilian Blackwell (um excelente wedding para você, amore!, você merece!!); Pinky (que bom que está gostando, flor!, mas uma vez Gaele sempre Gaele né? haha); Mrs. Salvatore (piti é pooouco, haha, Gaele é complexada demais!); Galaxy (seja bem-vinda amore!, que bom que está gostando, espero que continue conosco) e Terumy M W Lahote (Jacob tem várias facetas, hahaha).
E é isso meu povo! Até o próximo capítulo, espero que continuem gostando. Estou sentindo falta de algumas leitoras que comentavam aqui heeeein!, hahahaha.
Beijos!!



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