Heróis e Vilões - Um mundo de poderes escrita por Felipe Philliams


Capítulo 12
Terra por todo lado


Notas iniciais do capítulo

demorei mais ainda? SIIIM, quer dizer, sim... ;-;
Mas pelo menos to aqui, com o drama da morte de Marcela. Bora vê o que acontece ( o.o)-(pipoca e refri)



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A escuridão era implacavelmente profunda quando ela abriu os olhos repentinamente, sobressaltada, surpresa e, até certo ponto, feliz por não estar morta. A cegueira dominava dentro daquele buraco oco; e o cheiro de uma roupa que exalava a perfume em quantidade exagerada. O ar estava carregado com poeira e terra molhada, o que diminuía o grave da situação. Seus braços estavam fechados em uma cruz de encontro com os seios e as mãos tocavam os ombros. As pernas exageradamente rígidas cabiam no compartimento todo, mas não estavam cruzadas, o que era desconfortável. Seus pescoço doeu quando tentou se mexer, talvez pela falta de um travesseiro.

Marcela acordou com as esmagadoras lembranças de sua última batalha, as dores agonizantes e a visão de sua morte pairando no ar como folhas ao vento. De repente suas dores voltaram-lhe, latejando tão intensamente que Marcela Philliams Araújo teve de levar a mão à cabeça... Apenas para começar a tontura. A escuridão acima dela subiu em espiral, enquanto ao seu lado as sensações aumentavam e diminuíam, o que lhe deixava com uma sensação de que, mais uma vez, iria morrer.

A morte... Estava ela realmente morta? A mulher se lembrava claramente de ter morrido. Sua memória não poderia estar tão ruim a ponto de não se lembrar de algo que aconteceu não tinha nem um dia. A verdade era que ela não se lembrava como foi parar ali, dentro daquele... Ela nem sabia onde estava.

Deslizando a mão por onde conseguiu, percebeu que o teto era de madeira delicadamente talhada em relevos de ondas; os lados eram madeira lisa e o chão era de madeira lisa também. Enquanto deslizou as mãos pelas laterais percebeu uma inclinação, como se seu pé fosse mais magro e a cabeça mais gorda. Talvez aquilo fosse um tipo de teste ou...
O pensamento a nocauteou.

Se fosse verdade teria de sair dali antes que o ar acabasse. Isso Marcela percebeu na hora. A madeira, pelo toque que ela deu, era fina. Isso poderia lhe ajudar ou lhe atrapalhar; na melhor das hipóteses o caixão não estava muito profundamente enterrado. O problema, além de tudo, seria o oxigênio. Marcela havia feito um teste, quando ainda estava treinando, que consistia em prender a respiração pelo maior tempo possível. Ela se dera muito mal; no entanto ela foi desenvolvendo essa capacidade e, depois de outro teste conseguira ser uma das cinco melhores: passara dois minutos sem respirar.

Mas agora a situação envolvia esforço físico. Marcela estava bem consciente de que o corpo precisava constantemente de oxigênio, afim de movimentar-se. Passar mais que vinte segundos sem respirar e com esforço contínuo era algo digno de uma pessoa morta; Marcela sabia que não ia conseguir, mas desistir sem lutar não era uma característica dela.
Provada em sua última luta. O orgulho feriu-lhe e, mergulhada naquela solidão, deixou-se derramar algumas lágrimas. O antes tão esmagador silêncio conseguiu ser quebrado muito facilmente ao passo que o choro ficava mais intenso. Todas as fantasias sobre Heróis que ela tivera eram falsas e tudo o resto era uma tentativa de sobreviver em meio a um mundo cruel. Marcela não deu uma luta digna. Sua oponente era inexperiente, mas Marcela era mais ainda.

Enquanto as gotas de lágrimas batiam no piso de madeira, as lembranças de Marcela voltaram-lhe à mente. Sua discussão com a mãe havia lhe deixado com uma amargura que agora transformava-se em tristeza. Lembrava-se de suas feições rebeldes e do olhar triste, raivoso e levemente assustado que Mariana havia lhe lançado quando Marcela a desafiara.
Mas a discussão não era a única coisa que vinha-lhe à mente. Os momentos felizes vinham também, não tão esmagadores, mas o suficiente para fazer Marcela amargar ainda mais seu choro. Com os olhos fechados a escuridão no interior de suas pálpebras mostrava dentes sorrindo e a fazia ouvir os sons de suas gargalhadas ao lado de Fernanda e John. Sua mãe também dava risadas, como se os três se juntassem para esmagar o que restava da vida de Marcela.

Depois de uns minutos de choro, Marcela deixou a escuridão dentro do caixão engolir-lhe. Limpou as bochechas e os cantos dos olhos com a mão e suspirou.

Chorar não a tiraria dali.

Uma vez, na internet, Marcela lera: como escapar de um caixão. Estava bisbilhotando a rede social da mãe quando viu essa matéria em destaque embaixo da foto de um homem se debatendo para escapar de um caixão. Por ser uma pessoa curiosa ela deu uma olhada, refletindo em como isso nunca aconteceria-lhe. Naquele momento de necessidade desesperada, Marcela agradeceu aos céus por conseguir se lembrar dos passos: não falar (ela não gostava de falar quando estava sozinha, pois isso enfatizava mais a sensação); não acender nenhum tipo de fogo (a não ser a chama da esperança. Essa não consome muito oxigênio) e não se desesperar.

Então, lembrando-se de manter a calma, Marcela levou as mãos para a borda de sua camisa. Segurando firmemente, inspirou fundo, permitiu-se relaxar. Quando expirou o som saiu entrecortado e isso a assustou um pouco. Sentiu o coração palpitar mais rápido quando trazia a borda da camisa para perto da cabeça. Seu cotovelo e a a costa das mãos bateram duas ou três vezes na madeira do caixão; ela teve que reprimir um grito. Depois desse esforço deixou-se respirar mais uma vez, dessa vez a expiração saiu, em comparação com a outra, mais calma; a dor no cotovelo esquerdo latejou bravamente. A camisa havia saído do corpo e, Marcela notou pelo tato na região perto dos seus seios, vestia um sutiã pequeno.

As respirações vieram mais duas ou três vezes antes de ela conseguir lembrar-se de que tinha de escapar o mais rápido possível.

Com a camisa na mão e a cegueira nos olhos, Marcela levou sua vestimenta para sua cabeça e amarrou as mangas forte o suficiente para que não saíssem. Respirou normalmente mais alguns segundos longos e prazerosos, e então chegou a hora.

Com os joelhos, ela deu batidas de leve na madeira que estava perto de seus pés. Ela ouviu um rugido e seu coração explodiu. Percebeu a merda que fazia. Como se sentaria no caixão abrindo-o pelo lado errado? Se a terra entrasse pela abertura encima dos pés, não teria como ela escapar. Aguardou alguns infinitos e incômodos segundos, até ter a certeza de que a madeira não se quebraria; então recomeçou a bater na madeira encima de sua barriga. As mãos doeram quando ela golpeou o material fino, lembrando-se com um xingamento de que ali estavam talhadas ondas.

Marcela não viu outra alternativa: bateu mais forte, outra vez, e outra. Xingou mentalmente quando o osso de seus dedos ficaram quase à mostra. Se infeccionasse, levariam meses para voltarem ao normal, isso se não tivesse que amputar para não agravar. Usou a palma da mão, conseguindo mais resultado. Bateu mais...

Até que a madeira fina e fraca rangeu. Com a chama da esperança, Marcela inspirou profunda e longamente, segurando o ar, enquanto a terra caía dentro do caixão. Mesmo com a camisa amarrada na cabeça ela pode sentir a terra entrar cada vez mais profundamente dentro do caixão, ao passo que ela usava sua força para forçar-se a sentar.

Quando tentou mexer o braço para cima, o ar saiu e o coração começou a bater mais forte com o cansado súbito. Tinha alguma coisa errada com a terra: estava molhada, pesada demais. O desespero a tomou. Não conseguiu mais se mexer, com a terra forçando Marcela a ficar parada. Conseguiu respirar direito, surpresa por ainda ter um pouco de ar. A sensação não demorou, pois logo o dedo mindinho quis mexer-se. Desencadeando uma série de reações corpo afora.

Desesperada e em busca de seus movimentos, Marcela tentou se contorcer, espernear e balançar-se, mas a terra implacavelmente molhada não cedeu à sua força. Tentou balançar a cabeça, mas um bocado de terra entrou dentro da camisa, e só então Marcela sentiu falta de uma proteção para o tórax. A terra estava quase virando lama; e isso ela percebeu pela maneira como a combinação de água e terra reagiu quando sua barriga foi para cima e para baixo.

Marcela quase chorou, sentindo falta de Fernanda e percebendo o que ela seria útil agora...

Antes de se recordar que ela dominava a água.

Quando tentou inspirar, entrou terra em seu nariz.

Concentrou-se em suas mãos quando seus pulmões imploraram por ar. Sentiu, subitamente, a terra ao redor de suas mãos secar e cair, compactando-se dentro do caixão. Em seguida a terra seca chegou em seus braços, barriga, pescoço e cabeça. Marcela deixou o que restava de ar entrar-lhe pelas narinas, quando percebeu que toda a terra ao seu redor estava seca.

Então dessa vez a terra desidratada cedeu à força de Marcela Philliams, que mexeu os braços e as pernas freneticamente para cima. O esforço pediu mais oxigênio, mas, por enquanto, suas células teriam de aguardar. Contorcendo-se, empinando-se, esperneando-se, Marcela cavou seu caminho para a liberdade. Moveu-se, já não estava mais no caixão e isso era um bom sinal.

A terra caiu como se estivesse seno sugada por um funil, e os cabelos sujos de Marcela viram o ar.

Agora era questão de vida: precisava de ar. Mais desesperada que jamais estivera desse que começara a fugir, Marcela se remexeu implacavelmente debaixo da terra. Sua barriga parecia uma bomba, inchando e inflando, inchando e inflando. Seus braços enrijeceram, cansados. Ela balançou a cabeça, buscando pela liberdade. Não ia se deixar morrer mais uma vez, até porque, dessa vez, sabia que não voltaria a respirar. Então fez mais força, atingindo o máximo que podia, mesmo cansada e desesperada. Agitou os braços, como se nadasse na terra, e os dedos saíram para o ar.

Levou os dedos para o mais perto que conseguiu do nariz... Mas algo como uma cruz bloqueou seu caminho e seus dedos ficaram presos.

Marcela ouviu o grito, mas não a luz.


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Notas finais do capítulo

Vou demorar ainda mais pro próximo. Em tempos de crise é difícil ;-;, sem inspiração



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